quinta-feira, 21 de maio de 2009

João Bénard da Costa

Ao longo da sua existência, a Cinemateca Portuguesa teve três directores: o primeiro, e seu fundador, qual Henry Langlois português, foi um homem excepcional, Félix Ribeiro, que tive o grato prazer de conhecer pessoalmente, quando recém chegado a Lisboa ia à Cinemateca, mais propriamente à sua minúscula biblioteca, ainda instalada no edifício do Palácio Foz, nos Restauradores; aí “bebia” o cinema que aqui não passava, através dos “Cahiers” e do “Films and Filming”, entre outras publicações.
Seguiu-se-lhe na direcção, o erudito e estudioso de cinema que foi Luís de Pina, e que foi entre muitas outras actividades, o mentor de uma revista séria sobre cinema e que ainda aguentou um certo tempo e que se chamava “Filme” (tenho a colecção toda); também tive o privilégio de o ter encontrado num casamento e tive com ele uma agradável conversa.



Sucedeu-lhe “naturalmente” João Bénard da Costa que à altura do seu falecimento já pertencia à direcção da Cinemateca há cerca de 11 anos. Curiosamente foi o único que não conheci pessoalmente. Este amante confesso e inveterado pelo cinema, transformou a Cinemateca Portuguesa radicalmente, não só na sua programação, mas essencialmente na profunda modificação física do bonito edifício da Barata Salgueiro, dando-lhe condições técnicas muito importantes de trabalho, no campo profissional , e também adequadas, modernas e confortáveis condições de exibição de filmes e de agradável convívio.

Uma chamada de atenção para o apoio dado por Bénard da Costa, desde o seu início ao então Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa, quer na disponibilização de filmes e das suas salas, quer em bem elaboradas sinopses dos filmes exibidos.

Ficaram célebres os escritos de Bénard da Costa sobre cinema, quer em livros quer em textos na imprensa; nestes, o destaque vai para os afamados artigos subordinados ao tema “Filmes da minha vida”.

Como cidadão distinguiu-se como membro organizador, durante muitos anos, das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

 Bénard da Costa deixou-nos hoje, e com ele uma imensa perda não só para o cinema em Portugal, mas também para a cultura portuguesa.

A Cinemateca suspendeu toda a sua programação até 25 de Maio, apenas tendo marcado uma sessão com o filme “Johnny Guitar” do mestre Nicholas Ray, provavelmente o filme da sua vida (Joan Crawford é inultrapassável na sua interpretação de Vienna).


 



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terça-feira, 19 de maio de 2009

A noite do meu bem - The night of my sweetheart



Para ti, Déjan...

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero paz de criança dormindo
E o abandono de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah ! Eu quero amor, o amor mais profundo
Eu quero toda beleza do mundo
Para enfeitar a noite do meu bem
Quero a alegria de um barco voltando
Quero ternura de mãos se encontrando
Para enfeitar a noite do meu bem
Ah ! Como esse bem demorou a chegar
Eu já nem sei se terei no olhar
Toda a ternura que eu quero te dar

For you, Déjan

Today I want the most beautiful rose of all
and the first star that will come
To decorate the night of my sweetheart
Today I want the peace of a sleeping child
It's the abandonment of blooming flowers.
To decorate the night of my sweetheart.
I want the joy of a boat returning
I want the tenderness of hands meeting
To decorate the night of my sweetheart
ah I want love. a love more profound
I want everything beautiful of the world.
To decorate the night of my sweetheart
I want the joy of a boat returning
I want the tenderness of hands meeting
To decorate the night of my sweetheart
Ah how this good took so long to arrive.
I don't even know if I will have in that look
All the tenderness that I want to give to you.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Passado e presente 13: "Amigos 3"


Tu foste o primeiro "amigo"…

A ti devo a descoberta de sentimentos até então apenas sonhados.

Deste-me muito de ti e do teu mundo.

E um dia,  enviaste-me um enxerto de um poema de Eugénio de Andrade,  lembras-te,  Miguel?

Foi um soco,  belo como só um poema de Andrade pode ser,  e forte,  pelo que então significou para ti e para mim.

Hoje,  estás perto,  como sempre estarás,  mas estás algo longe ao mesmo tempo,  devido à Vida...

Porque nunca o vou esquecer e porque o belo se deve sempre compartilhar,  relembro-te esse excerto.

 

"...Já gastámos as palavras.

Quando agora digo:  meu amor...

Já se não passa absolutamente nada.

E no entanto,  antes das palavras gastas,  tenho a certeza

de que todas as coisas estremeciam

só de murmurar o teu nome

no silêncio do meu coração.

Não tenho já nada para dar.

Dentro de ti

não há nada que me peça água.

O passado é inútil como um trapo.

E já te disse:  as palavras estão gastas.

Adeus.

 

(Post publicado na parte “apagada” deste meu blog em 29 de Novembro de 2006.

Apenas a foto é diferente, pois em certos posts, foi impossível recuperar fotos ou vídeos)

sábado, 16 de maio de 2009

Da dança para o convento

 Há dias, já não posso precisar como (a blogosfera é imensa…) fui dar com um blog que não conhecia – “Ver para além do olhar”, cuja autor é João Delicado J.S (um jesuíta em formação) – e a razão foi simples: o que me lá levou foi um vídeo visto algures sobre dança contemporânea em que um dos bailarinos – Emílio Cervelló -  pouco tempo atrás renunciou, de livre vontade à dança e à vida que tinha para ingressar na ordem da Cartuxa, num mosteiro em Valência – Espanha onde se encontra desde o passado dia 8 de Abril.

