terça-feira, 13 de outubro de 2009

Não voltes, fica a ler em casa...

Eu não sei como reagiriam os meus amigos brasileiros, e são vários e bons os que tenho aqui na blogosfera, se vissem aí no Brasil um vídeo parecido a este que aqui mostro, feito por um qualquer actor português "armado" em repórter sobre o vosso país. Acho que no mínimo ficaria indignado e triste.
Sei que esses meus amigos brasileiros não pensam como essa "senhora"(?) Maitê Proença, que com os seus comentários provocou ainda uma onda de gozo generalizado no programa da TV que a enviou aqui; será que a impressão do povo brasileiro é esta, sobre Portugal?
Não entendo que esta mulher venha a Sintra, das terras mais bonitas do MUNDO, património da humanidade e a única coisa que mostre seja uma casa em ruínas, com um número de porta ao contrário; é preciso dizer a essa "senhora"(?) que Sintra não é uma favela!!!
Que venha ao Mosteiro dos Jerónimos e no seu interior se permita gozar com os grandes vultos da história de Portugal.
Que faça passar a ideia de que em Portugal não há sequer técnicos que saibam mexer em computadores; que desaforo...
Lamentável, e eu que julgava que isso de patriotismo estava já meio morto...morto, uma gaita! Pois quando me "pisam os calos" sinto que doem e lá diz o ditado: "Quem não se sente, não é boa gente".

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Autárquicas


Terminou ontem com as eleições autárquicas, o ano eleitoral.

Depois de uma penalização fortíssima nas europeias, o PS ressurgiu bastante bem nas legislativas, as quais venceu, pese embora tantas “vitórias” tivessem sido cantadas; e ontem, numas eleições que tinham um quadro nitidamente “laranja” depois das eleições de 2005, o PS conquistou o maior número de votos e de mandatos, tendo quase igualado o número de câmaras do PSD, à custa deste partido e da CDU.

Portanto e numa primeira análise o PS tem razões para festejar, pois subiu, mesmo em relação às legislativas e o PSD também, apesar de ter perdido câmara e mandatos, porque ainda é detentor do maior número de câmaras. Mas, nalguns casos essas câmaras só foram ganhas ou noutros teve peso importante a ajuda do CDS.

Os comunistas continuam a ter um peso significativo numa região bem definida – o distrito de Setúbal, vale do Tejo e Alentejo, mas perdeu alguma força.

O grande derrotado foi o BE e foi-o sem surpresa; as subidas conquistadas nas europeias e legislativas, não foram votações nos programas e ideais do Bloco, foram votos de protesto e Louça terá que repensar a sua estratégia, ou então conformar-se com o peso real que o BE tem no país que está muito longe dos êxitos recentes. O BE será sempre um partido de protesto e nunca será ou fará parte de uma solução governativa.

Mas estas eleições são sobretudo de pessoas e aqui também há alguns factos a registar: a eleição de António Costa em Lisboa, contra uma forte oposição da direita coligada e desta vez sozinho, sem a bengala comunista (apesar de algum voto útil), a folgada vitória de Rui Rio no Porto, mesmo contra o FCP ; a esmagadora de LFMenezes em Gaia e a significativa vitória de Seara em Sintra, a manutenção pelos comunistas de importantes centros, como Almada e Setúbal e os habituais ganhos e perdas, como Faro que o PSD ganhou por 66 votos e a conquista importante de Leiria e Beja pelos socialistas, respectivamente ao PSD e à CDU.

Outro importante facto é a queda, finalmente de dois dinossauros corruptos: Fátima Felgueiras e Avelino Ferreira Torres, embora se mantenham infelizmente Valentim Loureiro e Isaltino Morais.

Uma palavra para os Açores onde pela primeira vez os socialistas têm a maioria das Câmaras e para um facto que quase passa desapercebido, mas é real: o PND elegeu um vereador no Funchal, provavelmente devido ás “palhaçadas" de AJJ – é triste, mas é verdade!

Um abraço para o Fernando, que chefiou um movimento independente candidato em Marvão, demonstrando um belo exemplo de cidadania.

sábado, 10 de outubro de 2009

Intervalo

No intervalo entre duas eleições aqui em Portugal, muita coisa se passou aqui e no mundo, no campo da política; não sendo nem tendo pretensões a analista político, houve três factos que realço, e que recaem sobre três políticos, um português e dois estrangeiros.
Comecemos pela “prata da casa”, esse execrável Alberto João, que continua de uma maneira absolutamente vergonhosa a mostrar que é URGENTE fazer alguma coisa, pois que ele seja atrasado mental, tudo bem, mas que o demonstre em constantes atentados contra tudo e contra todos que não alinham na sua política de carroceiro, não pode ser. A impunidade de que absurdamente goza, tem que acabar de vez; de quem é a culpa? De imensa gente, a começar pelo PR, pelo Estado na figura do Governo, no partido que o apoia e principalmente, lamento muito dizê-lo, no povo madeirense, no qual tenho pessoas amigas, mas que parecem cegas perante esta vergonha nacional.

