Eu por vezes dou comigo a pensar que não me conheço ao fim
destes anos todos, completamente bem.
Já vivi muito, tive variadíssimas experiências, das quais
poucas, muito poucas mesmo me arrependo; não me considero estúpido, tenho mesmo
alguma cultura; enfrentei de frente, sem medo a minha sexualidade; sou amigo
verdadeiro dos meus amigos e tenho medos, como toda a gente.
Adoro a minha família e tive uma educação primorosa, baseada
nos princípios que sempre reinaram em nossa casa; não fui habituado a luxos,
mas também me ensinaram sempre a ser digno.
Tudo isto para dizer o quê? Que tenho um temperamento que
por vezes não controlo, sou tudo menos perfeito e se procuro consensos, também
há alturas em que marco muito, talvez demasiado as minhas paixões e os meus “odiozinhos de estimação”.
Um dos meus maiores defeitos é pôr quase sempre o coração à
frente da cabeça, embora não entre em desvarios e nunca me arrependi disso.
Quando gosto, gosto mesmo muito, quando não gosto, mostro-o abertamente – nunca
seria um bom actor…
Sou muito crítico em relação a certas situações, e não me
abstenho de o afirmar, mesmo quando envolvem coisas delicadas, como a política
ou a religião.
E…sou um piegas do caraças!!!!
Estou para aqui a palrar sobre mm próprio, quase com medo de
afirmar que acabei de ver um filmezinho, nada de um filme de grande orçamento,
com grandes actores e vedetas que chamem o grande público. E que quando acabei
de ver esse filmezinho tinha duas lágrimas a rolar-me pelas faces – piroso, sou
isso talvez, mas que hei de eu fazer se sou assim.
O filme foi realizado por um jovem, Ruben Alves
filho de emigrantes portugueses em França, e com este filme ele quis homenagear os seu pais, a mãe, uma porteira e o pai, trabalhador da construção civil.
filho de emigrantes portugueses em França, e com este filme ele quis homenagear os seu pais, a mãe, uma porteira e o pai, trabalhador da construção civil.
Já adivinharam que me refiro ao filme “A Gaiola Dourada”,
protagonizado por Rita Blanco e Joaquim de Almeida, e que nos mostra de uma
maneira bastante correcta o dia a dia de uma típica família portuguesa emigrada
e a trabalhar em Paris. Claro que é uma emigração dos tempos da “mala de cartão”
e não a emigração de hoje, mas é sempre emigração, com tudo o que essa situação
traz a quem é obrigado a fazê-lo.
Eu, que tantas vezes sou tão crítico do meu país, até da nossa
maneira de ser, da nossa tão apregoada falta de produtividade e do nosso hábil “desenrascanço”,
vi-me no final do filme, qual sentimentalão romântico a pensar que afinal,
caramba, Portugal e principalmente nós os portugueses somos uns gajos porreiros…
Eu sei que isto é apenas um filme, mas está ali muito de
nós, muito da forma como somos, quase sempre humildes, o que não quer dizer que
sejamos subservientes.
E por eu ser assim,
por reconhecer que eu poderia fazer parte daquela gente é que estou a dizer
isto tudo.
Se já viram o filme, gostaria de saber a vossa opinião,
mesmo que seja bastante diferente da minha; se não viram, façam o favor de ver,
até porque está ali uma das maiores actrizes portuguesas, Rita Blanco
e até o habitual canastrão Joaquim de Almeida se safa muito bem.
e até o habitual canastrão Joaquim de Almeida se safa muito bem.
Aqui fica um vídeo que mostra algumas cenas do filme assim
como algumas entrevistas e também pequenos apontamentos do seu “making of”