terça-feira, 9 de março de 2010
Le Sorelle Marinetti
Acho magnífico este trio vocal ao estilo dos anos 40: claro que as três divas são na realidade três "divos", pelo que podiam bem chamar-se "Il Divo II".
Espero que gostem tanto como eu.
Entretanto vou estar fora 4 dias, a partir de quinta feira e estarei de volta na segunda feira.
sábado, 6 de março de 2010
4º. Jantar de Bloguistas
Pelo quarto ano consecutivo e pela terceira vez com a preciosa colaboração do Paulo e do Zé (Felizes Juntos), este blog vai realizar o habitual jantar de bloguistas.
Com este primeiro post sobre o assunto, queremos, acima de tudo sinalizar a data, a fim de programarem, na medida do possível, a vossa presença. Vai ser nodia 1 de Maio, um sábado e o local será o mesmo do ano passado, o Restaurante Guilho, na Amadora, já que apreciámos muito as condições que nos proporcionaram, quer no binómio qualidade/preço, quer na disponibilidade de utilização exclusiva para nós do restaurante, o qual funcionará, como no ano anterior em regime de bufete, para assim poder haver um maior convívio entre todos os participantes.
Estão óbviamente convidados todos os bloguistas amigos des blog e do Felizes Juntos e não se põe de parte ninguém que queira participar e tenha um blog, salvo os mal intencionados, que há quase sempre…Também quem aqui comenta e no Felizes Juntos está incluído, mesmo que não possua blog. E cada um/a poderá trazer acompanhantes, como é normal.
Irão oportunamente ser dadas mais notícias, podendo de momento adiantar desde já que o preço a pagar, com tudo incluído será de 15 euros.
As inscrições poderão ser feitas tanto aqui como no blog Felizes Juntos, utilizando para isso os mails de cada um dos blogs. Para não acontecer o mesmo que o ano passado em que à última da hora, por vários motivos, faltaram vários inscritos, irá ser pedida uma “caução” de 5 euros por pessoa, no acto da confirmação da inscrição, para evitar o encarecimento do preço na altura do pagamento. A forma do pagamento será também posteriormente comunicada.
Espero que os que já estiveram voltem, e penso que todos terão razão para o fazer e que os muitos para quem a iniciativa é inédita, venham também.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Cá estarei à espera dele
Quando há tempos anunciei, entusiasmado, num post entitulado “Primavera em Berlim”, o meu próximo encontro com o Dèjan, estava muito longe de imaginar quão complicado seria esse reencontro.
Devido a problemas com a disponibilidade do meu amigo berlinense, achámos que o melhor e mais económico seria a vinda do Déjan aqui e acabaria por passar cá o meu aniversário; para ainda ser mais agradável, o meu companheiro de casa, o Duarte combinou o mesmo período para a vinda do seu namorado, Rich, americano e assim passaríamos os quatro umas belas férias com uma ida ao Norte (Porto, Guimarães, Braga , Vigo e Santiago de Compostela). Assim foram comprados os bilhetes, viajando o Déjan, dia 9 de Belgrado para Roma e no dia seguinte para Lisboa, na mesma data de chegada do Rich.
Mas o destino prega-nos partidas inesperadas, e neste caso tudo aconteceu devido ao famigerado exame final que o Déjan tenta fazer há cerca de um ano e que, contra as expectativas foi sendo adiado, tendo sido marcada a prova escrita (de que ele está dispensado) para a passada quarta feira, dia 24; comecei logo a temer que a oral fosse cair em cima da data dos voos e comecei a ficar com uma ansiedade redobrada: a normal por causa da sua vinda e a expectante sobre a sua viabilidade nas datas estabelecidas. O Déjan dizia-me que não haveria problemas, até que no final da semana começou a admitir como provável a não vinda nas datas programadas.
E ontem houve a confirmação: a Universidade avisou que as orais serão efectuadas entre 19 e 24 de Março!!! Sendo assim, a ansiedade, pelo menos da minha parte, cessou e deu lugar depois de uma rápida e natural desilusão (não haveria férias conjuntas com o Duarte e o Rich e o Déjan não passaria o meu aniversário comigo), para algo mais positivo: planear as coisa de novo e com entusiasmo! Acertámos, eu ele, novas datas posteriores às datas das orais, e ainda ontem se alteraram junto das companhias aéreas a mudança das mesmas: no que concerna à Jetway, companhia sérvia de aviação, e que não é low-cost, tudo se resolveu com um pagamento extra de 50 euros para as duas viagens, ida e volta; já no que respeita à Easy Jet (voos entre Roma e Lisboa), e por ser uma companhia low cost além de ter uma penalização de 30 euros em cada viagem , teve que se pagar a alteração do preço, que ainda é significativa – cerca de 150 euros no total; mas tudo está acertado e o Déjan vai chegar aqui a 26 de Março e regressará a 11 de Abril.
Quanto à ida ao Norte, os hotéis estão reservados e o Duarte insiste que eu vá com eles, até porque há um quarto reservado e pago; vou pois, mas não irei fazer jantar algum como estava prometido, pois o Déjan não estará presente; farei uma excepção, em Braga onde irei encontrar-me com o meu amigo Ophiu, até porque há algo a combinar com ele sobre a minha ida ao norte quando o Déjan vier: quase certo que passaremos a Páscoa na cidade dos arcebispos e em muito boa companhia; e daí visitaremos o Minho, que tanta coisa bela tem a ver. E já os planos fervilham: o Déjan vai poder assistir ao vivo a um jogo do Benfica, coisa há muito ansiada por ele, e logo que jogo vai ser: Benfica- Braga!
