segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ni - Ni

Eu quero, quando morrer, ser enterrada
Ao pé do Oceano ingénuo e manso,
Que reze à meia-noite em voz magoada
As orações finais em meu descanso…

Há-de embalar-me o berço derradeiro
O mar amigo e bom para eu dormir!
Velei na vida o meu viver inteiro,
E nunca mais tive um sonho a que sorrir!

E tu hás-de lá ir…bem sei que vais…
E eu do brando sono hei-de acordar
Para os teus olhos ver uma vez mais!

E a Lua há-de dizer-me em voz mansinha:
- Ai, não te assustes…dorme…foi o Mar
Que gemeu…não foi nada…’stá quietinha…

Florbela Espanca









Finalmente partiste! Sim, eu sei, já tinhas partido, mas ainda restava o teu corpo…
Agora posso finalmente, e na ausência desse corpo, recordar-te com serenidade.
Foste a minha companhia de meninice, com quem brincava e com quem “guerreava”.
Fomos dois confidentes até o mar nos separar e também de certa forma o teu casamento…
Apesar de tudo, sempre defendeste a minha “diferença”, perante a homofobia do teu ex-marido.
Venceste lá longe, duas grandes batalhas, e sozinha: o abandono do teu marido ao fim de 40 anos de casada, e (julgava eu), derrotaste a morte ao sobreviveres a um linfoma; afinal, apenas tinhas vencido uma batalha, pois a morte acabou por vencer o combate!
Quando comemorar o próximo aniversário, não voltas a dizer-me a frase de todos os anos: “Oi mano, estás quase a apanhar-me, outra vez.” E, em Julho não mais te direi “Oi mana, voltaste a fugir”.
Agora fugiste de vez…mas não do meu coração.
Reencontraste anos depois da tua separação um novo amor e não hesitaste em regressar aqui, para seres muito feliz, neste último ano; e como o merecias…
Foste para os nossos três irmãos a Ana Maria ou a Ana; nunca o foste para mim, porque sempre te tratei, até à última vez que te vi, já no hospital, pelo nome que me ensinaram a tratar-te: Ni- Ni!!!!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

AMO-TE

Foto do Paulo (Felizes Juntos)



Volim te!!!


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domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pausa

Peço desculpa, mas vou parar este blog e toda a actividade da blogosfera, até que algo aconteça e que restabeleça o normal funcionamento da minha vida; sinto que estou a forçar a nota a postar e a comentar blogs, quando a minha cabeça não está a funcionar correctamente; estou cansado de esperar, preciso urgentemente de viver e sinto que dia após dia é excatamente isso que não faço.

Voltarei oportunamente e peço que não me interpretem mal, que seja o mais breve possível

Obrigado a tod@s pelas vossas mais variadas manidfestações de apoio.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Dias felizes







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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Amor "resistente"


Vi este vídeo aqui e não resisti a roubá-lo. Porquê??? Porque o amor é lindo e vence sempre se é verdadeiro; estou demasiado lamechas...
Ahh, e a música é linda!

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Se...




Quando nos despedimos em Milão a 3 de Novembro passado, o Déjan e eu tínhamos já uma data e um local para o novo reencontro, como sempre fazemos, antes de nos separarmos, o qual seria a 2 de Fevereiro, novamente em Belgrado; estava a aguardar Dezembro, com o subsídio, para a compra do bilhete.
É então que começa a série de azares: um problema “renascido” e que espero poder daqui a pouco tempo aqui contar, fez com que a prudência vencesse o coração; falei com o Déjan e chegámos à conclusão que seria melhor combinar outra data, quando houvesse melhores condições financeiras; mas foi grande a desilusão de ambos, pois os 3 meses de separação iriam ser alargados.
Dias depois, o pai dele chega a Belgrado, vindo de Zadar, na Croácia, para passar uns “dias” ali, e ainda lá está, parece que até a daqui a duas semanas; a 4 dias do Natal adoece súbita e gravemente uma irmã minha, que impossibilitaria, até hoje, a minha deslocação para fora do país.
Quer isto dizer que nem uma, nem duas, mas três razões obstaram a que não pudesse abraçar o Déjan para já; como estas várias situações me abalaram muito, é lógico que a necessidade de um ombro onde chorar, e de uns braços a apertarem-me fortemente se tem acentuado gradualmente, tal como uma espiral…
Hoje, 1 de Fevereiro, se tudo tivesse corrido normalmente, partiria para Colónia, e amanhã, abraçar-te-ia, meu amor!
Resta-me esperar que este período negro da minha vida passe e ainda consiga comemorar pela primeira vez contigo, o meu aniversário a 23 de Março; até porque se assinala então o final deste Inverno do nosso descontentamento. As fotos, lindas, de Belgrado, são de um dos nevões deste “rigoroso Inverno".

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Acerca de um comentário...

