quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Portalegre, Régio ...e o Miguel

Tenho uma irmã minha que resolveu ir casar a Portalegre, não porque o marido fosse da região, mas porque era a meio caminho, mais ou menos das terras das respectivas famílias; casou numa capelinha na encosta em frente da cidade.
Tinha um grande Amigo, que a morte ceifou cedo demais, que escolheu Portalegre para viver a sua vida profissional, que sempre ali exerceu, sendo a sua mulher sido professora naquela cidade durante esse tempo.
E conheci, há menos tempo, um tipo que me enviou um dia um mail, acerca de um texto que eu publiquei aqui no blog sobre um homofóbico artigo de um jornaleco da cidade e que chegou às minha mãos. Nesse mail, esse tipo, com um orgulho muito alentejano,  orgulho ferido naturalmente, lamentava não o meu texto, mas o artigo em questão, sentindo-se envergonhado, como portalegrense da verborreia de um seu concidadão. Esse tipo, que vim a descobrir ser um tipo muito porreiro, é o Miguel, o Mike, de quem foi tão fácil tornar-me Amigo.
E, “last but not the least”, Portalegre é a cidade de José Régio, um dos grandes nomes da literatura portuguesa  do século passado.
Visitei recentemente Portalegre, onde não ia desde esse referido casamento, para mostrar um pouco mais de Portugal ao meu Déjan, e aí reencontrei o Miguel, evidentemente, que nos acompanhou num dia muito agradável.
Agora, e a propósito da publicação no blog do Mike do poema máximo de Régio – “O Cântico Negro”, ele falou na existência de um CD com a leitura do próprio poeta dos seus versos; perante o meu interesse, o Miguel enviou-me o referido CD, que agradeço sensibilizado.
Dele retirei uns dados auto biográficos manuscritos pelo  poeta que aqui transcrevo.
E porque como referi na altura, a melhor “leitura” que conheço do poema é do grande e inesquecível João Villaret, aqui a deixo também, com toda a sua força brutal.
Finalmente a interpretação muito boa também de Maria Bethânia, deste poema, neste vídeo que deixa também as palavras, em português e em Inglês.

(Clicar na imagem do texto de José Régio, para aumentar).

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

RabbitRabbit


Dedicado ao Duarte, ao Félix, ao Nuno e a tantos outros, sem esquecer o Déjan, obviously.

sábado, 21 de agosto de 2010

Operação Vagô

"Dia 10 de Novembro de 1961, sexta-feira. O Super-constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque descola à tabela do Aeroporto de Casablanca, em Marrocos. Eram 09h15. O comandante José Marcelino e o co-piloto Raul Teles Grilo ganham altitude, alinham o avião na rota para Lisboa e permitem aos passageiros desapertar os cintos e acender os cigarros. Estava bom tempo. A viagem, de cerca de hora e meia, prometia ser calma. Mal sabia a tripulação que entre os 18 passageiros seguiam seis guerrilheiros, inimigos jurados do regime, chefiados por Palma Inácio. A calma a bordo foi interrompida mal à meia hora de voo. Hermínio da Palma Inácio entra de surpresa pela cabina de pilotagem – e aponta o revólver à cabeça do comandante: “Isto é uma acção revolucionária. Não quero fazer mal a ninguém” – diz. Nunca, na história da aviação comercial, um avião fora tomado no ar. O plano dos revolucionários é arriscado: pretendem seguir na rota para Lisboa, simular a aterragem na Portela e voltar para trás, em voo rasante sobre a capital, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro, para lançarem 100 mil panfletos com apelos à revolta popular contra a ditadura. Aterravam sãos e salvos em Tânger – onde Palma Inácio e companheiros esperavam asilo político. O co-piloto Teles Grilo, o mecânico-chefe António Coragem, o mecânico de voo Alberto Coelho não disseram palavra. Apenas o comandante Marcelino, ameaçado pelo revólver, tentou com serenidade demover o guerrilheiro. Disse que o avião não tinha combustível para regressar a Tânger. Mas Palma Inácio, que era mecânico de aviões e tirara nos Estados Unidos a licença de piloto de linha aérea, estava seguro do que fazia. Exigiu os registos de voo do Super-constellation – e verificou que os tanques tinham sido atestados em Casablanca. Havia gasolina à farta. O comandante tentou outro truque: “Como é que vai lançar os papéis? Eu não posso abrir as janelas do avião” – disse José Marcelino. A resposta de Palma calou-o: “Pode, pode. Voa o mais baixo possível, despressuriza as cabinas e abrimos as janelas de emergência.” Palma Inácio tinha a situação dominada. Lá atrás, a aventura também não podia correr melhor. Os outros cinco revolucionários nem sequer foram obrigados a levantar a voz e a mostrar as armas. O comissário de bordo Orloff Esteves e as duas assistentes, Maria del Pilar e Luísa Infante, aceitaram participar naquele momento histórico – e até ajudaram a lançar os panfletos. Nem todos os 13 pasageiros (americanos, espanhóis, belgas e dois portugueses) compreenderam que o avião fora tomado de assalto: só ficaram a saber depois da aterragem em Tânger. A cerca de meia hora de Lisboa, momentos antes de iniciar os procedimentos de descida, o comandante Marcelino contacta a torre de controlo – e recebe autorização para aterrar na pista 05. Faz a aproximação – mas, no último momento, acelera os quatro motores a hélice: o avião ‘borrega’ sobre a pista, ganha altura e afasta-se do aeroporto. José Marcelino volta a comunicar com a torre – e tenta explicar ao controlador, por meias palavras, que a bordo o obrigam a fazer um voo rasante sobre Lisboa e outras cidades a sul. “Repita lá?” – dizem-lhe da torre. A comunicação é interrompida pela voz de um general da Força Aérea, Costa Macedo – que pilotava um monomotor, percebeu tudo e deu o alerta. Minutos depois, dois caças F-84 levantam voo da Base de Monte Real: descolam com ordens para abaterem o avião da TAP caso não conseguissem obrigá-lo a aterrar em solo português. O Super-constellation iniciou então um perigoso jogo do gato e do rato. O avião teria de voar baixo, a escassos 100 metros de altura, para fugir aos radares e iludir os caças. A manobra era perigosa, só ao alcance de pilotos de elite. Os seis revolucionários tinham levado 100 mil panfletos, impressos em fino papel de seda, na bagagem de mão. O avião passou a rasar a estátua do Marquês de Pombal, sobrevoa a Baixa, guina sob Alcântara. Uma chuva de papéis cai sobre Lisboa – o mesmo no Barreiro, Setúbal, Beja, Faro. Cem mil panfletos voaram das janelas do avião. A missão estava cumprida. O Super-constellation, como estava previsto, aterrou no Aeroporto de Tânger, em Marrocos, às 12h50 de 10 de Novembro, sexta-feira. A operação mereceu honras da Imprensa internacional – era o que os revolucionários pretendiam. Salazar espumou de raiva.
Este texto foi transcrito do primeiro volume de uma pequena colecção de livros intitulada “As Grandes Operações da Guerra Colonial”, que está a acompanhar o Correio da Manhã todas as quintas feiras, mas que pode ser adquirida sem o jornal (começou a 8 de Julho e termina a 9 de Setembro).
E embora no texto, tal não venha referido, esta operação, a que foi dada o nome de “Operação Vagô”, foi planeada por Henrique Galvão.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Asereje

