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quinta-feira, 16 de abril de 2015

Doce Pássaro da Juventude


Vou dizer por palavras minhas muito pouco sobre esta peça produzida pelos Artistas Unidos e em exibição no S.Luiz, aqui em Lisboa.
 Apenas referir que achei a peça soberba em todos os aspectos, que considero Maria João Luiz uma das melhores acrizes da actualidade, que vejo Rúben Gomes a melhorar de papel para papel, que é admirável ver um actor como Américo Silva.
 E dizer que acima de tudo e num resumo demasiado simplista e talvez demasiado redutor, que é uma peça sobre essa tenebrosa palavra: o TEMPO.

De resto deixo um apontamento que transcrevo do programa:

"Uma actriz (Alexandra Del Lago) que envelhece e enfrenta o desastre de uma vida, longe dos doces anos da sua juventude. Um rapaz( Chance Wayne) que a conduz de volta à sua terra natal. É domingo de Páscoa, mas nada vai ressurgir, não haverá ressurreição. Mas todos procuram voltar a um passado feliz que um dia teve lugar. Enquanto decorre uma sórdida manobra política. Uma das peças mais secretas (e problemáticas*) de Tennesse Williams – e como tantas vezes a derrota perante o tempo, o derradeiro voo do pássaro da juventude?"

Mas deixo sobretudo um texto absolutamente genial de Jorge Silva Melo, que a propósito desta peça vai além dela e presta uma maravilhosa homenagem aos seus artistas. 
Mas convém não esquecer aquilo que a modéstia de Jorge Silva Melo não lhe permite escrever: sem ele não teríamos esta magnífica companhia de teatro tão bem denominada Artistas Unidos, sem ele, o teatro português estaria incomensuravelmente mais pobre. 
Por isso mesmo, muito obrigado Jorge Silva Melo.

ACTORES DESTES DIAS
São tão extraordinários, tão dotados, tão únicos os actores com quem há anos venho trabalhando uma, duas, só três ou quatro vezes, é tão extraordinária a liberdade e a integridade conseguidas nestes já quase 20 anos dos Artistas Unidos. E estava a ver as rugas começarem a surgir, os cabelos brancos a aparecer e pensei: não quero que estes actores a quem tudo devo, a vida, a arte, o amor, tudo, a vida de todos os dias, não quero que percam aqueles papéis que foram escritos para eles, não quero deixar passar o tempo, quero ver a Maria João Luís, quero ver a Catarina Wallenstein, sim, quero ver o Rúben Gomes, quero ver o Américo Silva, quero ver a Isabel Muñoz Cardoso, quero ver a Vânia Rodrigues e o Nuno Pardal e o Tiago Matias e o João Vaz, estes que se têm juntado a nós, sim, quero vê-los decifrarem comigo as tortuosas peças de Tennesse Williams, aqueles papéis que só podem fazer agora, agora que o doce pássaro da juventude lançou voo.
Comovi-me quando li o meu adorado Peter Stein dizer ao jornal Público “nunca quis ser encenador quando era novo, quero só ajudar uns actores”. É tal qual: ajudar uns actores que admiro, encontrar teatros, dinheiro, tempo, colegas, roupas para eles nos darem o que só os actores sabem, lágrimas, risos, suores, no fundo, abraços estreitos durante a noite.
E assim nasceu esta ideia de revisitar Tennesse Williams, fazer “Gata em Telhada de Zinco Quente” em 2014, “Doce Pássaro da Juventude” agora, “A Noite da Iguana” lá mais para a frente, peças de outros tempos, de outros palcos, peças que saberei ajudar a fazer, peças que, garanto, foram escritas aguardando os seus corpos, estas vozes.
Pois só isso agora desejo: ajudar a fazer.
E que cada espectador possa guardar dentro de si a ousadia destes artistas cuja disponibilidade não sei se merecemos.
Assim, voltamos a ver aqui no “Doce Pássaro da Juventude” quase todos os actores com quem trabalhei “Gata em Telhado de Zinco Quente” que estreámos em Setembro de 2014 em Viseu e andou pelo país. E mais alguns que a nós se juntam. Como se fôssemos uma companhia fixa, tivéssemos salas de ensaio, programássemos horas e dias, temporadas e trabalhos. Porque os actores têm dentro de si inesperadas personagens, máscaras, poesias.
Estreada em Nova Iorque em 1959 com encenação de Elia Kazan* e interpretação de Geraldine Page, Paul Newman e Rip Torn, “Doce Pássaro da Juventude” que Richard Brooks filmou em 1962 com quase todo o elenco original