Enfim, espero que à terceira seja de vez, e para mim, o pior está passado: não consigo conviver com a dúvida; agor, e sem o “fantasma” das datas, o Déjan tem 15 dias para se concentrar no mais importante: passar no seu exame.
Eu cá estarei à espera dele: afinal são só mais 22 dias…
quarta-feira, 3 de março de 2010
O Silêncio
A “Fábrica de Letras” seleccionou para este mês um tema que me é dificil escrever algo sobre ele.
Não tenho arte nem engenho para ficcionar uma história em que o tema seja esse e chego a invejar quem o faz com tamanha facilidade.
Pensei em, pela primeira vez, não enviar o meu contributo, o que até teria alguma lógica, pois estava a marcar o meu “silêncio”…
Mas, não sou capaz de deixar de dizer algo sobre um assunto que todos, sem excepção, vivemos ao nosso modo. Costuma dizer-se que o silêncio é de oiro, e quem sou eu para contrariar tal afirmação?. Apesar disso, convivo mal com os “silêncios”; incomoda-me de uma forma violenta. Quando surge um qualquer problema, silenciá-lo dentro de mim, e não descanso enquanto não falo no assunto, pois de outra forma sufoco. Talvez por isso não consigo compreender a palavra ódio, pois o que me fere, tem que sair, antes de se transformar numa hidra que me envolva num turbilhão de pensamentos e conjecturas nefastas. Compreendo quem assim não procede e se cale, guarde o seu silêncio e se sinta bem assim, mas não consigo fazê-lo.
Claro que por vezes necessito do meu silêncio, mas isso é diferente; é a catarse que todos necessitamos fazer de tempos em tempos e que só o silêncio permite.
E há silêncios belíssimos, quando apenas se ouve o som do mar ou o som do vento, até mesmo o som da chuva…Dos silêncios mais impressionantes que já me foi dado observar foi, sem dúvida, o som da selva, principalmente de noite, quando em operações no mato, o silêncio era imperativo: era magnifica, aquela mistura de sons de muitas espécies de animais, com o cheiro da savana e o barulho do nosso cérebro a funcionar juntamente. Foi nesses silêncios africanos que tomei decisões importantes da minha vida, principalmente aquela de me aceitar totalmente como sou…
E há o silêncio da morte; apenas posso conjurar, mas penso que na hora da morte nos envolverá um imenso silêncio, mesmo antes do silêncio definitivo.
(Escrito para a "Fábrica de Letras")
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Ashes and Snow
Tomei conhecimento deste vídeo no blog "Filho de Neptuno", de um bom amigo, o Fernando, que tive o prazer de reencontrar aqui na blogosfera.
Além de ser um vídeo de uma beleza e sensibilidade invulgares, quero chamar a atenção para o blog em referência, já que não sendo unicamente versado em assuntos sobre psicologia, esta é a vertente mais focada, e com muito interesse já que o Fernando é um excelente profissional; quando se aprende algo num blog, está a estabelecer-se a principal motivação da blogosfera: a partilha. É o caso.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
Um desastre já anunciado
Adenda
Para complementar o que atrás refiro, aqui deixo para quem esteja interessado. um sonho de um "profeta" chamado Cecílio Gomes da Silva, e que já tem 25 anos de idade (foi escrito em Janeiro de 1985).
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Padres e freiras...(para rir)
Na confissão ...
- Padre, eu toquei nos seios da minha namorada.
- Tocou por cima ou por baixo da blusa dela?
- Foi por cima da blusa dela, padre.
- Você é muito estúpido! Por baixo da blusa!!!, a
penitência é a mesma!!
O velho acaba de morrer. O padre encomenda o corpo e
rasga-se em elogios:
- O finado era um óptimo marido, um excelente cristão,
um pai exemplar!!...
A viúva vira-se para um dos filhos e diz-lhe ao ouvido:
- Vai até o caixão e vê se é mesmo o teu pai que está lá!
Na hora do almoço, a madre superiora anuncia:
- Irmãs, hoje teremos bananas de sobremesa!!
- Ehhhhh hhhh!!!!Vibram as freiras.
- Em rodelas!!,acrescenta a madre
E as freiras, decepcionadas:
- Ooooohhhhhhhhh!!!!...
A freira vai ao médico:
- Doutor, tenho tido ataques de soluços, que não me
deixam viver. Não durmo, não como, e tenho dores no corpo de tanto
movimento compulsivo involuntário.
- Tenha calma, irmã, que vou examiná-la.
O médico examina-a e diz:
- Irmã, a senhora está grávida.
A pobre freira levanta-se e sai a correr do
consultório, em pânico.
Uma hora depois, o médico recebe uma chamada da madre
superiora do convento:
- Doutor, o que é que o senhor disse à irmã Carmen?
- Cara madre superiora, como ela tinha um forte ataque
de soluços, eu disse que ela estava grávida. Espero que com o susto
ela tenha parado de soluçar!
- Sim, a irmã Carmem parou de soluçar, mas o padre
Paulo atirou-se da torre da igreja!!!
Um padre está em missão em pleno pantanal mato-grosso,
quando lhe aparece pela frente uma enorme onça faminta. A fera lambe
os lábios e prepara-se para atacar.
O padre ajoelha-se e diz:
- Ó Senhor, incute nesta fera sentimentos cristãos!