No meu anterior post, sobre os pinguins, decidi autorizar a publicação de um comentário perfeitamente homofóbico, de um determinado sujeito, que por razões que só ele conhecerá, segue interessadamente, não só o meu blog, mas outros em que de forma aberta e normal se dá a conhecer certos aspectos da vida homossexual. Já o havia avisado, há tempos, que não publicaria qualquer outro comentário seu, mas ontem, e por estar num estado bastante alterado devido a problemas que se aproximam rápidamente de um desfecho triste mas esperado, precisava de dar um grito, como a Liza Minnelli dava debaixo da ponte no filme "Cabaret" e assim publiquei o comentário e a resposta devida, sem olhar sequer à linguagem que não é muito habitual usar...

Não é querer entrar em querelas, pois qualquer comentário desse indivíduo a este ou a outro qualquer post meu JAMAIS será publicado, resolvi mostrar um vídeo delicioso que publicita um dos mais importantes festivais de cinema gay e lésbico do mundo: o Festival de S.Francisco.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

sábado, 24 de janeiro de 2009

"Amazing Grace"



Para matar saudades de quem está longe, para recordar quem já partiu, para suavizar as dores de hoje, para partilhar ou simplesmente para ouvir...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

"Os limões, o infinito e a intimidade"

(foto tirada do último post do blog "Infinito pessoal")

No site PNETliteratura, e pela pena do seu colaborador Luís Caramelo, foi publicado no passado dia 29/10/2008, um texto intitulado “Os limões, o infinito e a intimidade”, sobre um blog que sigo atentamente e que considero um dos melhores da blogosfera que conheço. Ao Luís Galego, seu autor e meu prezado Amigo, os meus parabéns por tão merecidas palavras.
Transcrevo o texto, para que todos aqueles que ainda não conheçam este blog o vão conhecer e deliciar-se com os textos nele inseridos; uma palavra para a “interminável” e imprescindível coluna da direita deste blog, só por si, razão mais que suficiente para se consultar o blog
Infinito pessoal”, pois não é só um blog para ler, é também toda uma agenda cultural para consulta.
Abraço, Luís!

“Os nomes são como os limões: iluminam a árvore sem nela se diluírem. Talvez por isso mesmo, “Infinito pessoal” seja o nome de um blogue que faz parar o leitor mais incauto, do mesmo modo que o olhar suspende o seu vaivém diante do limoeiro que interrompe um muro branco (e, aparentemente, sem fim). A autoria do blogue é de Luís Galego e a sequência é particularmente variada. No último post, a confissão domina a abertura – “Os livros são a minha riqueza e a minha ruína, o meu vício, o meu património. Os livros interrompem, importunam, reivindicam, ainda que estejam escondidos nas trevas da estante”. Abertura que, depois, incide cirurgicamente em Os Nus e os Mortos (The Naked and the Dead) de Norman Mailer: o livro de cabeceira deste meados de Outubro. No dia 30 de Setembro, Luís Galego publica um interessante texto de cariz memorialista, escrito em Nova Iorque. O tom é pessoal, dando corpo àquilo que os blogues têm de melhor, isto é, a enunciação pessoalista ou a extroversão da primeira pessoa que, quase involuntariamente, se ficcionaliza: “Voo para Lisboa expectante mas ainda com tempo para que uma das relíquias do litoral alentejano, a Zambujeira do Mar, sirva de intermezzo, o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e a Costa Vicentina me abracem, a leitura de universos ficcionais ou semi-ficcionais me aconchegue a alma, a labiríntica fruição de sol, mar, livros e música me restabeleça, bóias de me aguentar (expressão roubada a Lobo Antunes de uma bela e incontornável obra), tudo concorrendo numa espécie de antecâmara para novos torneios”. Território de desafios e de sucessiva poda da grande árvore que nos acena (desde logo a partir da excelente foto retirada de Wonders of our great metropolis, sky-scrapers and Great Bridge from Brooklyn, New York City, 1900-1910 de William Herman Rau). Aliás, a pessoalidade da escrita em rede ressurge, noutro post, como que elogiada por Luís Galego ao referir-se ao vício que sente pelas “palavras escritas e embrulhadas da Maria Quintans”. Ao desenvolver as teias desse vício de leitura e partilha, o autor de “Infinito Pessoal” escreve: “A internet tem destas coisas e a blogosfera também nos surpreende pela positiva. Foi no seu blogue que li uma escrita intimista que não cabe na limitação de amarras formais”. Fora de amarras, sem âncoras e com uma sequência a denotar óbvia paixão pelo texto literário, este blogue merece redobrado olhar. Como se um limoeiro levantasse voo e pousasse de novo na felicidade que lhe deu o nome: tão pessoal quanto infinito (alegoricamente)”

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

20/January/2009 - Obamas'day (Bush no more)

Hoje os Estados Unidos deixam de ter o mais cretino presidente da sua história, George W. Bush e para comemorar este momento, nada melhor que um vídeo dos seus "melhores" discursos




Mas hoje chega à Casa Branca o novo presidente, Barak Obama, em que os americanos e o mundo depositam as maiores esperanças; este é o vídeo do seu discurso na cerimónia no Lincoln Memorial




Ainda nesta cerimónia que teve a presença de variados artistas, houve um momento de particular esperança para a comunidade homossexual, quando Heather Headley e Josh Groban interpretaram um hino, acompanhados do Coral Gay de Washington

E para terminar com graça um último vídeo da impagável série "Little Britain USA"


domingo, 18 de janeiro de 2009

Distinção

"Com o Prémio Dardos se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, étnicos, literários, pessoais, etc. Que em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web."
Este Prémio obedece a algumas regras:

1) Exibir a imagem do selo;

2) Linkar o blog pelo qual se recebeu a indicação;

3) Escolher outros blogs a quem entregar o Prémio Dardos.


