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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Raoul Vaneigem

Penso que é a primeira vez que neste blog se fala de um filósofo e o escolhido não será daqueles nomes da filosofia quer clássica quer moderna, que são mais comummente conhecidos; é um filósofo quase desconhecido e que eu tenho que agradecer ao João Pedro ter-me dado a conhecer, no seu blog que eu não me canso de propagandar,  como decerto o melhor "blog alternativo" da blogo.
Trata-se de Raoul Vaneigem
Raoul Vaneigem é um escritor e filósofo belga que nasceu em 1934. 
Depois de estudar filologia na Universidade Livre de Bruxelas entre 1952-1956, depois participou na “Internacional Situacionista” entre 1961 e 1970.
Actualmente reside na Bélgica e é o pai de quatro filhos.
Vaneigem e Guy Debord foram dois dos principais teóricos do "Movimento Situacionista".
Ficaram célebres alguns slogans de Vaneigem nas paredes de Paris durante o Maio de 1968 .
O seu livro mais famoso, e que contém os slogans mais famosos, é “A Revolução da Vida Quotidiana”. Depois de deixar o movimento situacionista Vaneigem escreveu uma série de livros polêmicos que defendem a ideia de uma livre e autorreguladora ordem social.
 Recentemente, ele tem sido um defensor de um novo tipo de greve, em que o serviço de transporte e os trabalhadores prestam serviços gratuitamente e se recusam a recolher o pagamento ou tarifas.
Deixo aqui dois vídeos, um deles sobre a sua vida e o seu percurso filosófico

No outro o cantor René Binamé canta uma letra de Raoul Vaneigem

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Realidade e ficção

O realizador holandês Siar Sedig elabora uma curta metragem de 11 minutos misturando desejos, anseios e auto-estima, e conjuga-os num fascinante problema de géneros.
“Last Exit Home” tem lugar no metro de Amsterdão, e o narrador fala do seu habitual trajecto para o trabalho; as pessoas que vê todos os dias. A familiaridade do ritual.
Subitamente alguém estranho entra no comboio e tudo muda.
Neste filme bastante simples e transformando os géneros de forma a servir os seus desejos, leva a história para um outro patamar.
É bonita a subtileza, as questões que se levantam, as questões para as quais realmente nunca haverá resposta…

sábado, 5 de outubro de 2013

Jordan & Devon

Eu nem sou um grande apologista do acto a que chamamamos casamento, seja ele entre heterossexuais ou homossexuais, a não ser por facilidades legais; prefiro o "casamento" de sentimentos e de vivências, sem a necessidade de um "papel".
Apoiei sem reservas a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois qualquer pessoa deve ter as mesmas oportunidades e regalias, independentemente das suas afirmações sexuais.
Tenho várias pessoas que conheço que já deram esse passo, embora ainda não tivesse ido a nenhuma cerimónia, e não o lamento, pois essas cerimónias, quando acontecem devem ser intimas.
Mas, acima de tudo, conheço e tenho uma imensa felicidade nisso, muitas pessoas de ambos os sexos que estão "casad@s" há muito tempo, numa comunhão de amor.
Mas, porque esta cerimónia que aqui mostro no vídeo é toda ela muito bonita, sendo um hino ao amor, mas também à amizade de quem a partilhou com os noivos (familiares e amigos), aqui a partilho e não posso deixar de mencionar que também eu pertenço aos felizardos que amam e são amados.
Volim te, Déjan!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Travis Mathews no "Queer Lisboa"

Travis Mathews (nascido em 1975) é um realizador e argumentista americano, principalmente trabalhando dentro do género do cinema documental.
 Abertamente gay, Mathews vive e trabalha em S. Francisco e até agora realizou a curta “I want your love” que eu mostrei há dias aqui no blog, e que foi filmada em 2010, tendo posteriormente feito uma longa metragem dessa curta, em 2012,
sendo os seus únicos filmes de ficção, tendo anteriormente apresentado vários documentários: em 2004, “Do I Look Fat?”, a série “In Their Room”, primeiro de S.Francisco (2009), depois Berlim (2011) e agora Londres (2013).
Mas o seu filme mais conhecido é aquele que codirigiu este ano, com James Franco, “Interior. Leather Bar”, sobre uma sequência suprimida do polémico filme de William Friedkin “A Caça”, com Al Pacino (1980), passada no interior de um bar gay.
Foram estes dois filmes, a curta “In Their Room – London” e “Interior. Leather Bar” que foram apresentados na terça feira no Queer Lisboa, com a presença do realizador Travis Mathews, que teve uma curta intervenção, bastante divertida, antes da apresentação dos filmes, numa sala quase lotada.
Sem dúvida que o Queer Lisboa deste ano tem tido noites muito especiais e é cada vez mais um acontecimento cinematográfico culturalmente muito importante do nosso país.

Foi apresentada em primeiro lugar, a curta metragem "In Their Room - London".
“In Their Room” é uma série de documentários sobre gays, quartos e intimidade. A série mostra os quartos dos homens, onde se veem fazendo de tudo, desde o mais banal ao (a maior parte das vezes) erótico. Complementando a natureza reveladora de suas atividades diárias há entrevistas confessionais sobre fantasias, que excitam,  e vulnerabilidades. O throughline da série destaca as maneiras pelas quais os homens gays em culturas diferentes lidam com conexão, intimidade e solidão no mundo moderno. 
Numa época de acelerada aceitação de gays e visibilidade, é chocante que muitas destas histórias estão sendo deixadas ficar numa situação irregular. A minha inspiração para a série veio em grande parte dessa frustração. Se as representações da minha vida e da vida dos meus amigos são em grande parte invisíveis na media eu pensei que eu deveria  gravar essas histórias antes de serem perdidas ou esquecidas. Eu faço isso da melhor maneira que possa concentrar-se em algo pareça autêntico, moderno e sem censura”, afirma Travis Mathews. 