E a onça:
- Senhor, abençoai este alimento que vou tomar!
No confessionário:
- Padre, ontem eu dormi com meu namorado.
- Mas isso é pecado e pecado mortal, minha filha. Reze
cinco Pade Nossos de penitência.
A jovem fica mais algum tempo ajoelhada, pensa um
pouco e depois pergunta ao padre:
- Padre, e se eu rezar dez Padre Nossos? Será que hoje
posso dormir com ele outra vez?
O Jaiminho passa diante da janela do padre, com um pão
numa das mãos, a outra no bolso e diz:
- Boa tarde, senhor padre!
- Boa tarde, meu filho! Vejo que tens a semente da
vida numa das mãos.
E o que é que tens na outra mão?
- É um pão, senhor padre!
A campainha toca na casa de um tipo muito avarento.
O sujeito abre a porta e dá de caras com duas
freiras, pedindo donativos e que lhe dizem:
- Meu filho, nós somos irmãs de
O avarento atalha:
- Arre porra, estão muita bem conservadas!!!!
Já muito tarde, um padre passa perto dum cemitério e
apanha o maior susto da sua vida, quando ouve:
- Huuuum, huuuuum, huuuuuuuuum!
O padre pára, reza um Pai Nosso, faz o sinal da cruz,
enche-se de coragem e pergunta:
- De que é que esta pobre alma precisa?
E a voz responde-lhe:
- De papeeel higiéééééénico!
O padre Valdemar vai à prisão dar a última bênção a um
condenado, minutos antes da execução.
- Vim trazer-lhe a palavra de Deus.
- Não era preciso padre! Daqui a pouco já vou estar
pessoalmente com Ele...
Como se pode ver são perfeitamente inofensivas; ficaram desiludid@s??? Ora aí estão duas, para terminar, um pouco mais ousadas:
Num voo charter, velho quadrimotor, viajam 50 freiras, que se deslocavam ao Brasil para um congresso: eram as únicas passageiras. Pouco depois de levantar voo, um dos motores pára; o piloto diz para o co-piloto: "não há problema, ainda temos 3 motores; a meio do oceano pára um segundo motor; pergunta o co-piloto. "E agora'", responde o piloto: "ainda temos dois, isto aguenta". Já não longe da costa falha um terceiro motor: "Oh diabo, que gaita" diz o piloto, "o que vale é que estamos perto e com sorte chegamos lá". Rio de Janeiro à vista e o quarto e último motor dá o berro; o piloto diz apressadamente para o co-piloto: "vamos ejectarmos-nos!!!" Pergunta este: "e as freiras???", responde o piloto: "olha as freiras f*******!!" Ao que o co-piloto pergunta, incrédulo: "E há tempo, ainda há tempo???".
Num convento, todas as noites se ouvia um barulho estranho vindo de uma das celas: "chap, chap, chap..." As irmãs foram falar com a madre superiora que resolveu ir ver o que se passava; abriu a porta da cela e deparou com uma irmã a lavar as suas partes intimas, ao mesmo tempo que ia dizendo: "já que não comes, bebes!!!!!!"
Se a Isilda Pegado sabe disto faz queixa de mim ao Bentinho e lá sou eu excomungado...
domingo, 21 de fevereiro de 2010
Oração pela Família
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Fernando Nobre
Não tendo votado em M.Alegre nas últimas presidenciais, estava, à priori a ver-me como apoiante dele nestas, por ser um individuo sério e credível e capaz de aglutinar a esquerda de forma a impedir a reeleição de Cavaco.
Agora surge um homem, por quem tenho, como a esmagadora maioria do povo português, uma enorme simpatia, que tem feito da sua vida uma dádiva aos outros e que pode por ser um individuo não enfeudado a qualquer partido um candidato a considerar. Mas tem pontos fracos esta candidatura, pois irá dividir a esquerda facilitando , quem sabe a reeleição de Cavaco, embora F.Nobre recolha também muitos apoios na direita; não sendo um político, não se tem demitido de exercer o apoio às mais variadas opções eleitorais, de ambos os espectros políticos, o que é um pouco confuso; e, se não ser político de carreira não o indicia como possuidor de vícios políticos, por outro lado tal poderá não ser suficiente para exercer um poder que embora constitucionalmente não seja tão importante como noutros países (p.ex. a França), tem responsabilidades acrescidas numa conjuntura muito difícil para o país e para o mundo.
Confesso que fui apanhado de surpresa, e o meu voto vai ser dado , na continuidade de uma evolução política que varia de dia para dia, a quem me provar que estará melhor preparado para exercer o cargo com autoridade, honestidade e equidistância política dos partidos que os apoiem ou não.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
PALHAÇO !!!
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
O Polvo da Madeira
Se quiserem saber algo mais consultem o post do Daniel...
segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010
Rosa Lobato de Faria
Quando do seu recente falecimento, não postei nada sobre esse facto, talvez por já tanta gente ter escrito tudo o que havia a dizer sobre ela.
Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom.
Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.
E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).
Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos, depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.
Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te, menina, que vais ser escritora.
Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas, vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele molhávamos os pés e as almas.
Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves.
Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).
Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.
Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho, erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta até, praticamente, ao infinito.
Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63 anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê, pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).
Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens. Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça, idade ou religião. É um progresso enorme.
Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30, comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores. Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.
Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e, no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.
Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo.
Encontramo-nos no meu próximo romance. "
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Haja tomates
Foto do blog "Arrastão"
Afinal a censura começa na própria redacção.
