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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Taxar os ricos - (um conto de fadas animado)

Depois de ver esta animação, que não retrata a situação do nosso país, mas ajuda a compreendê-la, talvez se perceba melhor o porquê de tantas afirmações repetidas até à exaustão por esta cambada que nos governa, tais como a famigerada "não há alternativa"; também se percebe melhor o que significa o "custe o que custar" obcessivo do indivíduo que quiseram pôr a (des)governar-nos. E principalmente se entendem ainda melhor as palavras de um conhecido banqueiro acerca da forma como o povo reage a tanta austeridade: "ai aguenta, aguenta!"
Mas quando o povo quer, não precisa de partidos políticos, nem de sindicatos - ele próprio se congrega e mostra a força da razão, como o fez em todo o país a 15 de Setembro.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Louco

Eu não queria, (estou a ser sincero), tocar no tema mais falado, (pelos piores motivos), no nosso país, nos últimos tempos – a situação político-económica em que nos encontramos. Falar nisto é além do mais, sujar as mãos, pois quando se fala em determinadas pessoas e em determinadas decisões, decerto ficamos completamente submersos em porcaria.
Mas há limites para tudo, e parece-me que há alguém que atingiu o limite da decência e da racionalidade, tendo nos últimos dias mostrado, que mais do que um político obcecado ou cego, é realmente um ser perigoso, é um louco! E um louco perigoso!
Estou-me a referir a essa figura bizarra, misto de Mr.Bean e de experiência falhada de um Frankenstein de terceira ordem, que se chama Vítor Gaspar.
Já não falo num Passos Coelho, que me parece um títere nas mãos de um deslumbrado com a ambição – Miguel Relvas; nem de um homem que mostra à evidência as limitações que possui para exercer o cargo mais alto da nação – Cavaco Silva. Passo por cima dos detentores de grandes fortunas, desde banqueiros, gestores ou donos de grandes cadeias de híper mercados e ignoro mesmo os subservientes – que os há sempre - e que continuam com os antolhos que usam os muares. Gaspar, que se julga a ele próprio um iluminado, crê em absoluto no experimentalismo político, tipo “terra queimada”, mas de índole direitista e conduz o nosso país para um abismo certo e a curto prazo. Falam as eminências pardas que nos (des)governam que não há alternativas e a única que haverá será a bancarrota. Pergunto eu, se algum dos muitíssimos portugueses que já estão na bancarrota e os muito que para lá caminham, se importarão com essa eventual bancarrota? Eles já lá estão… E, há sempre alternativas, pois o exemplo de uma Islândia, mesmo de uma Irlanda falam por si, e mesmo com situações radicais haverá alternativas. E não esqueçamos que a UE, nomeadamente a zona euro, dificilmente deixará cair um dos seus membros, pois isso seria o começo de uma desagregação que até a Alemanha não deseja – e a Grécia é disso exemplo. Agora que com as últimas medidas, a classe média, nomeadamente a classe média alta, vê começarem a desaparecer as muitas regalias que sempre teve, talvez a contestação vá para patamares que a classe mais baixa e que mais tem sido prejudicada ainda não conseguiu. É imperioso fazer alguma coisa, e curiosamente está nas mãos de um homem a possibilidade de o fazer e já: basta que Portas seja coerente com tudo o que sempre defendeu e diga não a uma paz podre dentro do Governo. E até nem isso seria necessário se tivéssemos na presidência da República, um homem à altura, em vez de um individuo que se tem mostrado mais preocupado em proteger os corruptos amigos das suas relações.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Um mundo novo

É cada vez mais recorrente no meu pensamento o facto de estarmos, e não me refiro só ao que se passa em Portugal, ou na Europa, mas em todo o planeta, a assistir a uma destruição da Vida.
Sim, falo do ambiente, mas não só;  falo da subjugação económica a interesses cada vez mais obscuros, da imensa e cada vez mais profunda desigualdade social, do desrespeito pelos valores maiores que o ser humano deve ter como base, enfim de um mundo que caminha para o abismo sem querer perceber que pode e deve parar…
Está na nossa vontade, no nosso empenho, na nossa força, como habitantes deste planeta, não nos demitirmos de ter uma parte activa nesta desconstrução da felicidade, pois é disso que se trata.
Assistimos a uma progressiva diminuição de competências políticas, à ausência de gente com carisma, e o mundo é regido cada vez mais por complexas e nebulosa teias de interesses que lentamente asfixiam as liberdades humanas.
É tempo de parar. É tempo de dizer basta. É tempo de um “Novo Mundo”.
Porque, apesar de tudo, resta sempre a esperança, porque a música nos acalma, nos ajuda e nos faz reflectir, pois haja música.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dois textos de um leigo - 2 - Portugal