A série é concebida como um projeto de longo prazo, com episódios recentes filmados em San Francisco e Berlim, e agora, Londres.
  

O episódio de Berlim foi apresentado no Queer do ano passado.

Depois, o prato forte, a longa metragem.
Este documentário tem tido grande êxito e é a pré-imaginarão desses 40 minutos suprimidos ao filme que servem de ponto de partida para uma exploração mais ampla da liberdade sexual e criativa.

Note-se que este filme “Interior. Leather Bar” vai ser apresentado brevemente nas salas do país, no que se prevê seja algo polémico, pois há sexo explícito no filme, o que é salutar no cinzentismo nacional…

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"E agora, lembra-me"

"Viver com HIV e VHC (hepatite C) não é uma novidade para Joaquim Pinto, que contraiu os vírus há cerca de 20 anos. 
Será, no entanto, com espanto de novidade que percorremos as quase três horas de "E Agora? Lembra-me", filme autobiográfico em que acompanhamos um ano da vida de Joaquim, entre o campo onde vive, os ensaios clínicos em Madrid, o amor por Nuno, os cães, os amigos, as memórias e, como que condensando todos, o seu mundo interior, que espoleta em tantas direcções quantas consegue a consciência humana. 
Um filme que é uma partilha. "Quando me estava a preparar para este tratamento (em Madrid), percebi que praticamente não havia filmes actuais sobre o HIV feitos na primeira pessoa. Eu achei que era altura de alguém fazer um filme na primeira pessoa", conta-nos Joaquim. 
É, de facto, assim que acontece, com Joaquim a contar a história ao longo de todo o filme. 
Narrador presente e participante, que não inibe nunca a câmara: "Acho que o cinema tem a ver com exposição, tem a ver com luz, tem a ver, precisamente, com o mostrar alguma coisa. E também acho que não tenho nada a esconder." 
A sequência do filme decorre tal qual um diário de bordo, em jeito cronológico, onde podemos seguir Joaquim ao ritmo do tratamento a que se submeteu, um estudo clínico com medicamentos ainda não aprovados: "O filme foi feito na altura em que eu estava a fazer este tratamento muito complicado, com efeitos psicológicos muito pesados. Muitas vezes, fiquei surpreendido com o material que tínhamos filmado, porque devido a esses efeitos não me lembrava de muitas coisas."
 Se "E Agora? Lembra-me" surge também como exercício de memória - onde a narrativa de mistura, sem ordem aparente, entre desabafos quotidianos e episódios da vida de Joaquim -, isso não se deverá nem aos efeitos secundários dos medicamentos nem ao cansaço produzido por eles. 
Joaquim explica: "Há muitas pessoas que passam por situações extremas na sua vida que implicam uma reflexão. Muitas vezes, isso tem outro lado, que é o de permitir fazer um certo balanço não só em relação ao passado, mas em relação ao que é a vida, ao que é estar vivo." 
É assim que balançamos para cá e para lá, à boleia de João César Monteiro, Kurt Raab, Raul Ruiz, Guy Hacquenghem, Henri Alekan, Serge Daney, Copi, Claudio Martinez, amigos e companheiros de trabalho de Joaquim Pinto que aqui integram, sem dúvida, o seu panteão. 
"A doença teve em mim um efeito imediato que foi o de me ajudar a distinguir o que é realmente essencial. Por outro lado, teve o efeito de me aproximar das pessoas com quem, de facto, tenho alguma coisa a ver. E, se calhar, de afastar as amizades que eram só circunstanciais." 
Nuno Leonel, marido de Joaquim, é uma das "personagens" constantes no filme, um pilar presente/ausente que dizia ter coisas mais importantes para fazer do que participar no filme. "Cuidar de nós", conta Joaquim no filme. E, a nós, explica-nos: "Nos primeiros meses estive mais ou menos sozinho. Acho que há um momento de viragem que se percebe no filme, um momento em que o Nuno se aproxima e, a partir daí, o filme passa a ser feito pelos dois." 
Muitas das filmagens estiveram a cargo de Nuno Leonel, como faz questão de deixar claro Joaquim: "Não fui só eu a fazer o filme. Foi feito em colaboração total com o Nuno." 
"E Agora? Lembra-me" é também um filme sobre os sinais num mundo que Joaquim reconhece estar cego, por sermos, como diz, constantemente bombardeados com solicitações. 
"Há sempre coisas inesperadas e o mais importante é estarmos atentos aos sinais que diariamente nos iluminam, e não os negar." 
Uma crença na simplicidade das coisas, como nos diz, que não apresenta como manifesto ou revolta, mas como partilha: 
"O que quis fazer com este filme é dar espaço às pessoas, sem lhes dizer 'eu penso isto ou aquilo'. Quis, sim, partilhar um bocadinho as minhas dúvidas. Se este sentimento de inquietação positiva puder ser transmitido, eu acho óptimo."


 Este é um texto do jornal “i”, mas eu quero dizer algo mais.