Aquilo que todos vimos esta semana, nas televisões e nos vídeos, acerca dos protestos do PND ( que eu de uma forma total não apoio nem nunca poderei apoiar, pois é um partido neo nazi, xenófobo e inconcebível), passa todas as marcas: desautoriza a PSP, contrata “jagunços” para tratarem do assunto como deve ser e ainda ameaça com a independência; pois que seja, que se torne presidente da república de uma república das bananas e que viva delas sem nos sugar o dinheirinho. Este tipo é NOJENTO e envergonho-me de que tenha a mesma nacionalidade que eu, pois ele envergonha o meu país; devia ser feito um documentário das bacoradas deste gajo e enviá-lo para ser passado na BBC, na CNN, onde quer que seja, para o mundo saber que anda um louco à solta.
E passemos a outro louco, mais inofensivo, que não me envergonha porque não é português, mas que decerto envergonha muitos italianos: Sílvio Berlusconni! É o exemplo de um imbecil, cheio de dinheiro arranjado sabe-se lá como, que antes de governar a Itália, politicamente, de certa forma já a governava economicamente.Este senhor que tem uma vida privada nada exemplar, permite-se de vez em quando armar-se em palhaço e proferir umas graçolas de que é o primeiro e talvez único a achar piada. O seu comentário esta semana sobre a raça de Barack Obama e sua mulher é das maiores grosserias já proferidas politicamente; e ele nem sequer pensa que no seu cargo será obrigado a conviver com o PR dos EUA, a estar com ele em reuniões, a cumprimentá-lo: simplesmente grotesco!!!!
Finalmente a notícia do dia – o Nobel da Paz foi atribuído a Barack Obama, presidente dos EUA desde há nove meses apenas…Precipitado? Acho que não! Sabendo o mundo inteiro que este prémio é essencialmente político, ele premeia de facto, medidas corajosas já encetadas por Obama (o caso dos prisioneiros de Guantanamo, o retrocesso na instalação dos mísseis na Europa e o início de negociações importantíssimas para a paz mundial com a Rússia, o Irão e a Coreia do Norte). Mas acima de tudo é um prémio que responsabiliza e de que maneira o homem mais poderoso do planeta quanto ao futuro; se já tinha os olhos do mundo sobre ele, agora tem mais ainda. Tem enormes desafios pela frente, o maior dos quais será o Afeganistão que parece ser um problema irresolúvel, mas do qual depende muito a paz em todo o mundo. Espero, todos esperamos que ele tenha a determinação necessária para enfrentar todos esses desafios.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Na casa de Ary

José Carlos Ary dos Santos nasceu em Lisboa a 7 de Dezembro de 1937 e morre também em Lisboa a 18 de Janeiro de 1984 e celebrizou-se como poeta.

Oriundo de uma família da alta burguesia, José Carlos Ary dos Santos, conhecido no meio social e literário por Ary dos Santos, vê publicados aos 14 anos, através de familiares, alguns dos seus poemas, considerados maus pelo autor.
No entanto, Ary dos Santos revelaria verdadeiramente as suas qualidades poéticas em 1954, com dezasseis anos de idade.
É nessa altura que vê os seus poemas serem seleccionados para a Antologia do Prémio Almeida Garrett.

Nessa altura Ary dos Santos abandona a casa da família, exercendo as mais variadas actividades para se sustentar, tais como venda de máquinas para pastilhas até à publicidade.
Paralelamente, o poeta não cessa jamais de escrever e em 1963 dar-se-ia a sua estreia efectiva com a publicação do livro de poemas A Liturgia do Sangue (1963).
Em 1969 inicia-se na actividade política ao filiar-se no PCP, participando de forma activa nas sessões de poesia do então intitulado "canto livre perseguido".

Ary dos Santos morreu a 18 de Janeiro de 1984, na sua casa, na rua da Saudade, em Lisboa, quando preparava um livro autobiográfico intitulado «Estrada da Luz-Rua da Saudade» e a edição de dois livros de versos, “Trinta e Cinco Sonetos” e as “Palavras das Cantigas".


Foi nesta casa da Rua da Saudade que estive numa estranha noite, começada num bar gay da Calçada da Patriarcal, que parece ainda existir, mas com outro nome, e que na altura se chamava “Clássico…ma non troppo”; aí encontrei um amigo, que tinha aparecido num grupo animado, para beber um copo, e no qual se incluía Ary dos Santos, poeta que sempre admirei. Foi de uma forma natural que me vi incluído no grupo que rumou para o Castelo, para a casa do poeta. Era uma casa magnífica, com uma enorme sala, cheia de brocados, com fotos de grandes senhoras da vida cultural portuguesa (Amélia, Amália, Eunice, Natália…) e numa sala contígua Ivone Silva ensaiava um trecho de uma nova revista a apresentar em breve e da qual Ary era co-autor.

Era para mim, jovem universitário, uma atmosfera inédita e quase irreal; formou-se um círculo com os que tinham chegado, todos sentados no chão, entre almofadas, e um ritual se iniciou, bastante comum na altura, e sem grandes consequências, de um que outro “charro” fosse sendo fumado em comunidade e com conversas interessantes.

Quando chegou a altura que eu achei que devia sair, dirigi-me a Ary para lhe agradecer a agradável noite, mas ouvi, num tom imperativo, algo inesperado: “tu não vais embora, ficas a dormir aqui em casa”; claro que não gostei, sempre fiquei a dormir onde bem quis e não onde me impusessem, pelo que disse que tal não aconteceria e dirigi-me para a porta; foi então que a mão sapuda de Ary me esbofeteou, irado pela “desfeita” de um engate mal sucedido. Doeu bastante, não pela dor física, mas sim porque nesse momento caiu um mito…

Saí!!!!