Há quem defenda que embora judicialmente não haja nada a fazer neste caso das escutas, embora nas entrelinhas se sugira que o PGR e o presidente do STJ pudessem estar a ser usados por Sócrates (só para rir), mas que políticamente o caso tem que ser investigado. Que seja, e se se provar que o primeiro ministro mentiu no Parlamento então demitam-no, ou por via presidencial ou por meio de uma moção de censura. Tenham tomates para o fazer e não lhe exijam que ele o faça. O que é curioso é que ninguém quer uma crise política, mas estão cada vez mais a criá-la; em que ficamos? Pois vamos a novas eleições e se não fosse trágico para o nosso país até me atrevia a sugerir um governo de coligação entre o BE e o CDS, por exemplo e veríamos finalmente o país a progredir económicamente, o desemprego a baixar, o défice a baixar para os limites impostos pela EU, as pessoas felizes e tudo acabaria em bem. Até sugiro para símbolo dessa “coligação” uma bandeira, ou melhor deixo duas, para poderem optar
Como é Carnaval, ninguém leva a mal...
Fotos do blog "Jugular"
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Ni - Ni (18/7/1944 - 12/2/2009)
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos.
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugada do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Uma imensa saudade...
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
"Hitler's Children"
Este é um filme documental, absolutamente impressionante com testemunhos de descedentes dos maiores nomes da nomenclatura do III Reich e que prepararam e executaram o Holocausto: Himmler, Goering, von Ribbentrop, Frank; e também com descendentes das vitimas do mesmo, sessenta anos depois.
Para ver aqui, e reflectir.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Faltam 30 dias...
Of course 30 days is not too much...but it's an eternity, my love.
I miss you, each day more and more...
sábado, 6 de fevereiro de 2010
A crise da blogosfera
Há tempos que estou para fazer uma entrada sobre este assunto.
Agora chegou mesmo a vez.
Quando, quase no final de 2006 iniciei o meu blog, não percebia nada de blogs, e muito pouco de informática, e foi depois de bastantes tentativas que pus o blog a funcionar, bastante rudimentar, mas sabia o que queria com ele: fazer uma ponte entre o meu sentir, as minhas ideias e gostos e assim como um diário público, abrir-me ao mundo.
De início, fui bebendo ideias aqui e ali, algumas a saudosos blogs que há muito acabaram; depois comecei a andar mais desenvolto, a aperfeiçoar novas potencialidades e a criar as primeiras amizades virtuais. No real apenas conhecia um amigo que tinha um blog de periocidade muito variável e que ainda hoje existe. Foi com uns comentários que fui fazendo e que ganharam alguma reciprocidade que “conheci” meia dúzia de pessoas possuidoras de blogs e passado uns meses aventurei-me numa ideia: sugeri um jantar de bloguistas, e dessa forma nos conhecessemos; claro que o meu universo de blogs era muito limitado, mas mesmo assim lá nos reunimos 9 ou 10 pessoas no Bar “Agito” no Bairro Alto, numa noite inesquecível: lá conheci entre outros, amigos que ficaram para sempre: o Zé, o Sérgio, o Luís, o Zé Júlio e o seu apêndice, numa jantarada muito agradável.
A partir daí, foi sempre a “andar”; por ser comunicativo, por gostar de conhecer pessoas, alarguei bastante o número de blogs que visitava, sempre com reciprocidade e comecei a conhecer muita gente e nalguns casos a ganhar mesmo amizade, que perdurou até hoje e perdurará. A ponto de um ano depois, e já com a colaboração do Paulo e do Zé (Felizes Juntos), se organizar um segundo jantar que foi um sucesso: no “Caruso” encontrámo-nos mais de 30 pessoas, algumas vindas de fora expressamente; aí conheci finalmente o João Manuel (Catatau).
O Miguel (Minha Luz) em boa hora decidiu, nesse Verão juntar também , nas Caldas um grupo de pessoas para um belíssimo pic-nic, que constituíu um êxito, com uma tarde de domingo muito bem passada.
Estava-se no auge dos blogs, com assiduidade bastante frequente e com os blogs, com raríssimas excepções a manterem-se. Daí, não ter sido difícil, accionar novo jantar, sempre lá para Abril, agora na Amadora, no restaurante “Guilho”, onde juntámos ainda mais gente que no ano ano anterior; desta vez, foi um jantar volante e assim os contactos foram mais fáceis e a presença feminina aumentou consideravelmente. Entretanto tinha perdido a blogosfera um elemento excepcional, que curiosamente nunca teve um blog próprio, nem precisava, pois tinha os blogs dos seus muitos amigos – faleceu o nosso Catatau. No Verão passado, também com êxito crescente houve um segundo picnic nas Caldas.
Mas, mais ou menos coincidindo com o final das férias de Verão começou a notar-se na Blogosfera, e não estou a particularizar o meu caso (melhor, os blogs que fui conhecendo) um fecho de vários blogs, uns anunciados, outros “abandonados”, sem postagens há meses e outros que desapareceram mesmo, sem se saber nada deles: ao mesmo tempo, muitos dos que continuam activos diminuiram radicalmente a sua frequência de postagens, outros vão dizendo qualquer coisa, mas não comentam nada de ninguém, enfim, é a crise da blogosfera!
