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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Livros...

Comecei a ler muito cedo, primeiro os habituais na altura, livros próprios para crianças, como os da Condessa de Ségur (adorava o cão Médor); depois os de aventuras, tipo Emílio Salgari, Júlio Verne e quando entrei na idade adolescente comecei verdadeiramente a interessar-me pela leitura; nos dois últimos anos do então Liceu, li avidamente e procurava ler alternadamente ficção, poesia e algum que outro ensaio. Foi a altura em que descobri a literatura francesa: Camus, Sartre, Gide, Peyrefitte, Prévert e outros; lia muito em francês, graças aos "Livres de Poche" e aos da colecção "J'ai Lu"...
Mas não foi só literatura francesa que me interessou, pois li grandes romances de célebres escritores e de uma forma avassaladora.
Curiosamente, quando entrei na Universidade, o meu interesse pelos livros decresceu, na directa relação com a oferta cultural que vim encontrar em Lisboa: cinema, teatro, concertos, bailado e ópera substituíram a leitura.
Curiosamente,sempre fui comprando livros, que eu dizia, por brincadeira que seriam para ler na minha reforma...
É claro que não deixei de ler, mas a queda foi abissal e também por culpa de começar a ler muitos jornais e revistas, que me levavam quase todo o tempo disponível para a leitura.
E passaram-se anos e anos sem voltar à leitura de livros com interesse real.
Só muito recentemente, se reacendeu a chama e tenho vindo a ler muito ultimamente: muitos dos tais livros para ler na reforma têm sido lidos, mas muitos outros também relidos.
Não sei se vou ter tempo para ler tanta coisa que tenho para ler, pois além do que cá tenho desde há anos, tenho comprado mais e mais.
Só para dar um exemplo, este mês comprei já sete livros: "Nova Iorque, cidade fantasma" de Patrick McGrath, de uma interessante colecção da ASA subordinada ao tema "O escritor e a cidade" (tenho os volumes de Paris, Florença, Rio, Praga e só me falta encontrar o de Sidney); finalmente comprei "O Mestre" do Colm Toíbin, "Como me afoguei" do Jim Grimsley, três livros do David Leavitt ("Dança de Família", "O Escruturário Indiano" e "Colcha de Mármore") e finalmente o último do José Luís Peixoto - "Abraço".
Portanto, muito que ler e literatura que sei vou apreciar.

Ainda falando em livros, o André Benjamim iniciou há uns tempos num dos seus blogs uma rubrica a que deu o nome de "Livros que nunca devia(m) ter lido" em que fala dos seus livros preferidos; ora eu prometi-lhe num comentário que numa postagem minha, falaria dos meus livros preferidos. É difícil a escolha, pois já li autênticas obras-primas, mas há livros, que até podem não ser obras-primas, mas que me marcaram muito.
Se eu tivesse que eleger o livro da minha vida, escolheria sem hesitação "Le Petit Prince" do Antoine de Saint-Exupéry,
pelas imensas vezes que já o reli, pelas imensas vezes que já o ofereci e porque conheço bastantes passagens quase de cor - é um livro para ter sempre à mão.
Se  for ver qual o livro que mais vezes li, depois do "Petit Prince", vou encontrar o livrinho mais "estragado" das minhas estantes, pelas muitas vezes que foi manuseado. Li esse livro, pela primeira vez, muito novo, e porque o seu  autor, Kenneth Martin, o escreveu também muito novo (16 anos), ele teve uma importância enorme na descoberta da minha orientação sexual; trata-se de "Alvorecer", da Portugália Editora, que comprei em 1964, e nunca mais encontrei em português; é a tradução do romance "Aubade".
Um tipo de literatura que sempre me entusiasmou foi o romance histórico, quer em biografia, que em ficção. Dos muitos que li, um deles me entusiasmou sobremaneira, não só pelas suas personagens, mas principalmente pela forma como está escrito. Trata-se, quanto a mim, da obra-prima de Marguerite Yourcenar "Memórias de Adriano".
E finalmente não podia deixar de escolher um livro de poesia; que me perdoem Camões, Pessoa, Florbela, Sophia ou Eugénio de Andrade, mas o livro escolhido é da autoria de um dos maiores poetas portugueses de sempre, o poeta maldito - António Botto - e o livro, claro, só poderia ser "As Canções".
E agora, vou ler um bocado, até adormecer...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

José Luís Peixoto

Ando a descobrir José Luís Peixoto. Depois de ter lido a sua última obra de prosa - "Livro" -  que não é um livro fácil, principalmente para um iniciante da sua leitura, acabei de ler o seu, suponho, último  livro de poemas "Gaveta de papéis", uma poesia muito diferente do habitual, aqui e ali, "prosa em verso", mas que, no cômputo geral, me agradou.
Deste livro de poesia, seleccionei um poema, que afinal, dá o nome ao livro.


