Numa ensolarada manhã de Setembro do ano de 1953, em Newport, Rhode Island, a igreja de Saint Mary, decorada com crisântemos brancos e gladíolos rosa, recebia 700 convidados ilustres. O arcebispo de Boston presidia à cerimónia de casamento, que, para o regozijo dos presentes, teve direito a bênção papal, através de uma carta enviada pelo próprio Pio XII. Do lado de fora, 3 mil curiosos aglomeravam-se para ver tudo. A imprensa ocupava-se com os mínimos detalhes. A nação inteira torcia pela felicidade de Jacqueline e John Kennedy. Não fora o facto de eles serem cidadãos de uma república presidencialista, o casamento teria sido uma cerimónia real. Nos Estados Unidos não existem castelos, mas, se existissem, eles teriam sido habitados pela dinastia Kennedy.
Porém nem tudo que reluz é ouro na história dessa família. Tragédias também assombram o clã, cuja trajectória política teve início no século 19, quando o primeiro Kennedy decidiu "fazer a América".
Filho de imigrantes irlandeses pobres, P.J. Kennedy tinha tudo para ser mais um trabalhador braçal e alcoólatra quando largou a escola para trabalhar como estivador no porto de Boston. Mas, diferentemente dos irlandeses que trabalhavam naquele e em tantos outros portos ao redor dos Estados Unidos, ele não gostava muito de bebidas alcoólicas. Sem beber, Kennedy conseguiu comprar o primeiro bar, aos 22 anos, com o dinheiro que juntara trabalhando. Cinco anos mais tarde, em 1885, ele já era dono de três bares e de uma importadora de bebida, a P.J. Kennedy and Company.
Naquele mesmo ano, ele foi o primeiro Kennedy a entrar para a política, na Câmara de Representantes. A seguir vieram outros mandatos como representante e como senador.
Em Boston, outro político rivalizava com P.J. Kennedy: o prefeito John Francis Fitzgerald. Durante anos, eles alternaram momentos de oposição e aliança. Kennedy saiu-se bem na política. Já Fitzgerald envolveu-se em escândalos por causa de infidelidade e fraude, perdendo várias eleições para cargos diferentes. Entre alianças e rivalidades, as famílias Kennedy e Fitzgerald uniram-se em 1929, no casamento dos seus filhos, Joe Kennedy e Rose Fitzgerald.
Porém nem tudo que reluz é ouro na história dessa família. Tragédias também assombram o clã, cuja trajectória política teve início no século 19, quando o primeiro Kennedy decidiu "fazer a América".
Filho de imigrantes irlandeses pobres, P.J. Kennedy tinha tudo para ser mais um trabalhador braçal e alcoólatra quando largou a escola para trabalhar como estivador no porto de Boston. Mas, diferentemente dos irlandeses que trabalhavam naquele e em tantos outros portos ao redor dos Estados Unidos, ele não gostava muito de bebidas alcoólicas. Sem beber, Kennedy conseguiu comprar o primeiro bar, aos 22 anos, com o dinheiro que juntara trabalhando. Cinco anos mais tarde, em 1885, ele já era dono de três bares e de uma importadora de bebida, a P.J. Kennedy and Company.
Naquele mesmo ano, ele foi o primeiro Kennedy a entrar para a política, na Câmara de Representantes. A seguir vieram outros mandatos como representante e como senador.
Em Boston, outro político rivalizava com P.J. Kennedy: o prefeito John Francis Fitzgerald. Durante anos, eles alternaram momentos de oposição e aliança. Kennedy saiu-se bem na política. Já Fitzgerald envolveu-se em escândalos por causa de infidelidade e fraude, perdendo várias eleições para cargos diferentes. Entre alianças e rivalidades, as famílias Kennedy e Fitzgerald uniram-se em 1929, no casamento dos seus filhos, Joe Kennedy e Rose Fitzgerald.