Vim encontrar no referido blog uma entrevista de Emílio ao autor do blog, em que ele explica as razões dessa decisão; porque se trata de um documento muito belo e pedindo ao João Delicado, desculpa do abuso de confiança, é com muita satisfação que aqui deixo os dois vídeos.



(Emílio é o dançarino mais à esquerda)



quinta-feira, 14 de maio de 2009

Gente Gira...










E para fechar com chave de ouro, a mãe do nosso ídolo (ou será só do M.United?)

(Fotos enviadas, à excepção da última, pelo amigo Mike.)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Estou a precisar...


Estou mesmo a precisar de relaxar e de sorrir...
Estou mesmo a precisar desta pureza!
Eu sei do que mais estou a precisar: de paciência, de muita paciência...

domingo, 10 de maio de 2009

Já está!

Já está!!!!

O parto foi difícil, embora ao longo da gestação as ecografias  fossem todas animadoras, e assim, no momento da verdade surgiram algumas complicações e foi necessário tirar o bebé de cesariana…Mas nasceu, e tudo acabou por correr bem!

A imagem talvez não seja a ideal, mas ilustra de algum modo a aflição por que passou um dos “pais” do bebé.

Claro que me estou a referir ao nosso jantar de bloguistas, o terceiro!

O primeiro, muito tímido, há dois anos, em pleno Bairro Alto, com apenas 9 participações, mas que levou a pensar noutro, um ano depois; e esse, do ano passado, já não coube no pequeno restaurante do Bairro, e mudámos de ares: fomos para uma sala com capacidade, com comida à lista e com bom preço, mas com um senão – devido a sermos muitos mais do que no ano anterior, o convívio durante o jantar ficou limitado às ¾ pessoas que estavam sentadas perto de nós; por volta das 23,30 tivemos que desandar, o que levou a ter que procurar outro sítio e a desmobilizar quase metade das 34 pessoas presentes.

Este ano, aconselhados pela Keratina fomos conhecer um restaurante diferente: mais pequeno e que podia ficar “por nossa conta”, se fossemos cerca de 40 pessoas, e melhor ainda, que podia servir o jantar em “buffet”, dando assim possibilidade às pessoas de se movimentarem e conviver muito mais; e ainda podíamos estar até às 2 da manhã. Sendo assim preferimos esta modalidade que obrigou naturalmente a duas coisas: haver um “menu” fixo e dar um número de pessoas bastante perto do real, para poderem apresentar o jantar. Na semana que passou, num contacto quase diário com a dona do restaurante, ia dando conta das oscilações das presenças CONFIRMADAS, que chegaram a ser 50, no final da semana passada, não contando com os indecisos e com aqueles, que também os houve, que nada disseram, o que é lamentável: é muito mais agradável ouvir um  NÃO do que não ouvir nada.

Sabendo por experiência própria que à última da hora surgem imprevistos, não me surpreendeu que tivéssemos chegado à hora do almoço de ontem, dia do jantar, com 45 confirmações – era francamente bom! E foi esse o número fixado: 45!!!!

O restaurante serviria 45 refeições, mas… e aqui é que surgiu o inesperado, na parte da tarde, não só choveu como “choveram no meu telemóvel, desistências repentinas e ficámos reduzidos a 41, quando chegámos ao restaurante; nada havia a fazer e a conta final de 45 refeições repartida por 41 pessoas não seria muito agravada; mas para complicar mais a questão, houve pessoas CONFIRMADAS que não apareceram e ficámos reduzidos a 36!!!

Confesso que fiquei triste e envergonhado, mas a culpa não ficou a dever-se a desleixo algum da minha parte ou do Paulo e : simplesmente aconteceu….

Mas, um acontecimento faz-se com quem está! E quem esteve, esteve muito bem!

Foi uma festa, uma confraternização real, em que as pessoas saltavam de grupo em grupo e se ia falando de muita coisa e se renovavam amizades ou se conheciam caras que só se imaginavam…






A comida era muita e boa; durante quase 3 horas dispusemos de carne excelente e acabada sempre, de grelhar; bebeu-se o que se quis e houve um momento de excelente partilha do que é o amor, proporcionado pelo sempre bem disposto e “eléctrico” Ophiu, muito bem coadjuvado por uma Senhora que foi uma agradabilíssima surpresa: a Nocturna!

No final ainda apareceram 4 amigas para conviver um pouco e o companheiro do Miguel para nos dar um abraço.

Eram duas e um quarto quando alguns se despediram, entre os quais eu e o amigo Félix, que tive o grato prazer de receber em minha casa, e os outros, os corajosos, com o Engine a comandar as “tropas”, lá rumaram para o “Maria Lisboa” até às tantas.

Custou…mas foi muito bom!!!!

Um beijo e/ou abraço  muito agradecido a tod@s os que estiveram presentes e todos deram a sua colaboração para ser mais uma noite inesquecível.

 

Houve alguém que “esteve” ali connosco, embora e por expressa vontade de quantos com ele mais conviveram, não se tivesse falado nele: gostaste, Catatau, meu querido amigo????