Fui surpreendido pela honra que o blog “Do you believe in angels?” me concedeu ao escolher o meu blog para ser contemplado pelo Prémio Dardos, o qual pelas características do seu enunciado, vai além dos simpáticos prémios de amigos e de ocasião. Este Selo é realmente um prémio especial e que na minha maneira de ver a Blogosfera, é o mais importante que aí conheço. O meu muito obrigado, pois!
Das regras consta a nomeação pelos contemplados de blogs que os mesmos considerem preencher esses requisitos, e é sempre um momento difícil o de optar; tenho uma vasta lista de blogs linkados, e se eles ali estão é porque, por uma razão ou outra os elegi, e considero-os a todos blogs imprescindíveis, sejam de pessoas conhecidas virtualmente ou pessoalmente.
Como é omisso o número de blogs a nomear, desta vez alarguei-me e vou nomear treze blogs, que a meu ver, contribuem para um enriquecimento da blogosfera (dois ou três mais o seriam, mas já têm esta distinção).
São eles:

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Evolução

Daqui



para aqui



e finalmente para aqui

todo o trajecto de um grande senhor da música!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Quando a "Igreja" fala...

É por demais conhecida a minha pouca ou nula simpatia por Sua Santidade o Papa Bento XVI (acho que é assim que a Santa Madre Igreja determina que se deve nomear o representante eleito da hierarquia católica), mas que eu numa terminologia simplista e “intimista” rebaptizei apenas por “Bentinho”! Ora este senhor com aquele ar de inquisidor moderno e voz de falsete, a que não falta uma certa “compostura” pelo menos algo ambígua, proferiu há alguns dias mais uma das suas tiradas que o levarão a ficar conhecido como um Papa pelo menos original e “suis géneris” ao fazer uma absurda comparação do combate à homossexualidade com a defesa aos atentados que nos dias de hoje se cometem contra o ambiente. Não falei no assunto na altura, pois foi amplamente comentado na bogosfera.Refiro este assunto agora para, à laia de intróito, mostrar a minha estupefacção perante as afirmações ontem proferidas pelo mais alto dignitário da igreja católica no nosso país, D.José Policarpo (mas porque é que os cardeais são Dons?), Cardeal Patriarca de Lisboa, na Figueira da Foz (no casino, local bem escolhido…), sobre as severas advertências às jovens portuguesas no que respeita a eventuais casamentos com muçulmanos; é incompreensível numa altura em que tanto se fala em ecumenismo se profiram tais afirmações que, além do mais, podem também ser apelidadas de pouco oportunas pela eventual desconfiança com que actualmente se olham os muçulmanos, como que se eles fossem todos potenciais terroristas; claro que condeno firmemente a posição extremada dos muçulmanos radicais e as suas “guerras santas”.
Mas, a ideia de um homem ponderado nas suas afirmações, sereno nas suas análises, ficou profundamente abalada, a meu ver, por estas afirmações absurdas; a imagem que tinha de Sua Eminência não voltará a ser a mesma.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Passado e presente: 11 - O Mar


Eu sou a onda branca, perdida no âmago do mar azul, que te acaricia e chama.
Eu sou o cheiro profundo, que brota da areia molhada, e se mistura às algas e detritos.
Eu sou um barco à deriva, de velas desfraldadas, pedindo-te, em socorro, um beijo.
Eu sou a Lua, no horizonte, e seus reflexos de prata, na quietude do lago adormecido.
Eu sou a tempestade súbita, grossas bátegas jorrando impetuosamente, de uns olhos que te querem ver.
Eu sou o mar!
Revoltado, sereno, liberto e...só!
Eu sou o mar!
Que te abraça e envolve.
Vem banhar-te em mim, bebe o Sol dourado das minhas cristas, ajuda-me a acalmar as fúrias, mergulha nas minhas águas, violando-me!
Eu sou o mar!
Peixe, sereia, Neptuno;
viagem de hoje, repetida sempre, sem cessar, sonho no Sol que me abrasa.
Navega-me, sente o meu murmúrio, que é grito, lamento e apelo,
sem medo, meu amor...
Mais um post da parte desaparecida do meu blog, publicado em 29 de Novembro de 2006, com um dos poemas escritos por mim, quando ainda os conseguia transmitir ao papel; agora continuo "a fazer" poesia, mas fica retida num canto de mim mesmo, e de lá não sai...

