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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

"Velocidade Máxima"

Ver teatro é para mim fascinante e só tenho pena de ver tão pouco, e por vezes escapam-me as produções “out-siders” que não são apresentadas nos principais palcos, pelas principais companhias, com actores conhecidos e não suficientemente publicitadas.

Foi uma peça deste tipo, uma produção fracamente comparticipada, com um grupo de actores que afinal se resume a um (Jonh Romão), já que os restantes intérpretes não são actores, mas prostitutos brasileiros que actualmente vivem e trabalham em Lisboa.

A peça chama-se VELOCIDADE MÁXIMA e fui vê-la a um espaço alternativo, chamado NEGÓCIO, que fica na Rua do Século, aqui em Lisboa.

Foi apresentada em Agosto no Festival Citemor (Montemor- o –Velho), teve depois duas apresentações no estrangeiro (Gijon e Bratislava) e depois uma série de espectáculos na Galeria Zé dos Bois (Bairro Alto) terminando hoje, com lotações esgotadas as representações no espaço referido. Ainda vai ser apresentada em Almada e eu gostaria muito de a ver representada em muitos outros sítios, se bem que compreenda que fora deste circuito urbano de Lisboa e de outros grandes centros, não seja uma peça fácil de apresentar…

Reza o programa: "Velocidade Máxima destaca-se pelo seu conteúdo polémico e pela razão da sua existência no palco, cuja raiz se focaliza no Ciclo Poder e Posse do Colectivo 84 (que co-produz a peça). O espectáculo tem como génese a vídeo-instalação “Voracidade Máxima” dos artistas Dias & Riedweg, objecto que coloca em evidência a problemática das identidades íntegras e integradas, o que existe nos hotéis ou nos apartamentos de luxo dos grandes centros urbanos, através do testemunho de prostitutos provenientes da América Latina. Velocidade Máxima pretende abordar, por um lado, as identidades transnacionais, a prostituição masculina e a relação entre sexualidade/economia, e por outro, o papel do artista no mercado da arte. No espectáculo estão em cena um actor encenador (John Romão) e três prostitutos brasileiros residentes em Lisboa. Aquilo que existe em comum entre os quatro intérpretes é o rosto: os “garotos de programa” transportam uma máscara com o modelo da cara do actor/encenador. A máscara ora protege ora permite que todos estejam ao mesmo nível, reforçando a necessidade de se esconder a cara como um instrumento para falar do próprio sentido da Identidade e do Poder.”

Mas o espectáculo é muito mais que isto: começa com um importante monólogo de John Romão (sentido e bem apresentado) de alguma da realidade da apresentação do teatro no nosso país, no que respeita aos subsídios, às diferentes “manhas” necessárias para se ser escolhido por programadores, não dando praticamente qualquer chance a novos empreendimentos e ao aparecimento de novos valores que denunciem a realidade do dia a dia, por vezes com uma mostragem crua e chocante ( bem necessária) das novas realidades da sociedade.

Depois desse intróito revoltado e apelativo, mostra-se duma forma sem concessões, o que se passa com o trabalho (não, não me enganei na palavra) de uma quantidade grande de imigrantes no nosso país ( e não serão só brasileiros) que vêem na prostituição a única forma de se sustentarem. As suas confissões, os seus lamentos, a dificuldade da vida que levam é completamente dissecada nesta peça.

Se o trabalho dos três rapazes brasileiros é muito meritório, o realce vai todo para o John Romão, que dá tudo, nesta peça: uma entrega total à denúncia da hipocrisia, da exploração e da violência exercida sobre esta gente. O acompanhamento musical a cargo da pianista Cláudia Teixeira, é perfeito e a integração de alguns temas musicais são verdadeiramente adequados. Como exemplo destes, deixo aqui um clip do último tema musical apresentado e que de certa forma resume a peça, da autoria do filho de Catano Veloso, Moreno Veloso.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"O que se leva desta vida"


Após cerca de ano e meio de aturada pesquisa gastronómica, o cineasta João Canijo e os actores e encenadores Gonçalo Waddington e Tiago Rodrigues criaram uma peça que tem como ambiente os bastidores de um restaurante.

Em palco, há dois cozinheiros às turras. O ambiente cheira a comida mas os espectadores não provam os pratos. Ficam com água na boca.

A peça "O que se leva desta vida", coloca em acção dois cozinheiros que dão vida a duas visões diferentes do que é a arte de cozinhar e que se confrontam na defesa das sua opções culinárias .