Estiveram presentes os seguintes blogs

A... http://euporaquigay.blogspot.com/Algbiboy http://minhaluz.blogs.sapo.pt/André Benjamimhttp://andrebenjamim.blogspot.com/Carametade http://xxxdddxxx.blogspot.com/
Carlos http://carlos-secretgardenmysoulisgreen.blogspot.com/Celeste http://cumcaragoceleste.blogspot.com/enGine throbs http://enginethrobs.wordpress.com/F & X http://comyxtura.blogspot.com/F3lixP http://sinest3sia.blogspot.com/Falcão Peregrinohttp://utopico.blogs.sapo.ptFernando http://percursos-fernando.blogspot.com/Grito Mudo http://gritomudo.wordpress.comH2omens http://h2omens.blogspot.com/Individual(mente)http://individualmente.blogspot.com/Innersmile http://innersmile.livejournal.com/Keratina http://vicioserealidades.blogspot.comLampejo http://avoltadafogueira.blogspot.comMário http://omeuoutroblog.blogspot.com/Nocturna http://perdida-na-noite.blogspot.com/Ophiuchus http://ophiuchus-threedecades.blogspot.com/Paulo http://valkirio.blogspot.com/Pinguim http://wwwdejanito.blogspot.com/Rui sem blog
S.M. 
http://asminhasfacesocultas.blogspot.com/Smile http://sinfoniadohorizonte.blogspot.com/Special K http://loverbiboyblog.blogspot.com/Teresa sem blog
Tongzhi 
http://tong-zhi.blogspot.com/Will http://looking-for-grace.blogspot.com/ & Paulo http://andmyman.blogspot.com/Carametade -  http://xxxdddxxx.blogspot.com/








quinta-feira, 7 de maio de 2009

O jantar


Pois é, o tempo corre e o "nosso" jantar de amigos bloguistas é já depois de amanhã...
Nos últimos dias tem sido um constante contacto com as poucas pessoas que, por razões várias, somente agora nos puderam ou podem concretizar uma resposta. Faltam poucos os "talvez" da nossa lista e daqui faço um apelo para que aqueles muito poucos que ainda o não fizeram, nos digam, por mail, num comentário ou por contacto telefónico, se o tiverem, da sua presença ou não, pois isso é importante para nós, por razões logísticas.
Também há meia dúzia de pessoas que foram convidadas e nada disseram até hoje; é sempre preferível dizer não a nada dizer...
De qualquer forma, do enorme leque inicial, as coisas foram-se definindo e estamos neste momento com 50 presenças asseguradas, o que nos garante um bom êxito à iniciativa; lamentamos algumas ausências, mais do que justificadas por diversos motivos, mas nestas coisas é impossível marcar uma data a merecer a presença de todos; um acontecimento que nos "roubou" vários amigos, mas compreendemos a opção, por ser única, foi o facto de na mesma data se realizar a "noite branca" no Pavilhão Atlântico; nós prometemos, não muita música, nem uma noitada de dança até às 6 da manhã, mas um agradável jantar volante, num sítio que está apenas aberto para o nosso evento e no qual podemos permanecer até às 2 horas; depois disso, quem tiver vontade de ir a mais alguma parte, logo se decide onde...
Obrigado a tod@s, pelo bom acolhimento da iniciativa e renovo o pedido de rápida decisão para os ainda não definidos.
Lembro ainda que além das 50 pessoas inscritas há ainda uma meia dúzia que, por razões profissionais não estarão presentes no jantar, mas irão lá ter depois, para participar no convívio.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O tamanho...


Pois, é completamente verdade: o "tamanho" não importa!!!!
Mas, na política norte-americana, talvez seja diferente...

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Duas palavras





Duas palavras de que não gosto: Hipocrisia e desprezo!
Detesto gente hipócrita e dou-lhes a única resposta possível: DESPREZO!

domingo, 3 de maio de 2009

Mãe





















Mais de sessenta anos de amor!!!

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sexta-feira, 1 de maio de 2009

Ivri Lider

I kissed a girl





« Aluf Ha'Olam »

Ivri Lider é um dos mais conhecidos músicos israelitas da actualidade; além de excelente intérprete é também compositor e pertencem-lhe as bandas sonoras dos três filmes mais conhecidos de Eytan Fox: “Walk on the Water”, “Yossi &Jaguar” e “The Bubble”; tal como o realizador destes filmes, Ivri Líder é homossexual tendo-se assumido publicamente como tal em 2002. Aliás, nestes três vídeos aqui apresentados essa sua faceta está bem patente, em dois deles no decorrer do clip e no outro através da letra; destaco o forte homo-erotismo do último vídeo.Em próxima entrada, mostrarei os vídeos de Ivri Lider  respeitantes aos filmes supracitados.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A tropa cá do João 14 - (Moçambique 8)

A minha Companhia chegou a Nampula de comboio, vinda de Nova Freixo. Foi a única vez que andei de comboio em Moçambique e foi seguramente das vezes mais bizarras que utilizei aquele meio de transporte.
Estávamos felizes por ver aproximar-se a hora em que a guerra findaria para nós. 