(foto: Agosto 1993-Grécia)
(poema: Setembro 1979-Serpa)



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domingo, 11 de janeiro de 2009

Gatos



Os meus gatos têm sido neste últimos dias os meus grandes companheiros. O mais velho, o Boris é de uma dedicação extrema e nas suas rotinas, a partilha de espaços comuns é quase contínua.
A mais jovem, a Teka, mais irrequieta e rebelde, tem vindo a "assentar" e é já uma companheira grande dos meus silêncios e solidões, sem deixar de quando em vez de fazer a sua asneirita.
Em sua homenagem, um curto vídeo, bem representativo da curiosidade e "ousadia" felina, que recebi por mail, de uma boa amiga.



quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

"A dupla vida de Véronique"

Weronika é uma jovem polaca que vive em Cracóvia, onde é cantora solista, mas que tem um grave problema cardíaco. Um dia, ao observar um grupo de turistas franceses, Weronika fica desconcertada ao vislumbrar uma mulher que é a sua dupla perfeita. Esta mulher, Véronique, é uma jovem cantora de talento e também tem um problema no coração.
Dirigido em 19991, por Krzysztof Kieslowsky, trata-se de uma espantosa meditação sobre os laços invisíveis que ligam os indivíduos. O filme, embora menos conhecido que a trilogia tricolor que lhe sucedeu (Azul, Vermelho e Branco), é uma pequena jóia, uma delícia para os olhos e os ouvidos, que importa descobrir.
A interpretação de Irene Jacob é superlativa e a música original da autoria de Zbibniew Preisner, absolutamente fabulosa, como se pode aquilatar por esta amostra, de grande beleza.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Dor do pensamento


Este soneto de António Nobre retrata, de uma certa forma, o meu estado de espírito actual



E a Vida foi, e é assim, e não melhora.
Esforço inútil. Tudo é ilusão.
Quantos não cismam nisso mesmo a esta hora
Com uma taça, ou um punhal na mão!

Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora!
Quimeras, sonhos, bolas de sabão.
E a tortura do Além e quem lá mora!
Isso é, talvez, a minha única aflição.

Toda a dor pode suportar-se, toda!
Mesmo a da noiva morta em plena boda,
Que por mortalha leva…essa que traz.

Mas uma não: é a dor do pensamento!
Ai quem me dera entrar nesse convento
Que há além da Morte e que se chama A Paz!

sábado, 3 de janeiro de 2009

Três "Lágrimas"

Na minha opinião o mais bonito fado de Amália e que tantas versões já teve depois da original, dela, surge aqui interpretada por um trio: as espanholas Lidia Pujol (cantando em catalão) e Mayte Martin e a portuguesa Dulce Pontes, que detém uma das versões mais conhecidad deste fado.
É deveras belo ver e sobretudo ouvir estas vozes "a chorar" cantando.

(não se assustem, são apenas cerca de 6 minutos e não 16...)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Desafio dos sonhos


Mais um desafio, e eu a aceitá-lo, não porque concorde muito com estas correntes, mas porque, estando no princípio de um novo ano, há sempre intenções, desejos e sonhos no horizonte; portanto, vem na hora certa.
Foi-me proposto pela “Apenaseu” e o desafio consiste em.
a) Escrever uma lista com 8 coisas que sonho fazer ou com as quais sonhe(esta variante é minha…)
b) Convidar 8 bloguistas a responder ao mesmo.
c) Comentar no blog de quem partiu o desafio.
d) Comentar no blog de quem desafiamos.
e) Mencionar as regras.





Eis os meus sonhos: 1. Que os problemas de saúde que tanto atingiram familiares e Amigos em 2008, diminuam e se suavizem.
2. Que eu posso ver finalmente resolvido um caso, que me tem “perseguido” desde há três anos a esta parte.
3. Que eu consiga usufruir mais da companhia de quem muito amo.
4. Que haja Paz no mundo.
5. Que as pessoas olhem, principalmente os detentores dos poderes político e económico, com outros olhos os problemas do ambiente.
6. Que a intolerância seja uma palavra banida do dicionário, nomeadamente a intolerância sexual.
7. Que ganhasse um prémiozito no euro milhões que me permitisse, não ficar rico, mas enfrentar melhor o futuro.
8. Que o Benfica seja campeão.


Resta a parte mais difícil e “chata”, que é nomear os 8 “sacrificados” e que são:

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fotos do ano

Em jeito de balanço, e agora que já não tenho paciência para aquelas escolhas dos "melhores e piores" do ano, em vários sectores, socorro-me de um assombroso conjunto de fotos escolhidas por uma entidade americana, como as melhores de 2008, para lembrar o ano que agora finda.
Gostaria que daqui a um ano, o tipo de fotos fosse menos centrado na violância, quer humana quer da Natureza, na dor e na tristeza.
Para todos, votos de um bom ano.
Podem e devem ver todas as fotos aqui.

domingo, 28 de dezembro de 2008

A tropa cá do João 13 - (Moçambique 7)

(Nova Freixo, hoje Cuamba)