Continuo a afirmar que não há crise de inspiração; sucede que tenho um cojunto de blogs que visito que me apresentam coisas lindas e eu não resisto.
Desta vez, quando vi aqui, este vídeo, logo lá comentei que era susceptível de “rapinanço”, e eis-me aqui a entregar-me à “justiça bloguista”, como um reles ladrãozeco de coisas boas.
Se gostarem tanto como eu, valeu a pena.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

As touradas

A tourada está para a Espanha, como o fado está para nós. Costuma mostrar-se uma corrida de touros quase como um "ex libris" dos nossos vizinhos; e. no entanto, recentemente a Catalunha (sim, eu sei que é uma região autónoma, mas é Espanha), declarou as touradas proibidas no seu território.
Claro que aplaudo, e de que maneira, esta decisão, pois considero a tourada um espectáculo bárbaro e desigual, com um enorme sofrimento para os animais. Embora em Portugal esse "circo" montado para aficionados ricos se divertirem, seja um pouco menos selvagem , pois além do touro ser poupado, evita-se aquilo que para mim é o mais violento momento de uma corrida em Espanha, que é quando o touro é "picado " com as varas, para segundo dizem lhe diminuir a excessiva bravura.
Se alguma coisa escapa na chamada "tourada à portuguesa" é a pega, em que se encontra frente a frente o homem e o touro, mas este já está dominado e enfraquecido depois de tanta bandarilha espetada, depois de tanto sangue derramado.
Será que algum dia, haverá coragem para acabar com esta selvajaria em Portugal?
As fotos são fortes, mas é preciso que sejam, para chamar a atenção de quão degradante é este espectáculo.

Como adenda e por sugestão do Luís, acrescento esta foto, só para fazer pensar um pouco.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"Condição Feminina"

Mais do que actual, este pequeno e despretensioso filme, fica como uma homenagem às vitimas de  tanta violência doméstica que anda por aí à solta...
A "isto" sim, já se pode chamar casamento...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"O Império" ou a importância do "quarto poder"

Acabei de ler o terceiro livro seguido de Gore Vidal. Embora permaneça no romance histórico (há quem o considere o maior romancista histórico vivo), Vidal, desta vez localiza temporalmente a sua obra no virar do século XIX para o XX, e situa-a nos Estados Unidos da América, mais propriamente em Washington, capital do país e onde através de figuras públicas importantes, como os presidentes William McKinley e Theodore Roosevelt, o magnata da Imprensa William Randolph Hearst e outras menos conhecidas como o Secretário de Estado John Hay, o pensador Henry Adams e o escritor Henry James, misturadas com personagens de ficção, se mostra como foi o início da “construção” do grande Império norte-americano, afinal tão curiosamente fundamentado, na altura, numa política colonialista, o que partindo de uma ex-colónia inglesa, não deixa de ser interessante.
“O Império” recria de forma brilhante uma época cheia de possibilidades e promessas, um período que viria a ser recordado como a Idade de Ouro da América. Tudo se desenrola nos palcos da política e do jornalismo numa América de transição. E, enquanto o país luta para definir o seu destino, a bela e ambiciosa Caroline Sanford luta para afirmar a sua própria personalidade: ela é, afinal, a encarnação desta jovem e complexa nação. Dos escritórios do seu jornal em Washington, Caroline impulsiona-se para o meio político da capital e enfrenta os dois homens que ameaçam cercear a sua ambição: William R. Hearst (de quem se afirma ser o modelo de “Citizen Kane” de Orson Welles), por quem Caroline sente simultaneamente curiosidade e repulsa, e o incrivelmente ambicioso Blaise Sanford, seu meio-irmão e protegido de Hearst.
Os corredores do poder, principalmente depois do assassinato do presidente McKinley e a chegada ao poder de Teddy Roosevelt, um dos mais carismáticos presidentes que os EUA já tiveram (não confundir com Francklin Roosevelt, presidente durante a II GG), são perfeitamente dissecados e aqui se mostra o imenso poder da Imprensa na ascenção e queda de políticos; na altura apenas a imprensa escrita, mas hoje alargada às televisões e outros meios, não é por acaso que é conhecida como o “Quarto Poder” e na própria América, mais recentemente isso ficou provado, com a exoneração de Nixon, no caso Watergate, provocado por jornalistas do “Washington Post”.
E nós por cá, à nossa reduzida escala, é claro, também temos, e cada vez mais, a poderosa influência desse quarto poder na política; se por um lado, a Televisão Pública, faz, COMO SEMPRE FEZ, o favor de ir agradando ao poder , vemos hoje um ataque nunca visto, principalmente por parte de dois dos mais conhecidos jornais portugueses, “O Público” e “O Sol” e por parte da TVI a um político no poder, procurando denegri-lo da forma mais baixa, independentemente dos erros da sua governação. O famigerado caso Freeport é das maiores nojeiras existentes não só no nosso país, mas até mesmo internacionalmente, uma novela que estes dois jornais vêm alimentando, e que parte de uma denúncia “anónima” fabricada por colaboradores próximos de Santana Lopes e de personalidades ligadas ao CDS. Depois de anos e anos de “trabalho” com o caso juridicamente encerrado, vem agora a suspeição, para sempre, de fraudes sobre impossibilidades processuais POR FALTA DE TEMPO!!!!
Pode ser que um dia Gore Vidal se resolva a escrever um livro sobre a política portuguesa dos últimos anos; estou certo que muita “porcaria” viria ao de cima.