Este filme marcou-me profundamente e em vários sentidos.
É um filme culturalmente brilhante, com pormenores técnicos fabulosos; é um filme profundamente comovedor e corajoso onde o realizador expõe a sua doença, os seus problemas, mas também as suas dúvidas e o seu amor (a figura de Nuno é fundamental).
Poucas vezes tenho visto cães filmados com tanto amor, sim, não me enganei, e os quatro cães são importantes no filme.
A um nível pessoal, achei uma coincidência a referência a uma pessoa que tão bem conheci, a Jo e a dois filmes que marcaram a minha vida: “A imitação da vida”, o primeiro filme que eu comentei num jornal, no início dos anos 60, quando estudava em Castelo Branco e a espantosa cena de Laura Betti, quando é enterrada viva a seu pedido no filme “Teorema” de Pasolini.
As citações maravilhosas de tanta gente, de Santo Agostinho a Ruy Belo, as referências muito bem “delineadas” a personalidades como Marx, Freud, e tantos outros.
As constantes alusões à Bíblia, à religiosidade do Nuno e a sua (do Joaquim) visão do Catolicismo, tão parecida à minha…
As recordações do passado, desde a infância, às viagens e estadias em países diferentes, a constante alusão aos Pais, aliás o seu Pai, com mais de 90 anos esteve presente na sala.
A actualidade do momento em que vivemos, a crise aqui e no mundo, os fogos, numa palavra, um olhar atento à realidade actual.
Enfim, e eu espero que o Joaquim viva muitos anos, mas este filme é desde já um testamento da sua vida e obra.

Não posso esquecer que este filme ganhou um dos mais importantes festivais de cinema, na sua última edição, Locarno.


É obrigatório que este filme maravilhoso possa ter uma exibição comercial para que possa ser apreciado por muita gente pois é um acto de verdadeira Cultura.
E agora, Joaquim?
Obrigado, a ti e ao Nuno!
Sim vamos lembrar-nos, é impossível esquecer este filme.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"I want your love"


Pela primeira vez, neste blog, o aviso inicial é perfeitamente justificado, já que mostro aqui um filme pornográfico. È um filme pornográfico não convencional, com actores porno, mas protagonizado por dois homens comuns que chegam ao sexo entre eles de uma forma normal.
Não considero chocante este filme, pese embora aceite que para determinadas pessoas menos habituadas a estas situações, o mesmo as possa incomodar, pelo que desde já lhes peço para se absterem de o visionar.
É escusado dizer que esta postagem é uma excepção e não uma regra neste blog que sempre foi liberal em todos os aspectos e assim o continuará a ser.
Dois bons amigos, conversam, brincando sobre uma situação que os vai levar a ter sexo pela primeira vez um com o outro. É uma situação já vivida por muitos homens gays (e até por alguns que não se aceitam como tal) e não tão descomplexada como estes dois amigos preferiam que fosse. As coisas tornam-se um pouco excitantes a partir dos 4,00 minutos; há sexo oral, penetração e outras variações. Sente-se que é sexo autêntico, intenso.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cinemas de Lisboa - 11

E como é, hoje em dia, a exibição comercial de cinema em Lisboa?
Com o desaparecimento das mais variadas empresas de distribuição de filmes, restam as grandes distribuidoras, que disseminam os seus filmes por salas multiplex, quase sempre em grandes áreas comerciais.
As duas grandes companhias são a Zon Lusomundo e a Medeia Filmes.
A Zon Lusomundo está presente no Colombo


no Vasco da Gama


nas Amoreiras


e no Alvaláxia



Quanto à Medeia Filmes, os seus cinemas de exibição situam-se no Centro Comercial do antigo Monumental


no Centro Comercial Fonte Nova


e no único cinema actual de Lisboa que não está localizado num centro comercial, o King Triplex


há depois dois cinemas City, um no renovado espaço do Campo Pequeno


e o outro no também renovado espaço do antigo cinema Alvalade


finalmente, o UCI cinema, no El Corte Ingles



É pois o novo conceito de cinema comercial, mas não está completamente seguro que assim seja durante muito tempo. As tecnologias evoluem constantemente, a oferta de cinema on line é cada vez maior e as televisões, aproveitando as grandes dimensões dos últimos modelos oferecem-nos, na nossa cada, cada vez mais aproximadamente a visão de um filme num cinema, perto ou longe de si...e sem pipocas!

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"Sinais de Fogo"