E veio finalmente a tão esperada ordem de abandonar o aquartelamento da Ilha de Metarica, para rumar até Nampula, onde se faria o desmembramento da Companhia, penso que seria a primeira a ser desmembrada naquela colónia (fora as que regressavam entretanto a Portugal).
Foi com alvoroço e muita satisfação que iniciámos a preparação da coluna auto que levaria os homens e o material ainda operacional até Nova Freixo, uma cidadezinha simpática, onde a guerra nunca tinha chegado, e de onde iríamos depois até Nampula, de comboio. Deixámos no quartel as viaturas inoperacionais e os “edifícios” que serviam de casernas, e de apoio logístico: administração, transmissões, saúde e messe de oficiais e sargentos e ainda um edifício, esse sim construído por nós e que era a minha habitação e posto de comando; fizemos um grande pano onde escrevemos “Oferta do exército português ao povo de Moçambique” e ala., que se faz tarde…Eu fui de avião com o pessoal administrativo, pois transportávamos o cofre e documentação importante que não devia ser transportado em coluna, apesar de esta coluna auto nem poder ser considerada de alto risco.
Chegados a Nova Freixo, todo o pessoal, com dinheiro no bolso pois tinham recebido o pré antes da partida, procurou com naturalidade o óbvio e que não tinham no quartel no mato: diversão, essencialmente baseado no álcool e nas mulheres; até eu, após um bom banho e uma refeição normal na messe me dei ao luxo de ir ao cinema. Instalado na minha cadeira, fui várias vezes interpelado por militares da PM (polícia militar) que me questionavam o que fazer com o soldado A ou B, apanhados com copos a mais a perturbar a santa calma da cidade; a minha resposta foi sempre a mesma, que os prendessem e os deixassem passar a bebedeira na esquadra pois de manhã, estariam bem , a não ser a ressaca; ao menos não provocariam distúrbios…
Passados dois dias, e feito o abate do material, lá rumámos a Nampula, num comboio que quase dava tempo para nos apearmos e voltar a entrar; chegámos à capital militar de Moçambique, após longuíssimas horas de viagem, e nem me passava pela cabeça os trabalhos que me esperavam naquela cidade; mas isso fica para o derradeiro episódio desta saga.

Como há muito não publicava nada desta série, podem seguir o último episódio aqui e aqui.


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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Justiça portuguesa

Boa! Por uma destas é que eu não esperava. Por este andar... dentro em pouco nenhum malfeitor escapa à justiça. Assim mesmo é que é, pois então! A justiça portuguesa está de parabéns!
Depois de anos e anos a batalhar eis que surgem os primeiros resultados.
Desde a morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia,
Ao desaparecimento de Madeleine McCann,
Ao caso Casa Pia
Do caso Portucale Operação Furacão
Da compra dos submarinos
Às escutas ao primeiro-ministro
Do caso da Universidade Independente
Ao caso da Universidade Moderna
Do Futebol Clube do Porto
O Apito Dourado
Ao Sport Lisboa Benfica
Da corrupção dos árbitros
À corrupção dos autarcas
De Fátima Felgueiras
A Isaltino Morais
Da Braga parques
Ao grande empresário Bibi
Das queixas tardias de Catalina Pestana
Às de João Cravinho
As operações imobiliárias da Obriverca
As alterações dos PDM’s para beneficiar construtores.
As acusações feitas por Marinho Pinto bastonário da Ordem dos Advogados e que o MP prometeu investigar.
Dos doentes infectados por acidente e negligência com o vírus da sida?
Do miúdo electrocutado no semáforo
Do outro afogado num parque aquático?
Das crianças assassinadas na Madeira
Do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?
Do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?
A miúda desaparecida em Figueira?
Todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
As famosas fotografias de Teresa Costa Macedo?
Aquelas em que ela reconheceu imensa gente 'importante', jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão?
Os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran
Os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?
O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.
A distribuição aos amigos das casas da Câmara de Lisboa.
Pois é... a justiça portuguesa está de Parabéns!
Depois de anos e anos a batalhar eis que surgem os primeiros resultados. Prenderam um jovem que fez um download de música ...YEAAAAAAAAH!... VIVA!!!!
Primeiro português condenado à prisão por pirataria musical na Internet!... O Indivíduo poderá passar entre 60 a 90 dias atrás das grades por ter feito o download e partilhado música ilegalmente com outros utilizadores!...
Confirmam-se as declarações do Bastonário dos Advogados: “O Ministério Público é muito forte com os fracos e muito fraco com os fortes”, afirmou.
“Existe em Portugal uma criminalidade muito importante, do mais nocivo para o Estado e para a sociedade, e andam por aí alguns impunemente a exibir os benefícios e os lucros dessa criminalidade, sem haver mecanismos para lhes tocar. Alguns até ocupam cargos relevantes no aparelho de Estado português, ostensivamente”, afirmou Marinho Pinto, citado pelos jornais portugueses. Segundo afirmou, “o fenómeno da corrupção é um dos cenários que mais ameaça a saúde do Estado de direito em Portugal'.

