Como muita gente estará recordada foi publicado neste blog uma saga sobre o que foi a minha vida militar, desde Mafra até à passagem à disponibilidade.
Claro que a quase total incidência dessas crónicas se refere ao período em que estive na guerra colonial, primeiro na Guiné (4 meses), a estagiar para o curso de capitães milicianos e principalmente em Moçambique, para onde fui destacado em rendição individual a comandar uma companhia da guarnição local (isto é, quase na totalidade constituída por pessoal natural de Moçambique), localizada no Niassa, mais concretamente num local chamado “Ilha de Metarica”, que embora não fosse uma ilha, quase se poderia considerar como tal, já que em 100 kms ao seu rodar, não vivia permanentemente ninguém.
As instalações como na altura mostrei por fotos eram incríveis, sem o mínimo de condições, e foi ali que passei cerca de 20 meses da minha vida.
Sucede que recebi há dias um mail de um indivíduo que tinha estado nesse mesmo local, cerca de dois anos antes de mim, e que terá pertencido à primeira companhia ali estacionada, pelo que foram eles que tiveram que pôr de pé aquelas instalações perfeitamente básicas. Enviou-me algumas fotos desse tempo que eu apreciei bastante, pois deu para comparar com o que havia no meu tempo, apesar de tudo, bastante melhorado; e também durante o meu comando se continuaram a fazer melhoramentos, pois além de nos trazer algum , pouco, mais conforto, ocupava o tempo do pessoal, no intervalo das operações.Reparem para começar na diferença da vista aérea, sendo a primeira foto a da formação do aquartelamento, e a segunda, a do meu tempo
Aquele mastro que se vê no centro da segunda foto, visto ao perto era assim
Nas fotos que me foram enviadas, pode ver-se o início da construção da "messe" de oficiais e sargentos
e nesta outra o aspecto que a mesma tinha no meu tempo
Outra foto antiga mostra toda a precariedade da secretaria, onde funcionava toda a parte administrativa e onde eu tinha a minha secretária
Embora não tenha nenhuma foto digitalizada deste "edifício" no meu tempo, já sem aqueles bocados de cartão, posso mostrar uma do seu interior, em que se vê a minha secretária
As restantes fotos que me foram enviadas não têm grande alteração entre o tempo mediado; uma refere-se aos "chuveiros"
e esta outra, ao "bar" dos furriéis
E assim se vivia(?) durante a guerra colonial, quando não se andava no mato ou na picada.
Para complemento, e para quem não saiba, havia uma extensa compilação de canções, baseadas em músicas conhecidas, com letras absolutamente proibidas, mas que se ouviam cantar em todos os aquartelamentos e até em locais mais frequentados por oficiais e sargentos, desde que não fossem ouvidas pelos "chefões". Chamava-se o Cancioneiro do Niassa, e ainda devo ter por aqui em casa um exemplar dele.
Deixo um vídeo, com uma dessas músicas do Cancioneiro.