Jorge de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 Santa Bárbara, Califórnia,  4 de Junho de 1978)  foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Filho único de Augusto Raposo de Sena, natural de Ponta Delgada e comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Teles Grilo de Sena, natural da Covilhã e dona-de-casa. Ambas as famílias eram da alta burguesia, a paterna de suposta linhagem aristocrática de militares e altos funcionários, e a materna de comerciantes ricos do Porto. Segundo relata no seu conto Homenagem ao Papagaio Verde, teve uma infância recolhida, solitária e infeliz, o que fez com se tornasse introspectivo, observador e imaginativo.
Fez a instrução primária e os primeiros anos do liceu no Colégio Vasco da Gama. Concluiu os estudos secundários no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho. Era um jovem que lia avidamente, tocava piano e escrevia poemas. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, fez os exames preparatórios com as notas mais elevadas.
Sena nutria a ideia algo romântica de se tornar oficial da marinha, seguindo as pisadas do pai. Em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso. A 2 de Outubro de 1937 , iniciou a sua viagem de instrução a bordo do navio escola Sagres. Visitou os portos de S. Vicente, Santos, Lobito, Luanda, S. Tomé e Dakar, chegando a Lisboa no final de Fevereiro de 1938 . O contacto com a imensidão do oceano, a azáfama da vida a bordo e o movimento e mudança constantes agradaram ao jovem Sena, mas nem tudo correu bem. Segundo o relato de um antigo camarada de curso, naquele ano a viagem de instrução foi excepcional e particularmente dura e exigente em termos de preparação e destreza física, copiando o modelo da marinha alemã. Na parte teórica do curso Sena era brilhante, mas em termos atléticos era medíocre e apesar dos muitos esforços que fez não conseguiu satisfazer as elevadas expectativas do comandante do curso, que parecia nutrir um ódio de estimação pelo cadete contemplativo e intelectual. No final da viagem, foi comunicado a Sena que iria ser proposta a sua exclusão da Marinha por lhe faltarem as "necessárias qualidades" para oficial. Sena ficou profundamente frustrado e desgostoso com esta rejeição e o seu afastamento definitivo de um modo de vida que tanto almejava.
Apesar da sua inclinação natural para a literatura, o sobredotado Sena decidiu frequentar o curso de Engenharia Civil, iniciando-o em Lisboa e concluindo-o no Porto, em 1944, com a ajuda financeira dos seus amigos Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal. O curso pouco o entusiasmou, mas durante todo esse tempo escreveu bastantes poemas, artigos, ensaios e cartas. Desde os 16 anos que escrevia e em 1940, sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os seus primeiros poemas na revista Cadernos de Poesia, dirigida por Cinatti, Blanc de Portugal e Tomás Kim. Em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição, que não impressiona muito o seu amigo e crítico João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro considera-o um livro revelador mas difícil.
Em 1947, Sena inicia a sua carreira de engenheiro, que durou 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autónoma das Estradas (JAE), onde permanecerá até ao seu exílio para o Brasil em 1959.
Em 1940, no Porto, Jorge de Sena conhece e torna-se amigo de Maria Mécia de Freitas Lopes (irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes), começando a namorar em 1944 e casando-se em 1949. Jorge de Sena e Mécia de Sena tiveram nove filhos. Mecia, sua incansável companheira e enérgica colaboradora, apoiando o escritor nas inúmeras crises que lhe surgiram ao longo de uma vida por vezes atribulada.
Trabalhava incansavelmente, para sustentar a crescente família. Além do seu absorvente trabalho diurno na JAE (que lhe possibilitou viajar e conhecer o Portugal profundo), Sena também se dedicava à direcção literária em editoras, à tradução e revisão de textos, ocupações que lhe roubavam precioso tempo para a investigação literária e a para a sua obra. A banalidade e a pequenez do quotidiano no Portugal de Salazar das décadas de 1940 e 1950 atormentam-no, bem assim como a mediocridade, a mesquinhez e a intriga dos meios literários, a opressão política, a censura literária, resultando num ambiente de trabalho sufocante e absolutamente frustrante, mas que não deixam de o inspirar para o poema É tarde, muito tarde na noite…
Durante esses anos publica várias obras: O Dogma da Trindade Poética – Rimbaud (1942), Coroa da Terra, poesia (1946), Páginas de Doutrina Estética de Fernando Pessoa(organização), 1946, Florbela Espanca (1947), Pedra Filosofal poesia (1950), A Poesia de Camões (1951), etc.
A sua situação como escritor e cidadão estava a tornar-se insustentável. Como escritor, não tinha tempo livre para escrever, apenas o podia fazer de modo insuficiente e limitado à noite e aos domingos. Também o facto de não pertencer a nenhum círculo académico e a falta de apoio institucional lhe frustrava qualquer pretensão de poder vir a editar alguma obra mais ambiciosa. Por outro lado, a sua participação numa tentativa revolucionária abortada em 12 de Março de 1959, colocou-o em posição de prisão iminente, no caso muito provável de algum dos conspiradores presos pela PIDE denunciar os que ainda se encontravam livres.
Em Agosto de 1959, viajou até ao Brasil, convidado pela Universidade da Bahia e pelo Governo Brasileiro a participar no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Tendo sido convidado como catedrático contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de S. Paulo, aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio. Ele faz amizade com o poeta Jaime Montestrela, que dedicou o seu livro Cidade de lama. Por motivos profissionais teve de adoptar a cidadania brasileira.
Não foi contudo um exílio libertador. Sentia saudades da pátria, apesar do rancor perene que nutria pela pequenez, mesquinhez e falta de reconhecimento nacionais que o atormentariam até ao final da vida.
Em 1961, Jorge de Sena foi ensinar Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Em 1964, depois de vencer alguns preconceitos académicos pelo facto de ser licenciado em Engenharia, Jorge de Sena defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos académicos "com distinção e louvor".
O período de seis anos que passou no Brasil foi muito produtivo. Finalmente, tinha toda a disponibilidade para se dedicar à sua obra com a devida profundidade e profissionalismo. Poesia, teatro, ficção, ensaísmo e investigação. Parte do romance Sinais de Fogo e a totalidade dos contos Novas Andanças do Demónio foram escritos neste período.
A degradação da situação política no Brasil, com a instalação de uma ditadura militar a partir de Março de 1964, fez com que Jorge de Sena, mais do que nunca avesso a prepotências, aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, para partir para os Estados Unidos em Outubro de 1965. Em 1967 foi nomeado catedrático do Departamento de Espanhol e Português da referida universidade.
De 1970 até 1978 foi catedrático efectivo de Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. Apesar da satisfação de ensinar e da amizade que os alunos lhe dedicavam, Sena não foi feliz. Queixava-se da "medonha solidão intelectual da América" onde não havia "convívio intelectual algum" e da esterilidade e espírito burguês do meio académico, que não se interessava pela sua obra.
Quando se deu o 25 de Abril Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Sena visitou Portugal, contudo, nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa se dignou convidar o escritor para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro. Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério do Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.

Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.

Acabei de ler à dias o romance “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena, do qual já tinha lido com muito agrado uma colectânea de contos sob o título “Os Grão Capitães”.
Este romance, em que a personagem principal, Jorge, tem muito de autobiográfico, passa-se na sua maior parte na Figueira da Doz, uma praia onde passei grande parte dos Verões da minha infância e da minha juventude; e se bem que a época seja diferente (finais dos anos 30 do século passado), não diferiria muito da Figueira dos anos 50/60 que eu conheci.
È um livro nem sempre fácil, devido às muitas considerações filosóficas que o autor vai entremeando com o decorrer da acção, mas com um elevado valor intelectual, podendo sem qualquer dúvida considerar-se talvez o mais importante ou pelos menos dos mais importantes marcos da literatura portuguesa da segunda metade do século XX.
 Com uma inesperada e nada contida narração sexual, tem, ouso dizê-lo, das mais ousadas narrativas sexuais jamais escritas em português, desde o mundo da prostituição, ao amor heterossexual puro (?), ás orgias, ao sexo homossexual, enfim, para todos os gostos, mas nunca gratuito ou deslocado.
No meio de toda a acção está a Guerra Civil Espanhola, a confirmação da ditadura portuguesa, a ascensão do nazismo e todos os fenómenos daí advindos na formação humana e política do Jorge.
O livro pode considerar-se inacabado, pois haveria várias hipótese finais que nunca chegaram a ver a luz do dia; apesar de tudo é um longo romance, com cerca de 600 páginas.
Deste romance foi realizado um filme, por Luís Filipe Rocha, em 1995 tendo Diogo Infante como protagonista, cujo trailer aqui deixo.
E também deixo o primeiro vídeo de uma magnífica série de cinco episódios, apresentados na RTP 2, sob o título genérico de Grandes Livros, e que merece ser visto na íntegra (está no You Tube). Curiosamente as cenas do filme aqui apresentadas não são do filme do LFRocha.  
Um livro memorável que merece a atenção de quem se interessa por ler, mas também por quem se interessa por um período tão interessante da nossa História recente.

sábado, 22 de junho de 2013

"Dead Dreams of Monochrome Men"

Assassinatos homossexuais e necrofilia podem não ser os assuntos mais apropriados para uma coreografia, mas em Dead Dreams of Monochrome Men (1990), a companhia de dança DV8* produziu um trabalho poderoso em que explora estes aterradores aspectos da psique humana.
O ponto de partida é um importante estudo de Brian Master sobre o serial killer Dennis Nilsen “Killing for Company”, embora não seja uma adaptação rígida desse estudo.
Esta peça encontrou uma linguagem de movimentos que explora e expõe uma sequência de estados emocionais…

Como se pode adivinhar é um vídeo forte, carregado de homo-erotismo, mas nunca pornográfico, e que embora longo, não posso deixar de recomendar vivamente a sua visão (a cópia, não sendo actual, não será a ideal, mas a maior parte dos seus vídeos não estão disponíveis).

*Companhia criada em 1985, a DV8 é reconhecida pela sua postura simultaneamente radical e acessível, e questiona a estética e os temas tradicionais da dança, apostando na clareza para transmitir ideias e sentimentos. 
É uma companhia de Teatro Físico, do País de Gales, dirigida por Lloyd Newson, que concebe e desenvolve todos os espectáculos da companhia, e para cada projecto  recruta uma equipa de actores/bailarinos.
O resultado é poesia virtual e auditiva.
Produziu ao longo destes anos, 15 espectáculos que foram aclamados pelo público e têm sido apresentados em vários países, e também  cinco filmes premiados, para televisão, entre os quais este que aqui foi apresentado.

Quem estiver interessado pode consultar o site da companhia DV8 aqui.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

"Os perigos de uma história única"

Já ouviram falar de Chimamanda Amichie? Eu também nunca tinha ouvido falar e desconhecia completamente a existência de uma escritora nigeriana com este nome.
Mas porque a blogo vale a pena, muito mais que todas as redes sociais do mundo, descobri esta brilhante mulher num blog que há muito sigo e que já por várias vezes recomendei aqui no meu blog , as “Tertúlias” do meu bom amigo Ricardo, um brasileiro que habita em Viena há já bastante tempo e que delicia os seus seguidores com as suas incríveis descobertas.
Pois é retirado deste seu blog que aqui tenho o imenso prazer de partilhar este vídeo brilhante com esta fabulosa Senhora, numa dissertação sobre os “perigos de uma história única”.


E, parecendo que nada tem a ver com isto, mas tem tudo a ver com a riqueza desta blogo que não me canso de enaltecer, façam favor de passar pelo blog “Felizes Juntos” e vejam os deliciosos preliminares de mais uma história do “The Book Of Distance”; para já são sete postagens imperdíveis…

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Um vídeo e um livro

Estava-me a preparar para deixar aqui uma postagem sobre um daqueles livrinhos da sempre interessante colecção “& etc”, que acabei de ler, da autoria de José António Almeida, do qual já tinha lido da mesma colecção outro livro, só de poesia – “Obsessão”, quando vi  aqui, um vídeo que me assustou e repugnou, com uma entrevista a uma tal Drª. Madalena Fontoura, presumo que seja psicóloga e que não resisto em trazer aqui e para o qual peço a vossa especial atenção, já que entre outras preciosidades, esta doutora afirma que é normal as crianças terem pequenos desvios quando são pequenas e ficam com a ideia de que são homossexuais, e depois muito mal influenciadas por adultos pérfidos acabam por entrar nesse mundo, de onde saem fragilizados e que têm dificuldade em sair dele…mas conseguem, claro, com a ajuda de pessoas esclarecidas como ela.