(lido aqui)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Inverno

Eu não tenho a mínima formação musical, nem na minha família era comum o gosto pela chamada música clássica; fui portanto um pouco auto-didacta na minha aprendizagem do gosto por este tipo de música. Claro que ouvia falar de Mozart ou Beethoven, mas não identificava os compositores e o máximo que conhecia era o “Hino da Alegria” que sabia ser a parte final duma qualquer sinfonia do génio surdo; claro que me estou a referir à minha infância e adolescência.
Quis o acaso, que uma vez, ao ver um filme, se não estou em erro, chamava-se “O Ídolo”, era com a Jennifer Jones e tratava de um romance problemático entre uma mulher de meia idade e o melhor amigo do seu filho, reparasse numa cena, muito bela da entrega dessa mulher ao adolescente numa sala apenas iluminada pelo fogo de uma lareira (o filme era a preto e branco) e nessa cena havia um fundo musical fortíssimo e que o próprio adolescente, desconhecendo-o quer identificar tendo a senhora em questão indicado que se tratava do “Inverno” de Vivaldi. Nunca tinha ouvido o nome deste compositor, mas no dia seguinte entrei numa discoteca para comprar o disco, pois tinha gostado muito; aí me informaram que podia comprar o vinil em 45 rotações, ou optar pela obra completa, que se chamava “As Quatro Estações” em 33 rotações, opção que escolhi.
Foi este o primeiro disco clássico que comprei e esta a primeira obra sinfónica que ouvi na íntegra; ao longo dos anos desenvolvi o gosto por este tipo de música, comecei a interessar-me e vindo para Lisboa a estudar comecei a assistir a concertos, bailados e óperas, sempre com agrado crescente; mas Vivaldi e o seu “Inverno” sempre ficaram no meu ouvido e ainda é hoje uma das melodias que mais oiço.
Entrados que somos no novo solstício, que coincide quase no calendário com as festividades do Natal e Ano Novo, e porque há muito perdi o gosto pelo Natal tradicional , porque se avizinha um ano assaz difícil e agreste, como agreste é esta estação do ano, e porque vivo momentos de alguma agitação, com características invernosas, por tudo isto, resolvi “comemorar estas festas” com este post, não querendo deixar de desejar a todos que passem esta época o melhor possível e dentro das vivências habituais de cada um.
Por mim, recordo John Steinbeck e chamar-lhe-ia mais apropriadamente “O Inverno do Nosso Descontentamento”.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Déjanito


Vai fazer este mês três anos que te “conheço”. Tudo começou num site da net, em que uma troca de mensagens originou o recíproco envio de endereços de e-mail, e assim durante meses, numa progressiva entrega, fomos encontrando aquilo que afinal ambos procurávamos: o “outro”! Não foi o lado físico que mais me tocou, no que a mim diz respeito; foi a beleza interior que me foste desvendando, mas tive depois o grato prazer de descobrir como a beleza exterior acompanhava a outra…
Mas estávamos longe e não era fácil marcar um encontro para tomar um café, ou mesmo combinar um local a “meio caminho”, para passar um fim de semana; uma deslocação de um de nós ao país do outro era necessária, mas também não era fácil; implicava custos, mas mais que isso, algum risco de se não ser a pessoa pensada. Claro que a “fotografia” estava feita há muito, mas há sempre contornos que só o conhecimento real nos pode revelar; seria que “conjugávamos” na convivência diária em todas as suas facetas, incluindo necessariamente a sexual, como parecia acontecer virtualmente?
Depois de muito conversarmos sobre o assunto, ficou assente que eu iria a Belgrado conhecer-te e ficaria em tua casa durante duas semanas; é curioso que este passo se concretizou apenas após nove meses ( o tempo de uma gestação) depois de nos conhecermos virtualmente, o que mostra que não foi algo de impetuoso…
Descrever a sensação do nosso primeiro encontro, no aeroporto, é impossível! Não há palavras, nem houve quase palavras, apenas um enorme sorriso mútuo e um trocar de dedos no táxi que nos transportou à cidade, até tua casa; aí, mal a porta se fechou por de trás de nós, libertámo-nos e pudemos finalmente “encontrarmo-nos um ao outro", como tanto ansiávamos. Foram 15 dias inesquecíveis e em que consolidei definitivamente o amor que já te dedicava. A separação, a primeira de várias, foi dolorosa.
Depois foi o começo dos encontros, sempre demasiado curtos e das separações, sempre muito sofridas; duas vezes aí, duas vezes cá, em Londres e em Itália; apenas algo mitigou sempre a dor do adeus e foi a certeza, com data escolhida, do próximo encontro.
Durante os longos períodos de separação, estás sempre comigo e há rotinas que não quebramos: um telefonema perto da hora do almoço, quando possível um beijo rápido no MSN durante a tarde e o namoro nocturno, chova ou faça sol, e mesmo quando há compromissos, ou espero por ti ou tu por mim; e por vezes as conversas nem são longas, pois há cansaço ou sono, mas basta ver o teu sorriso e trocar aquelas nossas frases, para ser sempre bom o nosso “reencontro” diário; por vezes, (deixemo-nos de ser hipócritas), mas muito raramente, vamos um pouco mais além, naquilo que a webcam permite, o que não poderá ser considerado mal e que me dá muito mais prazer do que se estivesse a viver uma “situação real” com outra pessoa; finalmente não nos deixamos dormir sem por telefone desejarmos com um beijo uma noite descansada um ao outro.
Esta a nossa rotina, “quebrada” aqui e ali, com um SMS ou um telefonema a dizer “Adoro-te”, de parte a parte ou por uma ou outra notícia mais urgente.
Agora, aprazado que estava o nosso próximo encontro para 2 de Fevereiro, novamente em Belgrado, há infelizmente uma quase certeza de que o mesmo não se irá efectivar nessa data o que acontece pela primeira vez; e, pior que isso, não há, nem pode haver, por ora, uma data certa, apenas a certeza do encontro aí e que será o mais breve possível. Esta desilusão, esta incerteza, traz-me angustiado. Mas há momentos na vida que nos fazem partidas e eu estou a viver um desses momentos; circunstâncias várias, impedem-me de me deslocar nessa data e esse facto apenas aumenta ainda mais os problemas que vou tendo. Sinto que da tua parte, também isto te afecta, embora o teu feitio seja muito diferente do meu; aliás somos mesmo muito diferentes e daí a nossa complementaridade. Eu tenho os meus problemas, variados e reais e tu tens os teus, necessariamente diferentes, mas também reais; daí a necessidade cada vez maior de nos termos, um ao outro.
Como tudo seria diferente para mim, se ao fim do dia, no terno abraço nocturno, te pudesse contar naquele tom de voz “baixinho”, tudo o que vai passando e tu sabes, mas que preciso de te sussurrar enquanto te sinto ao meu lado.
Preciso, mais que nunca, de ti, Déjan, da tua presença, do teu abraço, do teu calor, do teu cheiro… Nunca, ao longo de três anos, precisei tanto de ti, e, logo agora não posso contar os dias que faltam para te voltar ouvir chamar-me aqueles nomes amalucados que inventas para mim e que me fazem tão feliz. E sei que também tu precisas de mim, pois conheço-te como ninguém. Tu, além de mim, não tens ninguém que te conheça por inteiro, a quem possas falar de TUDO aquilo que és, e dos teus anseios; tens amigos fabulosos, conheço-os, mas no teu país, o peso de ser diferente é ainda maior do que aqui.
Preciso muito de ti; pela primeira vez, a distância torna-se insuportável…