"Agora, já não preciso que gostem de mim.
Agora, tenho mil peças de um puzzle, tenho
uma caixa cheia de molas soltas, duas mãos,
tenho a planta de uma casa, tenho ramos
guardados para o Inverno, e tanto silêncio,
tenho tanto silêncio, bolsos vazios e cheios,
pão, fé, céu, chão, mar, sol, cá e lá,
tenho sobretudo lá, uma distância imensa
feita de planícies estendidas e eternidade
porque eu caminho com vagar ao longo das
estradas, o horizonte é demasiado quando
planeio toda a sua distância sem medo de
nada, destemido apenas, a coragem é um
exército ao meu lado, tenho a coragem
necessária, tenho um lago que reflecte a
noite e a lua quando há lua, uma orquestra
inteira tenho, o som e o silêncio, já disse o
silêncio, repito-o saber quem sou e o que
tenho, tenho uma gaveta de papéis, tenho
montanhas de montanhas, tenho o ar, tenho
tempo e tenho uma palavra que corre à
minha frente, mas que consigo apanhar
e que ainda utilizo no poema."

Um autor a seguir atentamente.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Língua Portuguesa em Belgrado

O mundo é muito pequeno, e por vezes agradavelmente surpreendente. Estive a passar quinze dias em Belgrado, e como a cidade já não tem quase segredos para mim, procuramos agora preencher o nosso tempo com a ida a locais onde aconteçam coisas interessantes. E o Déjan lembrou-me que estava a acontecer na Feira de Belgrado (um excelente espaço, diga-se de passagem), a Feira do Livro, e que nesta edição, o destaque escolhido, tinha sido a Língua Portuguesa, isto é, de todos os espaços do mundo onde se fala a nossa língua. Claro que logo mostrei interesse em visitar o certame e lá fomos uma tarde. Gostei desde logo da disposição do espaço escolhido para essa homenagem, na parte nobre do certame
e quando ali chegámos contactei um senhor que parecia ser uma das pessoas importantes ali, e que era português, e me informou, muito gentilmente do que se estava a realizar ali, quem estava ou estaria presente e mantive uma muito agradável conversa com ele, e quando lhe disse que era português de passagem em Belgrado e lhe referi ser natural da Covilhã, fiquei surpreso ao saber que ele também era, embora duma freguesia rural do concelho e ainda há dois dias tinha lá estado a inaugurar uma Casa de Cultura numa aldeia. Convidou-me a ouvir a entrevista que o escritor moçambicano Mia Couto ia dar nessa altura, devidamente traduzida para sérvio por um tradutor, perante um auditório muito interessado.
Durante essa entrevista, fixei o olhar na pessoa com quem tinha falado, e de repente reparei que a cara não me era de todo estranha, e ainda mais rapidamente me lembrei do nome da pessoa, confirmado por um rapaz português que ali estava junto a mim: tratava-se do Prof. Arnaldo Saraiva, ensaísta, escritor e jornalista, de quem eu tinha lido tantas crónicas no Jornal do Fundão, onde continua a escrever.
No final da entrevista de Mia Couto, fui cumprimentar pessoalmente o escritor e fui falar novamente com o Prof. Saraiva para lhe dizer que afinal sabia quem ele era e que já tinha lido muitas crónicas dele. Aproveitou para me dizer que tinham chegado entretanto a Alice Vieira e a Lídia Jorge, ambas muito simpáticas, mas foi com Lídia Jorge que falei mais, pois, num outro acaso interessante, tinha lido o seu magnífico “Dia dos Prodígios” precisamente em Belgrado, na última vez que ali tinha estado; apresentei-lhe o Déjan e acedeu a ficar comigo numa foto.