 Em comparação, José António Almeida, apresenta-nos neste seu livro, de nome “O Casamento sempre foi gay e nunca triste”,
uma primeira parte com alguns pequenos textos em que procura explicar a problemática de ser ao mesmo tempo homossexual e católico, nos tempos de uma Igreja conservadora e retrógrada, aliás na linha das três grandes religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo.
Escolhi um texto que me parece muito correcto e que a drª. Madalena Fontoura deveria ler para tentar perceber porque é que ela é tão ignorante.

 “Um homossexual tem de abrir dentro e fora de si um espaço para poder ser. Esse espaço interior de construção de si mesmo e essa projecção de um mundo de possibilidade fora de si exigem-lhe recursos extraordinários. Enquanto os heterossexuais encontram um mundo pronto-a-vestir, os homossexuais têm de construir a estrada para poder circular, essa via que lhes permita avançar na direcção do futuro. Esta ausência de perspectivação do futuro creio que é o maior problema com que se deparam os adolescentes que se descobrem com uma orientação sexual diversa da maioritária. E como podem falar livremente de homossexualidade num mundo social, familiar e religioso onde a homossexualidade era ainda em tempos muito recentes um tabu ou um assunto marcado com o ferrete da ignomínia? E, sobretudo, como falar disso no meio de desertos de intensa solidão afectiva? Como viver de escassa meia dúzia de carícias e de beijos trocados em noites que, para o mundo dos outros, nunca existiriam?”

 Note-se que José António Almeida é um poeta e o resto deste pequeno livro é preenchido com alguns poemas, que e na minha opinião, estão num patamar inferior às reflexões que deixa anteriormente nos textos que escreve.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Dia Mundial contra a homofobia

Hoje comemora-se o Dia Mundial contra a homofobia. Apesar de discordar da vulgarização destes “dias mundiais”, a propósito de tudo e de nada, a maior parte das vezes com fins meramente consumistas, há excepções e esta é uma delas.
A homofobia é um preconceito contra os homossexuais que existe por este mundo fora, está generalizado e é essencialmente baseado num desconhecimento total do que é ser-se homossexual. Ainda hoje se acredita que quem é homossexual, o é por opção própria, e se condena quem tem essa orientação sexual como se isso fosse uma doença, como antigamente era considerada.
Todo o ser humano tem o direito de amar quem muito bem entender e se no chamado mundo desenvolvido, quer a nível dos Estados, quer a nível das Organizações, se têm dado importantes passos para a igualdade, ainda há muitos países em que tal não é consentido e até é punido.
Mas uma coisa são as leis e outra é o comportamento dos cidadãos comuns e é neste campo que é necessário lutar, mostrando que um homossexual é um ser normal, com os mesmos deveres e direitos que qualquer  outro, apenas tem uma orientação sexual diferente e que não escolheu.
Eu sempre procurei com a minha forma habitual de encarar a vida, e nunca recusando a minha condição de homossexual, ser um exemplo de que se pode ter uma vida normal, sendo homossexual: quer na família, na sociedade, nos que me são queridos, sou o que realmente sou e tenho orgulho de ser apontado não como um indivíduo nocivo socialmente, mas sim com o respeito que um comportamento cívico correcto merece.
Porque há muito a fazer neste campo, mostro aqui uma muito original animação em vídeo sobre este assunto, que foca a vida de um rapaz que tem como toda a gente os seus sonhos, os seus gostos e que é confrontado com a realidade de ser diferente, e aparecem os medos e aparecem as críticas, mas a vida de cada um é muito mais importante, a felicidade intima de não ceder ao medo e à mentira só para se estar de bem com a sociedade prevalece.
É um excelente vídeo para reflectir.


domingo, 12 de maio de 2013

Bullying

Sem grandes explicações de texto, limito-me aqui a deixar o testemunho de um polémico vídeo realizado pelo jovem realizador canadiano Xavier Nolan.
É na realidade um vídeo muito violento, talvez excessivo, mas que se justifica perante a violência e o excesso em que o bullying se está a transformar em tantas escolas de todo o mundo.
O filme pretende desta forma protestar contra o bullying homofóbico no âmbito do ensino.
Vale a pena ler os dois comentários que acompanham o vídeo.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

E a propósito...

É uma curiosa coincidência, e afirmo-o em absoluto, que no  dia de ontem, me chegaram "às mãos" duas curtas metragens, que não sendo umas obras primas, são muito interessantes e principalmente apareceram no momento certo, pois elas "documentam" de alguma forma o que foi dito no vídeo da postagem anterior, sobre o sexo anal.
Não estou a fazer aqui no blog uma dissecação sobre o assunto, apenas pus aquele vídeo por me ter parecido de certa forma "didáctico". Agora caem-me do céu estes  dois vídeos que peço interpretem apenas como referi de início, uma feliz coincidência.
É curioso também uma outra questão e que não foi uma opção: ambas as curtas se passam na esfera heterossexual...
Apreciem e digam da vossa justiça.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

Anal Sex

Não, não é engano, é mesmo este o título do post
E também o título do vídeo que aqui deixo.
Desengane-se contudo quem julgue vir a encontrar nesta postagem conteúdo menos próprio.
É tão só um vídeo que pretende mostrar que muitas vezes se fazem conexões indevidas e que aquilo que parece ser um "vício homossexual" é afinal apenas sexo! Exactamente como tantas outras formas de o fazer, e de dar prazer a quem o pratica,
Afinal, é para reflectir...

