sábado, 24 de janeiro de 2015

OLPE


Pois cá estou eu em Olpe, na região oeste da Alemanha, mais concretamente na Renânia do Norte . Vestfália, região rica e industrializada e por onde, como o nome sugere, corre o Reno.
Depois de um voo sem sobressaltos até Dusseldorf, pela TAP e que era uma das duas alternativas que eu tinha para chegar de avião perto desta cidade (a outra era Colónia), começou o problema de chegar a Olpe.
O Déjan já me tinha avisado de que sem ser por estrada (acessos magníficos), esta cidade, aliás como muitas outras cidades de pequena dimensão, na Alemanha, têm um péssimo serviço de transportes públicos.
Por autocarro parece que o único contacto é para Siegel, mais a sudeste e de comboio é necessário utilizar três diferentes comboios para ali chegar, quatro, se considerarmos o super-moderno transporte rápido entre o terminal e a estação de Dusseldorf – aeroporto
Depois uma primeira ligação até Bochum, e da qual perdi o primeiro comboio por falta de informação, tendo que aguardar 30 minutos pelo seguinte, depois um outro de Bochum até Finnentrop e daqui num comboio tipo automotora que anda devagar e “pára em todas” até Olpe (estação terminal).
Isto resumido, para fazer uma distância de 78 kms, demorei quase 4 horas...(vá lá todos os comboios eram confortáveis e quentinhos).
Chegado a Olpe, e segundo informações do Déjan seriam cerca de 10 minutos a pé até ao Hospital
( o apartamento dele é mesmo junto ao hospital), mas eu já devia saber que 10 minutos para o Déjan nunca serão menos de meia hora para mim.
Mas enfim, perguntando aqui e ali lá cheguei ao “Café com Leche”
mesmo ao lado dos apartamentos dos médicos e onde deveria esperar por ele.
Estava com uma fome dos diabos e ataquei uma sandes daquelas que”tem tudo”...e entretanto o Déjan apareceu...
Pois, foi muito bom rever alguém que já faz parte da minha vida há 9 anos e que não via desde Outubro de 2013.
Foi só entrar na porta ao lado e no 5º.piso lá estava o apartamento que lhe está destinado, e que é um quarto grande, com uma mesa enorme, dois sofás, uma cadeira e um banquito, dois móveis, um guarda – roupa uma boa televisão e um pequeno frigorífico; a cama é pequena para os dois, mas que todos os males sejam esses...
 Um quarto de banho com poliban, muito razoável e no corredor do andar (6 quartos) há uma cozinha comum com um grande frigorífico, fogão com forno e micro-ondas e uma mesa, claro.
Há ainda uma divisão com máquinas de lavar e secar roupa e onde estão os utensílios de limpeza. Enfim, bastante bom, a 1 min. do trabalho (é só atravessar o átrio das traseiras e está-se no hospital) e com uma renda mensal de 200 euros, o que é óptimo (menos de 7 euros por dia), e com aquecimento sempre ligado, pode estar-se de calções e tee-shirt em toda aquela zona.
Para almoçar vou ao bar-restaurante do hospital
que é público, acessível em preços e com excelente comida, tendo já feito uma boa amizade com uma das funcionárias de lá.
O jantar ou vamos comer a algum lado, coisas rápidas ou compramos comida feita e aquecemos em casa e comemos na cozinha.
O Déjan trabalha muito e aflige-se imenso por não me dar mais tempo, mas eu já sabia que era assim e ele também e é óptimo saber que está ali ao lado e que chega “dali a pouco”.
Ele está no serviço de “Psiquiatria”, que adora, e onde está integrado numa equipa de 7 pessoas, mas sucede que, de momento, dois estão de férias e outros dois estão doentes, pelo que lhe cabe a ele e a duas colegas (uma grega e uma romena) assegurar todo o serviço.
É um vai-vem e é um serviço difícil (agora mesmo me ligou dizendo que um dos seus pacientes tentou uma vez mais o suicídio, mesmo lá no hospital...
Eu passo o tempo que estou só, ou no quarto, ao computador e a ler (abençoado “Salto Mortal”, do qual já li mais de 450 páginas das quase 900 que o livro tem) e passeio...
É tempo de falar de Olpe!
É uma cidade pequenina, ou melhor com um centro pequenino, que se percorre num ai, mas depois tem várias colinas com casas, presumo que meramente residenciais.
A população será de pouco mais de 30.000 habitantes, que se veem por todo o lado, nas lojas, nos cafés, nos centro comerciais, mas que desaparecem quase por completo quando a noite cai...
Depois das 9 horas quase não se vê viv'alma e está quase tudo fechado, havendo alguns restaurantes (poucos) abertos e um ou outro Café-Bar, apenas um com movimento real - o  Goldener Lower