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Mudanças em Washington

É já no próximo dia 20 de Janeiro que Bush deixa (finalmente) a Casa Branca. Como se sabe o próximo inquilino será Barak Obama, recentemente eleito presidente dos E.U.A.
Como é normal, nestes casos, os novos "inquilinos" das residências oficiais fazem pequenos ajustes para se sentirem mais de acordo com o seu modo de viver.
Obama apenas pediu uma pequena alteração: que fosse pintada a fachada da sua nova residência; resta um problema - como chamar agora à casa oficial do presidente americano?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

"We All Sleep Alone"

Numa versão bastante diferente daquela que Cher cantou, uma bela canção, numa bela voz e um cantor "especial" - Ron Morris!!!



Somebody, somewhere, turns off the lights
Somebody all alone faces the night
You've got to be strong when you're out on your own
Cause sooner or later, we all sleep alone

Nobody, nowhere, holds the key to your heart
When love's a possession, it'll tear you apart
You may have lovers wherever you roam
But sooner or later, ooh, we all sleep alone

Oh, the young and the young at heart wait
But the wait never ends in the soul
When you feel love is all gone away
Independence has come
And into the night I go

Don't make no promises that I can't keep
I won't be no prisoner of somebody's needs
You may have lovers wherever you roam
But sooner or later, ooh, we all sleep alone
Ooh, we all sleep alone

Yeah, yeah, we all sleep alone, yeah
And I know, And I know how you feel
Like I've taken what you're saying to me
Cause we all sleep alone
Yes, we all sleep alone

domingo, 14 de dezembro de 2008

"Porque ainda se morre de amor" (transcrição)



Não é de todo meu hábito transcrever textos, a não ser que sejam necessários para desenvolver um tema ou porque assim consigo exprimir conceitos, ideias ou sentimentos que desejo transmitir. Ainda menos é habitual transcrever na íntegra um texto de outro blog, penso mesmo nunca o ter feito até aqui, mas tudo tem uma excepção e ela surge hoje e aqui, com a transcrição integral do último post do amigo “Melões Melodia”, que penso me perdoará a descortesia; mas não consigo reprimir a emoção que me provocou a leitura deste texto, e visto apenas termos 3 ou 4 bloguistas comuns nos nossos links, gostaria que este maravilhoso e comovente texto, tivesse a maia ampla divulgação possível. Apenas não coloquei o vídeo com a cena do filme “Amadeus”, mas reproduzo a fabulosa música de Mozart.