“John Corvino addresses those who seem to think there’s nothing more to gay sex than anal sex and explains how squeamish visceral reactions can sometimes masquerade as moral judgments.
Dr. John Corvino, also known as the “Gay Moralist,” is a writer, speaker, and philosophy professor at Wayne State University in Detroit. He is the author of What’s Wrong with Homosexuality? and the co-author (with Maggie Gallagher) of Debating Same-Sex Marriage, both from Oxford University Press

quinta-feira, 28 de março de 2013

Privatize-se

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno de olhos abertos.
E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional.
Aí se encontra a salvação do mundo…e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»

 José Saramago – Cadernos de Lanzarote – Diário III – pag. 148

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

The Gay Men Project

Já por variadas vezes falei aqui, de outros blogs que conheço e sigo; as últimas vezes tem acontecido mais em relação a blogs que estão no seu início e funcionam como uma chamada de atenção para o aparecimento de um novo blog e raras vezes tenho apostado mal.
Tenho até orgulho no percurso que entretanto certos blogs tiveram depois disso, pois quer se queira, quer não, um blog sem seguidores ou comentadores não passa de um diário.
Mas hoje falo de um blog que é um clássico da blogo, mais antigo que o meu, um dos resistentes dos velhos e bons tempos da blogosfera.
Trata-se do blog do Miguel e se o chamo assim e não pelo seu nome (a referência ao blog obtém-se ao clicar no nome), é porque o Miguel, como o Félix, como o Paulo, só para dar alguns exemplos são para mim, muito mais Amigos do que bloguistas.
 Mas neste caso, o blog, ali enclausurado num condomínio fechado da blogosfera, chamado Livejournal, é um blog que merece ser lido pois revela uma pessoa sensível, culta, com bom gosto e com variadas ramificações de interesses. Não somos muitos os seguidores, mas somos imensamente fiéis.
E foi neste blog que encontrei esta recente postagem, que está muito dentro daquilo que eu penso de certos blogs, que se “perdem” com fotos quando os seus autores têm capacidades muito mais amplas que isso, e ao mesmo tempo chama a atenção para um blog novo, interessantíssimo e que no texto está bem referenciado.
Depois deste longo introito, eis o texto em causa, devidamente autorizado pelo Miguel, como é óbvio.

"The Gay Men Project


A net está cheia de representações da masculinidade homossexual. Na maior parte dos casos, na enormíssima parte dos casos, isso equipara-se a fotografias de gajos nus muito carregadas eroticamente (deixemos de fora a pornografia pura e dura, cuja circulação e disponibilidade, segundo alguns mal-intencionados, foi a verdadeira razão para qual a internet foi inventada!)

A questão é que, em rigor, a construção desse imaginário homo-erótico deve muito pouco à representação da homossexualidade masculina, e eu até me atreveria a dizer que é, em grande parte, vincadamente heterosexual, ainda que dirigido à fantasia, e à líbido, dos homossexuais.

Não me esqueço de que há toda uma imagética ligada directamente a diversos estilos de vida (ou culturas) tipica ou exclusivamente gays; estou-me a lembrar, por exemplo, da cultura bear e dos seus códigos visuais (ainda que, mesmo neste caso, não ande longe de certos imaginários predominantemente heterossexuais, como por exemplo o dos motards). Mas o ponto é que não há site pessoal ou blog que não esteja cheio de fotografias mais ou menos ‘sexys’ (atenção às aspas) de modelos e modelitos, de corpos irrepreensíveis e dirigidos a variados paladares, que constituem, digamos assim, o denominador comum (mínimo ou máximo, será questão de perspectiva) entre delírios gays de todas as idades e fantasias femininas de pendor mais ou menos adolescente.

Onde eu quero chegar é que não são afinal nada frequentes os lugares da net que apresentam representações da masculinidade que sejam especificamente homossexuais (ou gays, ou queers, ou o que se quiser), e nos quais a sexualidade não se esgote no seu apelo mais ou menos erótico, mas que aposte no carácter identitário dessas representações.

São todas estas reflexões que (me) sugerem o extraordinário trabalho do Kevin Truong no seu site/blog The Gay Men Project
, que se apresenta como ‘the visual catalog of gay men across the world’. No site, o Kevin Truong fotografa homens gays (originalmente nas suas casas ou espaços de trabalho, mas depois o projecto alargou-se a outros sets) e apresenta pequenos depoimentos dos fotografados acerca das suas experiências enquanto homossexuais. Vale a pena conhecer o site, e é obrigatório visitá-lo frequentemente.

Ainda que seja para concluir, como me parece ser o caso (e ainda bem), que essas representações não traduzem, afinal, um mundo aparte, e que a resposta à questão “com que se parece um gay?”, só possa ser “com uma pessoa qualquer”."



sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Words

Três frases, palavras encadeadas por alguém que lhes vê sentido:

1...“A vida não é esperar que a tempestade acabe; mas sim aprender a dançar à chuva.”
Autor desconhecido
2...“Ninguém que mereça ser possuído o será alguma vez por inteiro.”
 Sara Teasdale
 3...“Amor é uma palavra abrangente e muito cómoda que utilizamos para disfarçar as razões complicadas que nos levam a querer o apoio de outra pessoa.”
 Frank Ronan

A primeira é de difícil execução. Não sei quem é o autor, mas decerto será alguém que vê a vida de uma forma prática e optimista. Mas dançar à chuva não tem aqui o significado lúdico da dança do Gene Kelly.