A partilha conduz ao confronto: para um deles, o acto sublime é o próprio acto de criar, para o outro, o prazer de saborear.

"O que se leva desta vida" é, nas palavras dos seus autores, " uma visita aos bastidores da alta cozinha, mergulhando com humor e paixão num mundo onde os sentidos se encontram com a filosofia e a própria vida".

É, em suma, um espectáculo sobre a arte e a ciência da cozinha, sobre a insatisfação permanente e o espírito inventivo de dois cozinheiros que acabam por descobrir que um prato conta sempre a história de quem o cozinhou.

Para a peça foram criados por Juan Mari Arzak e Martín Berasategui dois pratos que são confeccionados em palco pelos actores.

Parece que o diálogo desta peça é bastante "preenchido" por palavras próprias de uma "stand up comedy", e não sei quem nem porquê, alguém teve a infeliz ideia de levar um grupo de pessoas da terceira idade a ver esta peça. É louvável que haja iniciativas dessas, mas há que escolher peças adequadas.

Ora as reacções deste público à peça foram as piores, tendo sido os actores vaiados em cena e produziram-se declarações no final, que podemos ver neste vídeo; claro que estas declarações mostram não só o atraso do nosso povo, mas também e sobretudo o inoportuno desta sessão.

Enfim, Portugal "progride e moderniza-se".

sábado, 5 de setembro de 2009

"Bent"

Hoje falo sobre um filme que data já de 1997 e que terá passado algo desapercebido em Portugal, sendo mais conhecida a peça em que o mesmo se baseou, já representada mais de uma vez no nosso país; trata-se de “Bent”, um filme dirigido por Sean Mathias, com argumento do próprio autor da peça, Martin Sherman. Claro que para quem viu a peça e não viu o filme, poderá pensar que será demasiado lenta e repetitiva toda aquela imensa cena em que os dois prisioneiros vão deslocando as pedras de um local para outro, ao longo dos meses, debaixo de um sol escaldante ou de um frio terrível e quase sem dizerem uma palavra, na peça essa longa sequência preenche quase todo o tempo de representação, não sendo demasiado importante a história inicial, senão para nos situar perante a situação homossexual do protagonista, Max.

Já no filme, essa cena ou cenas que antecedem o que se passa no campo de concentração de Dachau, ganha um maior relevo e mostra-nos numa noite de orgia, algo exagerada, a condição homossexual de Max, mas também alguns aspectos interessantes sobre a Berlim desse tempo e dos métodos implacáveis da Gestapo. È nestas cenas que aparecem as personagens do sempre admirável e assumido Sir Ian McKallen e do surpreendente Mick Jagger num admirável travesti.

A história torna-se verdadeiramente interessante quando, se dá o encontro dos dois prisioneiros, ambos homossexuais, mas em que um, Max, interpretado pelo conhecido Clive Owen, esconde a sua homossexualidade e tem pois o triângulo amarelo de judeu, ao passo que o outro prisioneiro, Horst - Lothaire Bluteau - ostenta com orgulho o triângulo rosa que identificava os homossexuais.

Vivendo o seu dia a dia em silêncio, eram raras as ocasiões que trocavam palavras, mostram na sua monótona, árdua e completamente inútil tarefa, uma solidariedade que se vai desenvolvendo para lá das terríveis contingências em que se encontram laços mais profundos de amizade.

O final é dramático e algo previsível, mas de uma intensidade que nunca é gratuita e se ambos os actores têm um desempenho bom, o desconhecido Lothaire Bluteau supera-se e é fantástico.

Deixo aqui um vídeo com aquela que é para mim a cena mais bela do filme e que mostra a força da mente humana quando o “querer” é realmente forte.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

"Brando, mas pouco"



“A intensidade animal que Marlon Brando transmitiu a Stanley Kowalski em “ Um Eléctrico Chamado Desejo” é a mesma destas páginas baseadas em material reunido ao longo de toda a vida por Darwin Porter, repórter veterano de Hollywood. O fecho éclaire dos jeans que Brando tornou famosos nessa interpretação abre-se numa biografia que traça o resultado fiel e sem tabus do maior actor cinematográfico do século XX. Um retrato cru, implacável e “para adultos”. De símbolo sexual a gordo desmazelado, Brando foi a estrela mais original do mundo do cinema. Bissexual assumido, seduziu mais mulheres e homens do que qualquer outro actor de Hollywood. Os seus encontros secretos com figuras como Greta Garbo e Cary Grant são relatados com naturalidade, tal como o são as suas “f**** caridosas” com estrelas como Joan Crawford, Bette Davis ou John Gielgud. Pela cama de Brando passaram famosos e engates desconhecidos(…)”