Mais tarde, passei outra vez no local e estava a ser entrevistado o Rui Zink, saudavelmente louco como sempre e a pôr a assistência a rir a cada passo.
Enfim, um excelente fim de tarde.
Mas, a surpresa e as coincidências não acabam aqui, pois dois dias mais tarde, estava a almoçar com o Déjan num popular e central restaurante, ocupando dois lugares de uma mesa de quatro; entretanto chega uma senhora, bastante distinta, dos seus quarenta anos que pede licença para ocupar um dos espaços vagos da mesa, pois não havia mais mesas vagas. Claro que sim, e eu a falar com o Déjan normalmente e a senhora a consultar uns dossiers, enquanto esperava pelo almoço. Como este estava algo demorado, ela disse para o Déjan que estava apressada, pois tinha que ir dali para a Feira do Livro. O Déjan disse-lhe que havíamos aí estado há dois dias, pois eu era português e tinha mostrado interesse em ir lá pelos motivos já citados.
Qual o meu espanto, quando a senhora, num português quase correcto me perguntou se eu tinha gostado. Claro que começámos a falar, ora em português, ora em inglês, para o Déjan entender, e fiquei a saber que a senhora vive desde há anos em Faro, é tradutora de quase todos os livros de escritores portugueses editados em sérvio e isso porque depois de se ter licenciado em Letras na Universidade de Belgrado, tirou o mestrado, escolhendo como tema a poesia portuguesa!!!
E pronto, o almoço foi um espanto, falámos de Eugénio de Andrade, da Sophia, de Florbela, do Al Berto, do Bernardo Santareno, eu sei lá mais de quê; a senhora já queria que eu fosse com ela para a Feira do Livro, onde iria ser a tradutora daí a pouco da entrevista, precisamente, do Prof. Arnaldo Saraiva.
Que coisas belas acontecem por vezes…

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mãe



Quando Eu For Pequeno

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.

Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.

José Jorge Letria

Para a minha Mãe que hoje cumpre o seu 89º.aniversário, cada vez mais linda e maravilhosa!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Re(li)gata


Depois de ver o Miguel "ressuscitar" David Mourão Ferreira, relembrei um dos seus poemas de que mais gostei, um hino à sensualidade feminina.

"Quando em lugar de feltro é de barro de Outubro
o calor interior das coxas habitadas
Quando a língua é um barco avançando no escuro
de um canal de Corinto entre pardas escarpas
Quando o cheiro do Mar se desdobra em veludo
Quando rompe na boca o mistério das algas
Quando em baixo o teu pé a triturar-me o surdo
Perímetro do sexo encontra a madrugada
Quando mais se aproxima a náutica do culto
Quando mais o altar se mostra navegável
Quando mais eu descubro e restauro e misturo
Na crista litoral de súbito ampliada
o ritual do grito o ritual do cuspo
e vês que ninguém mais merece esta homenagem
é que enfim te possuo é que enfim te reduzo
a uma luva uma esponja uma deusa uma nave"

David Mourão-Ferreira

domingo, 1 de maio de 2011

Mãe

Palavras para a Minha Mãe


mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses
as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.
sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.

pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste
tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te
desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo,
a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia
mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não
escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que
não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não
as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"


Este post vai ser enviada à "Fábrica de Letras", para o tema do mês de Maio, sobre a Mãe.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Passado e presente 18 - Epigrama

Queixou-se uma noviça ao pai honrado

que da ordem um tafulão

Lhe tinha quase à força escarapelado

O virgíneo botão:

"Gritaste ao menos contra o agressor,

Misérrima tolinha?-

(Exclama o ginja, já todo em furor).

"Não, meu pai, não convinha

(Lhe torna a triste) que era pior mal;

Sendo alta a noite, tempo mui perigoso

De incomodar o meu provincial,

Que com a abadessa estava no seu gozo."



Filinto Elísio, in "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"



(publicado originariamente em 28 de Dezembro de 2006)

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Portalegre, Régio ...e o Miguel