A admiração pela obra poética de Ary, claro que não ficou beliscada, mas como ser humano, apenas um enorme desprezo a partir daí senti por ele.


E baseado neste “incidente” elegi para ilustrar a sua poesia, não um dos seus mais conhecidos poemas, mas este

“Soneto Presente”

“Não me digam mais nada senão morro

aqui neste lugar dentro de mim

a terra de onde venho é onde moro

o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo.

E eu não posso dizer. Eu estou de pé.

De pé como um poeta ou um cavalo

de pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo

a não ser os que eu amo ou que eu entendo

os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima

Porque é de baixo que me vem acima

A força de um lugar que for o meu.”


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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Um livro, um filme...


“O primeiro amor nunca é fácil. Mas, quando um jovem como Nathan, acabado de chegar a uma pequena cidade, é vítima de abuso sexual por parte do seu pai, o primeiro amor pode ser a única forma de se salvar. No seio de uma família disfuncional, com uma mãe doméstica e um pai alcoólico, Nathan interessa-se pelo seu colega Roy e sonha com ele uma vida livre do constante assédio nocturno do pai: Nathan sente-se mais seguro sabendo que Roy está na casa ao lado e ainda mais seguro quando está com ele. Ao estudarem álgebra lado a lado na cama, uma coisa leva naturalmente à outra.

E é nessa pequena cidade rural do Louisiana, no sul profundo americano, nos meados do século passado, cheia de preconceitos que Nathan e Roy têm que esconder o seu amor dos amigos, da igreja e da família. Mas isso é fácil para Nathan que está habituado a guardar segredos; o jovem apenas tem medo do segredo que sempre escondeu, mesmo de Roy – a terrível verdade acerca do seu pai que faz a sua vida impossível. Ao fugir de casa uma noite com Roy, Nathan apenas tem uma certeza, a de que nunca voltará.”

Esta é, na essência, a trama do segundo livro de Jim Grimsley, “Rapaz de Sonho” e com o qual o autor conquistou o Lambda Literary Award, na categoria de literatura, em 1966.

Sendo eu, infelizmente um leitor não muito assíduo, peguei neste livro que adquiri o ano passado no S.Jorge, durante o Queer 12. E li-o quase de um fôlego…Apenas tive dificuldade em compreender totalmente o final do livro, pois o autor propositadamente não é linear e deixa o leitor no campo das suposições, quanto ao seu desfecho.

Procurando no Google, referências para este post, sou surpreendido com o aparecimento de um post (que eu até tinha comentado) no blog “Ovelha Tresmalhada” precisamente sobre este livro e de um outro post do blog “Maurice” (por onde andas tu, que fazes falta na blogofera…), sobre o filme “Dreamboy”, baseado neste livro. Fiquei surpreso e mais espantado fiquei de já ter sacado o filme, que apenas carecia de ser visto; e assim, pela primeira vez tive oportunidade num espaço de 24 horas, de ler um livro e ver o filme baseado no mesmo.

Claro que uma adaptação cinematográfica é sempre difícil e geralmente “perde”para o livro; mas acima de tudo estava ansioso por saber se o filme me faria entender melhor o final do livro; pura ilusão, pois a ambiguidade mantém-se…

Não me desiludiu de forma alguma o filme, realizado em 2008 por James Bolton, mas esperava encontrar no filme intérpretes fisicamente mais adequados às personagens que o livro me mostrou; aí acho que não correspondem exactamente aos protagonistas do livro de Grimsley. Uma palavra para toda a música do filme, muito boa, como se pode perceber pela belíssima canção do trailer do filme.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Yo Solo Miro

Hoje é a vez de mostrar, para quantos não puderam ir ao S.Jorge, a curta metragem, que foi eleita por voto dos espectadores, como a melhor do festival.
É uma curta espanhola, que se chama YO SOLO MIRO, da autoria de Gorka Cornejo e que tem o seu melhor momento exactamente no final do filme, pelo que o devem ver até ao fim.
E não vão dar por mal empregado o tempo, estou certo.

sábado, 3 de outubro de 2009

"Chris & Don"

De entre os diversos filmes vistos no Queer Lisboa 13, um houve, que me entusiasmou muito; trata-se de um documentário (fora do concurso) a ao qual o amigo Miguel já havia dedicado um excelente post no “Innersmile” (ver aqui), e que se chama “Chris & Don”: A Love Story”, de Guido Santi.

Christopher Isherwood (26 de Agost de 1904 – 4 de Janeiro de 1986), nasceu em Inglaterra, mas emigrou para os EUA em 1939, tendo-se naturalizado como cidadão norte-americano em 1946. Foi um reputado escritor, conhecido principalmente pelas suas obras relacionadas com Berlim, para onde foi atraído na juventude devido à relativa liberdade sexual que se vivia naquela cidade nos anos pré guerra, com Mr. Norris Changes Trains e um conjunto de contos com o título Adeus a Berlim, que foram a inspiração para o musical e depois aclamado filme Cabaret.

Além destas obras merecem destaque na sua vasta bibliografia os títulos A Single Man, (adaptado agora ao cinema pelo estilista Tom Ford), e Kathleen and Frank.