A segunda, da autoria de uma poetisa americana que viveu nos finais do século XIX, princípios do século XX tem algo de presunção nas suas palavras. (Não ver a frase num contexto diferente, como se fosse daquela interessante série do Sad Eyes - frases que poderiam ser gays...)

Finalmente a mais polémica, mas que merece uma profunda reflexão. Está no primeiro livro de Frank Ronan, do qual conheço toda a obra e que curiosamente, sendo ele gay e todos os restantes livros foquem de uma forma mais ou menos acentuada as questões ou as personagens homossexuais, neste não tem uma palavra sobre esse tema. Foi curiosamente o livro dele de que mais gostei e chama-se "Os Homens que Amaram Evelyn Cotton".

 Gostaria de ter aqui opiniões sobre estas frases, principalmente sobre a última. Eu concordo apenas parcialmente com ela.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Taxar os ricos - (um conto de fadas animado)

Depois de ver esta animação, que não retrata a situação do nosso país, mas ajuda a compreendê-la, talvez se perceba melhor o porquê de tantas afirmações repetidas até à exaustão por esta cambada que nos governa, tais como a famigerada "não há alternativa"; também se percebe melhor o que significa o "custe o que custar" obcessivo do indivíduo que quiseram pôr a (des)governar-nos. E principalmente se entendem ainda melhor as palavras de um conhecido banqueiro acerca da forma como o povo reage a tanta austeridade: "ai aguenta, aguenta!"
Mas quando o povo quer, não precisa de partidos políticos, nem de sindicatos - ele próprio se congrega e mostra a força da razão, como o fez em todo o país a 15 de Setembro.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

"OS SEXALECENTES"

"OS SEXALECENTES"
 Se estivermos atentos, podemos notar que está surgindo uma nova faixa social, a das pessoas que estão em torno dos sessenta/setenta anos de idade,
Os Sexalescentes , é a geração que rejeita a palavra "sexagenário", porque simplesmente não está nos seus planos deixar-se envelhecer.
Trata-se de uma verdadeira novidade demográfica, parecida com a que em meados do século XX, se deu com a consciência da idade da adolescência, que deu identidade a uma massa jovens oprimidos em corpos desenvolvidos, que até então não sabiam onde meter-se nem como vestir-se.
Este novo grupo humano, que hoje ronda os sessenta/setenta, teve uma vida razoavelmente satisfatória. São homens e mulheres independentes, que trabalham há muitos anos e que conseguiram mudar o significado tétrico que tantos autores deram, durante décadas, ao conceito de trabalho. Que procuraram e encontraram há muito a actividade de que mais gostavam e que com ela ganharam a vida.
Talvez seja por isso que se sentem realizados .......... Alguns nem sonham em aposentar-se.
E os que já se aposentaram gozam plenamente cada dia sem medo do ócio ou solidão. Desfrutam a situação, porque depois de anos de trabalho, criação dos filhos, preocupações, fracassos e sucessos, sabe bem olhar para o mar sem pensar em mais nada, ou seguir o voo de um pássaro da janela de um 3.º andar, ver o por do sol ..........
Neste universo de pessoas saudáveis, curiosas e activas, a mulher tem um papel destacado.
Traz décadas de experiência de fazer a sua vontade, quando as suas mães só podiam obedecer, e de ocupar lugares na sociedade que as suas mães nem tinham sonhado ocupar. Esta mulher Sexalescente sobreviveu à bebedeira de poder que lhe deu o feminismo dos anos 60. Naqueles momentos da sua juventude em que eram tantas as mudanças, parou e reflectiu sobre o que na realidade queria. Algumas optaram por viver sozinhas, outras fizeram carreiras que sempre tinham sido exclusivamente para homens, outras escolheram ter filhos, outras não, foram jornalistas, atletas, juízas, médicas, diplomatas .... Mas cada uma fez o que quis. Reconheçamos que não foi fácil e, no entanto, continuam a fazê-lo todos os dias. Algumas coisas podem dar-se por adquiridas. Por exemplo, não são pessoas que estejam paradas no tempo: a geração dos "sessenta/setenta", homens e mulheres, lida com o computador como se o tivesse feito toda a vida.
Escrevem aos filhos que estão longe e até se esquecem do velho telefone para contactar os amigos, mandam e-mails com as suas notícias, ideias e vivências.
De uma maneira geral estão satisfeitos com o seu estado civil e quando não estão, não se conformam e procuram mudá-lo.
Raramente se desfazem em prantos sentimentais.
Ao contrário dos jovens, os Sexalescentes conhecem e pesam todos os riscos. Ninguém se põe a chorar quando perde: apenas reflecte, toma nota e parte para outra .........
Os homens não invejam a aparência das jovens estrelas do desporto ou dos que ostentam um fato Armani, nem as mulheres sonham em ter as formas perfeitas de um modelo. Em vez disso, conhecem a importância de um olhar cúmplice, de uma frase inteligente ou de um sorriso iluminado pela experiência.
Hoje, as pessoas na década dos sessenta/setenta, como tem sido seu costume ao longo da sua vida, estão estreando uma idade que não tem nome. Antes seriam velhos e agora já não o são. Hoje estão de boa saúde, física e mental, recordam a juventude mas sem nostalgias parvas, porque a juventude ela própria também está cheia de nostalgias e de problemas. Celebram o sol em cada manhã e sorriem para si próprios ..........Talvez por alguma secreta razão que só sabem e saberão os que chegarem aos 60/70 no século XXI..!!

 Mirian Goldenberg

(recebido hoje por mail, enviado por um sexalescente, apenas um ano mais velho que eu...)