Tenho tentado resistir escrever algo mais sobre o caso da detenção e posterior prisão preventiva de José Sócrates, mas isso é impossível.
Logo após os acontecimentos passados quase há uma semana, claro que não podia deixar de registar os factos nas redes sociais a que pertenço (FB e Google+) e fui confrontado quer nos comentários aos meus textos, quer principalmente no que li em textos escritos por amigos (FB) com opiniões que ultrapassam o salutar debate de ideias e formas de pensar para chegar ao insulto sujo e baixo que só o ódio pode provocar.
Tentando ser o mais cuidadoso possível na elaboração desta postagem, devo começar por um aviso prévio que não será novidade para ninguém que me conheça minimamente – conheço e sou amigo pessoal de José Sócrates dos tempos passados na Covilhã, onde fui aluno do seu pai, o Arq. Pinto de Sousa (já falecido) e onde mantive uma amizade sólida com o Zé, até porque ele era na altura o presidente da concelhia do PS covilhanense, e eu embora nunca tivesse sido filiado nesse partido sempre fui seu simpatizante.
Cheguei mesmo a integrar uma lista do PS a umas eleições autárquicas, por expressa vontade dele e eu só aceitei com a condição de ir num lugar não elegível, pois as minhas actividades profissionais não me permitiam ser vereador da Câmara, e portanto a isso se resume no campo político a minha afinidade com José Sócrates.
Mais tarde, quando os dois deputados socialistas do distrito de Castelo Branco eram António Guterres e José Sócrates, este pediu-me para ambos visitarem a empresa têxtil familiar onde eu trabalhava, no âmbito de outras visitas a empresas similares para apresentarem uma moção no Parlamento; claro que essa visita teria que ter o consentimento de meu Pai o que não era fácil, pois ele não comungava de forma alguma com os pensamentos socialistas e Sócrates, sabendo disso veio junto a mim, pois sabia que se fosse directamente falar com meu Pai, o "não" era certo.
Curiosamente, o meu Pai acedeu, com duas condições: eu é que os receberia e lhes mostraria as instalações e lhes deixaria dialogar com os trabalhadores, mas ele (meu Pai) queria no final da visita ter uma “conversa” com eles, pois lhes quereria dizer umas “coisas”.
A visita fez-se e afinal a conversa final foi uma agradável conversa sobre os problemas têxteis
entre mim, o meu Pai e...dois futuros primeiros ministros de Portugal.
Portanto eu olhei para estes acontecimentos desta semana com um olhar objectivo, mas também necessariamente com um olhar de um amigo que vê outro a viver um momento muito difícil, e ninguém me poderá condenar por isso.
Mas, e objectivamente, eu considero José Sócrates um dos raros políticos “a sério” que o nosso país teve após o 25 de Abril.
Quando exerceu as funções de Primeiro Ministro, teve um primeiro mandato mesmo brilhante, e se no segundo esteve menos bem, grande parte disso se deve ao eclodir de uma gravíssima crise europeia para a qual nem o país nem ele estavam preparados.
Houve decisões dele controversas, algumas mesmo contra as quais estive, mas no cômputo geral foi sempre um político convicto, com carisma e incansável.
Continuamos a não saber se o tão falado, na altura, PAC IV, o qual tinha desde logo. a aprovação da UE, não poderia ter dado resultado.
Mas já na altura Sócrates era mal visto e mesmo odiado por muita gente, e foi fácil, a oposição em peso (com PCP e BE) derrubar o seu governo e claro que ele só tinha uma coisa a fazer- demitir-se e demitir-se do PS para permitir aos seus oponentes fora e dentro do partido que fizessem melhor que ele.
Quanto a mim, essa demissão, do Governo, pecou por tardia, pois quando da tomada de posse do actual PR, o silva de Belém, este individuo usou o seu discurso na AR para arrasar o Primeiro Ministro em termos tão graves que duvido alguma outra vez possa acontecer algo de parecido entre órgãos institucionais, que Sócrates se deveria ter demitido de imediato.