“Chris & Don: A Love Story” é um relato verídico sobre a apaixonante relação de três décadas entre o escritor britânico Christopher Isherwood e o retratista americano Don Bachardy, trinta anos mais novo. Desde os anos de Isherwood no Kit-Kat-Club durante a República de Weimar (inspiração para o seu mais famoso trabalho) até aos primeiros encontros do casal nas praias solarengas de Malibu nos anos 1950, a saga colectiva de ambos, contra todas as probabilidades, é reconstituída de forma deslumbrante através de um legado de tesouros multimédia. As memórias actuais de Bachardy (na casa de Santa Mónica que partilhou com Isherwood até à morte deste, em 1986), interagem harmoniosamente com imagens de arquivo, filmes inéditos de produção caseira (onde aparecem imagens de companheiros como W.H. Auden, Igor Stravinsky e Tennessee Williams), reconstituições e excêntricas animações baseadas nos cartoons do gato e cavalo que o casal usava na sua correspondência pessoal. Muito além do estatuto de homossexual assumido e espírito independente de Isherwood, e do tardio triunfo artístico de Bachardy, longe da eterna sombra do seu companheiro de vida. “ Chris & Don: A Love Story” é acima de tudo a celebração de um casal extraordinário.

E foi realmente um amor extraordinário este que surgiu em 1952 , pois pode mesmo ser considerado transcendente, dado as diferenças de idade, classe e cultura, principalmente na época em que foi vivido.

Nem mesmo a morte de Isherwood, aos 81 anos pôs fim a esse amor, pois ainda hoje Bachardy dedica grande parte da sua vida a enaltecer a vida e os sentimentos do seu companheiro. O escritor tinha já 48 anos quando se enamorou de Don, que tinha apenas 18; Armistead Maupin descreveu-os, como o “primeiro casal”, em parte porque na década de 50, em que sociedade, mesmo em Hollywood, considerada um antro de paranóia sexual (estou a recordar-me da biografia de Marlon Brando que tão bem retrata isso mesmo), não acitava uma relação assim, mas eles assumiram-na por inteiro.

Bachardy preserva um património de uma imensa riqueza cultural, que é mostrado bem no filme, principalmente focado na sua colecção pessoal, onde há também fotos e pinturas de amigos famosos; é curioso ver aqui uma foto dos dois, com a visão na parede do célebre quadro que deles pintou David Hockney…

É essa enorme quantidade de material – filmes domésticos, fotos, desenhos, letras e agendas, que torna o filme interessante sob todos os pontos de vista. E ouve-se a voz de Michael York (que protagonizou Cabaret) a ler passagens seleccionadas de agendas e histórias de Isherwood.

Um pouco tardiamente, Bachardy conseguiu da sombra literária de Isherwood e finalmente obteve o reconhecimento como um retratista e pintor de grande talento; e embora isso seja um mérito próprio, teria sido impensável sem o apoio e encorajamento de Isherwood. Ao longo da sua vida em comum, Isherwood foi sempre o seu tema mais frequente e vital


e durante os últimos meses de doença do seu companheiro, Bachardy, sentou-se no seu leito diariamente, fazendo desenhos do seu amado, como o viam os seus olhos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Queer Lisboa 13 - 2


Já há quase uma semana findou o Queer Lisboa e só hoje venho aqui falar dele (maldita política…)

Como é habitual, eu, que pouco frequento os cinemas, embora veja muitos filmes em casa, fui todos os dias ao S.Jorge e vi um apreciável número de filmes.

O filme de apresentação foi o esperado “Morrer como um Homem” de João Pedro Rodrigues, e embora não desiludindo, não é o melhor filme do realizador (notável toda a cena passada em casa de Maria Becker – fabuloso Gonçalo Ferreira de Almeida).

A sessão de encerramento trouxe-nos um musical, bastante comercial, mas agradável e bem disposto – “Were the World Mine”.

Nos filmes em competição para a melhor longa metragem, vi cinco dos dez em concurso: o premiado “Ander”, do basco Roberto Castón (de que falarei daqui a pouco), o interessante e baseado na realidade “Pedro”, comovente filme americano de Nick Oceano; o refrescante “Mein Freund aus Faro” da alemã Nana Neul, uma boa surpresa; um complicado mas muito belo filme de Kit Wung – “Wu Sheng Feng Ling”, que nos transporta da urbana Hong Kong à ruralidade suíça, por meio do amor; e ainda a quase epopeia mexicana de Julian Fernandez – “Rabioso Sol, Rabioso Cielo”, longo mas belíssimo testemunho de um amor que tudo vence.

No que respeita aos documentários em competição, também visionei cinco dos dez e confesso ter ficado algo decepcionado, embora não tivesse visto o filme vencedor, infelizmente; apeasr de tudo permito-me distinguir positivamente um título – “City of Borders” um filme israelita sobre a comunidade GLBT de Jerusalém, focando essencialmente um bar gay frequentado quer por israelitas quer por palestinianos.

Ainda em competição, no caso das curtas, vi variadíssimas e votei nelas, já que o prémio, nesta competição, foi atribuído por votação do público; algumas muito más, outras com interesse e cinco francamente boas: “Café com Leite”, do Brasil, “And Thou Shalt Love”, de Israel, “James” , do Reino Unido e também deste país “Protect me from what I want” e “Yo Solo Miro”, de Espanha, a acertada escolha do público.

De entre outras secções extra concurso, uma referência muito positiva para o excelente documentário sobre a vida em comum do escritor Christopher Isherwood e do seu companheiro Don Bachardy, “Chris & Don – a love story”, magnífico filme.