Tenho uma irmã minha que resolveu ir casar a Portalegre, não porque o marido fosse da região, mas porque era a meio caminho, mais ou menos das terras das respectivas famílias; casou numa capelinha na encosta em frente da cidade.
Tinha um grande Amigo, que a morte ceifou cedo demais, que escolheu Portalegre para viver a sua vida profissional, que sempre ali exerceu, sendo a sua mulher sido professora naquela cidade durante esse tempo.
E conheci, há menos tempo, um tipo que me enviou um dia um mail, acerca de um texto que eu publiquei aqui no blog sobre um homofóbico artigo de um jornaleco da cidade e que chegou às minha mãos. Nesse mail, esse tipo, com um orgulho muito alentejano,  orgulho ferido naturalmente, lamentava não o meu texto, mas o artigo em questão, sentindo-se envergonhado, como portalegrense da verborreia de um seu concidadão. Esse tipo, que vim a descobrir ser um tipo muito porreiro, é o Miguel, o Mike, de quem foi tão fácil tornar-me Amigo.
E, “last but not the least”, Portalegre é a cidade de José Régio, um dos grandes nomes da literatura portuguesa  do século passado.
Visitei recentemente Portalegre, onde não ia desde esse referido casamento, para mostrar um pouco mais de Portugal ao meu Déjan, e aí reencontrei o Miguel, evidentemente, que nos acompanhou num dia muito agradável.
Agora, e a propósito da publicação no blog do Mike do poema máximo de Régio – “O Cântico Negro”, ele falou na existência de um CD com a leitura do próprio poeta dos seus versos; perante o meu interesse, o Miguel enviou-me o referido CD, que agradeço sensibilizado.
Dele retirei uns dados auto biográficos manuscritos pelo  poeta que aqui transcrevo.
E porque como referi na altura, a melhor “leitura” que conheço do poema é do grande e inesquecível João Villaret, aqui a deixo também, com toda a sua força brutal.
Finalmente a interpretação muito boa também de Maria Bethânia, deste poema, neste vídeo que deixa também as palavras, em português e em Inglês.

(Clicar na imagem do texto de José Régio, para aumentar).

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Para o Déjan...


Li um dia destes no sempre interessante blog Jugular” um belo poema da Dra. Isabel Moreira, conhecida jurista e que muito admiro, sobre a Sérvia.

Claro que não fiquei indiferente, pois, embora em situações pessoais diferentes, com certeza, o poema refere-se a alguém que a autora conheceu na Sérvia e também eu conheço muito bem alguém da Sérvia, e que me transmitiu exactamente os mesmos sentimentos que o poema refere acerca da posição dos sérvios durante a guerra dos Balcãs.

Aqui deixo a transcrição do belo poema e também do comentário que lá deixei.

“E depois há uma música
Que é sempre a mesma
Que são muitas outras
Que é sempre a mesma
Que eras sempre tu
E depois disseste-me, com a voz nas pálpebras:
Eu não tenho esses séculos de fronteiras
Eu não tenho a paz de saber das minhas memórias
Eu não sou eu até que me não doa a casa magoada do meu tio
E a grávida morta porque morta antes a mulher do assassino
E por isso dizias-me, sem uma lágrima na voz:
Isto é só isto é a dor da identidade; de que falas, Isabel?

E depois agarravas uma viola e era uma outra voz
Que era sempre a mesma
Que eram muitas outras
Que era muito tua
E o som da tua voz inutilizava o significado das palavras
Que não entendo
E que me dizia tudo
Um tiro de raízes ciganas, pelo meio de todas muçulmanas, croatas, albanesas
E as tuas, isso que projectava a pergunta: de que falas, Isabel?
Os olhos cerrados de um sérvio a recuar aos sons
Que eram tantos
Que eram muitos outros
Que terão sido sempre aqueles
Cantados antes que gritados
Ou chorados
Ou sangrados
De que falas, Dragan?
E tu a dizeres: eu preciso de tempo
E que fosse a partir de um sítio com o nome de lugar novo
E assim a dizeres-me, de viola na mão, que precisas de viver
Com a paz muito sofrida da palavra eu.”

O meu comentário:

Dá-se o caso que também na minha vida há um "Dragan" e que através dele, fiquei a conhecer não só melhor a nação sérvia, mas também muito do que desconhecia que se passou na terrível guerra dos Balcãs e que aqui chegava, tantas vezes distorcido pelas agências noticiosas reconhecidamente anti Servia.

Houve nomes de que os sérvios se envergonham, com Milosevic à frente; mas houve também nomes que deviam envergonhar croatas e bósnios.

Mas é sempre conveniente arranjar bodes expiatórios.