Portugal tornou-se membro da EU em 1986, ao mesmo tempo que a Espanha, e na altura o país teve um enorme afluxo de dinheiro vindo desse organismo com o fim de dinamizar e desenvolver o nosso país, que era bastante mais atrasado que o resto dos países comunitários.
Esse acesso aos fundos avultados que então foram postos à nossa disponibilidade, foram utilizados por Cavaco Silva, primeiro-ministro dispondo de maioria absoluta, de 1987 a 1995, de uma forma absolutamente esbanjadora, que aliás é o espelho total da forma de gerir o dinheiro do povo português: gastar o que há e o que há-de chegar, sem precaver minimamente o futuro.
Portanto foi com Cavaco Silva que começou o grande descalabro das contas públicas portuguesas e que continuou com os governos seguintes: Guterres,Barroso, S.Lopes (permitam-me um sorriso…), e por último Sócrates.
Toda a gente sabe o que se passou; Guterres foi-se embora, alegando que o país estava num pântano,
Barroso seguiu-lhe os passos trocando as chatices de Lisboa por mordomias em Bruxelas,
Santana Lopes, foi uma palhaçada que se não fosse triste, tinha posto a rir o país com o que sucedia em S.Bento; foi um erro de casting…
E apareceu Sócrates, com uma natural maioria absoluta e que fez uma primeira legislatura bastante satisfatória; talvez por não estar habituado a uma maioria simples, muito por sua culpa, mas essencialmente pela conjuntura internacional, a segunda legislatura de Sócrates foi bastante negativa, mas mesmo assim com algumas iniciativas interessantes, como a aposta nas energias renováveis, nas indústrias de ponta e outras. Tentou mexer naquelas coisas que nenhum outro chefe de governo antes tinha ousado, principalmente no campo da Educação e da Saúde, e o povo foi-se revoltando contra ele, bem como todos os outros partidos da oposição. Obrigado a tomar medidas impopulares, tomou-as e teve o povo na rua, por assim dizer todos os dias. Foi sem sombra de dúvida o mais vilipendiado de todos os políticos portugueses desde o 25 de Abril e quando da reeleição de Cavaco Silva para o seu segundo mandato, teve que ouvir um discurso ignóbil na AR, que institucionalmente é inconcebível. Quanto a mim, aqui reside o maior erro de Sócrates que se devia ter demitido de imediato e posto assim o ónus da crise na figura do PR.
Acabou por o fazer quando nessa mesma AR, os partidos todos se uniram para reprovarem um novo pacote de medidas de austeridade, impostas pela troika (FMI, BE e EU), que entretanto tinham sido chamadas à resolução da crise portuguesa (quiçá tarde de mais).
E o PSD surge como normal vencedor das legislativas antecipadas, em cuja campanha disse de Sócrates o que o diabo não diz da cruz, repudiou todas as suas políticas e prometeu sinceridade e progresso. O então líder do PSD, um impreparado e mal visto internamente Passos Coelho
torna-se primeiro-ministro e chama para o governo, (em coligação com o PP de Portas, que lhe assegura uma maioria absoluta), dois ministros tecnocratas, dois teóricos, para as pastas chave: Vítor Gaspar para as Finanças e Álvaro Pereira para a Economia.
Um parêntesis para referir que Portas,
o populista oposicionista de há um ano, paladino de que com ele no governo, acabava rapidamente a criminalidade, anda calado como um rato a assistir à assustadora e crescente vaga de assaltos que alastra pelo país.
E é Gaspar
que começa a comandar o barco, sempre debaixo de vários pressupostos: toda a culpa da situação é de Sócrates e SÓ DELE, a necessidade de cumprir as exigências da troika e o apoio do PS. Só que a culpa é de Sócrates, sim, mas também de todos os que lá estiveram antes, a começar em Cavaco e mesmo do próprio PSD que cria uma crise política, apenas com o objectivo de alcançar o poder. Ultrapassa e muito o exigido pela troika, desculpando-se sempre com situações do governo anterior que hoje estão mais que provadas serem falsas. E encontrando um PS, principal partido da oposição numa posição delicada sim, pois assinou o pedido de ajuda, mas com uma débil chefia de um A.J.Seguro
que mais parece um Passos Coelho do PS.
A política de austeridade tem sido tremenda, e sem qualquer medida que revele preocupação com a recuperação económica, com uma recessão galopante, após tantos meses de governação, continua e continuará a ter Sócrates como bode expiatório, não reconhecendo NUNCA a ineficácia das medidas até agora tomadas. E lá vamos caminhando para o abismo, satisfeitos por sermos uns cumpridores exemplares do que nos tem sido imposto.
E o que mais custa é assistirmos à imunidade com que os grandes senhores deste país - políticos, banqueiros, empresários, gestores e oportunistas – resistem a estas medidas mantendo as suas mordomias, quando não as aumentam…Argumentam os “sábios” economistas que nos governam, que o fim dessas mordomias não representam senão uma gota de água no oceano das nossas carências. Mesmo que tal seja verdade, não havia o terrível e enorme sentir da profunda injustiça social que nos envolve.