Joe e Rose tiveram nove filhos e ficaram milionários de um dia para o outro. Foi em 24 de Outubro de 1929, exactamente no crash da Bolsa de Valores de Nova York. Joe ganhou 15 milhões de dólares, negociando acções antes do mercado explodir. Ele tinha informações privilegiadas, o que, numa época sem qualquer regulamentação, não era crime.
A fortuna de Joe Kennedy multiplicar-se-ia dez vezes em poucos anos, não apenas por causa dos seus investimentos imobiliários, da sua carreira de produtor de Hollywood ou do seu diploma em Harvard. A grande jogada de Joe foi burlar a Lei Seca, que imperava nos Estados Unidos desde 1920, proibindo a importação e o consumo de bebidas alcoólicas. Usando os seus contactos em Washington, obteve permissão para importar quantidades enormes de bebidas como se fossem medicamentos. Uma parte delas, vendeu-a aos compatriotas alcoólatras, ilegalmente. A outra parte foi guardada até que a Lei Seca acabasse e Joe tivesse o maior reservatório de licores do país.
A fortuna de Joe Kennedy multiplicar-se-ia dez vezes em poucos anos, não apenas por causa dos seus investimentos imobiliários, da sua carreira de produtor de Hollywood ou do seu diploma em Harvard. A grande jogada de Joe foi burlar a Lei Seca, que imperava nos Estados Unidos desde 1920, proibindo a importação e o consumo de bebidas alcoólicas. Usando os seus contactos em Washington, obteve permissão para importar quantidades enormes de bebidas como se fossem medicamentos. Uma parte delas, vendeu-a aos compatriotas alcoólatras, ilegalmente. A outra parte foi guardada até que a Lei Seca acabasse e Joe tivesse o maior reservatório de licores do país.
“Joe Kennedy combinava a falta de escrúpulos com uma certa prudência. Foi assim que ele adquiriu riqueza e poder na bolsa de valores e em todos os seus outros negócios", afirma o escritor Ronald Kessler, autor do livro The Sins of the Father ("Os pecados do pai", sem tradução para o português).
Como bom jogador, Joe Kennedy apostou em Franklin Roosevelt para presidente na eleição de 1932. No ano seguinte, Roosevelt acabou com a Lei Seca e, em 1934, ofereceu ao aliado o cargo de presidente da recém-criada Comissão de Valores Mobiliários, que deveria regular o mercado de acções. A oferta foi aceite.
Na campanha de 1936, Kennedy esteve de novo ao lado de Roosevelt e foi convidado para outros cargos. De 1938 a 1940, chegou ao auge da carreira política, como embaixador na Grã-Bretanha. Mas Kennedy teve de deixar o cargo após se posicionar contra a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Diferentemente do sogro, que continuou insistindo na própria carreira - e perdendo -, preferiu dedicar-se às carreiras políticas dos filhos. Joe Kennedy apostava na vocação política do primogénito Joseph Jr., que morreu na 2ª Guerra Mundial.
O patriarca então voltou os olhos para os outros filhos. Três deles decidiram seguir seus passos: John, Robert e Edward graduaram-se em Harvard e entraram para a política.
John Kennedy entrou para a Câmara de Representantes em 1946. Carismático, ele cumpriu três mandatos até que foi eleito senador, em 1952.
Naquele mesmo ano, John conheceu uma jornalista e fotógrafa principiante do Washington Times-Herald. O seu nome era Jacqueline Bouvier. Ela vinha duma família rica e aristocrata de Long Island. Falava francês e italiano, gostava de moda e tinha acabado de passar uma temporada em Paris. Jackie estreou na profissão com uma coluna própria, "Inquiring Camera Girl", em que publicava fotos e opiniões sobre os assuntos do dia de cidadãos que encontrava nas ruas da capital - um deles foi John Kennedy.