Há uma razão de peso e que foi o aparecimento das redes sociais, principalmente o Facebook, que “roubou” muita gente à blogosfera; eu também estou no Facebook e acho que é uma rede importante de contactos e de divulgação de assuntos (o Twitter não tanto), mas, e isto é uma opinião pessoal, não substitui um blog. Onde estão os magníficos textos de alguns blogs que ainda existem , mas que se limitam a “assinar o ponto” ? Em pequenos apontamentos no Facebook? Não, de forma alguma!!!!
Claro que vão aparecendo novos blogs, há sempre uma renovação em tudo, e principalmente de gente mais nova, alguns deles com ideias novas, bastante abertos e inovadores; mas faltam os “clássicos”…
E apareceu recentemente outro fenómeno, que são os blogs de “partidarização” política, quase sempre de múltiplos autores, que têm evidente interesse, mas que entraram naquela “panelinha” de se espicaçarem uns aos outros com citações uns dos outros: há entradas com 4 ou 5 citações, pelo que os seus autores passam a vida a espiar-se mutuamente.
Enfim, espero que a blogosfera não morra de vez: eu vou continuar por aqui e sempre com o mesmo entusiasmo; e é com esse entusiasmo que desde já avanço a minha disposição de realizar o quarto jantar de bloguistas – já que não aparecem virtualmente, vamos encontrar-nos na realidade, para ao menos matar saudades. Irei falar com o Zé e com o Paulo e daremos notícias.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
"A Cidade"
E antes de falar sobre a peça, gostaria de mostrar aqui o meu apreço por esta Companhia de Teatro, fundada em 1973 por Jorge Silva Melo, hoje à frente da Companhia “Artistas Unidos” e por Luís Miguel Cintra, ambos vindos do teatro universitário e que reuniram em torno do seu projecto um pequeno grupo de actores profissionais e que até ao 25/4 trabalhou sem sede própria e apenas apoiada esporadicamente pela Gulbenkian. Em 1975 participou nas campanhas de dinamização do M.F.A. e desde então tem vindo a ser subsidiada pelo Estado e conseguiu a sede onde ainda hoje apresenta a quase totalidade dos seus espectáculos, ali perto da Igreja de S.Mamede, entre o Rato e o Príncipe Real. Em 1980, Jorge Silva Melo saíu e entrou para a direcção Cristina Reis, responsável quase sempre dos cenários e do guarda-roupa das peças apresentadas. Embora com um núcleo de actores base, a Cornucópia sempre manteve a presença de convidados quer actores quer outros colaboradores. Seria injusto estar a falar de personalidades que foram marcantes nesta Companhia, ao longo destes 36 anos, pois algum nome poderia ficar injustamente esquecido. Com uma programação extremamente cuidada, a Cornucópia trouxe até nós textos até então nunca representados no nosso país, quer de novos autores como de clássicos, e a dramaturgia portuguesa nunca foi esquecida. Nos últimos anos tem estabelecido co-produções importantes com o Teatro Nacional D.Maria II, o Teatro Nacional S.João, o Teatro Nacional S.Carlos e outros Teatros Municipais (S.Luiz, Rivoli, Almada). A sua figura principal é indiscutivelmente Luís Miguel Cintra, uma personalidade a que o teatro português muito deve e uma das pessoas mais importantes da Cultura portuguesa do final do séc.XX e do séc. XXI.
A peça em causa chama-se “A Cidade” e baseia-se em peças cómicas de Aristófanes, escritas e representadas em Atenas, a cidade berço da democracia, no final do séc.V a.C. De notar que este dramaturgo é o autor de comédias mais antigo da História; são-lhe atribuídas 44 peças mas apenas 11 são conhecidas completamente e que foram traduzidas para a nossa língua pela Professora Maria de Fátima Sousa e Silva, tendo a partir desta tradução, Luís Miguel Cintra feito uma extraordinária colagem de 9 delas, dando assim origem a esta peça.
Peço desculpa do “plágio”, mas a forma mais concisa de falar sobre o conteúdo desta peça é a transcrição do texto da propria tradutora, destinada a este espectáculo:
“É um desafio trazer hoje à cena uma comédia de Aristófanes.Vinte e cinco séculos de distância, a Europa inteira a percorrer, eis o abismo de quem, no séc.V a.C., granjeou fama de génio teatral. O que fez a vitalidade da comédia desse tempo – a atenção ao quotidiano imediato, a reacção frontal, a alusão directa, a intervenção obre o colectivo – viria a ser também o obstáculo à sua pervivência. Como ressuscitar, hoje, esse quadro do passado?
Mas afinal, se vencida a barreira do contexto histórico, dos seus agentes concretos, à procura da essência profunda de cada criação, a descoberta é, para o Homem de hoje, compensadora. A Humanidade continua a ser a mesma, pouco mudou no que são os seus impulsos genéticos; e nem mesmo as alterações são radicais, numa vida colectiva que a chamada ‘cultura ocidental’ importou da velha Atenas democrática. E de repente, Aristófanes revela-se como inesperadamente moderno, compreensível, próximo; sem perder aquele exótico que lhe advém da mesma distância e do estatuto que lhe cabe de ‘clássico’.
É esta a constatação a que A Cidade nos convida. Não se trata do título de uma comédia em exclusivo, mas do que melhor convém à ‘comédia’ de Aristófanes. Ou não foi a sua vida de poeta, por inteiro, dedicada a tomar o pulso a cada experiência, crise, sucesso, de uma cidade, a sua Atenas? E não foi essa Atenas paradigma de todas as vivências que as cidades modernas bem conhecem?