Esta é parte da contra-capa do livro “Brando, mas pouco”( Bradon Unzipped), de Darwin Porter, editado entre nós pela Editora “Pedra da Lua”. O seu autor relata-nos em pequenos capítulos a vida de Brando, assente sobretudo na vertente sexual, ainda antes do seu avassalador êxito na peça "Um Eléctrico Chamad Desejo", encenada por Elia Kazan e da autoria de Tenesse Williams, apresentada na Broadway, até á realização do seu único filme “Cinco Anos Depois”. O mais curioso para mim, neste livro, não é tanto o lado voyeur das sua múltiplas aventuras sexuais, algumas descritas ao pormenor pornográfico, mas a uma visão bastante completa da vida da Meca do cinema, nas décadas de 40 a 70; passam pelos nossos olhos todos os grandes actores e actrizes, os principais filmes, e, confesso, nunca imaginaria uma “putice” tão grande naquele meio. Para quem gosta de cinema é um manual imprescindível, focado nessa mítica figura de Marlon Brando, que teve tanto de bom actor, como de homem intratável e perfeitamente promíscuo, elevado à potência máxima…
Lê-se com agrado, embora demasiado grande, mas nunca chega a ser “massudo”.Ao pé de Hollywood daqueles tempos, e porventura de sempre, qualquer episódio escandaloso relatado numa primeira página do “24 Horas”, é um livro para crianças….

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A Torre de La Défense


Há muito que aprecio o percurso de Luís Castro no panorama teatral português e embora com pouca assiduidade aos seus espectáculos, tenho acompanhado a sua luta em prol de um teatro diferente em Portugal., mormente através da “sua” Companhia KARNAT, fundada em 2001, em associação com outros nomes, que ultrapassam o universo estritamente teatral, pois englobam também fotógrafos, artistas plásticos, designers de moda, produtores e realizadores; recordo um espectáculo que me marcou muito, pois foi uma abordagem muito diferente da habitual versão da conhecida peça de Bernardo Santareno “António Marinheiro”. Ainda sobre esta Companhia, uma palavra para o magnífico espaço que a Karnat tem vindo a melhorar, do edifício da secção de Anatomia da antiga Escola de Medicina Veterinária, junto ao Liceu Camões, e que terá que ser abandonado até ao final do corrente ano, pois ali serão instalados serviços de apoio da Polícia Judiciária.
Ainda antes de abordar a peça, uma palavra para o conceito de perfinst, um neologismo resultante da união das palavras perfomance e instalação, e à qual Luís Castro tem dedicado muito da sua obra, em que o encenador flui entre as artes do palco e as artes visuais, recorrendo ou não a texto.
É aliás um exemplo perfeito de perfinst, esta encenação do texto do dramaturgo argentino Copi (1939-1987), do qual a Karnat já havia apresentado uma dupla abordagem de “L’homosexuel ou la difficulté de s’exprimer”, com 3 actizes, primeiro e depois com 3 actores; uma referência apenas à variada obra deste autor já apresentada em Portugal, com destaque para a peça “Eva Péron”, encenada soberbamente pelo “saudoso” Filipe La Féria da Casa da Comédia, numa interpretação inesquecível de Teresa Roby (considero pessoalmente a trilogia encenada por La Féria na Casa da Comédia, e constituída por esta peça, pelo “Evangelho segundo Pasolini” e pela peça de teatro no estilo japonês Kabuki, como das coisas mais “loucamente conseguidas” do teatro já feito em Portugal).
Mas, falemos da peça “A Torre de la Défense”, com um texto desconcertante à volta das personagens de um casal gay, de uma burguesa em ácido e sua filha, de um travesti, de um árabe e de um americano, numa noite de passagem de ano , num apartamento do bairro parisiense de La Defense; aliás as personagens da filha da burguesa e do americano, nunca chegam a estar presentes. Durante a primeira parte do espectáculo, as personagens vão evoluindo, e vão-se definindo através de diálogos sem concessões de palavras, numa representação quase estática e essencialmente gestual. Após o intervalo, os espectadores seguem para os bastidores, onde lhes são apresentados variados aspectos que documentam alguns aspectos marcantes do texto, bem como da preparação cénica, com referência a adereços e outras coisas; no centro do “palco” numa espécie de caixões repousam os corpos dos intérpretes, expostos na sua total nudez; segue-se depois a audição e não visualização da segunda parte do texto, em que as “falas” são acompanhadas de sonorização adequada.
No cômputo geral, o que mais me agradou foi a abordagem da peça, no tal conceito supracitado de perfinst, pois o texto, embora muito interessante, não tivesse tido uma defesa muito conseguida dos intérpretes, melhor os femininos que os masculinos, nomeadamente Margarida Cardeal, muito bem na burguesa ácida.
Enfim, uma maneira diferente de passar um serão de domingo, dominado nesta Lisboa de ontem quase totalmente, pelo concerto de Madonna; mas desse concerto muita gente amiga irá contar tudo…