Até quando?

Por um décimo do que este governo já fez, Sócrates tinha manifestações diárias; agora, há um encolher de ombros e uma intimidação tremenda do governo sobre qualquer movimento social, com a infiltração de agentes à paisana no meio dos manifestantes para mostrar que há violência (causada pelos próprios).
Cavaco tem sido, como sempre foi, um político dividido: tão depressa apoia o governo, como manda bicadas de oposição. É um político sem qualquer crédito neste momento, devido a determinadas atitudes tomadas nada consonantes com o elevado cargo que desempenha; e não me refiro apenas a essa imbecilidade sobre as suas dificuldades económicas, mas sobre outras que revelam um político cínico e que não merece qualquer confiança, desde o já referido discurso de tomada de posse em Janeiro de 2011, à questão das escutas e outras.

Qual a solução? Sinceramente não sei, pois não se vislumbram no horizonte, nomes, nem um só, que garantam a fuga à mediocridade geral dos políticos portugueses actuais.

Não posso deixar de referir um ministro deste governo, que representa tudo o que de mau tem um político: sinistro, manipulador, cínico e convencido, é ele na realidade a imagem do governo que infelizmente nos governa: Miguel Relvas, um NOJENTO!!!

Não sei quando haverá novas eleições, nem mesmo se as haverá, como sucedeu em Itália e na Grécia; mas caso as haja, não há nenhum partido que mereça o meu voto e penso mesmo que deverá ser essa a resposta do povo português: não votar, dando assim uma mostra a quem ganhar que não é mandatado pelo povo para exercer o seu mandato.

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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Dois textos de um leigo - 1 - Europa

Em dois textos vou analisar, na minha perspectiva, que é apenas a de um leigo que gosta de saber o que se passa no mundo e principalmente no seu país, a actual situação económica na Europa (EU) e em Portugal, em particular. Começo pela situação europeia e de seguida num próximo texto falarei do contexto português.
A Europa cada vez mais se confunde com a União Europeia, a chamada Europa dos 27, que no próximo ano serão 28, com a adesão da Croácia (mais um fiel aliado dos alemães); realmente, apenas não estão nela integrados, a Islândia, Suiça, Noruega (belíssima opção do povo norueguês), estados minúsculos, alguns países balcânicos, a Rússia e alguns estados da ex URSS e ainda a Turquia (porque a Alemanha não deixa). De resto, todos os outros estados pertencem à EU, embora o “clube do euro” seja mais restrito, pois há apesar de tudo, políticos um pouco mais espertos que outros.


Tem-se vindo a acentuar de há uns largos anos a esta parte, a preponderância do eixo franco-alemão nesta coligação de Estados, mas nunca como hoje, em que este eixo está totalmente desequilibrado, pois Sarkozy é um político medíocre e pouco esperto, ao passo que a senhora Merkl é uma política também medíocre, mas astuta.

Convém fazer aqui um parêntesis sobre a Alemanha como país desde quase o início do século XX até hoje: país derrotado das duas únicas guerras mundiais, sempre soube “dar a volta”, devido a dois factores – a inegável capacidade de trabalho do seu povo, e a eficácia dos seus políticos, mesmo que para o mal (caso Hitler); depois da Segunda Guerra Mundial, foi devido ao Plano Marshall,