O que aconteceu depois toda a gente sabe, um governo da direita coligada conduziu o país a uma inqualificável situação social e sempre justificando os pesadíssimos encargos impostos ao povo português com o chavão da “herança do passado”.
Sócrates desligou-se da política e foi viver para Paris.
Desligou-se mas e por via de terceiros, nomeadamente certa imprensa (duvido que os pasquins CM e Sol possam ser considerados imprensa...), continuou sempre a ser referido e pelas piores razões.
Daquilo em que esteve eventualmente implicado, sempre foi considerado inocente e claro que eu não posso afirmar com toda a certeza de que neste caso, e que é note-se, recente, e não dos tempos dele como político activo, que seja inocente ou não,
Mas até ser condenado, e por Lei ele é inocente!
Muita coisa se disse sobre variadas situações e de uma coisa apenas eu estou certo porque sei-o de fonte segura: a sua mãe sempre foi uma pessoa de avultadas posses e após a separação dos pais, ele ficou ainda mais ligado à mãe, do que antes...
Do episódio da sua detenção com câmaras “convidadas” a testemunhar o facto e com notícias imediatas dos pasquins acima referidos que só podem ter origem em fugas de informação oriundas da própria PGR (embora o inquérito agora iniciado acabe por arquivar o caso...), ninguém pode duvidar que se pretendeu desde o início o achincalhamento público do ex-Primeiro Ministro.
Sobre o “acaso” temporal dos factos só questiono porque eles não aconteceram antes ou depois, mas sim quando decorria a eleição do novo Secretário Geral e logo a seguir ao caso dos Vistos Dourados?
Claro que perante umas sondagens que semana a semana davam o PS cada vez mais perto da maioria absoluta, estas “coincidências” são muito suspeitas.
E é ver nas redes sociais e não só (o “insuspeito” comentador MRS da TVI também) a dar como aniquilada toda a estratégia socialista e já embandeiram em arco com uma eventual reeleição de Passos Coelho.
Será que essa gente pensa que o povo português é estúpido ou masoquista????
Para já António Costa reagiu com um bom comunicado, aos acontecimentos e o próprio Sócrates numa primeira reacção após a sua detenção, sem negar que tudo isto é um caso político, aconselha os socialistas, para seu próprio bem (de Sócrates) e do partido a não confundirem as questões.
Mas os amigos não se podem esquecer, como eu referi no início e Sócrates terá sempre um lugar de destaque nos dirigentes que lideraram o PS.
José Sócrates é um animal político, que nunca desiste, nunca mesmo e se de alguma coisa estou certo é que não será fácil deitá-lo abaixo.
Nunca um político no nosso país foi tão odiado e vilipendiado, e se nalguns casos alguém possa ter razão, na grande maioria nunca chego a entender o porquê de tanto ódio – pode-se gostar mais ou menos, mas odiar?. Odiar é algo de muito feio...
Uma palavra final para duas personalidades ligadas directamente a este caso.
A primeira é o original advogado de Sócrates, João Araújo
desconhecido até então, aparece referenciado como um óptimo advogado e especialista nas matérias em análise; além disso é uma personagem desconcertante (no bom sentido) na forma como encara a comunicação social, nunca sendo mal educado, mas dizendo o mínimo, como deve ser...
A outra é o super juiz do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, Carlos Alexandre
Um homem a quem é atribuído tudo o que de importante actualmente ocorre na Justiça portuguesa e gostaria de salientar a curiosidade de que todos os casos por ele iniciados conduziram à inocência dos presumíveis condenados.
Por outro lado é muito, mas mesmo muito estranho, que hoje mesmo, e com um “exército” de 200 homens este juiz tenha “invadido” os mais variados locais relacionados com o caso BES – bem mais importante que o caso Sócrates, porque lesou muita e muita gente – incluindo a casa de Ricardo Salgado, à procura de quê? De documentos? Onde eles já vão...
Não, os documentos só são importantes no caso de Sócrates e vamos lá detê-lo ao aeroporto e vamos lá pô-lo em prisão preventivo pois caso contrário ainda vai destruir mais documentos...
Enfim, uma imensa nojeira!!!!