é uma peça desequilibrada, poderosa, desarrumada, insólita em que Williams se debate com as convenções da sua Broadway e avança para campos apenas entrevistos*. Joga técnicas consideradas impossíveis, escreve um primeiro acto que é em si mesmo uma longa peça de duas personagens, desenvolve no segundo personagens e temas imprevistos, abandona personagens, são duas horas de vertigens várias, dolorosas.
E mais uma vez pede ao espectador que partilhe um segredo. “Eu não vos peço piedade, só peço a vossa compreensão – não, nem isso – não. Apenas que me reconheçam a mim dentro de vós próprios, e ao inimigo, o tempo, em todos nós.”, diz Chance Wayne e podia acrescentar com o imenso Baudelaire “hypocrite lecteur, mon semblable, mon frère”.
Talvez seja esse o seu apelo, tratar-nos como irmãos.
Mas será possível devolver ao teatro aquilo que aparentemente o cinema fixou? Será possível voltar a estas peças sem as cores esplendorosas de Hollywood? Será possível a St,Cloud (cidade onde a peça se desenrola) sem Kazan nem Richard Brooks? Será possível ver outra vez Alexandra Del Lago e Chance Wayne e ver como eles falam mesmo de nós, da nossa cobardia, dos nossos medos, do tal “tempo que passa por cima de nós”? Será possível voltar a pôr no palco estes dilemas, esta ansiedade, esta sofreguidão?
Olha, é uma aposta. E aqui estamos”.


* - não percam a leitura deste magnífico texto da autoria de Carlos Marques da Silva 

terça-feira, 27 de maio de 2014

"Quotidiano Anotado"

“Quotidiano Anotado”, que o Teatroesfera, de Massamá tem em cena e que fui ver no passado domingo, após ter votado, decorre no hall de entrada de um prédio, onde as personagens interagem e partilham pensamentos sobre a vivência de uma micro sociedade tais como controladores, idealistas, salvadores, resignados, amorfos, doidos, rebeldes, cruzando conceitos à porta do elevador.
Desafiando o habitual, o Professor que constrói uma tese de doutoramento a partir de anotações do quotidiano, anotando minuciosamente o comportamento das personagens que habitam o prédio, conclui que «é mais improvável o homem dominar o Quotidiano do que alcançar a Felicidade na Terra».
Rui Cacho
em cuja figura se centra a personagem do Professor, um autor instigador de um olhar inteligente e humor acutilante sobre a realidade, é um cidadão de Monte Abraão que conheceu e retratou em crónicas os habitantes deste prédio, que foram moldados em personagens reais neste espectáculo pela mão de Paula Sousa, também ela moradora nesta freguesia. Aliás, Paula Sousa tem a seu cargo a encenação, dramaturgia, cenografia e figurinos deste espectáculo. 
E no que respeita à interpretação ela apresenta aqui cinco jovens actores a quem deu formação durante 3 anos, no Curso de Artes do Espectáculo da Escola Gil Vicente: Ana Pestana, Beatriz Pinto, Murillo Camargo, Inês Filipe e Isaías Manhiça. 
Junto com eles estão sete actores do Grupo de Teatro da APRIMA (Associação de Reformados Pensionistas e Idosos de Monte Abraão), o que é sempre de enaltecer, pois ocupa com muito proveito o tempo de gente de mais idade e que, nalguns casos, vai mesmo muito bem, que é o caso de Manuel Teixeira, sendo os restantes, Irene Rico, Francisco Ventura, Isaura Almeida, Isaura Conceição, Lurdes Gonçalves e Raúl Rodrigues. 
Finalmente quatro actores profissionais: Emanuel Arada (o Professor), Isabel Ribas, Tiago Ortiz e José Graça. 
É um teatro que foge por completo ao intelectual, feito por assim dizer com a “prata da casa”, já que o dinheiro não abunda, mas que retrata muito bem a vivência da gente da terra, e que curiosamente tinha na assistência um prolongamento das personagens, já que a grande maioria eram pessoas pouco habituadas a ver Teatro, mas que viveram muito intensamente a trama, aplaudindo quando gostavam, interrompendo a cena e que riram com as cenas caricatas daquele dia a dia que afinal é o seu. 