E para terminar, uma música bem representativa daquele país.

sábado, 19 de junho de 2010

"Dois dias para esquecer"

Aos 42 anos, Antoine é um publicitário de sucesso, casado com Cécile, de quem tem dois filhos, vive numa bela casa e tem tudo para ser feliz.
Mas, num fim-de-semana como outro qualquer, Antoine sente que nada faz sentido e inicia um processo de autodestruição, arrasando com tudo o que tinha construído até aí: desde a sua vida profissional até cada uma das suas relações afectivas. Para surpresa de todos, durante um jantar na sua casa de campo, mostra-se rude e intransigente, insultando cada um dos presentes. Acaba por expulsá-los e, depois de uma terrível e definitiva conversa com a mulher, abandona a sua casa e tudo o que ela significa.
Em apenas dois dias, Antoine, um homem comum, destrói todas as bases da sua vida. Será esta apenas uma crise de meia-idade?

Este é o tema de um belíssimo filme de Jean Becker,” Dois dias para esquecer”, muito bem interpretado por um excelente Albert Dupontel e que de algum modo estabelece pontos de contacto com o filme de François Ozon “Le Temps qui reste”.

Faz-nos pensar e de que maneira, na precarieridade da vida e também nas difíceis opções que por vezes se verificam num relacionamento baseado no amor.

No final, comovente, ouvimos esta belíssima canção na voz magnífica de Serge Reggiani, precisamente com o mesmo nome do filme de Ozon: “le Temps qui reste”.

Quanto tempo ...
Por quanto tempo mais
Anos, dias, horas, como?
Quando penso nisso, o meu coração bate tão forte ...
O meu país é a vida.
Quanto tempo ...
Quantos

Eu o amo tanto o tempo que resta ...
Quero rir, correr, falar, chorar,
E ver, e acreditar
E beber, dançar,
Gritar, comer, nadar, saltar, desobedecer
Eu não terminei, eu não terminei
Voar, cantar, ir, deixar
O sofrimento, o amor
Eu amo tanto o tempo que resta

Eu não sei onde eu nasci, ou quando
Eu sei que não há muito tempo ...
E que o meu país é a vida
Também sei que meu pai dizia:
O tempo é como o pão ...
Guarda-o para amanhã ...

Eu ainda tenho pão
Eu ainda tenho tempo, mas quanto?
Eu quero jogar ainda ...
Eu quero rir montanhas de riso
Eu quero chorar inundações de lágrimas,
Eu quero beber barcos carregados de vinho
De Bordeaux e da Itália
E chorar, dançar, voar, nadar em todos os oceanos
Eu não terminei, eu não terminei
Eu quero cantar
Eu quero falar até ao fim da minha voz ...
Eu amo tanto o tempo que resta ...

Quanto tempo ...
Por quanto tempo mais?
Anos, dias, horas, quantos?
Quero histórias, viagens ...
Eu tenho tanta gente para ver, tantas fotos ..
Crianças, mulheres, homens grandes
Pequenos homens, engraçados, tristes,
Alguns muito inteligentes e outros idiotas,
É engraçado, os idiotas, isso acalma,
É como a folha no meio das rosas ...

Quanto tempo ...
Por quanto tempo mais?
Anos, dias, horas, quantos?
Eu não ligo meu amor ...
Quando a música parar, eu vou dançar ainda ...
Quando os aviões não voarem mais, eu vou voar sozinho ...
Quando o tempo parar ..
Eu ainda te amarei
Eu não sei onde, não sei como ...
Mas ainda te amarei ...
Concordas?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Na despedida, meu amor

Na despedida, meu amor, uma Ode de José Régio; tu não partes. Apenas vais "voar" por uns tempos...


"Nuvens tocadas pelos ventos, ide!

Lá para além de vós, o céu não passa.

Contra as rochas erguidas e paradas,

Desfazei-vos na vossa eterna lide,

Ondas!, flocos de espumas encrespadas…


Que a praia, não há onda que a desfaça.


Desfolhai-vos nas asas do tufão,

Rosas inda em botão esta manhã,

Folhas aos velhos troncos arrancadas!

Cinzas levais, só cinza!, em vossa mão,

Tempestades futuras e passadas!


Sobre a semente, a vossa fúria é vã.


Decorrei, dias meus já sem sentido

Senão o de ficar, que não é vosso

Dissolvei-vos no ar, mãos revoltadas!

Gestos, formas, visões, sons, pó erguido,

Voltai ao pó das tumbas ignoradas!...


Que não se apaga a luz de além do poço.


Sou, como as nuvens sou que nada são,

E as ondas frágeis como vãs quimeras,

E as pétalas e as folhas desfolhadas,

E as formas fogos-fátuos da ilusão…

Correi , lágrimas fúteis enganadas!


Mas tu canta, minh’alma! Enquanto esperas."