Como já disse, é uma cidade em que é quase obrigatório ter carro, não porque as distâncias sejam longas (antes pelo contrário), mas porque sem carro é difícil chegar e partir daqui.
Com automóvel será uma maravilha, com ligações por auto estrada sem portagens para todo o lado e com várias cidades a curta distância, tudo menos de 100 kms – Colónia, Dusseldorf, Dortmund, Hagen, Siegel, Bochum...
Assim o Déjan vai comprar um carro em segunda mão, mas em boas condições, provavelmente um Ford Fiesta e que lhe custará cerca de 600/700 euros...
Claro que só o vai utilizar para sair de Olpe, mas alarga-lhe os horizontes...
Entretanto há que dizer que a comunidade que aqui vive é muito conservadora, essencialmente católica, vive bem, apresenta-se bem e tem excelente nível de vida.
São simpáticos e eu quase poderia resumir a uma palavra esta cidade, a um termo, que claro não desejo que seja redutor e essencialmente não seja mal interpretada – é uma cidade “clean”!
“Clean” não no sentido oposto ao de “sujo”, mas sim porque aqui não há pobreza de espécie alguma, não há racismo porque não há negros, os muçulmanos existem mas passam desapercebidos e embora haja muita gente de fora a viver aqui, sentem-se bem integrados; por exemplo no hospital que é enorme trabalham imensos estrangeiros – aqui neste 5º.andar está um árabe, um ucraniano, uma polaca e não sei mais quem – todos médicos, é óbvio...
Noto o Déjan perfeitamente integrado, gostando verdadeiramente do que faz e sei que é bastante estimado, não pensando num futuro próximo sair de Olpe e parece ser a Psiquiatria a sua especialidade preferida – aliás o hospital, com muitas valências tem na Psiquiatria a área mais importante.
Em Olpe há uma igreja magnífica, a St.Martinus Kirch, com uma porta fabulosa
católica e a cuja paróquia pertence o hospital que tem o mesmo nome. Por dentro é moderna, minimalista e com vitrais belíssimos
Ao contrário, há aqui um edifício, pseudo-moderno, que é um “mamarracho” e destoa do resto da cidade – é a “Rathaus” (Câmara Municipal)
 Entretanto hoje tem nevado todo o dia e com uma temperatura bem suportável (2º) foi maravilhoso andar a ver o centro coberto de neve


É muito curiosa esta minha experiência de viver duas semanas numa cidadezinha alemã típica e ficar a conhecer algo mais do mundo...
 Mas, o que interessa mesmo é poder estar todos os dias com o Déjan, que na próxima sexta-feira me vai pagar um jantar “como deve ser”, pois só uma vez na vida se começa a ganhar um ordenado e logo de mais de 2200 euros...

18 comentários:

  1. Boa estadia e bom jantar :)

    Aproveita bem esse tempo todo :)

    Grande abraço amigo

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    1. Obrigado, Francisco
      vai ser um jantar a comemorar muito mais do que um primeiro e bom ordenado, a comemorar a nossa vida, passada, presente e futura.
      Abraço amigo.