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Opções culturais


Já há muito tempo não era desafiado para uma destas correntes bloguistas que de quando em vez aparecem. Desta vez, foi a Blueminerva a desafiadora e o que há a fazer é indicar quais os eventos culturais a que pudesse assistir ou ler, durante 24 horas de um período de férias, e se possível ordená-los cronologicamente: exposição, cinema, bailado, teatro, livro, música. Claro que está implícito o ver pela primeira vez ou rever…
Eu não indico os acontecimentos cronologicamente, até porque alguns podem ser simultâneos, caso da música e da leitura e também apenas escolhi coisas já vistas e que me deram um imenso prazer; sendo assim passo às minhas opções:
- Exposição - não será propriamente uma exposição, mas sim um objecto exposto, e
que seria o “David” de Miguel Ângelo, na Galeria da Academia, em
Florença, talvez a mais bela obra esculpida desde sempre, perfeita!
- Filme – não um, mas dois: “Brokeback Mountain”, pela história, pela fotografia, pela
música, mas principalmente por duas cenas que jamais me sairão da memória
(a cena do primeiro reencontro e a cena final); e “Far from the Heaven”, pela
recreação perfeita dos anos 50, pela história e sobretudo por uma admirável
Julianne Moore.
- Teatro – “O caminho para Meca” que vi há anos na Casa de Garrett, com uma Eunice
Munoz fabulosa e com uma esplêndida encenação de João Lourenço.
- Ópera – “Aida”, pela música, pela grandiosidade, por ser de Verdi, claro.
- Bailado – também duas opções: a versão gay do “Lago dos Cisnes” de Mathew
Bourne (das coisas mais belas que já vi); e “Romeu e Julieta” de Maurice
Béjart, que conseguiu “revolucionar” uma das maiores histórias de amor de
sempre.
- Música – fado, com Amália, incluindo “Lágrima”, “You raise me up”, porque “ele”
está sempre no meu coração, o “Piano concerto nº.21” de Mozart e o
“Inverno” de Vivaldi.
- Livro – e agora para variar, uma trilogia: “O Principezinho” de Antoine de Saint-
Exupery, “Memórias de Adriano” de Margaret Yourcenar e “As canções” de
António Botto.

Como é da praxe, aqui vão os desafiados, todos eles capazes de óptimas escolhas, estou certo: “Felizes juntos”, “Castelo d’areia”, "Gritosmudos”, "Psimentos" e "How the enGine throb"

segunda-feira, 7 de julho de 2008

SAGA - Ópera extravagante


Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Ao longo dos quase 34 anos da sua existência, o Teatro «o bando» tem procurado intervir activa e civicamente na sociedade, destacando-se no panorama teatral português, pela singularidade e criatividade dos seus espectáculos. As máquinas de cena e os espaços cénicos insólitos (vi uma peça passada em duas viagens de um comboio em andamento, e outra representada numa pocilga), constituem o apanágio de um grupo cuja contemporaneidade se produz, também, no respeito pelas raízes históricas e culturais nacionais e no seu questionamento através da dimensão estética. Os espectáculos criados surgem como pretextos escultóricos, musicais, de actualidade política, capazes de estimular a criação teatral, a qual se pretende seja sempre surpreendente e incómoda, sempre estranha e reconfortante quando se grava enigmaticamente na memória.*
O seu director artístico, João Brites, encenou esta peça operática – “SAGA – ópera extravagante”, a partir de dois textos de Sophia ( “Silêncio” e “Saga”), em co-produção com a Marinha, através da excelente Banda da Armada, dirigida pelo maestro Carlos Ribeiro, e com uma muito conseguida composição musical de Jorge Salgueiro. Uma só actriz, Ana Brandão, vários cantores líricos, quase todos bastante jovens, dois cantores populares, sendo um deles o “eterno” Francisco Fanhais e ainda o vocalista do grupo de Heavy metal “Moonspel”, são os participantes deste espectáculo, muito bem construído, encenado, musicado e cantado. O local (claustro do Museu da Marinha) não poderia estar mais adequado a um espectáculo que tem como tema o mar e a paixão da protagonista por ele…
O frio (muito) que se fazia sentir, ia desaparecendo com o “crescendo” da peça e a imagem da inesquecível Sophia esteve sempre presente naquelas suas palavras que tendo o mar como base, não poderiam ser mais adequadas.
Uma palavra para a excelência dos músicos que constituem a Banda da Armada.