Um apontamento particular e que divertiu quem estava nos lugares perto: mesmo ao meu lado estavam duas pessoas, pai e filho, de sessenta e tal e trinta e tal respectivamente; acontece que o mais novo sofrerá de algum problema mental e embora estivesse quase sempre bem, a um dado momento começou a ter “gases sonoros” e de cada vez que isso acontecia, o pai dizia-lhe “então pá que é isso?” e ele desculpava-se em voz alta para o pai e para as outras pessoas “desculpa, desculpem”… 
A partir de meio do espectáculo começou a pedir em voz alta ao pai que o levasse à casa de banho e o pai dizia-lhe “aguenta, rapaz…”. 
No final vim a saber que eram o marido e o filho da actriz mais velhinha, que veio ter com eles – cenas de um “Quotidiano Anotado”…

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Um excelente fim de semana

Foi um excelente fim de semana, marcado por dois acontecimentos bastante diferenciados e qualquer deles muito gratificantes.
Em primeiro lugar, quero referir-me à visita a Lisboa do meu amigo de há muito, o Edu, que há anos andava a “ameaçar” vir até cá, mas só agora cumpriu a “ameaça”. Trouxe com ele excelente companhia: a sua Mãe, D.Augusta, pessoa simpatiquíssima e com quem se pode falar de tudo com uma amabilidade extrema, e também o seu namorado, o Reginaldo, com quem o Edu faz um excelente par.
O Edu é exactamente aquilo que eu sempre julguei pelo que lia no blog e nos contactos que íamos tendo – uma pessoa com um dom especial de convivência, com um discurso muito particular e saborosíssimo, naquele linguarar de Sampa, que é muito mais que o brasileiro a que estamos habituados; tem um humor muito apurado, e é de uma grande ternura.
Passei com eles o dia de sexta feira, tendo-os levado de carro naquele “velho percurso”: Lisboa, Sintra, com Pena incluída, Praia das Maçãs, Azenhas do Mar, Cabo da Roca, Boca do Inferno, Cascais, Estoril, e depois uma visita aos pastéis de Belém e ainda uma ida ao Cristo Rei, para ver Lisboa de frente, sempre tão linda.

No sábado fomos jantar ao Parque das Nações, num grupo alargado ao Miguel Nada, à Margarida Leitão e ao João Máximo e Luís Chainho, em casa de quem acabámos a noite (moram mesmo pertinho da Expo)
a apreciar uma torta de laranja deliciosa que a Margarida fez para a ocasião e numa tertúlia muito interessada sobre música brasileira e música portuguesa, e seus intérpretes
 Foi uma bela noite.

Hoje domingo, fui à tarde, com o Miguel, ver a última produção teatral dos Artistas Unidos, no TNDM, “Regresso a casa”, de Harold Pinter, numa encenação de Jorge Silva Melo, que também é intérprete.
O protagonista é o fantástico João Perry, no papel de Max, o pai, que vive com dois dos seus filhos, interpretados por Elmano Sancho e João Pedro Mamede e com o seu irmão (JSM), e a este núcleo familiar totalmente masculino, muito marcado pela ausência de uma figura feminina ( a mãe, já tinha falecido???), junta-se o terceiro filho, que vive nos EUA e traz com ele a sua mulher, que a família ainda não conhece. Este casal é interpretado por Rúben Gomes e Maria João Pinho.
Note-se que todos estes actores à excepção de João Perry, fazem parte dos elencos habituais da companhia dirigida por J.Silva Melo e são todos actores de excelência.
A peça, uma das mais conhecidas de Pinter é muito forte e a única personagem feminina torna-se o centro não só da narrativa, como toma mesmo o centro nevrálgico daquela família tão peculiar.
É uma peça que eu atrever-me-ia de qualificar de amoral, mais do que imoral, pois aqui a moralidade não existe…Fortíssima pois, como é hábito de Pinter.
Jorge Silva Melo
já muito experimentado na encenação do dramaturgo inglês, não tem qualquer dificuldade em assinar uma encenação, a todos os títulos brilhante.
É uma peça imperdível, do melhor que tenho visto nos últimos tempos.