que políticos como Adenauer, recuperaram a então Alemanha Ocidental (RFA) e a transformaram, progressivamente numa grande potência económica;
recuperaram a então Alemanha Ocidental (RFA) e a transformaram, progressivamente numa grande potência económica; a Alemanha de Leste (RDA) nunca passou de mais um aliado da URSS e apenas dava cartas no desporto e na ciência. Com a ajuda ocidental, uma vez mais, e aproveitando a abertura dos tempos de Gorbachev e da sua “perestroika”, o então chanceler alemão Helmut Kholl reunificou de novo a Alemanha em 1990.
De então para cá a Alemanha não tem parado de crescer economicamente e detém hoje posições muito fortes na EU devido essencialmente a essa sua solidez económica.
Com a chegada ao poder do primeiro chanceler alemão oriundo da antiga RDA, Ângela Merkl e principalmente devido à crise económica mundial iniciada em 2008, que lesou essencialmente as economias mais débeis da EU, (que incluem, é claro, Portugal), a Alemanha chamou a si a resolução dos problemas económicos da EU e principalmente da zona euro, beneficiando aqui da ausência do Reino Unido, e começou a ditar leis, coadjuvado por esse fantoche que é Sarkozy. As consequências não se fizeram esperar e a Irlanda, a Grécia e Portugal (tarde demais),três dos chamados PIIGS
tiveram que pedir a ajuda económica internacional. Curiosamente, um país que teve enormes problemas económicos, soube resolvê-los a contento, precisamente por estar fora da EU e consequentemente da zona euro – a Islândia.
Esta dependência económica externa por parte dos três países atrás referidos tem provocado sucessivas ondas de austeridade, que não têm surtido qualquer resultado, pois esquecem de todo o crescimento económico, que é fundamental, quer na Grécia, quer em Portugal, pelo menos; a eminência de situações idênticas noutros países, (Espanha, Itália, Áustria, Bélgica e até a França) têm levado também nesses países à imposição de medidas de austeridade e não se sabe o que mais aí virá, podendo até voltar-se o feitiço contra o feiticeiro, e vir, mais tarde a própria Alemanha a ser atingida.
É que a senhora Merckl pode comandar a Europa comunitária, mas não controla algo mais forte e que é a essência de toda esta situação, que são as agências de rating, ou seja as agências comandadas pelos grandes bancos mundiais e também grandes empresas multinacionais que classificam o risco de investimento não só nos países, mas também nos bancos, empresas e municípios, seus clientes (sim, pois para se ser “classificado” por essas agências, paga-se). E há quem pense que uma nova ordem mundial estará a formar-se por via económica, o que equivale, com o devido distanciamento, quase a uma nova guerra mundial.
A Europa, essencialmente por falta de políticos capazes, está economicamente moribunda, mas ainda há o descaramento de se exigir, por imposição alemã (evidentemente) uma uniformidade no caso do deficit da dívida pública, que não deverá exceder, a curto prazo os 3% do PIB de cada país, o que leva a situações quase utópicas, comparando economias como por exemplo a alemã e a portuguesa.
E, o descaramento atingiu as raias do absurdo, quando há dois dias essa mesma governante
ousou propor o perdão da dívida grega caso a Grécia fosse supervisionada na sua política orçamental pela própria EU, o que levou o ministro das Finanças grego, Evangelos Venizelos a afirmar, com toda a razão, uma frase que deve ser registada como histórica: “Alguém que coloque uma nação perante o dilema de uma «ajuda económica» ou a sua dignidade nacional, ignora algumas lições fundamentais da História”.
Felizmente e como se esperava, esta sugestão vergonhosa foi recusada liminarmente na reunião da EU que ontem terminou, e que nada trouxe de novo, no que toca a resoluções práticas.
Uma coisa é certa, e disso poderão os países agora “cercados” fazer uso: a bancarrota de um país pertencente à zona euro acarretará, a muito curto prazo, o fim do euro, como moeda única. Pelo menos isso…







Adenda: Deixei na caixa de comentários desta postagem um interessante texto sobre a dívida alemã à Grécia (não estou a ironizar).


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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Já cheira a Revolução????


Não é meu hábito plagiar postagens de outros blogs, portanto sinto-me perfeitamente à vontade para transcrever aqui uma entrada de Luís Moreira, habitual colaborador do excelente blog "Pegada", que aproveito para recomendar vivamente e que não sendo da sua autoria também ele transcreve; aliás segundo consta no final do texto, ele repassa-o de um autor desconhecido.
Mas, e porque acho este texto magnífico, não só pela análise bastante exaustiva dos factores que levaram o mundo à encruzilhada em que hoje se encontra, mas também pelo final, simultâneamente radical e redentor,
aqui fica, à vossa apreciação.