Sendo Nampula a capital militar de Moçambique, onde estava sediado o Quartel General, nunca ali houve em permanência uma Companhia operacional, pois a guerra fazia-se no mato, longe das cidades. Mas é preciso notar que eu chego a Nampula em Setembro de 1974, quando já prosseguiam abertamente as negociações de paz com a Frelimo (já havia oficiais nacionalistas hospedados na messe de oficiais) e começava a manifestar-se nas grandes cidades, principalmente na Beira, mas também em Lourenço Marques e Nampula, uma cada vez mais activa oposição da população branca ás directivas emanadas de Lisboa (via M.F.A.), sobre a independência de Moçambique, através da Frelimo;  na Beira dominava Jorge Jardim que advogava para a antiga colónia portuguesa uma solução do tipo rodesiano, isto é, uma independência governada pelos brancos moçambicanos e que tinha o apoio do Malawi de H. Banda.

Esta hostilidade coincidia com os acontecimentos que na metrópole levaram à queda e fuga de Spínola (28 de Setembro). O momento mais grave foi a tomada  pelos brancos do Rádio Clube de Moçambique em L.Marques e também da sua delegação em Nampula.

Foi então que o Comandante Chefe, que tinha substituído Kaulza de Arriaga, me chamou ao Q.G. e me ordenou, assim sem mais explicações, que levasse a minha Companhia para o aeroporto da cidade para o defender de uma eventual tentativa de assalto pela população branca;
eu, um simples capitão miliciano, que estava farto de tropa até à raiz dos cabelos e apenas com a experiência de 2 anos de guerra, e no mato, a receber uma ordem destas de um general, chefe máximo militar do território; fiquei perplexo e com uma calma da qual ainda hoje me admiro, pedi licença ao senhor general para me ouvir numa pequena explicação; disse-lhe então que a minha Companhia era da guarnição local, isto é, constituída por negros, enquadrados por alguns oficiais e sargentos brancos, a maioria deles oriundos da população branca moçambicana (algo que o senhor general deveria saber, mas parece tinha esquecido, ou não sabia mesmo);  e que mandar uma Companhia deste tipo para precaver um eventual confronto com a população branca seria bastante imprudente, mas claro que se o senhor general insistisse na ordem, eu iria, mas com essa ordem por escrito e nunca verbalmente; confesso que esperei o pior da sua reacção, mas no estado de desgoverno em que tudo estava, sentia-me com coragem para reagir assim. O homem, que não queria assumir a tremenda asneira em que tinha caído, depois de pensar um pouco, perguntou-me se eu não conseguia seleccionar um punhado de homens de confiança que fossem acompanhar nesse objectivo uma Companhia de Comandos, acabada de chegar a Nampula, para o que desse e viesse; respondi-lhe que sim e dentro de uma hora lhe indicaria quantos homens iriam com os Comandos – escolhi SEIS homens entre os 2oo sob o meu comando e eu, claro; ele aceitou sem pestanejar, mas disse-me que eu não iria pois deveria ficar de prevenção nessa noite no Q.G. para comandar o resto da Companhia , noutra situação, caso fosse necessário.

Foi uma noite de muita agitação e ansiedade, com toda a tropa disponível em Nampula a ficar de prevenção, mas a rebelião foi sanada sem grandes danos. Não aconteceu nada no aeroporto mas assisti a alguma confusão junto ao R.C.M., que a população tinha tomada e do qual teve que ser desalojada à força, com episódios pouco edificantes, como o uso de bebés como escudos por parte da população branca, tendo visto um alferes tirado à força uma criança dos braços do pai, e depois de a colocar em segurança, ter socado com “delicadeza” o pai para abrir caminho…

 

Entretanto dias mais tarde, deu-se a desmobilização da Companhia e lá fiquei eu, sozinho, a tratar da burocracia, ou seja fazer a “entrega” da Companhia nos diferentes departamentos militares; foi-me dada uma folha (que ainda hoje guardo algures), onde ia coleccionando  carimbos de todos esses serviços atestando que tudo estava bem; uns mais fáceis, outros mais difíceis, lá fui fazendo esse trabalho chato e demorado, até que fiquei pendente de apenas um carimbo: o da Chefia Geral da Intendência, pois descobriram uma irregularidade nas contas, dos bens que havia na Companhia, uma diferença de cerca de 70 contos, na altura; eu detectei que o erro já vinha do capitão anterior a mim, e embora concordando com a evidência das datas, não me queriam liberar alegando que eu deveria ter visto esse erro, quando me passaram a Companhia para as mãos; ora eu, um milicianozeco, impreparado em Mafra para essas questões fui bem enganado pelo sabido capitão do quadro que fui render.

Comecei a andar num sobressalto, todos os dias a ver partir para Portugal pessoas que conhecia e eu ali à espera de uma resolução, que tardava; cheguei a pôr a hipótese de pagar do meu bolso a importância em causa, pois aproximava-se o Natal e seria o terceiro consecutivo longe da família, e só o não fiz porque o meu Pai o não o permitiu, alegando e bem, que com isso era como que assumir a culpa e que era eu que tinha desviado o dinheiro. 

Farto de me fardar todos os dias só para saber se havia novidades, que jamais surgiam, um dia apareço no Q.G. e comunico que ia para a Ilha de Moçambique passar uns dias e me contactassem se algo de novo surgisse; passasadas duas semanas de praia e de bom marisco, recebi a ansiada notícia de que me podia ir embora, pois tinha sido desbloqueada a situação.

Cheguei a Lisboa a 17 de Dezembro de 1974, no dia em que os meus pais festejavam o aniversário do seu casamento.