E, "the last, but not the least", o meu Benfica, sagrou-se hoje, praticamente campeão nacional da época 2013-14 (falta-lhe um ponto e três jogos para o conseguir). 
Absolutamente justo este título do SLB.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dos "Artistas Unidos", "Punk Rock"


Fui ver na quarta feira passada ao Teatro da Politécnica a peça de Simon Stephens "Punk Rock",
e a primeira surpresa (pouco agradável) que tive, é que já não havia bilhetes, uma hora antes.
Como era o antepenúltimo dia de representações, e não poderia ir sexta ou sábado, corri o risco de não ver a peça.
Mas esperei pacientemente pela entrada dos espectadores e depois lá me deram entrada e sem pagamento de bilhete…

Antes de falar da peça, gostaria de fazer uma pequena introdução sobre a companhia “Artistas Unidos” que agora ocupa e muito bem estas instalações onde funcionou em tempos a cantina da antiga Faculdade de Ciências e onde tanta vez eu comi, pois morava ali mesmo na Rua de S.Marçal.
 Esta companhia foi fundada em 1995 por Jorge Silva Melo
que já havia sido cofundador (com Luís Miguel Cintra), do Teatro da Cornucópia (1973/1979), e estreou-se com a peça do próprio JSM “António, um rapaz de Lisboa” e que o autor posteriormente transpôs como realizador para o cinema.
Foi no velho e incrível espaço de “A Capital”, no Bairro Alto que vi as primeiras peças desta companhia que sempre me despertou a atenção e o interesse, ali permanecendo até 2002, e entretanto o espaço recebeu o nome de Teatro Paulo Claro, em merecida homenagem ao jovem actor tão precocemente desaparecido. Depois foi andar pelo Teatro Taborda, pelo antigo Convento das Mónicas, eu sei lá, itinerando aqui e acolá até assentar onde hoje está e espero que por muitos anos.
Recentemente esta peça que agora vi foi a quarta de várias das quais gostei muito, sem excepção: “O rapaz da última fila”, “SalaVIP”, “A 20 de Novembro”.
Notável o trabalho que Jorge Silva Melo tem tido no teatro português, quer na programação, quer no lançamento de tantos jovens talentos, quer na produção e divulgação literária do teatro.

Quanto à peça, ela passa-se numa sala de estudo de uma escola secundária de Manchester, nas vésperas dos exames finais e mostra um conjunto de sete alunos, com a exteriorização dos seus caracteres pessoais ainda em formação, mas já muito bem definidos, os seus problemas de vária ordem, nomeadamente sexual, e de uma maneira geral dos assuntos do mundo actual, desde o bulling, à violência juvenil, ao estado actual económico e social (notável uma vasta “fala” sobre este aspecto a cargo de Isac Graça).
As tensões vão subindo de tom e adivinha-se um final sombrio, muito ao estilo das tragédias reais das escolas americanas (Columbine p.ex.). A encenação de Pedro Carraca é notável (vi no You Tube extractos de uma representação inglesa e preferi esta) e o trabalho dos jovens actores é excepcional – de todos; mas permito-me realçar a confirmação de João Pedro Mamede
e a descoberta de Isac Graça
e principalmente de Rita Cabaço, como Lilly).