"Há cerca de 3 ou 4 meses começaram a dar-se alterações profundas, e de nível global, em 10 dos principais factores que sustentam a sociedade actual. Num processo rápido e radical, que resultará em algo novo, diferente e porventura traumático, com resultados visíveis dentro de 6 a 12 meses... E que irá mudar as nossas sociedades e a nossa forma de vida nos próximos 15 ou 25 anos!
Tal como ocorreu noutros períodos da história recente, no status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, nas alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), ou na crise do petróleo de 73.
Façamos um rápido balanço da mudança, e do que está a acontecer aos "10 factores":
1º- A Crise Financeira Mundial : desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se "bancarrota") e só se tem aguentado porque os 4 grandes Bancos Centrais mundiais - a FED, o BCE, o Banco do Japão e o Tesouro Britânico - têm injectado (eufemismo que quer dizer: "emprestado virtualmente à taxa zero") montantes astronómicos e inimagináveis no Sistema Bancário Mundial, sem o qual este já teria ruído como um castelo de cartas. Ainda ninguém sabe o que virá, ou como irá acabar esta história !...
2º- A Crise do Petróleo : Há 6 meses que o petróleo entrou na espiral de preços. Não há a mínima ideia/teoria de como irá terminar. Duas coisas são porém claras: primeiro, o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva, devido à visão estratégica da China e da Índia que o compram e amealham!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia, de transportes, de serviços. Por exemplo, quem utiliza frequentemente o avião, assistiu há semanas, a uma subida no preço dos bilhetes de... 50% (leu bem: cinquenta por cento). É escusado referir as enormes implicações sociais deste factor: basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (...e as férias massivas!), a inflação controlada, etc...
3º- A Contracção da Mobilidade : fortemente afectados pelos preços do petróleo, os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais que implicam transporte irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial.
4º- A Imigração : a Europa absorveu nos últimos 4 anos cerca de 40 milhões de imigrantes, que buscam melhores condições de vida e formação, num movimento incessante e anacrónico (os imigrantes são precisos para fazer os trabalhos não rentáveis, mas mudam radicalmente a composição social de países-chave como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra ou a Itália). Este movimento irá previsivelmente manter-se nos próximos 5 ou 6 anos! A Europa terá em breve mais de 85 milhões de imigrantes que lutarão pelo poder e melhor estatuto sócio-económico (até agora, vivemos nós em ascensão e com direitos à custa das matérias-primas e da pobreza deles)!
5º- A Destruição da Classe Média : quem tem oportunidade de circular um pouco pela Europa apercebe-se que o movimento de destruição das classes médias (que julgávamos estar apenas a acontecer em Portugal e à custa deste governo) está de facto a "varrer" o Velho Continente! Em Espanha, na Holanda, na Inglaterra ou mesmo em França os problemas das classes médias são comuns e (descontados alguns matizes e diferente gradação) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção.
6º- A Europa Morreu : embora ainda estejam projectar o cerimonial do enterro, todos os Euro-Políticos perceberam que a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num "caldo" de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns!... Já nenhum Cidadão Europeu acredita na "Europa", nem dela espera coisa importante para a sua vida ou o seu futuro! O "Requiem" pela Europa e dos "seus valores" foi chão que deu uvas: deu-se há dias na Irlanda!
7º- A China ao assalto! A construção naval ao nível mundial comunicou aos interessados a incapacidade em satisfazer entregas de barcos nos próximos 2 anos, porque TODOS os estaleiros navais do Mundo têm TODA a sua capacidade de construção ocupada por encomendas de navios.... da China. O gigante asiático vai agora "atacar" o coração da Indústria europeia e americana (até aqui foi just a joke...). Foram apresentados há dias no mais importante Salão Automóvel mundial os novos carros chineses. Desenhados por notáveis gabinetes europeus e americanos, Giuggiaro e Pininfarina incluídos, os novos carros chineses são soberbos, réplicas perfeitas de BMWs e de Mercedes e vão chegar à Europa entre os 8.000 e os 19.000 euros! E quando falamos de Indústria Automóvel ou Aeroespacial europeia... Estamos a falar de centenas de milhar de postos de trabalhos e do maior motor económico, financeiro e tecnológico da nossa sociedade. À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! Os chineses estão estrategicamente em todos os cantos do mundo a escoar todo o tipo de produtos da China, que está a qualificá-los cada vez mais.
8º- A Crise do Edifício Social : As sociedades ocidentais terminaram com o paradigma da sociedade baseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, as famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem laços de projecto comum, os jovens não querem compromissos, dificultando a criação de um espírito de estratégias e actuação comum...
9º- O Ressurgir da Rússia/Índia : para os menos atentos: a Rússia e a Índia estão a evoluir tecnológica, social e economicamente a uma velocidade estonteante! Com fortes lideranças e ambições estratégicas, em 5 anos ultrapassarão a Alemanha!
10º- A Revolução Tecnológica : nos últimos meses o salto dado pela revolução tecnológica (incluindo a biotecnologia, a energia, as comunicações, a nano tecnologia e a integração tecnológica) suplantou tudo o previsto e processou-se a um ritmo 9 vezes superior à média dos últimos 5 anos!
Eis pois, a Revolução!
Tal como numa conta de multiplicar, estes dez factores estão ligados por um sinal de "vezes" e, no fim, têm um sinal de "igual". Mas o resultado é ainda desconhecido e imprevisível. Uma coisa é certa: as nossas vidas vão mudar radicalmente nos próximos 12 meses e as mudanças marcar-nos-ão (permanecerão) nos próximos 10 ou 20 anos, forçando-nos a ter carreiras profissionais instáveis, com muito menos promoções e apoios financeiros, a ter estilos de vida mais modestos, recreativos e ecológicos.
Espera-nos o Novo! Como em todas as Revoluções!
Um conselho final: é importante estar aberto e dentro do Novo, visionando e desfrutando das suas potencialidades! Da Revolução! Ir em frente! Sem medo!
Afinal, depois de cada Revolução, o Mundo sempre mudou para melhor!..."