A guerra tinha acabado para mim; passei à disponibilidade no dia 15 de Janeiro de 1975 e na semana seguinte partia para Londres a gozar uma bem merecida semana de férias.

 

Assim findam estas crónicas a que dei o nome de “A tropa cá do João”; tenho pena de não ter recuperado dois capítulos dessas crónicas, quando me apagaram o blog; um deles, por registar um caso muito pontual, poderei reescrevê-lo; o outro, confesso não saber exactamente o que lá estava incluído…


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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Philippe Jaroussky



Há muito que andava com vontade de mostrar um vídeo deste jovem contratenor, Philippe Jaroussky, que é fantástico neste difícil e pouco frequente tipo de voz.
Esta é uma ária da ópera "Orlando Furioso" de Vivaldi.

sábado, 25 de abril de 2009

Um de nós

Falar do 25 de Abril, 35 anos depois pode ser apenas repetir palavras ano a ano; mas pode ser muito mais que isso. Para a geração que viveu essa data e que nela viu a esperança de acabar de vez com um período obscuro da nossa História recente, jamais este dia pode significar apenas uma data: significa o anseio de uma vida!

Eu não estava em Lisboa em 25 de Abril de 1974, estava tão longe, que nem soube nada do que aqui se passou nesse dia; apenas no dia seguinte, ao regressar de uma operação na mata moçambicana tomei conhecimento dos acontecimentos e de uma forma pouco esclarecida; mentiria se não pensasse que além de um findar de um ciclo, isso representaria, no plano pessoal, um regresso antecipado a casa, ao meu país e ao findar de uma guerra que me foi imposta e que nunca reconheci como “minha”.

Agora, passados 35 anos, noto com tristeza, sobretudo o alheamento das gerações mais novas ao significado do que aconteceu nesse dia. Nasceram em Liberdade, não tiveram que lutar por ela…

E, embora reconhecendo o contributo de várias figuras por demais conhecidas, quer da esfera militar, quer da esfera política, penso que todo o espírito do 25 de Abril se corporiza num homem, num homem simples, que nunca gostou de protagonismo, mas que foi o grande protagonista dos acontecimentos vividos nesse dia: Salgueiro Maia!

Com coragem, opôs-se a uma resistência militar; com determinação soube o que devia fazer; com equilíbrio geriu a difícil situação do Carmo, e depois de cumprida a sua tarefa deixou a ribalta!

Quis o destino que a morte o levasse cedo, mas enquanto foi vivo, sempre dispensou honrarias e distinções: afinal era apenas um de nós!

Um magnifico exemplo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

"A Marselhesa"



Recebi por mail este vídeo com uma das cenas mais dramáticas do conhecido filme de Michael Curtiz "Casablanca"; apesar de terem ficado mais na memória outras cenas, como a melodia "As time goes bye" ou a despedida final no aeroporto, esta interpretação da "Marselhesa" abafando a canção nazi é extraordinária...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Passado e presente 12: "Cesário...hoje"


Que os rios, sim, que como touros mugem,

Transbordando atulhassem as regueiras!

 Chorassem de resina as laranjeiras!

 Enegrecessem outras com ferrugem!

 

As turvas cheias de Novembro, em vez

 Do nateiro subtil que fertiliza,

 Fossem a inundação que tudo pisa,

 No rebanho afogassem muita rês!"

 

Cesário Verde, in "nós" (O Livro de Cesário Verde)


(Publicado no meu desaparecido blog em 25 de Novembro de 2006)

 

domingo, 19 de abril de 2009

Loop


Para quem não conhece o conceito de loop, aqui fica claro o que  significa quando se diz que um programa de computador "entrou em looping".

O diretor disse à secretária:
- Vamos viajar para o exterior por uma semana, para um Seminário. Faça os preparativos da viagem!

A secretária faz uma chamada para o marido:
- Vou viajar para o exterior com o diretor por uma semana. Se cuida, querido.

O marido liga para a amante:
- Minha mulher vai viajar para o exterior por uma semana, então nós vamos poder passar a semana juntos, meu docinho!

A amante liga para um menino a quem dá aulas particulares:
- Tenho muito trabalho, na próxima semana não precisa vir às aulas.

O menino liga para o seu avô:
- Vô, na próxima semana não tenho aulas, a minha professora estará ocupada. Vamos passar a semana juntos?!

O avô (que é o diretor desta história) liga para a secretária:
- Vou passar a próxima semana com o meu neto, então não vou participar daquele Seminário. Pode cancelar a viagem.

A secretária liga para o marido:
- O diretor da empresa mudou de idéia e acabou cancelando a viagem.

O marido liga para a amante:
- Não poderemos passar a próxima semana juntos, a viagem da minha mulher foi cancelada.

A amante liga para o menino das aulas particulares:
- Mudança de planos: esta semana vamos ter aulas como normalmente.

O menino liga para o avô:
- Vô, a minha professora disse que esta semana tenho aulas.
Desculpe-me, não vai dar para fazer-lhe companhia.

O avô liga para a sua secretária:
- Meu neto acabou de dizer que não vai poder ficar comigo essa semana.
Continue com os preparativos da viagem ao seminário!