Jackie e Kennedy casaram-se depois dele ser eleito senador por Massachusetts, em 1953. No primeiro ano de casamento, John Kennedy teve que ser operado às costas e ficou oito meses de cama. Escreveu o livro Profiles of Courage ("Perfis de coragem",sem tradução para o português), sobre senadores americanos. Foi um best-seller que ganhou o prêmio Pulitzer de 1957, dando um prestígio intelectual fundamental para a carreira de Kennedy.
Em 1960, quando John Kennedy anunciou que concorreria à presidência dos Estados Unidos, foi a vez de Jackie ficar de cama. Grávida e com um histórico de fragilidade (já havia sofrido um aborto e tido uma filha nada morta), ela precisava de repouso. Participou na campanha trabalhando em casa, respondendo a cartas, dando entrevistas e escrevendo uma coluna semanal intitulada "Campaign Wife" (esposa em campanha) que era distribuída aos jornais de todo o país.
A sua ajuda foi fundamental para John, que venceu Richard Nixon numa das eleições mais disputadas da história dos Estados Unidos. Segunda a editora de moda do Washington Post, Robin Givhan, "os críticos diziam que Jackie era francesa demais. Mas não havia quem não a imitasse. E o seu guarda-roupas é copiado no mundo todo até hoje".
Entre a vitória e a posse nasceu o segundo filho do casal, John Fitzgerald Kennedy Jr. Teriam ainda mais um filho, que morreria dias depois de nascer. O discurso de posse entrou para a história: "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país".
John Kennedy deu o cargo de secretário de Justiça para seu irmão, Robert Kennedy.
Juntos, eles enfrentaram a Crise dos Mísseis, quando um avião de espionagem americano fotografou navios soviéticos levando armas nucleares para Cuba. Por um acordo entre os governos dos EUA e da União Soviética, a tão temida guerra nuclear não aconteceu.
Em 22 de Novembro de 1963, fez a semana passada 48 anos, o mandato de John F. Kennedy, um dos mais populares da história da política americana, foi tragicamente interrompido. Num desfile presidencial pelas ruas de Dallas, no Texas, o presidente foi assassinado com um tiro na cabeça e outro no pescoço.
Quando a morte de John completou cinco anos, seu irmão, Robert, foi assassinado. Ele era candidato à presidência e vencera as primárias do Partido Democrata na Califórnia.
Nas décadas seguintes, vários Kennedys assumiram cargos públicos, mas tragédias impediram que a família tivesse outro representante na corrida pela presidência dos Estados Unidos. Foram tantas que há quem diga que o clã é amaldiçoado.
John-John, filho de JFK, morreu pilotando o seu próprio avião em 1999, matando a esposa e a cunhada.
O descendente mais notório tornou-se o irmão mais novo de John e Robert, o senador Edward Kennedy, mais conhecido como Ted, que faleceu em 2009 devido a um tumor maligno no cérebro. Ele nunca se candidatou à presidência, porque um episódio em 1969 manchou a sua imagem pública. Enquanto dirigia embriagado, o seu carro embateu numa ponte e caiu num rio de Massachusetts, matando a sua secretária. Ele só informou a polícia no dia seguinte. Ted, que não morreu nem quando um raio atingiu o seu avião em pleno ar, sempre afirmou que essa história de maldição familiar não é real.
Para uma família que ficou milionária com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, que teve a alegria de ver um de seus membros à frente da nação mais poderosa do mundo e o viu morrer assassinado, a céu aberto, num desfile presidencial, sorte e azar são conceitos que parecem não caminhar separadamente.
Naquele mesmo ano, John conheceu uma jornalista e fotógrafa principiante do Washington Times-Herald. O seu nome era Jacqueline Bouvier. Ela vinha duma família rica e aristocrata de Long Island. Falava francês e italiano, gostava de moda e tinha acabado de passar uma temporada em Paris. Jackie estreou na profissão com uma coluna própria, "Inquiring Camera Girl", em que publicava fotos e opiniões sobre os assuntos do dia de cidadãos que encontrava nas ruas da capital - um deles foi John Kennedy.