©Todos os direitos reservados. A utlilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

sábado, 7 de agosto de 2010

Partilhas

Não é por falta de assunto, nem por comodismo; apenas porque na minha visão da blogosfera, a partilha continua a ser a razão primeira.
E quando nas minhas deambulações bloguistas me deparo com coisas que gosto muito, logo tenho vontade de compartilhar esse prazer com quem me segue.
Um dia destes fui encontrar um blog de fotos, fotos fantásticas, só fotos, muitas fotos e nenhuma me deixou indiferente, embora eu não seja senão um amante da fotografia; "peguei" nalgumas delas, das mais recentes e aqui estão, para vos abrir o apetite de visitar o blog que se chama "The Hottest Shit
E as partilhas não acabam por aqui; como sabem,  sempre que não há um vídeo, as minhas postagens são acompanhadas de uma música, a que chamo "Música do dia" e que procuro seja um complemento ou algo que se relacione com o post.
Para esta beleza de fotos teria que ser uma música bela, que vi/li/ouvi, num dos blogs que me continuam a encantar:o "Tertúlias" do amigo Ricardo; deliciem-se com este pequeno pedaço de música de Richard Strauss "Morgen", na inimitável voz de Elisabeth Schwarzkopf.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Seduction of Angels

Eis aqui um pequeno filme do realizador alemão Jan Kruger, datado do ano de 2000, e que se resume a uma belíssima canção de um músico alemão ( a descobrir), cujo nome é Udo Lindenberg, e que tem letra - muito ousada - de Bertolt Brecht (fica a tradução em inglês para não ser tão chocante).
Espero que gostem tanto como eu...


An Angel is to be seduced quickly or not at all
Simply haul him into a doorway
Force your tongue into his mouth and reach
Under his gown until he´s wet
Turn his face to the wall and lift his gown
And fuck him.
And should he moan uneasily
Then hold him tight and let him come twice
Or at the end he’ll give you a shock
Or at the end he’ll give you a shock
But don´t look, don´t look
Don´t look at his face as you fuck him
And his wings, his wings
Man, don´t crush them
Don´t look, don´t look
Don´t look at his face as you fuck him
And his wings, his wings
Man, don´t crush them
Admonish him
To swing his ass well
Coax him
lnto grasping your testicles
Tell him he can let himself fall without fear
All the time he´s hanging between heaven and earth
All the time he´s hanging between heaven and earth
Don´t look, don´t look
Don´t look at his face as you fuck him
And his wings, his wings
Man, don´t crush them

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Blogs com música

Há muito tempo que não dou seguimento àqueles desafios, tipo "correntes" que, de quando em vez, aparecem na blogosfera.
Mas, um dia destes o blog "Retiro o que disse", desafiou-me de uma forma divertida e algo original: muito simples; escolhem-se cinco blogs e para cada um deles seleccionas uma música que te parece adequada a esse blog. Não interessa exactamente saber qual o grau de proximidade dessa escolha, até pode ser apenas por que veio à cabeça que "aquela música" liga bem com tal pessoa, ou até por nada...
Depois cada um dos "escolhidos" deverá fazer o mesmo, no seu blog.
Na minha escolha dos cinco blogs (acabei por escolher seis)  imperou acima de tudo a ideia de que os blogs escolhidos darão seguimento ao desafio; portanto não me desiludam.
E os outros blogs opinem se a escolha musical é adequada ou não, aos vossos olhos, é claro.
Aqui vão os vídeos para cada um dos seis blogs.

sábado, 31 de julho de 2010

Por uma boa causa

Fazendo como que uma ligação ao post anterior, em que fica provada a pouca ou nenhuma possibilidade de remediar a maior parte dos tumores, nos diversos órgãos do corpo humano, quando eles se manifestam, gostaria de afirmar que em vários casos de cancro, e que são dos que afectam uma grande parte da população, nomeadamente o da mama e o da próstata, uma regular observação das zonas em causa pode, em muitos casos evitar a morte.
Neste caso está também o cancro nos testículos, não tão comum como os referidos, mas mesmo assim bastante disseminado na população masculina.
Para o prevenir, houve recentemente uma campanha publicitária no Reino Unido, à qual deram a colaboração várias personalidades conhecidas do grande público; aqui ficam os exemplos:

E para finalizar, um vídeo explicativo.


sexta-feira, 30 de julho de 2010

António Feio

Era esperado, mas custa sempre quando chega o momento.
O mundo do espectáculo, principalmente a televisão e o teatro estão de luto.
Obrigado por tanto que nos deste...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Desporto "fora do armário"