Tive pena de não ter assistido à conversa de Eduardo Pitta sobre a vida e obra de António Botto e assisti, entusiasmado à actuação do grupo “Amália Hoje”.

Os prémios foram atribuídos a “Ander”, de Roberto Castón, nas longas, o qual foi na minha opinião merecidíssimo, já que retrata com enorme sensibilidade uma situação pouco vista em cinema e que tem a ver com a sexualidade, quer homo, quer heterossexual no meio rural; personagens muito reais, num filme propositadamente lento para se descobrirem pormenores importantes, sem nunca entediar e com interpretações brilhantes, sendo de distinguir Joxean Bengoetxea, que ganhou com inteira justiça o prémio da melhor interpretação masculina.

A melhor interpretação feminina foi entregue à actriz grega Mina Orfanou, pelo seu papel de transexual em “Strella”, que eu não vi. O prémio de melhor documentário coube ao filme canadiano “Fig Trees”, que também não vi. Finalmente a curta espanhola “Yo solo miro” foi um justo vencedor, o qual espero mostrar aqui no blog, numa próxima entrada.

Deixo aqui um vídeo com algumas cenas do filme vencedor “Ander”, e com incidência na participação do seu protagonista Joxean Bengoetxea.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Eu tive um sonho...

Eu tive um sonho, um sonho lindo: sonhei que Cavaco, o "Presidente de todos os portugueses", na sua declaração de amanhã à comunicação social (não aos portugueses), nos iria comunicar a sua resignação e o seu regresso com a sua Maria a Boliqueime.
Antes que seja tarde, amanhã poderá sê-lo, decidi postar de imediato o modelo de tee-shirt que iria ser posta à venda por ocasião da vinda deste senhor
a Portugal em Maio próximo, a convite de Sua Excelência, ainda não se sabendo se o Bentinho desfilará na grandiosa manifestação promovida pelas organizações pró-família e apoiadas pelo Patriarcado (MFL claro que estará presente), contra a iminente aprovação pela esquerda, no Parlamento da lei sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Aqui fica a foto da tee-shirt e a ampliação do estampado...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

E o povo mandou...

Recordando o meu penúltimo texto, sobre a necessidade de votar, e agora que já se sabem os resultados eleitorais, cabe-me congratular-me, sem falsa modéstia na muito precisa previsão que aí deixei expressa.

Lamento a continuidade da elevada abstenção, apesar de que a votação de novos eleitores possam minorar o número real de eleitores; e tenho que chegar a uma conclusão que é real: quem ganhou as eleições foi o PS! Apesar disso, todos os partidos, sem excepção, chamaram a si a “vitória” de ter tirado a maioria absoluta a Sócrates; todos, disse e repito, para que fique bem vincado que na mente de todos os partidos havia apenas um objectivo: derrubar Sócrates! Ele concorreu sozinho contra todos, numa situação nada fácil, depois de ter tido a coragem, sim a coragem, de ter tomado medidas que nenhum outro governo tomou; depois de ter sido por todo o lado atacado na sua própria vida pessoal, quer desenterrando uma vez mais o caso Freeport (daqui a 4 anos pode ser que venha de novo à baila…), quer com suspeitas sinistras de directores de um jornal diário importante com a conivência ou não de Belém ( a ouvir atentamente Cavaco estarei), e que acabaram por voltar o feitiço contra o feiticeiro.

Com uma vantagem confortável, mas que aliada com a votação no BE, não chega para fazer aprovar leis – e isto penaliza principalmente o Bloco, que não terá a força no Parlamento que esperaria ter, Sócrates vai não jogar em qualquer coligação, mas governar sozinho com o apoio pontual de um ou mais partidos.

O vencedor desta noite foi mais que o PS, José Sócrates, por muito que doa a muito boa gente; ninguém com uma visão imparcial da realidade política portuguesa, o poderá negar!!!

Uma palavra para me congratular com a aparição de várias bandeiras do arco-íris na festa de rua do PS. Claro que a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo dependerá agora do conjunto de toda a esquerda, o que não é de forma alguma difícil.

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sábado, 26 de setembro de 2009

Sim, eu sou gay!


Obrigado, Paulo, por me teres dado a conhecer este vídeo.
Ahhhh, e a propósito, pus este vídeo aqui no blog, não porque sou gay, mas porque sou o João.

Adenda mais que justificada: Força, amigo Félix!

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Vamos votar!!!!


Domingo, dia 27 realizam-se eleições legislativas no nosso país; na minha opinião qualquer eleição é importante, pois uma democracia – regime político que deveria ser universal – é o povo que manda, através do voto expresso; mas estas, pela conjuntura mundial de crise, com aspectos tremendos no nosso país, assume uma acrescida responsabilidade. Daí, o meu primeiro apelo: votem, não fiquem em casa para poderem amanhã emitir opiniões, de consciência tranquila.

Há inúmeras forças políticas em jogo, mas apenas cinco delas têm assento no Parlamento: PS, PSD, CDU, BE e CDS; depois um razoável número de partidos dos quais confesso, alguns desconheço e talvez devesse conhecer; apenas conheço partido de extrema direita (e pelas piores razões), os eternos POUS e MRPP (uma palavra de simpatia para a persistência de Carmelinda Pereira e Garcia Pereira), aquele patético partido de Manuel Monteiro, um partido monárquico, que já teve figuras com algum valor e agora se resume quase só a um apalhaçado Nuno da Câmara Pereira; um outro com um candidato castiço que faz tudo e mais algum hipoteticamente interessante mas sem qualquer hipótese de eleger um único deputado.