*)- esta parte do texto é essencialmente tirada do programa do espectáculo.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

The naked maid

Este é um dos números do musical "Naked Boys Singing", que foi exibido, sempre com grande êxito, na Broadway e em vários países europeus. Os nove intérpretes, todos eles excelentes cantores e bailarinos, actuam sempre completamente nús.

Para quando no nosso país??

quarta-feira, 12 de março de 2008

"Os olhos do mundo e a fortuna"




Há já bastante tempo que andava para conhecer o Espaço Karnat, situado junto ao Liceu Camões, numas antigas instalações da antiga Faculdade de Medicina Veterinária (ainda estão lá as bancas de pedra para dissecação dos animais), e que tem apresentado ao longo da sua ainda breve existência, e sob a orientação de Luís Castro, várias iniciativas ligadas ao espectáculo, principalmente na vertente teatral, com destaque para temas alternativos, nomeadamente homossexuais.
Pois fui lá no passado domingo, para assistir a uma representação (penso que a última), de uma peça apresentada pelo “Grupo de teatro 3-sete-3”, e que tem por título “Os olhos do mundo e a fortuna”, da autoria do dramaturgo canadiano John Herbert, e que foi traduzida, adaptada e encenada por José Henrique Neto, fundador do referido grupo e que nesta peça também é intérprete (é o guarda do reformatório).
Fortune and Men’s Eyes (título retirado do Soneto XXIX de Shakespeare) é uma peça crua e amarga sobre a degradação e a brutalidade física e moral num reformatório masculino. O protagonista é SMITTY, que cumpre uma pena de seis meses por um delito menor. A peça foca a sua transformação de um ser humano essencialmente não criminoso e até um pouco naïf num prisioneiro empedernido, que acaba por se tornar ainda mais insensível e cínico do que os companheiros de cela. Os companheiros de cela são três: ROCKY, oportunista, manhoso e gabarolas; QUEENIE, agressivamente “bicha” quando lhe convém, que manobra o sistema iníquo do reformatório em seu proveito; e LEO (“Mona Lisa”), um rapaz meigo que aprendeu a separar corpo e consciência para ir sobrevivendo. A interacção destes personagens cria a dinâmica da peça, uma tensão sombria que resulta na corrupção final de Smitty.
Esta peça foi escrita nos anos 60, sendo portanto anterior ao episódio de Stonewall, em Nova York, em Junho de 1969, quando o movimento de libertação homossexual, como hoje o conhecemos, ainda não existia, e é curiosamente a peça mais publicada de qualquer dramaturgo canadiano, traduzida em 40 línguas e representada em mais de 60 países; teve um impacto social directo e duradoiro, pois, se por um lado apela à tolerância da diversidade em vez da negação pelo ostracismo e à redenção dos tormentos pessoais pelo amor, por outro lado, apela muito claramente a uma reforma do sistema prisional, e deu um contributo forte e pioneiro para acabar com as caracterizações estereotipadas de personagens homossexuais.
A interpretação está a cargo, além do já referido encenador, de um grupo de quatro muito jovens actores: José Redondo, Luís Lobão, Paulo Brito e Tomás Alves.
Numa breve apreciação pessoal, não sendo uma obra-prima, vê-se com agrado, numa encenação muito simples, tendo os intérpretes, aquém falta alguma experiência de palco, dado o seu melhor; no seu todo, é um espectáculo que nos mostra os relacionamentos “manhosos” que se estabelecem nos estabelecimentos de reclusão, e como lá dentro, vitimas de um sistema, os jovens aprendem à sua custa, a tornarem-se eles próprios os “utilizadores” desse próprio sistema, em que os actos homossexuais têm um papel bastante determinante.