domingo, 8 de janeiro de 2012

Viagens - 3

Retomo hoje a rubrica das minhas viagens, falando de uma viagem que foi extraordinariamente importante para mim, e por várias razões: foi uma das mais longas, sendo mesmo a de mais tempo de permanência num só país – a Bélgica;
aprendi muito sobre vários aspectos da vida e foi um começo importante para um descobrimento mais aprofundado da minha sexualidade.
Deixo este último tema para outra ocasião, e que será exposto fora desta rubrica sobre viagens, e para uma ocasião em que me sinta mais à vontade para abrir certas páginas intimas, mas importantes da minha vida, e que são verdadeiramente fundamentais para a formação do ser que sou hoje.
Quando cheguei ao meu primeiro ano em Económicas (1963) tomei conhecimento que a minha Faculdade fazia parte de uma organização internacional chamada AIESEC, e que reunia as principais faculdades de economia do mundo, tendo como objectivo, nos períodos de férias, a troca de estágios em empresas de todo o mundo para os estudantes dessas faculdades.
A coisa funcionava assim: o núcleo da AIESEC de cada escola de economia, abria inscrições para os estudantes que queriam fazer esses estágios, indicando eles as suas preferências quer no tipo de empresas quer na localização das mesmas; claro que os alunos dos anos mais adiantados tinham prioridade e nestes funcionava ainda o critério das melhores classificações.
Por outro lado esse mesmo núcleo, procurava junto das grandes empresas nacionais, quem estava disposto a receber um estagiário de outro país.
Todos os anos, havia uma reunião, numa cidade escolhida no ano anterior, e onde esses núcleos iriam promover as trocas: se o núcleo da minha Faculdade tivesse conseguido “x” empresas dispostas a receber um estagiário, poderia arranjar o mesmo número “x” de estágios para estudantes dessa Faculdade; depois era uma questão de ver se  podiam satisfazer-se  todos os pedidos feitos, quer em número, quer na escolha do tipo de empresa, quer no local.
Sei que a AIESEC ainda existe, mas parece que está bastante diferente nos seus objectivos, sendo hoje essencialmente e de uma forma mais geral e não específica, uma organização de intercâmbio de jovens.
Estando eu no final do 1º.ano, claro que seria difícil conseguir um estágio, mas consegui-o e foi para a Bélgica, para a cidadezinha de Mons, na Valónia (parte sul e de língua francesa deste pequeno país bilingue), quase junto da fronteira francesa.
Curiosamente esta pequena cidade é a única em todo o país em que a denominação francesa e flamenga são totalmente distintas, sem uma raiz comum; Mons, em flamengo é Bergen, tal qual a cidade norueguesa de mesmo nome.
E fui para ali, para estagiar na maior cimenteira da Bélgica, que estava situada (e está) nos seus arredores – Ciments D’Ouburg!
Claro que eu ia e fui, estagiar para a parte administrativa da empresa e não para a parte do trabalho da cimenteira; mas tive uma visita privilegiada da fábrica, com explicações pormenorizadas de tudo, tendo inclusivamente estado dentro de um dos fornos, quando por motivo de uma avaria, ele esteve inactivo três dias.
A empresa tinha um plano elaborado para um mês, de toda a actividade administrativa que era obviamente complexa e não tinha nada a ver com as actuais tecnologias, como se pode depreender.
Foi muito interessante e importante em função do meu eventual futuro como economista.
Também me arranjaram um local para ficar, numa residência universitária, que por estar em período de férias estava por assim dizer vazia, havendo apenas meia dúzia de alunos de países distantes, que não tinham dinheiro para ir passar férias aos seus países. Todos os quartos, eram individuais e tinham uma pequena cozinha onde podíamos confeccionar as refeições; fiz amizade com um vietnamita que me convidou variadas vezes a partilhar os seus cozinhados, estranhos mas muito apetitosos.
Ali bem perto de Mons, fica o quartel general da NATO, o S.H.A.P.E., que é assim uma espécie de Pentágono americano, mas em ponto pequeno, e por isso havia sempre na cidade muitas famílias estrangeiras.
Deu para conhecer bastante bem a maneira de viver do povo belga daquela região, não tão rica ou desenvolvida como a região flamenga e estranhei muito a forma deles viverem: durante a semana, não faziam qualquer extravagância, antes pelo contrário, poupavam o mais possível, deitavam-se cedo, mas ao fim de semana, era a “desbunda”: reuniam-se em grandes festas familiares, e o álcool era o rei – não faltavam enormes bebedeiras, deles e delas.
Fraco gozo, para tanta poupança, mas era assim que eles se divertiam.
Apesar de tudo eu nunca ficava em Mons no final da semana.
Havia um alemão a estagiar numa empresa em Charleroi, quase ali ao lado e que conheci por acaso na residência universitária e que tinha um carro giríssimo, um velho Carocha cor de rosa e então íamos sempre passar o fim de semana fora: um a Bruxelas, outro a Gand e outro a Brugges.
Deixo Bruxelas para o fim e falo das outras duas cidades;
Brugges é uma das cidades mais belas que conheço – muito bem preservado o seu centro histórico que é maravilhoso, os seus canais, é uma cidade de sonho. Curioso ter lá voltado 40 anos depois e a cidade permanece na mesma. Verdadeiramente um encanto.
Também cheia de canais, também muito bela e maior que Brugges, é Gand.
Ali assisti a duas coisas memoráveis, pois tive a sorte de a visitar durante o seu Festival de Verão. Um concerto na Catedral, com uma acústica óptima e que uma orquestra muito boa interpretou as “Quatro Estações” de Vivaldi; e assisti a uma exibição ao longo dos canais, de cenas históricas, as quais permaneciam nos mesmos sítios, sendo as pessoas que se deslocavam ao longo dos canais para assistir a essas cenas – algo de muito bom e inesquecível.
Houve também um passeio com todos os estagiários que estavam na Bélgica a diversos locais, incluindo Waterloo, onde se realizou a célebre batalha e a um incrível local de sistema de “elevação” de canais (tipo como há no Panamá), em Nivelles.
Bruxelas mereceu duas visitas, a primeira com o alemão e outra sem ele, pois queria descobrir certas coisas sozinho, e fiz muito bem.
Bruxelas tem aquela que possivelmente é a mais bela praça do mundo, La Grande Place,
e tem um restaurante que é toda uma instituição, o “Chez Léon”, conjunto de salas e mais salas onde se comem os melhores mexilhões do planeta – os famosos “moules”. Visitei o Atomyum e visitei o menino que faz chi-chi, o célebre Manneken Pis, que é uma grande desilusão .Visitei La Bourse, que me proporcionou uma “certa história" (das tais para contar mais tarde) e outros sítios nocturnos que tinha vontade de conhecer…
No final do estágio, fui remunerado com uma quantia de dinheiro suficiente, para durante uma semana ter ido conhecer algo da Holanda, mas isso já é outra viagem.