O PS governou a actual legislatura em maioria absoluta e não está isento de algumas atitudes próprias das maiorias absolutas, que tendem sempre a “abusar” do poder (já foi assim com Cavaco); mas fez coisas, mexeu em coisas que nenhum outro partido tinha ousado mexer; nem sempre o fez da melhor forma, como no caso dos professores ( e aqui distingo os professores, da educação, pois na educação de uma forma mais geral não esteve mal, mas teve o azar de encontrar um comunista mais “casseteiro” que o Cunhal (Mário Nogueira), que chegou a ser mais inflexível que o Governo e a meu ver acabou até por prejudicar indirectamente os professores.

Mas parte do mau governo de Sócrates fica a dever-se à péssima oposição que teve…

Só o BE, quando ainda tinha ideais, e ainda não tinha ambições políticas de governação (uma perfeita utopia), esteve à altura, na oposição; e uma pessoa, que embora defendendo ideologias conservadoras e populistas, é mesmo um político: Paulo Portas.

Vieram as europeias e os resultados mostraram , uma vez mais, como o povo português não é estúpido; um cartão vermelho muito bem mostrado ao PS e a subida esperada do BE e menos espertada do PSD; mas, isso aconteceu numas eleições que não trariam grandes consequências governativas ao país: não puseram MFL a governar nem puseram Louçã a fazer parte de planos governativos. Direi mesmo que o beneficiado foi o PS, que não só tirou as devidas ilações políticas, mas colheu os benefícios eufóricos do Bloco e do PSD…

E agora?????

Votar PSD acho que só o irá fazer aqueles PSD’s crónicos e que andarão perto dos 25 a 30%. O CDS irá recolher provavelmente o descontentamento dos sociais democratas de direita; aquela franja, ainda larga dos oscilantes entre o PS e o PSD tenderão a votar PS. À esquerda do PS, os comunistas sem novidade, recolherão os votos de sempre e o BE irá ver muito provavelmente a sua votação baixar bastante em relação às europeias, pois Louçã só sabe mesmo ser oposição!!!!

Por tudo isto penso sem ser demasiado optimista que o PS irá ganhar as eleições, até com uma margem relativamente confortável, mas sem maioria absoluta, o que lhe permitirá governar com apoios pontuais não necessariamente muito alargados.

Para isso contará com o meu voto.

E também, porque votando PS estou a contribuir efectivamente para um reformular fundamental da vida LGBT do meu país!

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sábado, 19 de setembro de 2009

"Cartão Vermelho"


Fui desafiado pelo amigo Maldonado, do blog “A Terceira Via” para dar seguimento ao seguinte desafio: nomear 10 coisas e/ou pessoas a quem eu entenda que deveria mostrar o “cartão vermelho”. Como devem saber, e principalmente na questão dos prémios que gentilmente me têm oferecido, eu raras vezes dou seguimento às correntes, pela simples razão de que não gosto de destacar blogs em detrimento de outros; e assim, limito-me a dar-lhes espaço, com muita satisfação na minha coluna da esquerda, no blog e a responder num comentário ás questões que o “selo” traz para serem respondidas.

Mas aqui não é um selo ou uma distinção; é um desafio, e como gosto de desafios aqui estou a aceitá-lo; e também não me custa escolher 10 blogs a quem passarei o desafio, pois os não estou a distinguir, usando apenas um critério duplo: blogs, que em princípio aceitarão o desafio e que o farão com gosto, mas também blogs a quem nunca “incomodei” com coisas destas.

E aqui vão os meus “cartões vermelhos”: três deles vão para pessoas, e não dou explicações porque lhes mostro o cartão, a não ser uma, mas que é mais que suficiente: porque não gosto mesmo nada dessas pessoas – Bento XVI, Alberto João Jardim e Pinto da Costa!

Restam sete cartões que exibirei a sete conceitos: 1) – Intolerância, que será o pior dos defeitos de um ser humano; admito divergências, incompatibilidades até, mas nunca a intolerância. 2) – Estupidez; talvez muita gente confunda erradamente este conceito com falta de cultura; eu por estupidez entendo a incapacidade humana de perceber e principalmente não querer perceber, o óbvio. 3) – Homofobia, que advém de já ter sentido variadas vezes na minha própria pessoa, o incómodo de ser apontado, descriminado e maltratado, só pelo facto de ter uma sexualidade própria e que não reprimo; continuo a pensar até que alguém me desminta, que o pior homófobo é aquele que não aceita a sua própria homossexualidade. 4) – Hipocrisia, que infelizmente reina em tantas situações e que tem alguns “belos” exemplos aqui mesmo na blogosfera; é para mim inaceitável ouvir alguém pregar o bem e mostrar que é um exemplo para toda a gente e ser por isso adulado e fazer por trás exactamente o contrário, fazer afirmações que sabe serem puras mentiras e mostrar-se impoluto. 5) – Incapacidade de amar; quem não ama, ou não quer amar dificilmente será feliz; e amar não é apenas encontrar uma pessoa que seja agradável, nos dê prazer sexual e seja uma boa companhia; amar é partilhar, ceder, respeitar e tudo isso nem sempre é fácil, mas é belo e compensador. 6) A guerra, esse mal que tantos procuram, por vezes por motivos fúteis e que regista nos tempos de hoje, facetas diferentes das guerras clássicas; um acto de terrorismo, com as sua vítimas inocentes tem o mesmo resultado de um bombardeamento com mortos civis; quantas vidas ceifadas na sua juventude, em nome de ambições políticas e económicas e de extremismos religiosos ou étnicos? 7) – O desconhecimento a nível pessoal, mas principalmente a nível de empresas, organizações e países, do abismo em que o mundo está a cair a nível do ambiente; estamos apressadamente a auto-destruir-nos e a hipotecar o futuro dos nossos filhos.