"Porque ainda se morre de amor
Hoje fico em casa. Deveria sair, meter-me na confusão da grande metrópole sob a copiosa chuva, o vento desagradável, o frio, fazer as compras de Natal, enfrentar os grandes armazéns cheios de gente, mas fico em casa.
Hoje estou como o tempo, cinzento, chuvoso, porque não sei lidar com o que não consigo entender.
Ontem vi morrer uma criança. Nunca tinha visto morrer ninguém mas não esperava ver morrer uma criança.
Chamou pela mãe que não estava. Depois chamou por mim que não estava. Mas eu, ao contrário da mãe, estava na mesma cidade e não noutro continente.
Já falara antes aqui do meu menino. O único que não estava terminalmente doente e que ficara sem mãe devido à burocracia estúpida e à lei cega e insensível que pensa defender a civilização ocidental mas a despe da boa moral, da alegria e do amor.
Não foi a doença que matou o meu menino, foram as leis. Desde que a mãe teve de tomar a decisão, fazer a impossível escolha, pior do que a de Sofia e bem mais real, que o menino deixou de comer e quando o fazia, rejeitava, e nesta rejeição não só dizia que não à comida mas também ao tratamento. Com os meses o brilho dos olhos definhava, o olhar tornava-se perdido e ver este olhar numa criança, dói.
Quando me via, sorria e abraçava-me. Pedia-me para não desaparecer como a mãe havia feito.
Ontem quando me ligaram, saí do escritório e fui ao hospital.
Desta vez não me pediram que me desinfectasse ou vestisse a bata azul ou que cobrisse os sapatos. Disseram-me: “Entra, só chama pela mãe e por ti. Achamos que não passa desta noite.”
Sorri-lhe como pude. Sorriu-me e pediu-me um beijo. Estive ali três horas a olhar para o meu menino, o meu preferido, a sorrir-lhe e a passar-lhe a mão pelo cabelo encarapinhado. No silêncio cortado pelo “bip” das máquinas.
Adormeceu mas eu fiquei ali a olhar para ele de coração partido e alma desfeita. Estremeceu, abriu os olhos, olhou para mim e sorriu. Aqueles olhos enormes naquele rosto tão magro.
E num minuto o "bip" tornou-se infinito, entraram as enfermeiras, o médico enquanto eu assistia a tudo como se fosse um filme em câmara lenta e só via aqueles olhos grandes fixados em mim.
A cidade calou-se à minha volta e a paz reinava. Fui até a casa e sentei-me às escuras no silêncio. Ignorei o telefone quando tocou, fugi dos compromissos que tinha, vira morrer uma pessoa, uma criança, o meu menino.
Já tarde, quando as pessoas que haviam saído já dormiam, saí, caminhei lentamente sob a chuva da madrugada que me lavava a alma e acalmava a revolta.
Entrei em casa ensopado, já o céu clareava. Dormi profundamente e quando acordei ainda chovia.
Ainda vejo aqueles olhos grandes e negros fixados em mim.
Para muitos, para as estatísticas, foi mais uma criança que morreu de sida.
Para mim foi uma criança que morreu por amor."




quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Soldadó"

Há tantos livros que tenho na prateleira e tanta inércia para os ler, que para quebrar essa inércia, resolvi pegar num livro pequeno, que não me demorasse muito a ler; quis o acaso que esse livro fosse um dos que há mais tempo repousam na prateleira, e é um dos muitos que tenho comprado sobre a Guerra Colonial, pois é um tema que muito me interessa pessoalmente.
O livro em causa chama-se “Soldadó” (não, não é erro, é mesmo este o nome), e é de autoria de Carlos Vale Ferraz (pseudónimo de Carlos Matos Gomes), que nasceu em 1946 em Vila Nova da Barquinha, fez os estudos secundários no Colégio Nun’Álvares em Tomar e frequentou a Academia Militar. Entre 1967 e 1974 cumpriu missões militares em África. O seu primeiro romance e o mais célebre foi “Nó Cego” (1983). A ele se seguiram “De Passo Trocado”(1985) e a novela “Soldadó” (1988). O tema destes livros foi sempre o mesmo: a Guerra Colonial; dentre outros livros publicados posteriormente, alguns dedicados a vivências africanas, mas não exclusivamente sobre a guerra, avulta “Os Lobos não usam Coleira” (1991), que foi adaptado ao cinema – “Os Imortais” de António Pedro Vasconcelos.
“-Os portugueses são o melhor povo do mundo em reconciliações, palavra de honra! - garantiu o capitão Baltazar. - Um português nunca fica de mal com o semelhante para sempre!
- Temos a esperteza suficiente para saber que um dia podemos vir a precisar de um favor dos nossos inimigos… - apoiou o Majorué.
- Sim, se não falássemos àqueles que nos ofenderam a quem iríamos meter cunhas?”



Este pequeno trecho é bem elucidativo de que o teor do livro “Soldadó” de Carlos Vale Ferraz vai muito além da análise do clima de guerra, para esboçar determinadas convicções acerca da maneira de ser das nossas gentes.
Soldadó é um militar deslocado para África, em plena Guerra Colonial. Pouco dotado de inteligência e obediente que nem um cão, Soldadó sente-se às mil maravilhas nas suas funções militares. Acata todas as ordens que os sargentos lhe dão com um «sim, senhor» entusiasta, só se sentindo em segurança ao cumpri-las.
De um combate misterioso que ninguém sabe ao certo como começou, Soldadó foi o único ferido. Abre-se um inquérito para tentar esclarecer os factos ocorridos.
É neste inquérito que os sargentos vão contando ao comandante encarregado do relatório a história incrível de Soldadó – o seu nascimento em Cabeça Seca, a sua incursão na vida militar, a viagem para África a bordo do Niassa, as suas funções militares em África.
Com muito humor, são também relatados pitorescos e caricatos acontecimentos militares, pondo em causa toda a instituição militar e, muito particularmente a Guerra Colonial.


Estou agora a ler, com entusiasmo crescente "Nó Cego" e cada vez mais sinto que devo completar a saga "A guerra cá do João", aqui no blog, mas como se diz, "o rabo é o que mais custa a esfolar"...