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Aiiiiii.....o uso das palavras

Nem sempre podemos expressar num português corrente, aquilo que nos apetece dizer, ou porque estamos na presença de pessoas que respeitamos muito, ou por estarmos em locais mais reservados.

Sendo assim, aqui estão alguns exemplos de como devemos dizer o mesmo com palavras nada ofensivas e que até podem provocar uma admiração pela forma elegante como as usamos:

"Deglutir o batráquio" (Engolir o sapo)

"Colocar o prolongamento caudal no meio dos membros inferiores" (Meter o rabo entre as pernas)

"Sequer considerar a possibilidade de fêmea bovina expirar forte contracções laringo-bucais" (Nem que a vaca tussa)

"Retirar o filhote de equino da perturbação pluviométrica" (Tirar o cavalinho da chuva)


a melhor de todas......aprendam

"Sugiro veementemente a Vossa Excelência que procure receber contribuições inusitadas na cavidade rectal"

(Vá levar no cú)

E porque de palavras falamos que tal deliciar-nos com o inesquecível Mário Viegas numa das suas mais célebres declamações…

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ni - Ni (18/7/1944 - 12/2/2009)

Se todo o ser ao vento abandonamos

E sem medo nem dó nos destruímos.

Se morremos em tudo o que sentimos

E podemos cantar, é porque estamos

Nus, em sangue, embalando a própria dor

Em frente às madrugada do amor.

Quando a manhã brilhar refloriremos

E a alma beberá esse esplendor

Prometido nas formas que perdemos.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Uma imensa saudade...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Memória Consentida"


Agora que os membros estão rígidos

e o sangue se faz pedra nas veias.

Agora que o encéfalo se esboroa

e destaca das secas meninges

esverdeadas.

Agora que a carne balofa

visita a dureza

do basalto

e os intestinos dilatam

ao inchaço azul de não expelidos

excrementos.

Agora que a necessária morte exacta

o invadiu

desde o cerne das unhas


pesa mais


em nossos ombros dobrados,

já cadáver.


Pesa

em nós sua elefantíase

de cadáver gordo

tornado inúteis pirâmedes

de Gizeh,

enquanto

ácidos ventos do deserto

anunciam

a chegada dos bichos da terra.



(Notícia 1, in “Memória Consentida”, de Rui Knopfli)



Depois de um ano de 2009 terrível, com o desaparecimento de pessoas, familiares e amigas, que me trouxeram dor e tristeza, esperaria com alguma legitimidade um ano mais calmo, nesses aspectos. Mas a realidade tem sido diferente, desde a calamidade que varreu quase um país do mapa, até à inesperada notícia desta manhã, crua e dura: o Alfredo, meu companheiro de infância na Covilhã, meu colega de estudos e divertimento na Lisboa universitária, meu Amigo de sempre, faleceu esta madrugada de súbita paragem cardíaca: tinha um ano mais que eu...

Pergunto a mim próprio se entrei já no ciclo dos anos consecutivamente maus e se não serei eu a partir um dia destes...

Para ti, Amigo Alfredo, onde quer que estejas um abraço já saudoso.

domingo, 1 de novembro de 2009

87 anos


Vou hoje para a Covilhã, a fim de passar o aniversário da minha Mãe, amanhã dia 2 de Novembro, com ela.

O ano passado estava em Milão e portanto não lhe pude fazer companhia; senti-me desconfortável e pesaroso, pois na sua idade e embora o seu estado de saúde esteja normal, nunca se sabe quando será o último.

Prometi a mim mesmo, que a partir deste ano, sempre passaria com ela este dia e assim farei: faz 87 anos e teve um ano muito difícil, pois perdeu uma filha o que a levou além da dor natural de uma mãe que perde um filho, à revolta de não ter sido ela a partir, pois seria a lei natural das coisas…

Será uma estadia curta, mas que me dá muito gosto.

A ela, no dia do seu aniversário, quero deixar a poesia eterna de Eugénio de Andrade:

“No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.”

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Na casa de Ary

José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937 e morre também em Lisboa a 18 de Janeiro de 1984 e celebrizou-se como poeta.

Oriundo de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos, conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, vê publicados aos 14 anos, através de familiares, alguns dos seus poemas, considerados maus pelo autor.
No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade.
É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett.

