“Pai nosso que estais nos céus
Neles permanecei
E nós ficaremos sobre a terra
Que às vezes é tão bela.”
Estas palavras são de Jaques Prévert, o primeiro poeta que li na minha juventude, mesmo antes de Pessoa, Botto, Florbela Espanca e Cesário Verde ( a excepção terá sido Camões, por imperativos escolares); nessa fase eu devorava os “Le livre de poche”, que me deram a conhecer os grandes nomes da literatura francesa do século XX: André Gide, Albert Camus, Roger Peyrefitte, Boris Vian, Jean Paul Sartre, Marguerite Duras, Jean Cocteau, Françoise Sagan, Roger Vailland e tantos outros.
Li por diversas vezes “Paroles” aonde ainda hoje volto, assim como “La pluie et le beau temps”, “Spectacule” e “Histoires”.
Neles permanecei
E nós ficaremos sobre a terra
Que às vezes é tão bela.”
Estas palavras são de Jaques Prévert, o primeiro poeta que li na minha juventude, mesmo antes de Pessoa, Botto, Florbela Espanca e Cesário Verde ( a excepção terá sido Camões, por imperativos escolares); nessa fase eu devorava os “Le livre de poche”, que me deram a conhecer os grandes nomes da literatura francesa do século XX: André Gide, Albert Camus, Roger Peyrefitte, Boris Vian, Jean Paul Sartre, Marguerite Duras, Jean Cocteau, Françoise Sagan, Roger Vailland e tantos outros.
Li por diversas vezes “Paroles” aonde ainda hoje volto, assim como “La pluie et le beau temps”, “Spectacule” e “Histoires”.
Jacques Prévert nasce em 190o, em Neuilly-sur-Seine, França, onde passa a sua infância. Seu pai, André Prévert, crítico de dramaturgia, leva-o sempre ao teatro e sua mãe, Suzanne Catusse, inicia-o na leitura. Aos 15 anos, com o certificado de estudos básicos, ele sai da escola e começa a fazer pequenos trabalhos. Convocado para o serviço militar, ele vai para Saint-Nicolas-de-Port, onde encontra Yves Tanguy, antes de ser enviado para Istambul, onde conhece Marcel Duhamel.
Em 1925, participa do movimento surrealista, junto com seu grupo, formado por Marcel Duhamel, Raymond Queneau e Yves Tanguy. Mas Prévert, com seu espírito independente, não consegue permanecer por muito tempo em um mesmo grupo, seja ele qual for.
Escreveu os grandes filmes franceses realizados entre 1935-1945: Drôle de Drame, Le Quai des Brumes, Hotel du Nord, Le Jour se Lève, Les Enfants du Paradis de Marcel Carné. Os seus poemas são transformados em música por Joseph Kosma (Les Feuilles Mortes). Ele começa a escrever peças de teatro.
Sua filha Michele nasce em 1946. Casa-se com Janine Tricotet em 1947. Por iniciativa de sua esposa, que tenta afastá-lo das “tentações de uma vida dissoluta”, eles deixam Antibes para morar em Omonville-la-Petite, na Manche, onde morre aos 77 anos, de cancro do pulmão
Prévert revoluciona o discurso tradicional, através do jogo de palavras. A sua poesia é constantemente construída com jogos de linguagem (calembur, neologismos, lapsus propositais, invenções...) com os quais o poeta consegue efeitos cómicos inesperados (um humor por vezes negro), duplos significados e imagens insólitas.
Os seus poemas também são ricos em jogos sonoros, combinações que brincam com a audição (aliterações, rimas e ritmos variados) que podem parecer fáceis, mas que são habilmente utilizadas or Prévert.
Traços de surrealismo ajudam a compor o seu estilo: inventários, listas de objectos, metáforas e personificações.
LE CANCRE
Il dit non avec la tête
mais il dit oui avec le coeur
il dit oui à ce qu’il aime
il dit non au professeur
il est debout
on le questionne
et tous les problèmes sont posés
soudain le fou rire le prend
et il efface tout
les chiffres et les mots
les dates et les noms
les phrases et les pièges
et malgré les menaces du maître
sous les huées des enfants prodiges
avec des craies de toutes les couleurs
sur le tableau noir du malheur
il dessine le visage du bonheur.
O CARANGUEJO *
Ele diz não com a cabeça
mas diz sim com o coração.
Ele diz sim só ao que ama
mas diz não ao professor.
Está de pé
e interrrogam-no
mas são problemas demais.
Morre de rir - de repente
-e apaga tudo o mais
os algarismos e os nomes
as datas e as palavras
e as frases de emboscada.
O professor ameaça-o
sob a vaia dos meninos
( os geniozinhos da classe)mas ele, ele trabalha
com giz de todas as cores
no quadro-negro das dores
desenha o rosto da felicidade.
(* Le cancre
o caranguejo, em linguagem familiar,designa também o menino preguiçoso ou vadio. )
Olha agora lembraste-me três dos meus escritores favoritos: Boris Vian, Marguerite Duras e Jean Cocteau.
ResponderEliminarPrévert é um mestre com as palavras. Malabariza-as com a destreza de um croupier e com a engenharia febril de um castor: lança-as e morde-as, baralhando e construindo delírios da linguagem.
caro Pinguim, não sei se sabes, mas foi publicada há dias a edição bilingue das Paroles.
ResponderEliminarabraço
A voz perfeita da melancolia.
ResponderEliminarComme je t'aime, Yves Montand.
Gosto de Prévert. Abraço!
