Sou um assíduo frequentador deste festival e só falhei um, num ano em que estava na altura em Belgrado. Por isso, quando sai a programação é com alvoroço que durante umas horas consulto todos os filmes, tentando ver o maior número de filmes que me interessam.
Este ano, assim foi e como é impossível ver tudo, por uma questão de critério, deixei de fora os filmes de temática lésbica, muitas das curtas que tinham um carácter demasiado experimentalista, e por opção deixei de fora as sessões tardias de forte componente pornográfico, pois cada vez me interessam menos.(e cada vez há mais sexo explícito em filmes não pornográficos).
Já fiz três postagens sobre filmes exibidos neste festival, uma sobre o curioso filme de abertura “Continental”, outra sobre o melhor filme que vi em todo o Queer, “E agora, lembra-me” e finalmente sobre a sessão dupla de filmes do Travis Mathews, e que estranhamente não mereceu quase nenhum reparo de quem me segue…
De uma forma global, e referindo-me apenas aos filmes que vi, foi um festival muito positivo, com alguns picos de alto nível e uma que outra decepção, que não ofusca em nada o brilho do mesmo.
Na principal competição, das longas metragens, vi quase tudo, tendo pena de não ter visto um dos filmes que mais interesse teve, pelo que ouvi dizer e que até ganhou o prémio do público, “Facing Mirrors”, um filme iraniano de Negar Azarbayjani.
Houve para mim dois filmes muito bons: “Free Fall”, filme alemão de Stephen Lecant, vencedor do Teddy Bear, em Berlim, este ano e que pode ser uma espécie de “Brokeback Mountain”, mas passado numa instituição especial, a polícia e que nos mostra que a homofobia também existe em alto grau em países mais evoluídos, como é o caso da Alemanha.
O outro filme foi o polaco “ In the name of…”, com um conteúdo sempre muito polémico do confronto entre as regras religiosas e o intimo de um homem que é padre. É um filme realizado por uma mulher, Malgoska Szumowska (curiosamente já outra realizadora tinha mostrado um filme sobre o mesma tema – Antónia Bird, com “The Priest”), muito forte, muito belo e que faz pensar muito.
Os restantes filmes que vi nesta secção foram “Silent Youth”, de Malcolm Ingram, com demasiados “silêncios”; “Floating Skyscrapers”, interessante filme polaco, com um tema agora muito na berra – o dilema de um homem bissexual, entre a sua relação heterossexual e a descoberta do seu “outro lado” (que já tinha acontecido em “Free Fall”); um outro filme com o mesmo dilema, mas neste caso o relacionamento heterossexual era não sexual foi o excelente “The Comedian”, filme inglês de Tom Shkolnick (israelita), e que deu merecidamente o prémio do melhor actor a Edward Hogg.
Fraco foi o filme do português Tiago Leão, realizado numa co-produção com a Espanha, “Noches de espera”, sobre a vida de uma série de jovens, gays e lésbicas, na noite madrilena – muito sexo e drogas e pouco cinema.
Também não vi o filme chileno “Joven y Alcolada”, que deu a Alícia Rodriguez o prémio da interpretação feminina.
Deixei para o fim o filme que nos chegou da Geórgia, “A Fold in my Blanket”, de Zaza Rusadze, uma das maiores desilusões do festival, na minha opinião, que apenas tinha como interesse a beleza dos dois intérpretes e com um argumento bastante ambíguo, mesmo quanto ao interesse LGBT. Para surpresa minha, e parece que não só minha foi o vencedor do festival…
Quanto a documentários, em concurso, vi apenas três filmes: o já falado “Interiors. Leather Bar”.
Um filme português de Rui Mourão, com uma ideia muito original e interessante, mas desbaratada pela forma como foi filmada, mas mesmo assim interessante – “O Carnaval é um palco, a ilha é uma festa”, filmado na ilha Terceira nos Açores.
E um decepcionante “Uncle Bob” do americano Robert Oppel, talvez o pior filme que vi no festival.
O prémio acabou por ir para um filme que não vi – “Born Naked” de Andrea Esteban, da Espanha.
Como referi, vi poucas curtas a concurso; além de “In their room, London”, de que já falei, uns desinteressantes “Frisk”, “Open Letter”, “Gasp”, e “Sebastien’s Night Out” e dois filmes muito curiosos, o brasileiro “Vestido de Laerte” e principalmente “O nylon da minha aldeia”, baseado num conto do escritor português Possidónio Cachapa, que também realizou o filme.
Não vi o filme vencedor que foi uma animação sueca “Benjamim Flowers”.
Ainda em competição, um novo tipo de curtas, denominado “filmes de escola”, em que competiam alguns filmes portugueses, dos quais vi três; um muito mau, “As flores do mal” e os outros dois deveras interessantes, um deles ganhou o prémio nesta categoria para filmes portugueses, “Depois dos nossos ídolos”, de Ricardo Penedo
e o outro vai merecer-me um comentário mais alargado num próximo post.
Trata-se de “O segredo segundo António Botto”, da dupla Rita Filipe/Maria João Freitas,
sobre o relacionamento entre António Botto e Fernando Pessoa; era um dos grandes interesses para mim, neste festival, e gostei muito (apenas lamento não ter assistido ao filme sobre Gore Vidal, projectado à mesma hora).
Outros filmes que vi, desta secção foram “Si j’étais un homme”, interessante, e “Atomes” que venceu o prémio desta categoria.
Uma outra secção muito interessante com filmes não a concurso é a secção “Panorama”.
Vi, além do já referido noutro post “E agora, lembra-me”, as curtas metragens portuguesas “O Corpo de Afonso” do João Pedro Rodrigues, uma encomenda da “Guimarães 2012” e revi o premiado (no Indie Lisboa deste ano e noutros festivais) “Gingers”, de António da Silva, o qual muito me agradou.
E ainda nesta secção um dos grandes pontos altos deste festival, um filme maravilhosamente belo, que só vai estrear nos EUA agora em Outubro, mas que eu vou comprar o DVD quando ele existir; trata-se de “Five Dances”, passado no mundo do ballet, com uma pequena companhia de 5 elementos e uma maravilhosa história de amor. Excelentes bailarinos e uma banda sonora fantástica fazem deste filme algo imperdível.
Na secção “Queer Art” vi uma boa curta, “10 Men”, exibida como complemento do “Five Dances” e uma outra curta algo surrealista do brasileiro Gustavo Vinagre, sobre o poeta cego e sadomasoquista Glauco Mattoso e que se chama precisamente “Filme para poeta cego”.
Vi ainda uma longa metragem francesa, algo onírica, “Rencontres d’aprés minuit”.
No último dia, depois da proclamação dos vencedores, que foi para mim decepcionante, foi exibido como filme de encerramento um muito bom e forte filme israelita sobre o relacionamento entre um jovem estudante palestiniano e um também jovem advogado israelita, com um conteúdo muito político, foi um excelente final para um excelente festival.
Uma nota para um Workshop a que assisti, sobre duas diferentes situações: uma delas é realização de uma série, sobre “bears”, realizada pelo André Murraças e com a participação do meu amigo Luís Mota e mais dois bears e que se chama “Barba Rija”.
E a outra é a produção de dois novos filmes do António da Silva: “Artistas – objectos de desejo” e um outro sobre homens gays de S.Francisco acima dos 40 anos.
O que têm de comum estas obras é que se tratam de obras para as quais é necessário fundos monetários; se no caso dos filmes do António da Silva, ele cobre as despesas por meio de “donates” da visão “on line” desses filmes, já na produção do André é necessário angariar o montante necessário para realizar o primeiro episódio da série.