Nessa altura Ary dos Santos abandona a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para se sustentar, tais como venda de máquinas para pastilhas até à publicidade.
Paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se-ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas A Liturgia do Sangue (1963).
Em 1969 inicia-se na actividade política ao filiar-se no PCP, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "canto livre perseguido".

Ary dos Santos morreu a 18 de Janeiro de 1984, na sua casa, na rua da Saudade, em Lisboa, quando preparava um livro autobiográfico intitulado «Estrada da Luz-Rua da Saudade» e a edição de dois livros de versos, “Trinta e Cinco Sonetos” e as “Palavras das Cantigas".


Foi nesta casa da Rua da Saudade que estive numa estranha noite, começada num bar gay da Calçada da Patriarcal, que parece ainda existir, mas com outro nome, e que na altura se chamava “Clássico…ma non troppo”; aí encontrei um amigo, que tinha aparecido num grupo animado, para beber um copo, e no qual se incluía Ary dos Santos, poeta que sempre admirei. Foi de uma forma natural que me vi incluído no grupo que rumou para o Castelo, para a casa do poeta. Era uma casa magnífica, com uma enorme sala, cheia de brocados, com fotos de grandes senhoras da vida cultural portuguesa (Amélia, Amália, Eunice, Natália…) e numa sala contígua Ivone Silva ensaiava um trecho de uma nova revista a apresentar em breve e da qual Ary era co-autor.

Era para mim, jovem universitário, uma atmosfera inédita e quase irreal; formou-se um círculo com os que tinham chegado, todos sentados no chão, entre almofadas, e um ritual se iniciou, bastante comum na altura, e sem grandes consequências, de um que outro “charro” fosse sendo fumado em comunidade e com conversas interessantes.

Quando chegou a altura que eu achei que devia sair, dirigi-me a Ary para lhe agradecer a agradável noite, mas ouvi, num tom imperativo, algo inesperado: “tu não vais embora, ficas a dormir aqui em casa”; claro que não gostei, sempre fiquei a dormir onde bem quis e não onde me impusessem, pelo que disse que tal não aconteceria e dirigi-me para a porta; foi então que a mão sapuda de Ary me esbofeteou, irado pela “desfeita” de um engate mal sucedido. Doeu bastante, não pela dor física, mas sim porque nesse momento caiu um mito…

Saí!!!!

A admiração pela obra poética de Ary, claro que não ficou beliscada, mas como ser humano, apenas um enorme desprezo a partir daí senti por ele.


E baseado neste “incidente” elegi para ilustrar a sua poesia, não um dos seus mais conhecidos poemas, mas este

“Soneto Presente”

“Não me digam mais nada senão morro

aqui neste lugar dentro de mim

a terra de onde venho é onde moro

o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo.

E eu não posso dizer. Eu estou de pé.

De pé como um poeta ou um cavalo

de pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo

a não ser os que eu amo ou que eu entendo

os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima

Porque é de baixo que me vem acima

A força de um lugar que for o meu.”


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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Little ashes"

Gosto muito de filmes que se debruçam não sobre personagens de ficção, mas sobre pessoas reais que de alguma forma se distinguiram durante a sua vida; se um filme desse tipo fala não da vida de uma, mas de três pessoas, diferentes no seu contributo para serem conhecidas, mas que se relacionaram em vida, tanto melhor. É o caso de “Little Ashes”, ainda não estreado entre nós e que relata o encontro e a amizade de três grandes vultos da cultura espanhola do século XX: o poeta Frederico Garcia Lorca, o pintor Salvador Dali e o cineasta Luis Buñuel, desde que se encontram, como jovens universitários, na Madrid dos anos 20 e que vai até ao assassinato de Lorca, no início da Guerra Civil Espanhola. A extravagância do jovem Dali, encontra receptividade no espírito aberto e boémio dos dois outros vultos, ambos originários das elites espanholas de então; é uma Madrid de noites de farra e de excessos, com o despontar do surrealismo, misturado na euforia do jazz, mas com imensas restrições e que anunciam à distância um confronto brutal, que acabou por ser uma espécie de ensaio para a II G.G. A homossexualidade de Lorca encontra algum acolhimento no espírito libertário de Dali, embora Buñuel não aprove essas formas de expressão sexual; aliás, é Buñuel o primeiro a achar que a Espanha dessa época nunca lhe poderia abrir caminho à necessidade de expressar a sua anti-religiosidade, através do cinema, partindo para Paris (foi em França e no México, onde faleceu, que realizou toda a sua obra). A ele se junta depois Dali, deixando Lorca só, com os seus viveres e a sua noção de cidadão de esquerda, que levaria Franco a prendê-lo e assassiná-lo, na sua Córdoba natal. Antes disso visita Dali em Paris onde este lhe apresenta a mulher que iria preencher toda a sua vida futura e lhe servirá de musa e inspiração até à morte – Gala!