Das onze comédias conservadas, nove estão presentes, de forma mais ou menos extensa, em A Cidade. A selecção de cenas seguiu um objectivo, e comecemos pelo essencial: que do conjunto avultasse o quadro realista de uma sociedade, sondada em cada face do seu quotidiano. Uma verdade suporta a coesão geral do espectáculo, fiel de resto ao processo histórico vivido pela velha Hélade: a de certeza de uma decadência que, sem tréguas, desmoronou a perfeição de um projecto – uma igualdade partilhada por todos os cidadãos.
Ao criar a democracia, a Grécia detectou-lhe de imediato os defeitos, aqueles mesmos que se nos tornam no quotidiano, flagrantes. Que o cidadão justo seja a excepção e não a regra. Que o político ‘ideal’ seja o corrupto, o padrão refinado de todas as pechas da classe. Que a convivência entre homem e mulher em sociedade se não oriente pela cooperação, mas pelo conflito. Que a ruptura de fronteiras estimule não a coesão, mas a xenofobia. Que a educação e a cultura promovam a autonomia, o prestígio social, mas também a ambição e o oportunismo. Que a inovação condicione os valores e incentive os vícios. Que as artes, após um apogeu de excelência, mergulhem no exagero reformista.
Num lapso de tempo vertiginoso, o sonho dava lugar ao desencanto. A fuga da realidade estimulava a imaginação e a utopia. Soluções para a crise – que a cidade real se mostrava incapaz de pôr em prática – eram testadas num mundo virtual, o da ficção cómica. Lá, as mulheres impunham ordem no fracasso masculino, pela greve ao sexo ou pelo transplante, para o colectivo, de conhecidas credenciais domésticas. A felicidade voltava a Atenas, na ressurreição simbólica de uma Paz tão desejada ou no regresso, clarividente e justo, do Dinheiro ao convívio dos cidadãos. Ou mesmo, em última análise, a fantasia abria acesso à fuga, dos males irremediáveis da cidade real para as galáxias ideais, onde o retorno à Idade do Oiro parecia ainda possível.
Esforço baldado. A decadência era um mal sem retrocesso. A mesma Atenas que aplaudia os brados dos poetas, em incansável denúncia, insistia nas debilidades e nos erros. E, atrás dela, os milénios que a perpetuaram. Artes da inevitável imperfeição humana.
Da velha comédia, A Cidade capta também o tom, além da mensagem, a alma do espectáculo. O espaço continua a ser o do colectivo. As figuras, mais do que as comprometidas com o passado histórico, são sobretudo os tipos, humanos e sociais, com tradição perene. O cómico combina o sofisticado com o popular, num equilíbrio de sucesso. Não se hesitou perante as ousadias que enriquecem a cena, o disfarce, o voo, a dança, a música, a materialização do abstracto.
O texto, por seu lado, apostou na actualização coloquial. Seleccionou referências pontuais – para que um certo tom sobrevivesse. Sem abandonar a riqueza das nuances – o obsceno, o retórico, o poético – que o original proporcionava. Depois de desmontada e reconstruída, a Cidade, no espelho cómico que lhe dá vida, sobreviveu fiel à sua própria natureza: ‘política’ por definição, vigorosa, cáustica, realista sob um véu de fantasia. Mas sobretudo talentosa, como se exige de um produto de Arte.”
Resta-me acrescentar que o espectáculo é uma festa para os olhos e para os ouvidos: tão depressa estamos a ver deuses e grandes vultos da cultura grega, como temos a sensação que estamos a assistir a uma revista; nem sequer faltam os finais dos dois actos, como apogeu. A interpretação é notável e está a cargo de Bruno Nogueira, Carolina Villaverde Rosado, Dinarte Branco, Dinis Gomes, Duarte Guimarães, Gonçalo Waddington, José ManuelMendes, Luísa Cruz, Luís Lima Barreto, Luís Miguel Cintra, Márcia Breia, Maria Rueff, Marina Albuquerque, Nuno Lopes*, Ricardo Aibéu, Rita Durão, Rita Loureiro, Sofia Marques e Teresa Madruga. A encenação é, como habitualmente de Luís Miguel Cintra.
*Nuno Lopes actuou com canadianas, mostrando um enorme profissionalismo, pois fracturou um pé, dois dias antes, durante o espectáculo. E é um enorme actor…além de ter um belo corpo que desnuda quase integralmente…
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
"Velocidade Máxima"
Ver teatro é para mim fascinante e só tenho pena de ver tão pouco, e por vezes escapam-me as produções “out-siders” que não são apresentadas nos principais palcos, pelas principais companhias, com actores conhecidos e não suficientemente publicitadas.
Foi uma peça deste tipo, uma produção fracamente comparticipada, com um grupo de actores que afinal se resume a um (Jonh Romão), já que os restantes intérpretes não são actores, mas prostitutos brasileiros que actualmente vivem e trabalham em Lisboa.
A peça chama-se VELOCIDADE MÁXIMA e fui vê-la a um espaço alternativo, chamado NEGÓCIO, que fica na Rua do Século, aqui em Lisboa.