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011 - Balanço

Este ano, que não deixa saudades está a finar-se.
E em jeito de balanço, aqui deixo as minhas escolhas, quer a nível de personalidades, quer a nível de acontecimentos, tanto em Portugal, como no Mundo.
Se tivesse que escolher a personalidade do ano, assim estilo "capa da Time", escolheria não uma pessoa, mas algo mais abrangente: o Euro!
Já no aspecto mais restrito, de personalidades, vou distinguir duas personagens nacionais e duas internacionais, uma negativa e outra positiva, em cada caso.
Para personalidade negativa portuguesa, não tive hesitação, só podia ser uma: Vítor Gaspar.
No campo positivo,não havia e infelizmente muitas hipóteses, mas acabei por me decidir por Eunice Munoz, uma grande actriz e que este ano comemorou 70 anos de carreira - é obra!
Internacionalmente, tocam-se os opostos - imensos no campo negativo e muito poucos, no campo positivo.
De qualquer forma não hesitei muito na escolha da chanceler alemã Angela Merckl, para a personalidade negativa
Já no campo positivo, a minha escolha recai numa homenagem póstuma a um homem que revolucionou o mundo das comunicações e da informática nos últimos anos, Steve Jobs
Passando depois aos acontecimentos, procedi da mesma forma: um positivo e outro negativo, quer nacional, quer internacional.
O acontecimento negativo nacional escolhido não podia ser outro senão as severas medidas de austeridade, que ultrapassam o exigido pelos acordos estabelecidos e nos arrastam para uma recessão que não sei quando terminará

Positivamente, e para não fugir à regra, não houve grandes acontecimentos que nos pusessem a sorrir; apesar de tudo penso ser a eleição do Fado, como Património Imaterial da Humanidade, uma boa escolha
Internacionalmente, o acontecimento mais marcante nos seus aspectos negativos, foi, sem dúvida, a crise dos mercados
No aspecto positivo, pela influência que poderá ter, não só na região, mas em todo o mundo islâmico, as revoltas chamadas como "Primaveras árabes"
E agora as minhas escolhas pessoais dos desportistas do ano.
A nível nacional, decerto só poderia ser Cristiano Ronaldo
e a nível internacional o sérvio que alcançou as mais brilhantes vitórias nos principais torneios do ténis mundial e actual e destacado nº.1 do ranking ATP: Novack Djokovic


Finalmente, e muito pessoalmente, o melhor livro que li:
O melhor filme que vi:

A melhor peça de teatro que assisti:

e a música de que mais gostei:


Resta-me desejar a tod@s, apesar de tudo, um Novo Ano, o melhor possível

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os "Mercados" e os seus "agentes...

Talvez que com a leitura deste excelente artigo, se perceba melhor a chamada “Crise dos Mercados”:

«Agora está claro: não existe, no interior da União Europeia, nenhuma vontade política de enfrentar os mercados e resolver a crise. Até há pouco, atribuiu-se a lamentável actuação dos dirigentes europeus à sua desmedida incompetência. Mas esta explicação, ainda que correcta, não basta, sobretudo depois dos recentes “golpes de Estado financeiros” que puseram fim, na Grécia e na Itália, a certa concepção de democracia. É óbvio que não se trata só de mediocridade e incompetência, mas de cumplicidade activa com os mercados.

A que chamamos “mercados”? A este conjunto de bancos de investimento, companhias de seguros, fundos de pensões e fundos especulativos (hedge funds) que compram e vendem essencialmente quatro tipos de activos: moedas, acções, papéis da dívida dos Estados e produtos derivados dos três primeiros.