Estes são os cartões que eu mostraria pessoalmente. Agora gostaria de saber a opinião sobre o mesmo assunto de dez amig@s, que passo a nomear:

Rabiscos e Safanões

The Big Chill

Por uma Second Life menos ordinária

Casado(i)s

Demasiado Fiéis Para Desistir

Apontamentos

Perdida na Noite

Rabiscos e Garatujas

Do You Believe In Angels?

Individual(mente)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Traces"

Vem aí o Queer Festival; em geito de intróito apresento aqui uma curta, em duas partes, que vi recentemente e muito me comoveu.
É ao mesmo tempo, um sinal para os jovens que vivem o problema de uma vida não compartilhada com os familiares mais chegados, e principalmente para os pais que tantas vezes não se apercebem da vida dos filhos, não entendem os seus sinais e quantas vezes ao inteirarem-se da realidade os regeitam (não é o caso)...
É uma curta com uma duração de 20 minutos (cada vídeo cerca de 10 minutos), mas que vale a pena ver e refectir.

domingo, 13 de setembro de 2009

Jorge de Sena

Jorge Cândido de Sena nasceu em 2 de Novembro de 1919 em Lisboa. Terminou em 1936 o seu curso de liceu (média de 13 no 5º e 6º anos, média de 14 no 7º ano), ano em que se inscreveu nos preparatórios para a escola naval . Formou-se em engenharia civil na faculdade de engenharia do Porto (licenciou-se com 13 valores).

Até 1959 foi funcionário da Junta Autónoma de Estradas, data em que se exila no Brasil, onde conclui o doutoramento em letras e rege as cadeiras de teoria da literatura e literatura portuguesa na Universidade de Araquara.

A partir de 1965 passa a viver nos E.U.A. acompanhado da esposa Mécia de Sena, de quem teve 9 filhos, sendo professor catedrático na Universidade de Winsconsin e, posteriormente na Universidade da Califórnia - Sta. Bárbara, onde dirigiu o departamento de literatura portuguesa e espanhola. Recebeu ao longo da sua vida vários prémios, entre eles a Grã-Cruz de Santiago.

Faleceu em 4 de Junho de 1978.

Os seus restos mortais foram trasladados na passada sexta-feira, 11 de Setembro, para o cemitério dos Prazeres, dando finalmente satisfação aos seus desejos de repousar na terra portuguesa, que o não soube conservar em vida e tanto tempo demorou a recebê-lo de novo.






CARTA A MEUS FILHOS
Os Fuzilamentos de Goya

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-1a.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Lisboa, 25 de Junho de 1959

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fotos de dor

Na sequência das fotos de desporto premiadas no ano passado e que aqui deixei há umas semanas atrás, venho hoje incluir fotos menos belas, mas não menos perfeitas, e conseguidas, por vezes, em condições extremamente adversas: imagens de dor! A esses profissionais da fotografia, a minha homenagem.










quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Queer Lisboa 13 - 1


Foi apresentado ontem o programa do 13ª. Festival de Cinema GLBT de Lisboa. o "Queer Lisboa 13", que vai decorrer no cinema S. Jorge, de 18 a 26 do corrente mês de Setembro; serão apresentados 95 filmes, sob várias temáticas, e com actividades paralelas: conferências, debates e até um fim de tarde musical com a banda do momento " Amália hoje".
A sessão de abertura será porventura das mais esperadas, já que será apresentado o novo filme de João Pedro Rodrigues "Morrer como um homem",
Na sessão de encerramento outro bom filme - "Where the world mine".
Já ontem me debrucei atentamente sobre toda a programação e já fiz a minha calendarização para essa semana; para quem pouco sai de casa, vai ser exactamente o contrário, quase vou passar o tempo no S. Jorge.
Expectativas? As de sempre, embora já conheça meia dúzia de filmes e me pareça uma programação menos rica que o ano passado, mas às vezes isso depois não é verdade...

E porque quero dar satisfação a um pedido de Manuel Braga Serrano, em vez de um trailer sobre um qualquer filme do festival, deixo um vídeo, mais um dos Contemporâneos (sorry Eva e Abraço-te), sobre uma situação divertidíssima que até podia ser uma curta do festival - grande, grande Nuno Lopes!!!

terça-feira, 8 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Bjorn Andresen


Este nome ou esta foto sugerem-lhe alguém?
Penso que não, mas ele é afinal , ou melhor, foi, bastante conhecido. Como o tempo passa...