Foi apresentada em Agosto no Festival Citemor (Montemor- o –Velho), teve depois duas apresentações no estrangeiro (Gijon e Bratislava) e depois uma série de espectáculos na Galeria Zé dos Bois (Bairro Alto) terminando hoje, com lotações esgotadas as representações no espaço referido. Ainda vai ser apresentada em Almada e eu gostaria muito de a ver representada em muitos outros sítios, se bem que compreenda que fora deste circuito urbano de Lisboa e de outros grandes centros, não seja uma peça fácil de apresentar…
Reza o programa: "Velocidade Máxima destaca-se pelo seu conteúdo polémico e pela razão da sua existência no palco, cuja raiz se focaliza no Ciclo Poder e Posse do Colectivo 84 (que co-produz a peça). O espectáculo tem como génese a vídeo-instalação “Voracidade Máxima” dos artistas Dias & Riedweg, objecto que coloca em evidência a problemática das identidades íntegras e integradas, o que existe nos hotéis ou nos apartamentos de luxo dos grandes centros urbanos, através do testemunho de prostitutos provenientes da América Latina. Velocidade Máxima pretende abordar, por um lado, as identidades transnacionais, a prostituição masculina e a relação entre sexualidade/economia, e por outro, o papel do artista no mercado da arte. No espectáculo estão em cena um actor encenador (John Romão) e três prostitutos brasileiros residentes em Lisboa. Aquilo que existe em comum entre os quatro intérpretes é o rosto: os “garotos de programa” transportam uma máscara com o modelo da cara do actor/encenador. A máscara ora protege ora permite que todos estejam ao mesmo nível, reforçando a necessidade de se esconder a cara como um instrumento para falar do próprio sentido da Identidade e do Poder.”
Mas o espectáculo é muito mais que isto: começa com um importante monólogo de John Romão (sentido e bem apresentado) de alguma da realidade da apresentação do teatro no nosso país, no que respeita aos subsídios, às diferentes “manhas” necessárias para se ser escolhido por programadores, não dando praticamente qualquer chance a novos empreendimentos e ao aparecimento de novos valores que denunciem a realidade do dia a dia, por vezes com uma mostragem crua e chocante ( bem necessária) das novas realidades da sociedade.
Depois desse intróito revoltado e apelativo, mostra-se duma forma sem concessões, o que se passa com o trabalho (não, não me enganei na palavra) de uma quantidade grande de imigrantes no nosso país ( e não serão só brasileiros) que vêem na prostituição a única forma de se sustentarem. As suas confissões, os seus lamentos, a dificuldade da vida que levam é completamente dissecada nesta peça.
Se o trabalho dos três rapazes brasileiros é muito meritório, o realce vai todo para o John Romão, que dá tudo, nesta peça: uma entrega total à denúncia da hipocrisia, da exploração e da violência exercida sobre esta gente. O acompanhamento musical a cargo da pianista Cláudia Teixeira, é perfeito e a integração de alguns temas musicais são verdadeiramente adequados. Como exemplo destes, deixo aqui um clip do último tema musical apresentado e que de certa forma resume a peça, da autoria do filho de Catano Veloso, Moreno Veloso.
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Ele "passou-se"...
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
"Rabioso Sol, Rabioso Cielo"
Em 2007 o Lisbon Quuer Festival apresentou com grande êxito uma curta de sua autoria "Bramadero".
"Rabioso Sol, Rabioso Cielo" conta a história de dois homens que se amam sem estarem presos a qualquer circunstância espacial ou temporal. Amam-se presos numa eternidade ditada pela essência da sua razão de ser, que os levará numa viagem que vai do mundo real à inevitável transcendência, encontrando-se com outras forças que transformarão e reforçarão esse acto vital. O filme confronta-nos com o amor enquanto atribulação épica, viajando da vida quotidiana para uma luta mítica em que perda e morte são apenas estádios da doce dor que nos ajuda a atingir a felicidade absoluta.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Uma noite linda
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Passado e presente 15 - "A tropa cá do João" (8) - Moçambique (5)
Ora, entre muitos acontecimentos vividos durante a minha estadia no aquartelamento da Ilha de Metarica (foto), situado no Niassa, perto do rio Lugenda, alguns tiveram como personagem importante, o dito Marua. Depois daquele “confronto inicial”, que relatei, houve um período de estudo mútuo, já que o Marua, era na sua pouca instrução um homem muito esperto.
Lá ia fazendo a sua vida normal, completamente fora dos esquemas tradicionais do regime militar, comandando a sua “tropa fandanga”, constituída pelos “mainatos” (rapazitos civis que estavam no aquartelamento, para, a troco de alguns tostôes, prestarem serviços aos graduados, tais como tratar da roupa, levar material durante as operações no mato, etc.); ele próprio se intitulava pomposamente Brigadeiro daquela meia dúzia de jovens, sobre quem tinha um verdadeiro ascendente.
Já relatei o poder dos olhos de Marua, incisivos e acutilantes; Marua era imponente, e senhor de uma força enorme. Sempre que havia algum problema a resolver na Companhia, pois lá requisitava eu os serviços de Marua e da sua tropa. O qual se sentia muito bem, ao saber-se necessário; e como trabalhavam...
Até que chegou o momento de ir mais além. Marua era útil em muita coisa, e até já o tinha chamado para tarefas de alguma responsabilidade, como fazer de intérprete num interrogatório a uns homens capturados, e foi com surpresa que vi a sua colaboração ir além do pretendido, quando após uma pergunta na sua língua, o vi sorrir e me disse em português: “Meu capitão, o tipo está a mentir, não acredito em nada do que ele conta...”
Assim, um dia fui conversar com Marua, saber da razão das suas fugas, quando ia à cidade, e dos consequentes agravamentos da sua pena; fiquei sabendo que a única razão disso era querer estar com a mulher e os filhos, dos quais me mostrou fotos.