Enfim, e como sempre ou quase, vejo a peça no final das suas representações e já não a posso recomendar; mas se ela for representada num qualquer local a que possam assistir, façam o favor de não a perder. Deixo um pequeno vídeo, com declarações do encenador e imagens de cena.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

"Putas de Lisboa"

Três personagens rodam a noite de Lisboa em busca de clientes: uma prostituta, um prostituto e um travesti brasileiro.
Manuela, Pedro e Samanta contam as suas aventuras e desventura, situações engraçadas e mesmo hilariantes à mistura com momentos dramáticos e menos felizes.
Depois encontram-se os três numa sala da Judiciária: foram «caçados» e aguardam interrogatório. Entre rivalidades e afinidades, surge logo ali uma grande amizade, entrecortada por momentos musicais.
Depois do enorme sucesso na passada temporada, com oito meses de lotações esgotadas no Teatro Estúdio Mário Viegas e mais 4 meses no Teatro Casa da Comédia, volta à cena a irreverente comédia de Ricardo Bargão, "Putas de Lisboa".
Agora, no Auditório Carlos Paredes, em Benfica, e depois de Ana Paula Mota e Sofia Nicholson terem integrado o elenco, seria a vez da cantora Paula Sá encarnar a prostituta, acompanhada do estreante Luis Nogueira no papel de prostituto e de Márcio de Oliveira, interpretando o travesti brasileiro.
 Simplesmente na representação a que assisti, (a última, aliás), por motivos que desconheço, Paula Sá foi substituída no papel de prostituta pelo próprio encenador, Ricardo Bargão, pelo que em palco estavam três homens.
E Ricardo Bargão esteve muito bem, diga-se de passagem, apesar de caber a Márcio de Oliveira a melhor representação.
Espectáculo muito divertido, com alguma interacção com o público e em que estive particularmente interventivo, deu para passar uma hora e meia em que se esqueceram crises e troikas, embora a peça tenha, já que se baseia em factos reais, momentos que nos fazem pensar em todos aqueles e aquelas que pelas ruas de Lisboa, vão fazendo a sua vida, nem sempre fácil, como se poderia supor pelo tom de comédia que impera durante quase toda a representação.
Uma linguagem bem libertina, mas ao mesmo tempo tão libertária e um nu integral fazem com que a peça seja para adultos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Que linda que é Lisboa...

Já há muito não passava um final de tarde e um princípio de noite tão agradável. Depois de ontem ter recebido notícias menos agradáveis sobre os valores da minha diabetes, nada melhor antes de ir mostrar esses resultados à minha médica, amanhã e ouvir justas criticas ao desleixo com que tenho encarado perigosamente esse mal, fui com a companhia do Duarte que estava de folga até Lisboa.
Deixado o carro junto à estação, saímos no Areeiro e três ou quatro quarteirões depois estava na velha livraria Barata da Av. de Roma
a buscar um livro que tinha comprado e que há muito procurava: “Devassos no Paraíso” do brasileiro João Silvério Trevisan.
Depois, calmamente descemos, gozando a bela tarde até à Alameda, onde apanhámos o metro até à Avenida, para na bilheteira do S. Jorge trocarmos dois bilhetes do Queer, tomar um café ali ao lado e depois seguir até à antiga Faculdade de Ciências, com uma paragem na Cinemateca, onde há muito não ia e como está linda e renovada...
E lá fomos ver a peça em exibição no Teatro da Politécnica,“Sala Vip”.Gostei muito da peça, ao contrário do Duarte que não gostou nada; mas é-me muito difícil falar por palavras minhas sobre a razão porque gostei da peça, pelo que uso aqui a“ajuda”de um texto que encontrei na net e do qual gostei.
"Depois de se estrear em Julho na Culturgest, no âmbito do Festival Almada, Sala VIP regressa à casa-mãe dos Artistas Unidos, uma criação inédita de Jorge Silva Melo que servirá de boas-vindas à próxima temporada no Teatro Paulo Claro na Politécnica. Com encenação de Pedro Gil, Sala VIP traz-nos um grupo de pessoas que esperam. Um aeroporto internacional e um voo perdido, quem sabe, um motivo para juntar estas pessoas. À partida, farão parte de uma companhia de ópera e vão, aos poucos, nessa ansiedade, nessa espera. Um enquadramento extraordinário entre cenário e personagens, as malas de viagem contendo em si vidas, histórias de várias vidas. Acompanhando os diálogos — ora falados, ora cantados — está o piano fabuloso de João Aboim, um elemento imprescindível neste espectáculo. A espera causa violência, frustrações, nervos, o medo. Sexo. Mentiras, palavrões, cinismo, relações tão frívolas como aquela sala de espera. Os elementos de surpresa/choque são extremamente importantes nesta trama que, de uma maneira ou de outra, se apresenta brindada com momentos de acção-reacção únicos, desespero-calma, hipocrisia-frontalidade. Espera. Um elenco magnífico composto por Andreia Bento, Maria João Falcão, Elmano Sancho, António Simão e João Pedro Mamede." 