O amigo Ovelha Tresmalhada publicou há dias um excelente post acerca da “saído do armário” do famoso atleta de rugby galês Gareth Thomas. Foi talvez até ao momento o desportista que assumiu a sua homossexualidade, com maior impacto, devido a praticar um desporto viril e de características marcadamente masculinas, mas também pelo tipo de pessoa que é: reservado, adulto e nada espalhafatoso, muito comedido.
Claro que houve , antes, diversos atletas de variadas actividades, que tiveram a mesma coragem de Gareth Thomas; e este post é uma homenagem a todos el@s, mas deixo no ar uma pergunta: quantos homene e mulheres, uns mais conhecidos que outros, e que praticam desporto não são homossexuais ou lésbicos? Como se sabe, cerca de 10% da população mundial pertence ao mundo GLBT e porque há tão poucos a admitir as suas orientações homossexuais? Geralmente por medo. E foi mesmo esse  medo que levou ao suicídio do único futebolista, com certo renome a não aguentar a pressão de ter mostrado ao mundo que era homossexual:  Justin  Fashanu.
Estou certo que depois de G.Thomas outros surgirão, como sucedeu com alguns atletas olímpicos, mas de pouca nomeada.
Aproveito para deixar aqui os links de uma excelente reportagem sobre este assunto, que o amigo Mike me enviou, que apenas pecam pela sua duração:
"Inside Sport - A Look At Gay Sportsmen Around the World"
Parte 1 -
http://www.youtube.com/watch?v=wjU2FeU_3qI
Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=vDYOPXyXEaQ
Parte 3 -  http://www.youtube.com/watch?v=w9QDiASNfc8
Seguem as fotos de alguns dos mais conhecidos desportistas que tiveram a coragem de se assumir como homossexuais ou lésbicas.
A primeira desportista a assumir-se e uma lenda do ténis mundial - Billie Jean King

John Amaeshi, basquetebolista norte americano.
Greg Louganis, o famoso nadador norte americano
Justin Fashanu, futebolista inglês, que se suicidou após ter-se assumido como homossexual.
Martina Navratilova, uma das melhores tenistas de sempre.
Donal Óg Cusack, atleta irlandês de uma modalidade pouco conhecida entre nós - o hurling.
Amelie Mauresmo, tenista francesa, ainda hoje em actividade e muito bem colocada no ATP.
Mathew Mitchum, o saltador para a água australiano, medalha de ouro nos JO de Pequim.
Gareth Thomas, galês, um dos melhores jogadores do rugby mundial.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

" O Orgulho"


É este o título de um post que me foi recomendado (em boa hora) pela minha amiga Sairaf, e que foi escrito pelo autor do blog  O ALFAIATE  LISBOETA, tendo pedido por mail ao seu autor permissão para o transcrever aqui no meu blog, o que ele amavelmente aceitou e que mais uma vez agradeço.
Penso que um texto destes faz mais pelo combate à homofobia do que muitas acções previamente preparadas para esse fim; são testemunhos destes que precisamos para combater preconceitos e derrubar ideias perfeitamente aberrantes acerca da vida dos homossexuais e lésbicas.
Claro que o autor teve alguns comentários pouco agradáveis, como se esperaria, pese embora, houvesse mais aceitação que repúdio.
Aqui vai, com o devido respeito, o texto:


"nunca vi tantos paneleiros na minha vida". Foi assim que começou a minha passagem pela parada gay. Foi no táxi que apanhei no aeroporto que soube do evento. Pelo motorista, um madrileno de 25 anos que antes de andar nas rondas trabalhou 5 anos nas obras. Com base no meu senso-comum repleto de presunções sociológicas diria que dificilmente um português com a mesma trajectória falaria daquele evento num jeito tão natural. Sem um único travo de crítica ou escárnio. Falámos da parada da mesma forma que percorremos os caminhos das nossas selecções na África do Sul ou que trocámos números sobre a taxa de desemprego de cada um dos nossos países. Fui a Madrid visitar um amigo e curiosamente foi ele (que não é propriamente o maisgay friendly dos meus amigos) quem sugeriu que passássemos pela parada. E foi já no meio da festa que repeti com surpresa sincera "foda-se, nunca vi tantos paneleiros na minha vida". "paneleiro" é um termo feio. Primeiro na sua fónica e depois no seu sentido. Tanto assim é que o emprego mais vezes para falar de tipos que não me merecem o respeito que propriamente de tipos que se deitam com outros tipos. Mas não é sobre palavras ou glossários pessoais que me apetece falar. Até porque não planeio fazer nenhum mea culpa por não empregar os vocábulos mais precisos ou diplomaticamente correctos. É sobre a diferença, e sobre a forma como a olhamos. Parece reinar uma obsessão de identificar tudo o que se destaca daquilo que temos por regra. E de aplicar uma censura social em torno dela. Mais que uma lei ou uma proibição, a censura sobre o que quer que não ande alinhado com uma dada consciência colectiva pode ser a forma mais cruel de julgar alguém. Enquanto corríamos os inúmeros autocarros que compunham a parada ia reparando na quantidade de homens musculados, de traços viris e aparência masculina que iam revolucionando q.b. a minha visão pré-definida, limitada e um tanto ou quanto arcaica daquela que é ou deixa de ser a imagem de um gay. Não vos vou dizer que me é completamente indiferente ter ao lado um bodybuilder a olhar-me de alto abaixo como se eu fosse o seu brinquedo sexual predilecto para aquela noite mas a verdade é que não estou em condições de vos garantir que, nunca na vida, lancei olhar idêntico a uma miúda bem feita e, entre uma atitude e outra, não vejo porque raio a do matulão madrileno haverá de ser mais censurável que a minha.

Não nasci ensinado a lidar com a diferença. Devia ter uns 12 ou 13 anos quando numa manhã ia a passar junto à secretaria da minha escola. Na fila estava o único rapaz do liceu que nunca se deu ao trabalho de negar que simpatizava com moços bonitos. Lembro-me tão bem… Passei e comentei alto "as bichas na bicha". E fi-lo com a sensação que estava a proclamar o trocadilho mais sofisticado à face da terra. Acendeu-se um rastilho de esgares e risadas em torno do miúdo que já parecia lidar com colegas estúpidos como eu como se de uma inevitabilidade nos tratássemos. Não foi há muito tempo que me cruzei com ele de novo. Faltou-me coragem para o abordar e pedir desculpa por qualquer mau bocado que a minha brejeirice lhe tivesse infligido um dia mas, em verdade vos digo, sinto-me em falta com ele. A censura social consegue ser, muitas vezes, mais castradora que qualquer lei. Tenho a certeza que o número de aceleras que se gaba de fazer parte do percurso entre Lisboa e Porto ao dobro do permitido por lei vai diminuir brutalmente, não no dia em que as penas se agravaram, mas na hora em que sentirem que o indicador do seu velocímetro não merece mais a aprovação daqueles que os rodeiam. E parte do problema da intolerância sexual reside precisamente no facto de, em muitos meios tidos como sofisticados, se cultivar uma certa homofobia. Reside no aparente orgulho que parece existir entre aqueles que rejeitam qualquer diferença relativa à sua própria condição. Chego a ficar com a sensação que a homofobia é para muitos homens, uma forma de afirmação da sua própria virilidade, como se a rejeição de uma orientação sexual diferente da sua lhes assegurasse, simultaneamente, níveis olímpicos de testosterona e o reconhecimento da sua masculinidade pelos seus pares.