Entendeu o que é loop?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Viagens

Esta Páscoa rumei até à minha cidade, Covilhã, para passar estes dias com a minha família, nomeadamente com a minha Mãe, pois as últimas visitas (no Natal e em Fevereiro) tinham sido difíceis, principalmente a última, para o funeral da minha irmã. Fui de comboio, cómodo e descansado e já lá fui almoçar na sexta feira; encontrei a minha Mãe bastante melhor, pois ela é uma mulher forte como poucas e estava naturalmente satisfeita com a minha visita. Fui até ao Shopping, espécie de Colombo de uma cidade pequena, fui-me cruzando com pessoas que há muito não via e aí me encontrei com um primo meu para tratarmos de um eventual negócio futuro; depois dirigi-me com muita calma até ao cemitério e visitei pela primeira vez a campa de minha irmã, pois não tinha conseguido ir até lá no dia do funeral; foi bom esse momento a sós com ela e não pude evitar as lágrimas de uma já tão grande saudade; ainda “passei” a dizer olá ao meu Pai.  À noite e com um frio imenso assisti no centro da cidade e comovidamente à procissão que mais gosto, a do “Enterro do Senhor”, só como queria; depois fui até casa e fiquei à espera de uma velha amiga, com quem me encontro sempre que posso quando vou à Covilhã; a Isabel, tem alguns anos menos que eu, não muitos, pois já tem filhos com 30 anos, enviuvou muito cedo e não mais voltou a casar; tem uma vida muito dela, “vai a todas” como se  diz e bebe cultura de todas as formas; conhece meio mundo e tudo o que é sítio agradável na cidade; saímos eram 11 e meia da noite para um local novo na cidade (pelo menos para mim), que se chama TBG (Tudo Boa Gente) e é um complexo de restaurante, bar e discoteca, mesmo junto à Estação da CP, num antigo barracão, bem recuperado; sempre no bar e com um bom scotch por companhia pusemos a “escrita em dia” e acabei por me deitar às 4 da manhã. No sábado fui almoçar a um restaurante dos arredores com a minha Mãe e irmã para me deliciar com um dos pratos que mais gosto e só consigo comer ali: a “Panela no forno” que é uma espécie de Tripas, com dobrada e carne de porco, muitos enchidos, mas sem feijão, substituído por um delicioso arroz…Entretanto e quase de fugida tinha encontrado um “velho” amigo, e depois em casa da minha irmã, onde fiquei, reuniu-se alguma família durante a tarde e foi divertido ouvir as conversas entre minha Mãe e duas tias minhas, todas com mais de 80 anos, e todas ouvindo mal; foi uma delícia e uma risada ao melhor estilo do cartoon do Mr. Magoo!  A noite foi passada em família e no dia seguinte, domingo levei a minha Mãe ao cinema, coisa que ela não fazia há muitos e muitos anos, e fomos ver o “Quem quer ser milionário?” que eu ainda não tinha visto e adorei, não só pelo filme mas também pela companhia; noite caseira e televisiva e ontem após um almoço em casa de outra irmã lá regressei muito satisfeito com estes três dias.

Entretanto, no dia 25 de Maio, nova viagem se anuncia: durante uma semana e infelizmente sem o Déjan vou até à Tunísia, mais própriamente à cidade costeira de Monastir; é uma viajem oferecida pela empresa na qual tenho o meu "part-time" e é tudo oferecido, menos a viagem de um acompanhante, e que no caso do Déjan se tornaria caríssima... Já me informei e parece ser um país bonito e de gente simpática, mas haverá duas coisas menos boas: a tradicional pouca higiene dos países do norte de África e uma alimentação fraca e repetitiva; a ver vamos..

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O NOSSO jantar


Como toda a gente que nos lê, tem conhecimento, através da publicação simultânea de um post intitulado “Convite irrecusável”, o Paulo e , e eu, marcámos para daqui a um mês, 9 de Maio, o jantar de blogs deste ano, o terceiro, a realizar aqui em Lisboa e possivelmente no mesmo local do ano passado (a confirmar mais tarde).

Surgiram, entretanto alguns mal-entendidos que convém esclarecer devidamente; este jantar vem na sequência de um primeiro jantar, com apenas 9 blogs presentes, organizado apenas por mim, no bar Agito no Bairro Alto, em 2007, o qual foi muito agradável; tendo entretanto alargado o número de blogs amigos (linkados), para a organização do jantar de 2008, pedi a colaboração do e do Paulo (“Felizes Juntos”), os quais anuíram com prazer e juntaram os seus blogs conhecidos, pelo que o jantar do ano passado foi um sucesso enorme com mais de 40 pessoas.

Este ano, abalançamo-nos de novo a organizar este evento, mas é preciso notar que é um jantar, como centenas de outros que se fazem na blogosfera, uns centrados nalgum fim específico, outros simples reuniões de amigos. Mas que fique bem ciente que não há jantares, nem poderia haver, abertos a todos os blogs, pois isso seria impossível, até logísticamente…Este  é o NOSSO jantar, jantar de amigos meus e do “Felizes Juntos” e seus acompanhantes; por tal motivo não aceitamos sugestões, principalmente quando elas vêm eivadas de situações absurdas; como bem diz o Paulo (“ ... não há paciência para gente complexada. e, sim, caso ainda haja alguém que não tenham percebido, é um jantar de amigos NOSSOS. conhecidos ou não, fisicamente. mas tem de haver alguma afinidade electiva, caso contrário, nada feito…” ) é um jantar de amigos!!!
E devo dizê-lo com frontalidade: há alguém que está a fazer uma certa confusão com este jantar, talvez por ter muito empenho em estar presente, mas que não irá estar, pois ninguém gosta de receber “em sua casa” pessoas com quem tem um relacionamento, chamemos-lhe assim “menos bom”, por motivos antigos e que nada têm a ver com o jantar; para bom entendedor, meia palavra basta…e se for preciso, como diz o Paulo,  faz-se um desenho…