ResponderEliminarainda há tão pouco tempo estive no Instituto Franco-Portugês no âmbito do lançamento de uma obra dedicada a Prevert...todo esse universo me fascina...e, a música que oiço enquanto comento é deliciosa...
ResponderEliminarAmigo João Manuel
ResponderEliminare não são só os escritores que me vêm à memória, é a música (esta interpretação de Yves Montand do famoso poema de Prevert é sublime...), mas há a Grecco, Brassens, Brel, a fabulosa Barbara, ainda visitei no Quartier Latin os últimos "caveaux", onde o jazz era rei; e era o cinema com o começo da "nouvelle vague" de Truffaut e de Godard; foi a primeira visita a Paris e o deslumbramento de encontrar os Campos Elíseos, de percorrer Saint Michel e os seus artesãos à beira do Sena, de descobrir o sexo em Pigalle e subir até Montmartre e ver Paris do Sacré Coeur; saber o quer dizer "cidade luz" e pela primeira de várias vezes, sentir que "Paris é uma festa"!
Abraço amigo.
Meu caro Miguel
ResponderEliminarclaro que sei, e por isso me lembrei de recordar Prévert; mas, talvez por sempre o ter lido em francês, na tradução, perde um pouco...
Abraço.
Como te compreendo, minha querida Mar-maria; lê por favor o meu comentário ao Catatau, pois deves ter tido vivèncias não< muito diferentes.
ResponderEliminarBeijinhos.
Fazes bem, amigo Rato,só demonstras bom gosto e sensibilidade.
ResponderEliminarAbraço.
Caro Luís
ResponderEliminarpelo que de ti conheço, também tu não passas ao lado de toda esta "cultura" francesa, onde os portugueses sempre gostaram muito de procurar inspiração. Causa-me uma imensa pena ver a língua francesa cair tanto em desuso ( o fraquìssimo número de alunos da Alliance Française é disso espelho), pois foi para mim, durante muitos anos a segunda língua; hoje não é assim, e a língua inglesa é quase universal e é a cultura anglo saxónica que dá cartas...
Abraço.
Caro João,
ResponderEliminarJUsto o texto e bela a canção. Excelente combinação!
Abraço
Meu caro Maurice
ResponderEliminaré sempre reconfortante quando sabemos que a partilha resulta, como é o caso.
Abraço.
Bem... ao tempo que aqui não vinha...
ResponderEliminarAs minhas desculpas amigo Pinguim... Tenho andado aqui na net, muito de raspão.
Sabes, é certo que gosto sempre dos teus posts, mas neste... o Caranguejo despertou-me a atenção ;)
Gostei!
Boa semana
Amigo João
ResponderEliminarnão tens nada que te desculpar, pois cada um tem a sua vida e há coisas muito mais importantes que os blogs, por muito interessantes que sejam; e não é o facto de se aparecer mais ou menos que invalida a ideia que tenho de ti, meu bom amigo.
Eu desconhecia esse "calão" que os franceses usam,também para a palavra "caranguejo", mas tem a sua lógica, e Prévert "apanha-a" de uma forma muito subtil.
Abraço.
Diabos! Mais um que não conheço! Que só conheço de nome! Acho que estou a entrar na idade em que tenho que me convencer que não lerei 1% dos autores que queria ler! Terei que o colocar na lista de espera - mas ela é tão grande que apenas o facto de não haver lista nenhuma me dá alguma esperança... Abraço amigo pinguim.
ResponderEliminarNão quero parecer impertinente ou indelicado contigo, amigo André, pois considero-te muito na tua escrita e na tua forma de trabalhar as frases; mas fiquei admirado que não conhecesses Prévert, pois é um marco importante na literatura poética europeia do meio do século; isso só pode ser explicado pela tua idade, e consequentemente já seres uma pessoa cujas fontes são já da cultura anglo-saxónica.
ResponderEliminarMas, dá uma chance ao poeta e lê pelo menos o "Paroles", que é o seu livro "chave"; não darás por mal empregue o tempo (saíu há pouco a edição bilingue...).
Abraço.
Mais um momento que me ofereceste... numa manhã estranha e gelada. Jaques Prévert provoca-nos sempre com os pequenos gestos, os movimentos simples do dia-a-dia. Neste caso é apenas a ânsia de tatuar sentimentos com giz.
ResponderEliminarAquele abraço!
Obrigado!
Quando algo nos parece um pouco "diferente" numa manhâ estranha e gelada como a de hoje ( e concordo contigo), é sempre bom; por isso fico feliz...por ti.
ResponderEliminarAbraço.
Olá
ResponderEliminarFizeste-me lembrar outros tempos, outras vivências.
Hoje li algo que me enterneceu "o Homem antes de aprender a ler aprende a sonhar", bonito, não é?
bjs
Por vezes o que o coração quer a "cabeça" não deixa...
ResponderEliminarUm verdadeiro quebra cabeças...
Enfim...
Abraço!
É realmente bonito e obrigado por partilhares essas "pequenas" coisas que fazem a Vida ter sentido, minha boa amiga Jasmim.
ResponderEliminarBeijinhos.
Amigo Lampejo
ResponderEliminare quando esse quebra-cabeças leva a que se nos parta o coração? Não será mais sensato libertar um pouco mais a cabeça?
Abração.
Adorei....:)
ResponderEliminarPrévert era mestre na "jiga-joga" das palavras!!!
Abraço:)
Era sim senhor, caro Hydra, é talvez essa particularidade que o fez "diferente" de tantos outros poetas.
ResponderEliminarAbraço.