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  2. Gostei imenso deste teu relato João. Achei particularmente interessante aquele meio de transporte que parecia "brincar" com a "gravidade". Fico muito feliz que estejas com o Déjan, que ele esteja perfeitamente integrado no seu trabalho e que esteja a ser tão bem sucedido. A área dele é muito delicada e importante e é excelente que ele se sinta realizado a trabalhar nela, pois assim poderá ajudar plenamente as pessoas que o procurarem. Um grande abraço a vocês os dois e muitas felicidades a ele! ^^

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    1. Olá, João
      Se os outros três fossem tão rápidos como aquele primeiro "comboio", eu teria chegado bem mais cedo a Olpe...
      Eu estou mesmo feliz por ver o Déjan tão bem inserido neste seu difícil trabalho, mas acaba por não me surpreender pois eu conheço-o perfeitamente e sempre estive seguro das suas qualidades como homem e como profissional. no entanto, não é fácil para ninguém começar a trabalhar, e fazê-lo num país estrangeiro e numa área especialmente delicada, e ele está a fazê-lo com grande dedicação e apreço, o que me enche também de orgulho, pois eu sempre o apoiei mesmo nos momentos difíceis e tantos foram nestes últimos dois anos.
      Obrigado pelas tuas palavras.
      Abraço amigo..

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  3. João, que tudo te corra muito bem e aproveita todos os minutos que vais estar ao pé do Déjan! Que mais posso eu desejar? Que te saia o euro-milhões:-)))))) (pelo sim pelo não, joga!)
    Um beijo para contares ao vivo aquilo que tão bem estás a descrever.

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    1. Justine
      está tudo a correr bem, embora não seja como das outras vezes pois o Déjan está a trabalhar (aqui mesmo ao lado...), mas é bem melhor do que estarmos separados. E quando eu regressar, claro que ficarei triste, mas com a certeza de que a separação não será demasiado longa.
      Para pormos a "escrita em dia" vai haver daqui a pouco tempo outro "jantarinho" para "lançar" o novo livro do Miguel e da INDEX - "Fados". Ou eu ou o João Máximo te contactaremos acerca disso.
      Beijinho.

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  4. que belo post, João, com tantas novidades. obrigado por partilhares connosco todas estas coisas, sobre a cidade, sobre a vossa vida aí, sobre a casa, sobre o trabalho do Déjan. assim parece que também nós partilhamos a vossa alegria do reencontro e a felicidade da perspectiva de futuro.
    devo dizer que até fiquei com um bocadinho de inveja, apetecia-me estar aí, a conhecer uma cidade nova (e para mais assim pequena, comum), ir lanchar ao café con leche e até, ossos do ofício!, visitar um hospital e ver como as coisas se passam aí a esse nível.
    espero que continue tudo a correr bem e espero também que continues a partilhar notícias e fotos connosco.
    beijos e abraços a ambos e tudo tudo de bom para vós.

    (claro, nada disto impede que esteja aqui ansioso para que voltes, fazes falta)

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    1. Miguel
      depois de tantas viagens, é uma experiência nova e muito interessante, mas viver aqui sempre e sem nada que fazer também não. O Déjan não se queixa pois não tem tempo para se coçar, com tanto trabalho...
      Estes dias têm sido terríveis para ele com colegas doentes, outros de férias e sobra para os que restam, claro...
      E depois tem o complexo de que eu me aborreço por ele estar ocupado, quando eu sabia perfeitamente para o que vinha...
      Mas os momentos em que estamos juntos compensam tudo...
      Abraço amigo.

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  5. só para acrescentar que já conhecia algumas das 'atracções' de Olpe, como a Rathaus e a igreja. sim, claro que fui bisbilhotar a cidade no google, não é?, era o que faltava, vcs estarem aí e eu não ir cuscar ;)

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    1. Miguel
      então vai bisbilhotar também o que há sobre o hospital - St.Martinus Hospital - Olpe.
      Abração.

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  6. eu gosto de cidades pequenas :) e Olpe é um mimo.
    a foto lá em cima é de um monocarril? parece-me, andei no do Wuppertal há uns anos.
    200 €? bem bom!
    são férias merecidas. aproveita bem, recarrega baterias, lê muito (ler muito já lês, quem devora o Salto Mortal num piscar de olhos, e se é um tijolo!, bem! :D), ama muito, tem paciência com a situação do D., e carpe diem, todos os dias e muito, muito bem.
    bjs.