Para uma criança o sentimento de marginalidade é provavelmente o cenário mais aterrador que se lhe poderá desenhar. Num ambiente homofóbico, qualquer adolescente que sinta atracção física por alguém com quem partilhe o balneário arriscar-se-á a sentir isolado num mundo que não lhe parecerá ter sido desenhado à sua medida. Arriscar-se-á a sentir que, ele mesmo, não tem lugar na concepção de condição humana que lhe transmitiram e que ele próprio assimilou. É assim que imagino uma miúda que se dê conta que o seu ser a impele para uma referência corporal feminina ao invés das idealizações masculinas que o mundo em que ela se inscreve lhe impinge. E este direito, o de projectarmos os ímpetos sexuais que nos impelem sobre o género que bem entendermos deveria ser um direito inalienável, tal qual… (repito, tal qual) o direito à declaração pública dos nossos afectos. E sinceramente, dispenso grandes erudições ou reflexões académicas sobre a matéria. A resposta está no mundo físico, tangível e acessível a todos. Porque a minha orientação sexual se exprime através de uma coisa muito simples – a minha pila. Porque nem o mais bem-falante behaviorista me conseguiria convencer de que a minha sexualidade não acabaria sempre por ser comandada por ela. Porque ela nunca me deu a escolher sobre os critérios que determinam a sua erecção. Porque ela não me perguntou nunca se eu queria ou não sentir tesão por mulheres. Não escolhi gostar de peles sedosas, braços delicados ou contornos femininos. Não escolhi, na minha infância, ter amores platónicos pelas minhas primas mais velhas, sentir-me atraído por amigas mais novas lá de casa ou, já na adolescência, ter tido sonhos molhados com a filha de uns amigos de uns amigos com quem me cruzei numa festa. Não escolhi ser muito ou pouco normal aos olhos dos outros. Não escolhi gostar de mulheres. Como também não vou poder escolher pelo meu filho. Não vos vou mentir. O ideal tipo para a minha descendência não passa por ter um filho gay. Agrada-me pensar que o meu filho saia com metade das miúdas de Lisboa e tenha a outra metade a suspirar por ele. Que seja respeitado entre o seu grupo de pares, que prefira apanhar umas chapadas a virar as costas a um puto que o insulte; que seja inteligente, bonito, dotado de sentido de humor e, já agora, que não seja o puto que, invariavelmente, passa o jogo inteiro à baliza. Eu tenho direito a traçar os ideais tipo que bem entender para o meu filho. O que não me permito é amá-lo menos se ele não for nada do que eu tiver idealizado. Se for o miúdo a quem roubam recorrentemente o lanche no recreio, a quem ordenam que passe o jogo inteiro na baliza ou aquele que venha um dia a gostar de rapazes.

A parada é um fenómeno impressionante. E estava realmente impressionado com a quantidade de (supostos) “paneleiros” que estava a ver naquele dia. Vi dezenas de autocarros numa avenida que desistimos de percorrer ainda a meio. Pedi autorização para subir àquele cujo visual me agradou mais e tirei meia dúzia de fotos indiscriminadamente. E foi neste autocarro que nasceu estepost. E ainda bem que o escrevi. Porque se o fiz foi porque aquilo que me faz sentido neste blog é escrever sobre o que cada um dos meus retratos me diz, sobre o que cada um destes retratos me lembra e sobre cada um dos sítios para onde estes retratos me transportam. Porque, na verdade, o orgulho que dá o nome a estepost não é necessariamente o orgulho gay. É também o orgulho que tenho em ter escrito este post. Porque se deixar os meus amigos homofóbicos a fazer contas de cabeça é sinal que já valeu bem a pena tê-lo escrito. Porque se não tivesse tido coragem para o ter escrito aí sim… Independentemente dos meus apetites e voracidades sexuais… Se qualquer receio me tivesse impedido de escrever este post… Aí sim, aí seria um grandessíssimo paneleiro

sábado, 24 de julho de 2010

Mexer na "arte"...

Uma "malandrice" vista aqui.
Será que é desta que o Bentinho me excomunga? Valha-me Miguel Ângelo...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Passado e presente 16 - Covilhã, a minha cidade

Covilhã, cidade neve, cidade tear, cidade serra, cidade universidade, cidade de altos e baixos, mas sempre a minha cidade.

Lá nasci, por lá me criei e de lá "emigrei", porque a interioridade há anos atràs, era bem maior que actualmente.

Mas voltei sempre, as raízes estão lá, a família também; os amigos, esses "emigraram" também.

Enquanto lá vivi, até aos 16 anos, era o meu mundo e o outro mundo ainda não tinha chegado bem até mim. Durante os meus estudos, eram as férias, ainda eram os amigos e a família estava completa, era muito bom.

O exílio prolongou-se durante muitos anos, de 1962 a 1980, com a tropa a "ajudar"...

E, no principio de 80, eis que regresso, dando resposta aos anseios paternos de ajuda na empresa familiar.

Dá-se então algo surpreendente, ao verificar que aquela cidade, no seu dia a dia era totalmente diferente da Covilhã da minha infância e juventude. As pessoas eram outras, o 25 de Abril tinha deixado marcas numa cidade muito estratificada socialmente.

Poucas eram as pessoas que conhecia, pois como por "magia", tinham-se eclipsado algumas, muitas, pessoas com quem antes me relacionava; não estavam desaparecidos, estavam "hibernados", soube-o de uma forma fortuita, quando no funeral de alguém conhecido, de repente apareceram todos, ou quase.