Jackie e Kennedy casaram-se depois dele ser eleito senador por Massachusetts, em 1953. No primeiro ano de casamento, John Kennedy teve que ser operado às costas e ficou oito meses de cama. Escreveu o livro Profiles of Courage ("Perfis de coragem",sem tradução para o português), sobre senadores americanos. Foi um best-seller que ganhou o prêmio Pulitzer de 1957, dando um prestígio intelectual fundamental para a carreira de Kennedy.
Em 1960, quando John Kennedy anunciou que concorreria à presidência dos Estados Unidos, foi a vez de Jackie ficar de cama. Grávida e com um histórico de fragilidade (já havia sofrido um aborto e tido uma filha nada morta), ela precisava de repouso. Participou na campanha trabalhando em casa, respondendo a cartas, dando entrevistas e escrevendo uma coluna semanal intitulada "Campaign Wife" (esposa em campanha) que era distribuída aos jornais de todo o país.
A sua ajuda foi fundamental para John, que venceu Richard Nixon numa das eleições mais disputadas da história dos Estados Unidos. Segunda a editora de moda do Washington Post, Robin Givhan, "os críticos diziam que Jackie era francesa demais. Mas não havia quem não a imitasse. E o seu guarda-roupas é copiado no mundo todo até hoje".
Entre a vitória e a posse nasceu o segundo filho do casal, John Fitzgerald Kennedy Jr. Teriam ainda mais um filho, que morreria dias depois de nascer. O discurso de posse entrou para a história: "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, pergunte o que você pode fazer por seu país".
John Kennedy deu o cargo de secretário de Justiça para seu irmão, Robert Kennedy.
Juntos, eles enfrentaram a Crise dos Mísseis, quando um avião de espionagem americano fotografou navios soviéticos levando armas nucleares para Cuba. Por um acordo entre os governos dos EUA e da União Soviética, a tão temida guerra nuclear não aconteceu.
Em 22 de Novembro de 1963, fez a semana passada 48 anos, o mandato de John F. Kennedy, um dos mais populares da história da política americana, foi tragicamente interrompido. Num desfile presidencial pelas ruas de Dallas, no Texas, o presidente foi assassinado com um tiro na cabeça e outro no pescoço.
Quando a morte de John completou cinco anos, seu irmão, Robert, foi assassinado. Ele era candidato à presidência e vencera as primárias do Partido Democrata na Califórnia.
Nas décadas seguintes, vários Kennedys assumiram cargos públicos, mas tragédias impediram que a família tivesse outro representante na corrida pela presidência dos Estados Unidos. Foram tantas que há quem diga que o clã é amaldiçoado.
John-John, filho de JFK, morreu pilotando o seu próprio avião em 1999, matando a esposa e a cunhada.
O descendente mais notório tornou-se o irmão mais novo de John e Robert, o senador Edward Kennedy, mais conhecido como Ted, que faleceu em 2009 devido a um tumor maligno no cérebro. Ele nunca se candidatou à presidência, porque um episódio em 1969 manchou a sua imagem pública. Enquanto dirigia embriagado, o seu carro embateu numa ponte e caiu num rio de Massachusetts, matando a sua secretária. Ele só informou a polícia no dia seguinte. Ted, que não morreu nem quando um raio atingiu o seu avião em pleno ar, sempre afirmou que essa história de maldição familiar não é real.
Para uma família que ficou milionária com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, que teve a alegria de ver um de seus membros à frente da nação mais poderosa do mundo e o viu morrer assassinado, a céu aberto, num desfile presidencial, sorte e azar são conceitos que parecem não caminhar separadamente.
Eles enriqueceram enquanto o mundo ruía, conquistaram o Senado, a Casa Branca e inúmeras beldades de Hollywood. Não fossem as tragédias que ensombram a sua história, os Kennedy’s seriam uma família invejável.