Outra confusão lançada por essa mesma pessoa é o pseudo choque com outra iniciativa do mesmo género a realizar em 6 de Junho, um jantar de blogs defensores da causa GLBT, no qual já me inscrevi e que é um jantar diferente do nosso; só não percebe isso quem não quer ou pretende mesmo fazer confusão; aproveito para dizer que um ou mais organizadores desse jantar estarão no nosso evento, pois fazem parte de blogs amigos e lá divulgarão o seu empreendimento.

Vou começar, pessoalmente, a contactar todos os blogs que tenho linkados, incluindo os brasileiros (sabe-se lá se não virá uma excursão, eheheh) e peço que me vão informando da vossa presença certa ou possível e do número de pessoas acompanhantes (claro que cônjuges e namorad@s também estão convidados…)

E não esquecemos aqueles nossos comentadores, sem blog, mais ou menos assíduos, que claro, iremos tudo fazer para também estarem presentes. O Paulo e organizarão os contactos deles (muitos são comuns), pelo que a inscrição num dos blogs é suficiente. Desejo que o “conbíbio” do Porto, a realizar uma semana antes, a 2 de Maio, seja um êxito, e de lá, da Invicta e do Norte, venha pelo menos tanta gente, ou mais, se possível, do que o ano passado, embora alguém, que recordaremos com imensa saudade, este ano só em espírito vá estar presente…

È com satisfação que aqui apresentamos o logótipo do nosso jantar, da autoria do Paulo…naturalmente!

 

Aproveito para desejar a tod@s uma boa Páscoa.

terça-feira, 7 de abril de 2009

To where you are, Catatau

Who can say for certain
Maybe you're still here
I feel you all around me
Your memories so clear

Deep in the stillness
I can hear you speak
You're still an inspiration
Can it be

That you are mine
Forever love
And you are watching over me
From up above

Fly me up to where you are
Beyond the distant star
I wish upon tonight
To see you smile
If only for awhile
To know you're there
A breath away's not far
To where you are

Are you gently sleeping
Here inside my dream
And isn't faith believeing
All power can't be seen

As my heart holds you
Just one beat away
I cherish all you gave me
Everyday

Cause you are mine forever love
Watching me from up above
And I believe that angels breath
And that love will live on and never leave

Fly me up to where you are
Beyond the distant star
I wish upon tonight
Too see you smile
If only for awhile
To know you're there
A breath away's not far
To where you are

I know you're there
A breath away's not far
To where you are


domingo, 5 de abril de 2009

"O João partiu"


Tomei conhecimento com o Catatau, como comentador do meu blog, logo no início do mesmo, no final de 2006. Conheci finalmente o João Manuel no jantar do ano passado, no final de Abril, tendo ficado bem na minha frente, para podermos finalmente conversar, cara a cara, tanta coisa que tinha ficado pendente nos nossos comentários; voltei a encontrá-lo num simpático almoço, com o Paulo e Zé, a Keratina e o Tong, em Alvalade.

Depois foi a enorme surpresa de o ter à minha espera e do Déjan, quando chegámos ao Porto, em Junho  e convivemos num maravilhoso jantar no cais de Gaia; finalmente, quem diria encontrámo-nos no inesquecível pic-nic das Caldas, em Julho.

Pouco tempo depois, numa das nossas habituais conversas telefónicas foi curto e duro:

“João, tenho um tumor”. Fiz um post sobre o assunto sem revelar o assunto…

Comecei a contactar os seus amigos mais íntimos, o Tong, o Paulo e o Zé, a Keratina, o Lampejo, a Duxa, e fomos acompanhando a sua doença com telefonemas de apoio, sabe-se lá as vezes em que tivemos de ser fortes para não trair o nosso pessimismo.

Desde o seu último internamento, fiquei perfeitamente ciente que o João nos iria deixar em breve, mas nunca tão cedo; no entanto, liguei-lhe na véspera da minha recente viagem a despedir-me e tive que finalizar apressadamente a conversa, pois ele estava tão cansado após falar 2 minutos, que não conseguia dizer mais nada.

Desde o meu regresso, na terça feira que tinha andado a adiar o telefonema a comunicar que já cá estava; mas hoje(ontem), falando com o Paulo à hora do almoço, ele comunicou-me que tinha falado com ele na véspera e que ele quase não podia falar e estava a receber oxigénio; resolvi ligar-lhe de imediato e mal percebi o que me disse, apenas percebi “beijo, adeus”. Quando desliguei, segundos depois, não contive as lágrimas e procurei o conforto do Paulo, da Keratina e do Tong, e a todos comuniquei que me tinha soado a despedida esse telefonema; tentei, em vão contactar o seu companheiro, J., mas ele ligou-me perto das oito da noite, lavado em lágrimas a comunicar-me que tinha vindo do I.P.O. e que o João o não tinha reconhecido, e que o seu estado se agravara nas últimas horas, irremediavelmente; procurei incutir-lhe ânimo e pedi para me ir pondo ao corrente da situação; não demorou um quarto de hora quando me voltou a ligar dizendo apenas: “O João partiu!”