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  7. Sim, Margarida, Olpe é muito "maneirinha", mas só isso. Viver aqui se não houver um trabalho pode-se tornar maçador, mas com um carro, em meia hora está-se em Colónia ou Dusseldorf...
    Sobre a situação do Déjan, o que mais me custa é ele sentir-se culpado de não poder estar mais tempo comigo e não há razão para isso, pois eu sabia que não iríamos ter uma situação de disponibilidade como havia antes...
    Beijinho.

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  8. Quem diria que os transportes públicos aí são tão maus quanto os de cá. Curioso. :)

    Reitero o que foi dito acima: fico muito feliz por ti, João. A excitação está patente em cada palavra. O sabor do reencontro deve realmente ser único. Aproveita-o (haha), aproveita também a fantástica neve e tudo o mais que haja para desvendar por aí.

    um grande abraço a ambos!

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    1. Mark
      eu não digo que os transportes aqui são maus, apenas que há localidades muito mal servidas deles. Hoje fui à estação para saber os horários dos comboios para o meu regresso na terça feira e não há nada, só a linha, que é terminal, onde a automotora que chega da cidadezinha mais perto - Finnentrop - e não há sequer um pequeno edifício com bilheteira, apenas dois bancos com resguardo em que estão afixados os horários de chegada e partida. Os bilhetes compram-se numa máquina dentro do comboio. Depois em Finnentrop, cuja estação pouco melhor que esta é, aí há duas linhas mas suponho que também só posso comprar o bilhete no comboio...
      Mas vou cedo para não ter problemas no aeroporto de Dusseldorf. Isto para fazer 78 kms por autoestrada...
      Claro que toda a gente tem carro!
      Obrigado pelas tuas palavras amigas.
      Abraço amigo,.

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  9. Adorei esta visita guiada a Olpe ! A tua descrição é minuciosa, dá para te seguir passo a passo.

    Mas, acima de tudo, apreciei saber que estás bem :-) Há algum tempo que ansiavas por esta viagem. Mas que bom! Espero que aproveites todos os momentos e te sintas feliz!

    (Maus transportes na Alemanha? Então não são só os países do sul que não têm organização e que têm maus serviços ?)
    ;-)

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  10. G- Souto
    sim, estamos muito felizes, com este reencontro e ainda mais agora depois do Déjan ter recebido o seu primeiro, "rechonchudo", mas merecido, ordenado.
    E quando na próxima terça feira nos despedirmos, sim, vai custar, como sempre, mas vamos ter a certeza de um novo encontro ainda este ano.
    Quanto aos transportes colectivos entre cidades pequenas, aqui no paraíso da senhora Merkel, afinal há algumas lacunas quase imperdoáveis.
    Beijinho.

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  11. Falamos do nosso país como fosse o pior em tudo e os grandes mostram que tb não é como se fala.
    Nota se no teu texto que tas mt feliz.
    Abraço mt grande.

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  12. Olá Anselmo
    Claro que nada é completamente bom em nenhum lado. Eu nunca simpatizei muito com os alemães, embora tenha que considerar que aqui a vida é vivida com muito mais facilidade, tudo corre nos parâmetros normais para que as pessoas se sintam bem.
    Mas há falhas, como este caso dos transportes públicos, embora seja um assunto que eles torneiem bastante bem, até porque dentro da cidade os transportes públicos são bons e as vias rodoviárias excelentes; então é simples - compra-se um carro, que pouco se utiliza dentro da cidade (o trânsito é perfeitamente normal), mas que é essencial para pôr as pessoas em qualquer lado rapidamente (tudo autoestradas e sem portagens). Quem paga as favas? Quem não pode comprar um carro, que até é pouca gente...O Déjan comprou um, em excelentes condições por 800 euros!
    Quanto a mim, e embora esteja já quase de partida, claro que estou muito feliz.
    Abraço amigo.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!