Os viveres eram outros, e eu adaptei-me, até porque eu próprio estava muito diferente.

A minha cidade, pese embora o crónico pensar retrógrado do interior do nosso Portugal, estava diferente, e eu era um estranho, não me conheciam... E pude descobrir algumas ousadias daquelas gentes, que geralmente só são mostradas a quem "é de fora".

Mas eu fui ficando e com a rotina da presença, vieram os normais recuos. Mas nunca deixei de ser eu e durante os 14 anos que ali vivi, desde o meu regresso, multipliquei-me em todas as direcções: empresário têxtil,, professor, dirigente desportivo, cineclubista, e até, pasmece-se, cheguei a ser candidato autárquico, pela mão do "Zé" (...), sim, esse que estão a pensar!

E voltei a conhecer toda a gente e a sentir-me de novo na minha cidade.

O problema é que a vida dá muitas voltas e eu "emigrei" de novo, desta vez, penso que definitivamente, para a Lisboa dos meus tempos do ISCEF, e onde aprendi de uma forma muito autodidacta a gostar de tanta coisa, e a defenir-me completamente como sou.

Com orgulho digo, que nunca deixei de ser esse "todo" em que me constituo, mesmo lá, na minha cidade. E nunca ouvi uma critica, sempre fui visto da mesma forma.

Hoje, volto cada ano pelo Natal, que já não é o que era antes, é claro, e de vez em quando a visitar a minha Mãe.

A Covilhã mudou de vez. Os lanifícios morreram, ou estão a morrer, a universidade abriu a cidade ao mundo, o crescimento estendeu-se cá para baixo, para a planície, deixou de subir serra acima.

É actualmente uma cidade moderna, com vida própria e até com alguns motivos de orgulho, como um curso de medecina, instalado a meias entre a Universidade e um hospital, que recentemente foi considerado o 4º. melhor do país (público).

A Covilhã será para sempre, a minha cidade!


(foto - fachada da Igreja de Santa Maria Maior)


Este post foi publicado originalmente na parte desaparecida do meu blog a 12 de Dezembro de 2006.


terça-feira, 20 de julho de 2010

I Am Who I Am

A música é bela, o cantor - Lee Ryan - belíssimo, e a letra é algo que eu não preciso de explicar, porque sou assim todos os dias, em todas as ocasiões.
Se assim não fosse, não seria eu!
No I don't mind if you think I should grow my hair
And no I don't mind if you pick on the clothes that I
wear
But know I can keep my head when all around me are
losing theirs because

I am who I am
And you can't change me
I've done what I can
And I'll stand my ground
You're tying my hands
You rearrange me
It all falls down
It all falls down

Why when you dream do you see me as something I'm not
Why don't you wake up and see all the good things
you've got

A heart isn't made out of clay
Not something you shape with your hands understand