Johan Björn Andresen (nascido em 26 de Janeiro de 1955 em Estocolmo (Suécia) é um actor e músico sueco. Ele é quase unicamente conhecido entre nós por ter interpretado com 16 anos de idade a personagem de Tadzio na adaptação ao cinema do livro de Thomas Mann “Morte em Veneza” por Luchino Visconti em 1971 .

Andrésen só tinha aparecido antes num filme, En Karlekshistoria (1970) quando foi lançado em Morte em Veneza, que lhe valeu o reconhecimento internacional . Andresen foi notado pelo seu desempenho como Tadzio, o menino bonito polaco com quem o protagonista do filme Gustav von Aschenbach (Dirk Bogard) se torna obcecado. O historiador de cinema Lawrence J. Quirck comentou no seu estudo sobre os Grandes Filmes Românticos (1974) que algumas fotos de Andresen "poderiam ser pendurados nas paredes do Louvre e do Vaticano".

Circularam rumores no momento do lançamento do filme de que Andrésen era homossexual (como o papel exigia que ele trocasse olhares romântico com o protagonista e noutra ocasião ser beijado e acariciado por outro adolescente). Andrésen negou totalmente esses factos, e contou mais tarde o seu desconforto por ter sido forçado pelo director Luchino Visconti durante as filmagens a visitar um bar gay, onde atraiu a atenção de homens mais velhos. No entanto, foi relatado que, numa entrevista de 1971 na revista Du und Ich , ele disse que tinha tido um caso com um homem mais velho. Ansioso para dissipar os rumores sobre sua sexualidade e para afastar o seu "menino bonito" da imagem, depois Andrésen evitou papéis homossexuais em filmes e peças para as quais foi imensamente solicitado e ficou muito aborrecido quando a escritora Germaine Greer usou uma fotografia dele na capa de seu livro The Beautiful Boy (2003), sem primeiro obter a sua autorização pessoal. ] Embora Greer tenha falado com o fotógrafo David Bailey (que possuía os direitos de autor para a imagem), antes de publicar o livro, Andresen afirmou que é prática comum quando alguém usa uma imagem de uma pessoa que previamente a informe e que ele não teria dado o seu consentimento para Greer usar asua imagem, se ela o houvesse informado de seus planos.

Após o lançamento de Morte em Veneza, Andresen passou um longo período de tempo no Japão,onde actuou em vários anúncios de televisão e também gravou duas canções pop.

Andrésen também apareceu em vários outros filmes realizados na Suécia, e continua a ser actor actualmente.

Em 1976, ele chegou a ser acusado de envolvimento na morte do actor Sal Mineo, (que foi conhecido pela sua homossexualidade e teve uma morte prematura e nunca completamente esclarecida) e algumas fontes alegaram ter sido ele um amante de Sal Mineo.. Andrésen negou ter conhecido Mineo a todos e afirmou que ele não estava mesmo nos Estados Unidos no momento do assassinato.; nunca foi indiciado pela sua conexão com a morte de Mineo

Além de ser um actor, Andresen é também um músico profissional, na banda Sven Erics.

Ele vive actualmente com sua esposa e filha em Estocolmo.

(Este texto foi adaptado livremente da Wikipédia)

sábado, 5 de setembro de 2009

"Bent"

Hoje falo sobre um filme que data já de 1997 e que terá passado algo desapercebido em Portugal, sendo mais conhecida a peça em que o mesmo se baseou, já representada mais de uma vez no nosso país; trata-se de “Bent”, um filme dirigido por Sean Mathias, com argumento do próprio autor da peça, Martin Sherman. Claro que para quem viu a peça e não viu o filme, poderá pensar que será demasiado lenta e repetitiva toda aquela imensa cena em que os dois prisioneiros vão deslocando as pedras de um local para outro, ao longo dos meses, debaixo de um sol escaldante ou de um frio terrível e quase sem dizerem uma palavra, na peça essa longa sequência preenche quase todo o tempo de representação, não sendo demasiado importante a história inicial, senão para nos situar perante a situação homossexual do protagonista, Max.

Já no filme, essa cena ou cenas que antecedem o que se passa no campo de concentração de Dachau, ganha um maior relevo e mostra-nos numa noite de orgia, algo exagerada, a condição homossexual de Max, mas também alguns aspectos interessantes sobre a Berlim desse tempo e dos métodos implacáveis da Gestapo. È nestas cenas que aparecem as personagens do sempre admirável e assumido Sir Ian McKallen e do surpreendente Mick Jagger num admirável travesti.

A história torna-se verdadeiramente interessante quando, se dá o encontro dos dois prisioneiros, ambos homossexuais, mas em que um, Max, interpretado pelo conhecido Clive Owen, esconde a sua homossexualidade e tem pois o triângulo amarelo de judeu, ao passo que o outro prisioneiro, Horst - Lothaire Bluteau - ostenta com orgulho o triângulo rosa que identificava os homossexuais.

Vivendo o seu dia a dia em silêncio, eram raras as ocasiões que trocavam palavras, mostram na sua monótona, árdua e completamente inútil tarefa, uma solidariedade que se vai desenvolvendo para lá das terríveis contingências em que se encontram laços mais profundos de amizade.

O final é dramático e algo previsível, mas de uma intensidade que nunca é gratuita e se ambos os actores têm um desempenho bom, o desconhecido Lothaire Bluteau supera-se e é fantástico.

Deixo aqui um vídeo com aquela que é para mim a cena mais bela do filme e que mostra a força da mente humana quando o “querer” é realmente forte.