Liguei aos amigos de sempre a comunicar o que não queria ter comunicado…

 

Que mais posso dizer do Catatau? Apenas que era um Amigo, um Amigo muito querido; uma pessoa com uma cultura muito acima da média, eclético, que era sem sombra de dúvida o mais completo comentador que conheci na blogosfera; tinha um coração doce e uma energia contagiante, era também um Homem que acreditava na vida  e tinha o condão de o saber mostrar.

Sofreu muito, mesmo muito, e apenas o fim desse martírio me alivia minimamente a dor que sinto.

 

Deixo aqui algumas passagens por ele deixadas nos comentários feitos neste blog e deixo esta foto, que hesitei em pôr aqui e foi tirada na última vez que o vi, no jantar do cais de Gaia; mas ele está tão bem, tão feliz, que é esta imagem que eu quero recordar dele.

Descansa em paz, João!!!

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“Sabes? Não tenho medo de envelhecer fisicamente (acho que estou melhor agora do que aos vinte), tenho é muito medo da velhice incapacitante, seja motora ou psicológica. Da velhice que me envergonhe, que dê trabalho aos outros, que faça de mim um imprestável.” 

 

“Os amigos, tenham eles a cara e o corpo que tenham, são sempre o nosso tesouro privado. E principalmente são significantes!”

 

 

“ Vai, rapaz, vai nas asas do vento ter com o ar que respiras!”

 

 

 

“Faz sentido a tua análise da comunidade blogueira. Já cá ando há tempo suficiente para perceber de que são feitos os blogs. Acima de tudo são uma intenção aberta a um outro que é plural. E como de pluralidade se trata, é natural que se formem "públicos", que se estabeleçam afinidades, cumplicidades e (lá vou eu escrever uma palavra que cada vez gosto menos de usar pela desbragada parolice com que a usam) afectos.
Assim, para todos os que navegam, há os imprescindíveis, os imperdíveis, os habituais, os de corpo presente, os que despertam curiosidade, os pet hate (para masoquistas), enfim, dependendo do tempo e da paciência, há-os para todas as ocasiões, gostos, áreas, pró menino, prá menina e para tod@s.
Mas sabes o que sempre me seduziu na blogosfera? Imaginar uma pessoa do lado de lá que quer partilhar com quem desconhece um mundo real ou fictício. Saber que através dos comentários ela tem feed-back. Ela dá-me (o que quer que seja), mas eu também lhe dou (o que me vier aos dedos). Os dois desobrigados, num laço virtual que pode evoluir ou não. Que pode quebrar, fossilizar, seduzir ou tornar-se parte integrante do quotidiano dos dois. Um laço familiar, portanto.”

 

“Tenho amor, não tenho palavras (era só o que me apetecia agora dizer). 
Mas digo mais: tenho um amor agarrado ao coração vai para 14 anos. Deus queira que me não falhem os batimentos por muito tempo. E se falharem, que ele possa ficar ali - abrigado - à espera de o viver mais um segundo. À espera de o viver mais um momento.

 

 

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

" a fé e o império"


Há dias o amigo Arsène Lupin desafiou-me para abrir um livro na página 161 e transcrever aqui a 5ª. frase inteira que lá encontrasse. Como já há tempos tinha respondido a um desafio semelhante, o qual foi escrupulosamente cumprido, e como o próprio desafiador, (e muito bem) fez alguma batota com esse desafio, eu resolvi aproveitar a sugestão batoteira e não transcrever nenhum parágrafo da página 161, até porque o livro que tinha em mãos não chega a ter 161 páginas; e sendo assim resolvi transcrever um pequeno texto intitulado “A fé e o império” e que começa por ter uma frase introdutória de Álvaro de Campos: “A plácida face anónima da morte”.

Este texto faz parte do livro “Memória” de Álvaro Guerra, que li agora nas férias e sobre o qual falarei num próximo post.

Não vou passar este desafio a ninguém, mas gostaria que alguém, com batota ou não, aceitasse este desafio.

 

Que fé os levantava em sabor de sangue e de martírio contra os irmãos que não reconheciam? Meca e Jerusalém não são muito distantes, é verdade, e todos os mitos se assemelham; a mesma decadência levanta catedrais e mesquitas, a mesma violência reconhece e extermina os outros, os idólatras, os filhos das árvores, das águas ou do vento. Na face daquele morto coberto de golpes onde o sangue coagulava e cujo corpo, preso ao pau de sibe pelos pés e pelas mãos, pendia como uma peça de caça, reconheci a marca de todas as heresias, de todos os privilégios (mesmo os mais elementares) e nos rostos, negros também, dos caçadores vi o gosto das efémeras vitórias e a morte sacrossanta brilhando nos seus olhos. Ofereciam-me um morto anónimo e armado de uma velha pistola e de uma ideia profana. E eu não queria aquele cadáver – não queria morte nenhuma, muito menos uma morte injusta. Não queria nenhum escravo de si próprio nem nenhum escravo dos outros – não me queria. Não queria a fé nem o império – toda a epopeia é uma ilusão fugaz.”