Filme realizado no ano passado por Paul Morrison, terá nas interpretações as maiores críticas, tendo o realizador optado por um actor espanhol pouco conhecido para representar Lorca (Javier Beltrán) , tendo Dali a defender a sua personagem, um dos actores de “Harry Potter” e de "Crepúsculo" (Robert Pattinson) e sendo Matthew McNulty escolhido para o papel de Luís Buñuel.
Sendo eu um admirador confesso do cinema de Buñuel, a quem ficam a dever-se momentos únicos da história do cinema, como a cena do olho da curta “Un chien andalou”(1929) e a da composição da “última ceia” com mendigos, bêbados e prostitutas no fabuloso “Viridiana"(1961).

Sendo eu um admirador confesso de toda uma vasta e extraordinária obra que revolucionou a pintura , de Salvador Dali.

Sendo eu um admirador confesso dos poemas inolvidáveis de Lorca e do seu posicionamento como cidadão

"Meu entranhado amor, morte que é vida,
tua palavra escrita em vão espero
e penso, com a flor que se emurchece
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem a sombra conhece nem a evita.
Coração interior não necessita
do mel gelado que a lua derrama.

Porém eu te suportei. Rasguei-me as veias,
sobre a tua cintura, tigre e pomba,
em duelo de mordidas e açucenas.

Enche minha loucura de palavras
ou deixa-me viver na minha calma
e para sempre escura noite d'alma. "

este filme é verdadeiramente importante; poderá não ser uma obra prima, mas é um filme a não perder.

sábado, 11 de julho de 2009

A hora da partida


“A hora da partida soa quando

Escurece o jardim e o vento passa,

Estala o chão e as portas batem, quando

A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando

As árvores parecem inspiradas

Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos

Me é estranha e longínqua a minha face

E de mim se desprende a minha vida.”

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Para ti, meu amor, as palavras de Sophia, pois eu não tenho palavras para te dizer o vazio que sinto dentro de mim, embora me sinta feliz por saber quanto nos amamos.

Até Novembro, em Belgrado…até logo!

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Neste dia em que te espero


Esperança e desespero de alimento

Me servem neste dia em que te espero

E já não sei se quero ou se não quero

Tão longe de razões é meu tormento.


Mas como usar amor de entendimento?

Daquilo que te peço desespero

Ainda que mo dês - pois o que eu quero

Ninguém o dá se não por um momento.


Mas como és belo, amor, de não durares,

De ser tão breve e fundo o teu engano,

E de eu te possuir sem tu te dares.


Amor perfeito dado a um ser humano:

Também morre o florir de mil pomares

E se quebram as ondas no oceano.


(Sophia de Mello Breyner Andresen «Soneto à moda de Camões»)


Neste dia em que te espero, Déjan, renovo todo o amor ausente, mas sempre presente. És a força da minha vida e sinto-te tão seguro como eu dessa realidade bela que é a entrega mútua de dois corações. Amo-te! Volim te!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Passado e presente 13: "Amigos 3"


Tu foste o primeiro "amigo"…

A ti devo a descoberta de sentimentos até então apenas sonhados.

Deste-me muito de ti e do teu mundo.

E um dia,  enviaste-me um enxerto de um poema de Eugénio de Andrade,  lembras-te,  Miguel?

Foi um soco,  belo como só um poema de Andrade pode ser,  e forte,  pelo que então significou para ti e para mim.

Hoje,  estás perto,  como sempre estarás,  mas estás algo longe ao mesmo tempo,  devido à Vida...

Porque nunca o vou esquecer e porque o belo se deve sempre compartilhar,  relembro-te esse excerto.

 

"...Já gastámos as palavras.

Quando agora digo:  meu amor...

Já se não passa absolutamente nada.

E no entanto,  antes das palavras gastas,  tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.

Não tenho já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse:  as palavras estão gastas.

Adeus.

 

(Post publicado na parte “apagada” deste meu blog em 29 de Novembro de 2006.

Apenas a foto é diferente, pois em certos posts, foi impossível recuperar fotos ou vídeos)