Is the reason you ask me to change so that you stay
the same

Well I'm sorry if I keep disappointing you again and
again but

I am who I am

domingo, 18 de julho de 2010

Pegadas negras

“Quinze dias sem telejornais, quinze dias sem net, quinze dias sem telefones. Sul de Espanha e tantas cores a invadirem-me o olhar que por vezes doía; no mar, mais azuis que cores, uma ou várias serras a acabarem ali, onde nadei, como sempre, até esquecer todas as lutas, todos os sons que não os das minhas braçadas ou o do vento a amparar cada uma delas, ou o do vento na areia branca, sem saber por muitos desses quinze dias da importância da cor da areia, esse branco imaculado, esquecido ele também, aparentemente, de lutas, ou mesmo de lutos.
Estava sentada a olhar a eternidade do mar, que desde miúda me oferece paz às pálpebras, quando o meu amigo, que identifico por Z., deu um grito de horror e fez-me olhar para a esquerda.
Num minuto que ficou gravado para sempre nos caminhos da minha memória, vimos o cenário de todos os dias alterado por uma sucessão de crimes cunhados pelo ódio a um ser humano – e ao que ele representava –, que cruzava a areia, todos os dias, com pegadas pretas.
Naquela praia, como em tantas, sem licença administrativa, raparigas e rapazes de várias nacionalidades vendiam fatos de banho, sumos naturais, tudo entre sorrisos e nada lhes acontecia. A autoridade administrativa fechava os olhos aos episódios, porque dá vida à vida dos turistas uma brasileira, por exemplo, se branca, entreter o cenário com os seus produtos exóticos.
Acontece que um dos vendedores era senegalês – chamo-lhe de R., com a sua autorização – vendia, e vende, óculos e música, e num ápice vimos a monstruosa evidência de as suas pegadas na areia serem tidas como sombras sujas, pretas, havia que acabar com elas e com violência.
Um homem que vigiava as praias, equivalente no seu ofício a uma autoridade da ASAE, gritou com o senegalês – apenas com este, claro – e disse-lhe que teria de parar de vender na praia. O R. pediu, num segundo, autorização para pousar as suas coisas, não oferecendo qualquer resistência, o que na verdade seria absurdo de imaginar, já que só estava em causa uma contra-ordenação, punível com uma coima, assim, só isto, por mais irritante que fosse recair apenas sobre as suas pegadas a aplicação da lei. Pegadas pretas.
Para nosso horror, o agente sacou do bastão e algemou o R, num acto de violência absolutamente inexplicável, agredindo-o perante os presentes.
O pior estava para acontecer. Um cidadão alemão, que naturalmente representa-se a si próprio, alto, forte, viu a cena, um senegalês algemado, e levantou-se da sua toalha saltando sobre o sacana do preto, porque sim, porque lhe deu um ataque, porque viu ali uma boa oportunidade para exorcizar o seu racismo primário. Nunca, em toda a minha vida, presenciei algo de semelhante.
Para que se perceba, tudo isto se passou em tempo concentrado, não sei dizer dos minutos.
Toda a gente se levantou numa gritaria, mas a única pessoa com coragem física foi o meu amigo Z., que exerceu o que em direito se chama legítima defesa de terceiros, atirando-se, sem pensar em consequências, para cima do alemão, com todas as suas forças, até o afastar do R.
Constitui-me, de imediato, advogada do R. Em meu redor, gritos, protestos, mulheres explicando que nunca tinham presenciado nada de semelhante, ouvia-se “racista”, “porco”, “nazi”, “atenção às crianças”, “tirem as algemas ao preto”.
O R., um senegalês estudante de medicina, de 22 anos, que vem à nossa Europa no Verão ganhar o que pode para concluir os estudos, tinha os olhos afogados em lágrimas, estava perdido de pânico e tentava, no início, incentivado pela gritaria, soltar-se das algemas. Perguntava num gemido se seria preso, se tinha cometido um crime, se sim, qual. Consegui, com algum esforço físico e apanhando uma chapada perdida, agarrar-lhe a face e implorar-lhe que ignorasse tudo o que se passava em redor, falando com ele em francês, para fúria do agente administrativo. Pedi-lhe que me olhasse nos olhos, repeti várias vezes que era advogada, que ele não tinha cometido crime algum, que tinha sido vítima de um abuso de poder inqualificável, mas que se mantivesse calmo, sem um gesto, que não desse um argumento ao agente, o qual estava sequioso por uma agressão para invocar legítima defesa. Prometi-lhe que não sairia de perto dele até ser libertado, pedi-lhe que confiasse em mim e que ignorasse toda e qualquer provocação, porque tudo o que se estava a passar tinha sido devidamente testemunhado e a cada segundo que passava a situação agravava-se para o agente e não para ele.
O R. deu-me a mão livre, respirou fundo, tendo a outra algemada ao agente, manteve-se calmo e deixou-me falar.
Estrategicamente expliquei ao ser que vestia uma farda de autoridade que às vezes naquela profissão geram-se momentos difíceis, mas que todos tínhamos testemunhado que não houvera resistência alguma, pelo que o uso do bastão e das algemas, apenas permitido em caso de agressão, tinha sido ilegítimo, que a observância do princípio da proporcionalidade a que estava adstrito estava totalmente comprometida, pelo que lhe requeria, com educação, que soltasse o R.
O racismo do agente administrativo virou-se então para a minha pessoa, chamando-me de advogada "portuguesa", que embora replicasse ser cidadã europeia, podia falar, falar e falar, e até conhecer a lei espanhola, mas que ele não tiraria as algemas ao preto e eu até podia ir para a cama com ele, que era o que eu faria de melhor.
Mantive a calma, pedindo ao Z. que resistisse à tentativa de nos fazer perder a cabeça, e comuniquei ao agente, num esforço doentio para conter a minha vontade de o agredir, que o dito seria objecto de denúncia à parte, mas que naquele momento estava concentrada no meu constituinte.
Decidi então acompanhar o R até à polícia, dando-lhe o meu braço ao seu braço livre, para compensar a sensação de horror criada pelas algemas postas no outro pulso já dilacerado. Pegadas pretas.
Os gritos eram muitos, muitos, tantos, como sempre, a indignação generalizada, mas quando pedi testemunhas debaixo de um sol castigador, prontas para uma caminhada com quarenta graus por pegada, uma mulher apenas veio comigo e com o Z. até ao fim.
Durante a caminhada senti os meus pés perderem a pele, esqueci-me, no meio da confusão, dos sapatos, mas logo um outro senegalês atirou para frente de mim, num gesto elegante e discreto, um par de sandálias para que eu continuasse a andar com dignidade.
Chegados à polícia, tudo foi relatado, e a conivência de um dos três polícias com o agente administrativo caiu por terra quando denunciei o mesmo pelo que me dissera.
Poupando aqui a descrição dos trâmites legais, realço a ajuda maravilhosa da espanhola que nos acompanhou, seguindo o R para o hospital para tratar do pulso. Foi portanto libertado.
Voltei à praia branca e finalmente chorei. Aquelas horas de contenção pareciam moinhos nos novos passos de regresso a uma toalha esquecida e o meu corpo todo ele um soluço.
Foi então que dei conta de que no caminho para a minha toalha, que sempre escolhe as zonas desertas das praias, há bares bem frequentados, com empregados de múltiplas nacionalidades, mas todos eles brancos.
Tremi o resto do dia.
No dia seguinte apareceu o R. e os seus irmãos. Ao todo, três. Queriam pagar-me honorários, como podiam, com uns óculos escuros. Expliquei ao estudante de medicina que fizera o equivalente ao que um médico tem obrigação de fazer se se depara com alguém doente sem assistência.
Guardo para a minha memória a conversa que se animou, de uma família que conhecia o bairro dos Anjos, em Lisboa, surpreendida por eu conhecer o Senegal e assim falarmos recostados no sabor do dia seguinte das terras de uns e dos outros.
Durante a conversa, esta pergunta:
- Aquilo que a senhora disse é verdade? Eu posso apresentar queixa contra o agente?
Disfarcei a minha angústia ao responder que sim e que contra o alemão também.
- Posso apresentar queixa, eu?
- Posso apresentar queixa, eu?
Aqui está a tua história, R., contada, como te disse que faria, com a tua autorização, e fica por expressar o que não consigo pôr em palavras, o teu olhar maior do que a travessia que fazes todos os anos, e a tua enorme superioridade, ao dizeres que a vida nos devolve o que fazemos, em paz, e de novo a lutar, e certo, como dizias, de que se algum dia aquele alemão te aparecer por destino nas tuas mãos de médico o tratarás com o melhor da tua arte; eis uma lição que deste a tanta gente nas tuas pegadas pretas que continuarão em frente e para cima, numa Europa onde isto é possível, onde isto aconteceu, onde as tuas pegadas ainda têm cor.”

É a segunda vez em pouco tempo que aqui deixo palavras escritas pela mesma pessoa, co-autora de um blog que muito aprecio – Jugular.
A culpa não é minha; é da autora, a Isabel Moreira, que aqui cumprimento e a quem deixo uma palavra de muita admiração.
Obrigado e que sirva de exemplo esta partilha.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Uma referência...