 Acabada a peça fomos jantar a um pequeno restaurante mesmo no início da Rua do Século, ali ao Príncipe Real e depois, sempre lentamente, gozando a noite, descemos pelo Jardim de S.Pedro de Alcântara até às Escadinhas do Duque, por aí abaixo até à estação do Rossio.

Que bela que Lisboa é!!! Percorrer a pé variados locais desta cidade é um prazer imenso, que eu gostaria de fazer mais vezes, se tivesse companhia, pois sozinho, metade do prazer desaparece... E agora, a partir de sexta feira e durante uma semana é todos os dias a ida até ao S.Jorge, na minha romaria anual ao Queer, do qual darei notícias.

E hoje cumpri quanto aos diabetes, pois andei bastante e tive um jantar que não me fez mal: chocos grelhados com grelos.Mas tenho que ter juízo!

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Cinemas de Lisboa - 6

Hoje faço uma ronda por cinemas um pouco diferentes, alguns dos quais tiveram outras actividades além do cinema.

O Cine-Teatro Capitólio é um edifício classificado de importância arquitectónica internacional. Localiza-se no Parque Mayer, um antigo recinto de diversões de Lisboa inaugurado em 1922. Luís Cristino da Silva, um dos arquitectos mais proeminentes do século XX português e considerado por especialistas como o introdutor do modernismo em Portugal foi o autor do projecto deste edifício.
Neste espaço houve de tudo um pouco, desde cinema de estreia, de categoria B, a cinema de reprise e até no seu final nos anos 80, a cinema pornográfico. Mas claro que muitas revistas à portuguesa ali se exibiram, como também zarzuelas e outros espectáculos musicais.
Tinha um terraço superior onde se projectavam também filmes, havia espectáculos musicais e no final da sua exploração foi transformado num rinque de patinagem e discoteca.
Hoje está muito degradado, mas há um plano de recuperação para este belo edifício, hoje denominado Teatro Raul Solnado, que variadas vezes ali actuou.

 Também dentro da mesma traça arquitectónica modernista é o edifício do Cinearte, no Largo de Santos.
Foi inaugurado em 1940 com um célebre filme de Frank Capra e mais tarde passou a cinema de reprise
.Esteve fechado durante a década de 80 e reabriu transformado em teatro, com duas salas e bar, onde funciona com regularidade a companhia de Teatro “A Barraca”, onde se destaca a grande comediante Maria do Céu Guerra

O Cinema Municipal esteve integrado na Feira Popular que funcionou nas décadas de 40 e 50 em Palhavã, onde agora estão os belos jardins da Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna. Este cinema foi inaugurado em 1951 num edifício hoje não existente
e passou para Entrecampos, acompanhando a Feira Popular, tendo funcionado com cinema durante a década de 60.
Foi depois transformado em teatro, com a denominação de Teatro Vasco Santana, onde funcionou durante muitos anos uma das melhores companhias de teatro portuguesas, o Teatro Estúdio e onde vi excelentes peças. Mais tarde e com o fim dessa companhia de teatro, o edifício passou a chamar-se Auditório Ana Bola, mas acabou por ser destruído com o fecho da Feira Popular.

Uma sala com um percurso muito curioso situava-se no Rego, mais propriamente na Rua da Beneficiência e começou por chamar-se Cine Bélgica, inaugurado em 1928, passando filmes de reprise.
Em 1968 passou a chamar-se Cinema Universitário, dada a proximidade da Cidade Universitária e em 1973 mudou de nome novamente, para Cinema Universal, passando a pertencer à empresa Animatógrafo, de Cunha Teles e que logo após o 25 de Abril se tornou o templo do cinema revolucionário do PREC. Em 1980 uma nova fase desta sala aconteceu com a sua transformação numa das mais famosas salas de concertos de Lisboa para o público juvenil – o “Rock Rendez Vous” que durou até 1990.
O edifício foi entretanto demolido e hoje naquele local está um edifício moderno onde está instalado um café cujo dono ainda mantém o culto do passado daquele lugar tendo como decoração fotos dos variados usos da sala ao longo dos anos.