Fiquei ciente de que aquele homem devia ir para casa, juntar-se aos seus, mas a disciplina militar não o permitiria.
Sem lhe dar conta disso, informei-me junto a hierarquias, da forma de resolver o problema daquele homem, e fui informado que ele teria de passar por um julgamento e por uma condenação, embora atenuada, pela sua vida familiar.
Como convencê-lo a ir a julgamento, sem fugir e que teria de passar um tempo na prisão? Depois de algumas longas conversas, lá o convenci, mas, devo confessar, sempre receoso que fugisse de novo.
Chegada a altura, lá foi para a então chamada Vila Cabral, capital do Niassa, para ser julgado; eu já tinha enviado um relatório, o mais detalhado possível, com a situação dele, ao Tribunal Militar, que o iria julgar.
Marua cumpriu o que prometera; não fugiu. Foi julgado e condenado a 6 meses de prisão, que era o mínimo possível para tantas deserções, após o que seria de novo, um homem livre. Aceitou bem o castigo, por duas vezes o visitei, e encontrei-o bem e agradecido, já que a mulher e os filhos o visitavam de vez em quando.
Quando finalizou a pena, regressou à família, e eu, na Companhia, no sítio onde um dia me atirara desrespeitosamente, um prato para cima da mesa, recebi uma carta dele, a agradecer-me tudo o que tinha feito por ele. E mandava-me uma nota de cinquenta escudos moçambicanos, que ainda conservo na minha posse, para me “pagar”.
Bom Marua, o que será feito deste homem, hoje?
Como gostaria de o reencontrar um dia e falar, falar muito dele, de mim, de nós, enfim...da vida.
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Da realidade ao "absurdo total"
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
"Memória Consentida"
Agora que os membros estão rígidos
e o sangue se faz pedra nas veias.
Agora que o encéfalo se esboroa
e destaca das secas meninges
esverdeadas.
Agora que a carne balofa
visita a dureza
do basalto
e os intestinos dilatam
ao inchaço azul de não expelidos
excrementos.
Agora que a necessária morte exacta
o invadiu
desde o cerne das unhas
pesa mais
em nossos ombros dobrados,
já cadáver.
Pesa
em nós sua elefantíase
de cadáver gordo
tornado inúteis pirâmedes
de Gizeh,
enquanto
ácidos ventos do deserto
anunciam
a chegada dos bichos da terra.
(Notícia 1, in “Memória Consentida”, de Rui Knopfli)
Depois de um ano de 2009 terrível, com o desaparecimento de pessoas, familiares e amigas, que me trouxeram dor e tristeza, esperaria com alguma legitimidade um ano mais calmo, nesses aspectos. Mas a realidade tem sido diferente, desde a calamidade que varreu quase um país do mapa, até à inesperada notícia desta manhã, crua e dura: o Alfredo, meu companheiro de infância na Covilhã, meu colega de estudos e divertimento na Lisboa universitária, meu Amigo de sempre, faleceu esta madrugada de súbita paragem cardíaca: tinha um ano mais que eu...
Pergunto a mim próprio se entrei já no ciclo dos anos consecutivamente maus e se não serei eu a partir um dia destes...
Para ti, Amigo Alfredo, onde quer que estejas um abraço já saudoso.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
A propósito dos noivos de Santo António
UM PONTO É TUDO
E noivos de fato-macaco?
por FERREIRA FERNANDES
Há uns anos, eu e outro jornalista resolvemos ir, de fato-macaco, comer ao Tavares, ao tempo o mais caro restaurante de Lisboa. A farpela ia limpa e marcámos reserva por telefone - não queríamos que motivos secundários impedissem o nosso objectivo. Esperávamos que surgisse aos olhos das massas a razão classista que nos barraria à porta: proletas não entram no templo gastronómico dos ricos. A nossa entrada, discreta nos gestos mas tão inusitada no valor simbólico, silenciou aquele salão de espelhos. Acorreu o chefe de mesa: "Estamos cheios." Estarão, respondemos, mas nós temos reserva. Surgiu o patrão da casa: "Estes senhores dizem que têm mesa marcada", disse-lhe o empregado. Que levou com a resposta: "Se estes senhores têm mesa marcada, leve-os para a mesa marcada." E ficámos, os repórteres provocadores, com a reportagem desarmada... Ah se a Câmara de Lisboa e o Patriarcado tivessem o bom senso do patrão do Tavares! A Igreja ficava na sua: não deixando os gays chegar ao altar. A Câmara, na sua: o que é legalmente noivo, noivo é. E ambas acordavam para os noivos, gays e não gays, aquilo que é comum a césar e aos céus: por exemplo, a bênção de Santo António. E o mundo ficaria na mesma, tal como os proletas continuam sem ir comer ao Tavares.
(no "Diário de Notícias" de hoje e lido no "Jugular")
A propósito, ou talvez não; fui ver ontem "A Gaiola das Malucas" do La Féria e adorei o final, quando eu e toda a gente que conhece a peça e os filmes, esperaria uma Zazá exuberante, nos aparece o actor José Raposo de mão dada com o actor Carlos Quintas; uma mensagem que foi mais convincente do que os casamentos forjados às portas de São Bento e para uma assistência muito popular.
Bingo, La Féria!!!!
domingo, 17 de janeiro de 2010
A Thousand Words
Uma breve e belíssima história de amor.
Sem uma única palavra...
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Evolução
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