Vai  fazer dentro de meses, quatro anos que estou na blogosfera e tenho cnhecido muitos blogs; uns já desapareceram, outros estão “ligados à máquina”, e outros continuam com periodicidade variável, a cumprir os objectivos, isto é, as orientações de quem os escreve.
Sempre que um blog vai para a minha coluna da esquerda, vai por mérito próprio e não pelos lindos olhos de quem o escreve ou porque é moda segui-lo; nem todos são iguais, pois todos têm características próprias; lei-os todos com atenção e lá vou comentando, quando vejo razão para isso…
Não é a primeira vez que aqui neste meu canto, chamo a atenção de quem me lê para um determinado blog, embora seja raro; e sempre que o faço é por razões muito positivas e tem acontecido de formas variadas: ou apenas chamar a atenção para o blog “x”, ou dar um link de uma postagem, ou até mesmo reproduzir na íntegra uma entrada, que por ser de muito interesse, faço partilhar. E claro há aquelas muitas vezes que se põe uma foto, uma frase ou um vídeo que se “roubou” a um blog, mas com a identificação do respectivo blog.
Hoje vou chamar a atenção para mais um blog, que conheço há muito, que é SEMPRE excelente, onde muita coisa tenho aprendido e que pertence a uma pessoa a quem já me ligam laços de uma Amizade, grande, progressiva e reciproca.
E vou chamar a atenção, baseado no seu último post, que aliás segue a regra de um encadeamento perfeito da exposição , intervelada com vídeos perfeitamente adequados e que não faço ideia como são encontrados. Nessa postagem, o autor apresenta um dos mais ricos retratos de um famoso músico e comediante, Victor Borge, e depois, faz a ligação a um duo fabuloso que se apresentou na passada semana em Espinho.
É deste duo, o vídeo que aqui mostro e peço que corram (quem não conheça) a ver a postagem aqui inserta, pois não darão o tempo por mal empregue.
O blog é o IN-SENSO, e o seu autor o meu querido amigo Com senso, a quem envio um grande abraço.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

волим те сваки пут све више ! *

O que se passa comigo?
O que se passa connosco?
Não sei bem explicar... apenas sei que vai num crescendo!
Tão ausente e cada vez mais presente...
Where the boys are, someone waits for me
A smilin' face, a warm embrace, two arms to hold me tenderly

Where the boys are, my true love will be
He's walkin' down some street in town and I know he's lookin' there for me

In the crowd of a million people I'll find my valentine
And then I'll climb to the highest steeple and tell the world he's mine

Till he holds me I'll wait impatiently
Where the boys are, where the boys are
Where the boys are, someone waits for me

Till he holds me I'll wait impatiently
Where the boys are, where the boys are
Where the boys are, someone waits for me

* Amo-te cada vez mais!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

"An Englishman in New York"

Este filme é a continuação de “A naked civil servant” (1975), filme que é baseado na história real do escritor Quentin Crisp, ícone gay da segunda metade do século XX. Ele escreveu um livro de memórias em 1968, contando o que significava, nos Anos 30, ser gay em Londres e sair - como ele saía - maquilhado às ruas. Ele não saía vestido de mulher. Não. Saía vestido com roupas de homem (ainda que um tanto extravagantes) e maquilhado. Assim se apresentou até o final da sua vida.
Mesmo com todas as lutas que enfrentou, e as decorrentes agressões físicas e morais, Crisp atingiu a fama pela sua visão da homossexualidade; pelo seu exibicionismo e inconformismo.
Trata-se de um filme com mais peso e foco no que Quantin Crisp se tornou para o mundo depois de sua adolescência difícil e dos problemas que enfrentou até escrever sua biografia em 1968.
“An Englishman in New York” (2009) é dirigido por Richard Laxton, outro veterano da TV que, diferente de Jack Gold (realizador do primeiro filme) , não arriscou uma linguagem poética, mas manteve o recurso da narração como um elo entre os dois filmes.
John Hurt está ainda melhor do que no filme anterior. Talvez isso seja a coisa mais interessante deste projecto: ele voltou a interpretar o mesmo papel 34 anos depois e está magnífico. Se antes a sua fisionomia era uma cópia autenticada de Crisp, aqui essa característica eleva-se ainda mais ao assistir ao envelhecimento da seu personagem, numa transformação assustadora.
O filme explica o que aconteceu com Crisp depois da exibição de “A naked civil servant” na tv com cabo inglesa. O sucesso do filme elevou ainda mais as vendas de sua biografia e revelou de vez ao mundo este homem inglês de fino trato feminino. Como resultado, Crisp fez sucesso nos EUA e recebe um convite para uma palestra sobre sua vida, no começo dos anos oitenta. Ele aceita, muda-se para Nova York e começa então a segunda etapa de sua vida, cheia de tributos e desgraças.
O trabalho de Laxton reflete constantemente sobre as batalhas que Quentin enfrentou no passado. Ele é amado pelos gays novaiorquinos e pode andar como quiser na rua, já que todos se vestem sem maiores pudores. Ser admirado e ouvido é como um paraíso, uma recompensa para uma vida tão intensa e mal compreendida quanto a que teve. Mas Quentin decidiu seguir falar o que sente e este mundo não é para aqueles que promovem a lucidez. Graças a um comentário infeliz sobre a SIDA, Quentin passa a ser odiado pelos gays, mas segue firme tentanto sobreviver com o que a vida lhe dá.
Alguns ecos das regras de Quentin aparecem, lembrando o quanto ele estava de facto a frente do tempo em que vivia.
Agora existem dois pêndulos que refletem a figura de Quentin: o primeiro, que fala sobre negação, o quanto Quentin foi menosprezado e discriminado e o segundo que fala sobre sua dedicação com o aprendizado, com o novo. Quentin toma gosto na arte de promover as suas inspirações e, mesmo doente e inválido, segue em frente numa jornada de autoconhecimento, riscos e desafios constantes até os seus 90 anos, claro, sem deixar o baton de lado.


Em jeito de homenagem, acrescento aqui a fabulosa caracterização do próprio Quentin Crisp, quando interpretou a personagem da Rainha Vitória no filme "Orlando", de Sally Potter (1992).