Um outro cinema diferente desta nossa Lisboa foi o Cinema Lumiar, no início da Calçada de Carriche, e cujo edifício ainda lá está para venda.
Foi inaugurado em 1968 e tinha ecran para projecções em 70 mm.
Tinha uma programação essencialmente baseada em produções asiáticas e acabou por encerrar em 1977
Ao contrário dos restantes, este cinema não teve outras actividades.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Cinemas de Lisboa - 1

Dou hoje início a uma série de postagens sobre os cinemas de Lisboa.
Vai ser uma série bastante completa e bem documentada por fotos, pelo que tem que ser segmentada.
Nesta primeira postagem vou apenas referir os cinemas de estreia que havia na “baixa” da capital, incluindo a Avenida da Liberdade e outros dois grandes cinemas de estreia: um no Saldanha, o Monumental e outro na Alameda, o Império.
Hoje poucas são as salas de cinema que continuam a estrear filmes, estando quase toda a programação na mão das grandes distribuidoras que exibem os seus filmes, por assim dizer quase na totalidade em complexos no interior de grandes superfícies comerciais.
Mas passemos aos cinemas de hoje e em pleno Chiado, ali mesmo ao lado da PIDE, existia e continua a existir o S.Luís, que foi outrora um grande palco para as maiores figuras do Teatro (basta ver as lápides do seu magnífico interior) e depois durante largos anos foi um dos cinemas com melhor programação de Lisboa.
Hoje é um Teatro Municipal, com uma programação variada de teatro, Música, Bailado e outros espectáculos e tem ainda no seu interior uma Companhia de Teatro residente, o Teatro Mário Viegas.
Nos Restauradores, impunha-se o cinema Éden, magnífico edifício da autoria do grande arquitecto Cassiano Branco, com um complicado sistema de entradas e saídas
e que é hoje um hotel.
Quase em frente, havia o Condes
agora transformado no famoso Hard Rock Café.
Logo a seguir, quem vai para a Rua das Portas de S.Antão, o Odéon, especializado em filme populares
e que hoje está transformado num lamentável edifício em ruínas.
E no seu seguimento, mesmo em frente ao Coliseu dos Recreios, está o Politeama, antes um cinema de estreia de filmes de série B, (mas já havia sido Teatro)
e hoje recuperado para as grandes produções musicais (e não só) de Filipe La Féria, no estilo da Broadway, made in Portugal.
A meio da Avenida, dois cinemas de grande nível, um em frente do outro: o S.Jorge, que exibia grandes filmes, da programação cuidada da Rank
e que é hoje propriedade camarária e que regista ao longo de todo o ano grande afluência de público devido aos muitos festivais de cinema ali realizados.
E o Tivoli, uma das mais belas salas de Lisboa, e uma das três que projectava filmes de 70 mm (as outras eram o Monumental e o Império), com uma programação cuidada
e hoje é uma sala com variados espectáculos, com destaque para o Teatro, nomeadamente para as companhias brasileiras que se deslocam até nós.
No Saldanha, uma sala que era uma referência, o Monumental (aliás eram duas, pois havia o cinema e o teatro, onde pontificava o empresário vasco Morgado e a grande Laura Alves). As grandes produções de Hollywood eram geralmente ali projectadas.
Hoje é um edifício moderno de escritórios, com um centro comercial, onde se exibem em várias salas, bom cinema.
Finalmente, na Alameda, outro “monstro” do cinema lisboeta – o Império, também com excelente programação e que foi das primeiras salas em Portugal a ter uma sala alternativa, o Estúdio, com uma programação muito especial e bastante elitista – quase toda a obra de Bergman ali foi exibida
Hoje foi comprado pela IURD, que tem dinheiro para isso e muito mais…

Nesses tempos os bilhetes eram mesmo “bilhetes"
havia programas que os arrumadores ofereciam a troco de uma gorjeta (os lugares eram marcados)
e os jornais traziam assim a programação
De realçar também os enormes painéis que os cinemas de estreia exibiam nas suas fachadas, alguns muito bem feitos.