Para ter ideia da sua força colossal, basta comparar duas cifras: em cada ano, as empresas de bens e serviços criam, em todo o mundo, uma riqueza estimada (se medida pelo PIB) em cerca de 45 biliões (milhões de milhões) de euros. Ao mesmo tempo, em escala planetária, os “mercados” movem capitais avaliados em 3.450 biliões de euros. Ou seja, setenta e cinco vezes o que produz a economia.

Consequência: nenhuma economia nacional, por poderosa que seja (a da Itália é a oitava do mundo), pode resistir aos assaltos dos mercados quando estes decidem atacá-la de forma coordenada, como estão a fazer há mais de um ano contra os países europeus depreciativamente qualificados como PIIGS [porcos, em inglês]: (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).

O pior é que, ao contrário do que se poderia pensar, estes “mercados” não são unicamente forças exóticas, vindas de algum horizonte distante para agredir as nossas gentis economias locais. Não. Na sua maioria, os “atacantes” são os nossos próprios bancos europeus (estes mesmos que foram salvos, com o nosso dinheiro, pelos Estados, na crise de 2008). Para dizer de outra maneira, não são apenas fundos norte-americanos, chineses, japoneses ou árabes os que estão a atacar maciçamente alguns países da zona euro.

Trata-se essencialmente de uma agressão de dentro, dirigida pelos próprios bancos europeus, as companhias europeias de seguros, os fundos especulativos europeus, os fundos europeus de pensões, as instituições financeiras europeias que administram as poupanças dos europeus. São eles que possuem a parte principal da dívida dos Estados. E que, para defender em teoria os interesses dos seus clientes, especulam e obrigam os Estados a elevar as taxas de juros que pagam, a ponto de levar vários (Irlanda, Portugal, Grécia) à beira da falência. Com o consequente castigo para os cidadãos, que devem suportar medidas “de austeridade” e brutais ajustamentos decididos pelos governos europeus para “acalmar” os mercados-abutres – ou seja, os seus próprios bancos.

Estas instituições, além de tudo, conseguem facilmente dinheiro do Banco Central Europeu a 1,25% de juros, e emprestam-no a países como Espanha ou Itália a… 6,5%. Daí a importância escandalosa das três grandes agências de avaliação de riscos (Fitch Ratings, Moody’s e Standard & Poor’s): da nota que atribuem a um país, depende o nível dos juros que este pagará para obter um crédito dos mercados. Quanto mais baixa a nota, mais altos os juros.

Estas agências não apenas costumam equivocar-se – em particular na sua opinião sobre as hipotecas subprime [de segunda linha] norte-americanas, que deram origem à crise actual – mas desempenham, num contexto como o de hoje, um papel perverso e execrável. Como é óbvio que todos os planos “de austeridade” de cortes de direitos e ataque aos serviços públicos irão traduzir-se em queda do índice de crescimento, as agências baseiam-se nisso para rebaixar a nota do país. Consequência: este deverá reservar mais dinheiro para o pagamento da sua dívida. Dinheiro que precisará obter cortando ainda mais o orçamento. Provocando queda inevitável da actividade económica e das próprias perspectivas de crescimento. E então, de novo, as agências rebaixarão a sua nota.

Este ciclo infernal de “economia de guerra” explica porque a situação da Grécia se foi degradando tão drasticamente, à medida que o seu governo multiplicava os cortes e impunha uma férrea “austeridade”. De nada serviu o sacrifício dos cidadãos. A dívida da Grécia baixou ao nível dos “títulos lixo”.

Deste modo, os mercados obtiveram o que queriam: que os seus próprios representantes cheguem ao poder, sem precisar submeter-se a eleições. Tanto Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, quanto Mario Monti, presidente do Conselho de Ministros da Itália, são banqueiros. Os dois, de uma maneira ou de outra, trabalharam para o banco norte-americano Goldman Sachs, especializado em colocar os seus homens nos postos de poder. Ambos são, também, membros da Comissão Trilateral.

Estes tecnocratas planeiam impor — custe o que custar socialmente e nos marcos de uma “democracia limitada” — as medidas que os mercados exigem (mais privatizações, mais cortes, mais sacrifícios) e que alguns dirigentes políticos não se atreveram a tomar, por temerem a impopularidade que tudo isso provoca.

A União Europeia é o último território no mundo em que a brutalidade do capitalismo é mitigada por políticas de protecção social. Isso que chamamos “estado de bem-estar”, os mercados já não toleram e querem demolir. Esta é a missão estratégica dos tecnocratas que chegam ao centro do governo graças a uma nova forma de tomada de poder: o golpe de Estado financeiro. Apresentado, é claro, como compatível com a democracia…

É pouco provável que os tecnocratas desta “era pós-política” consigam resolver a crise. Se a sua solução fosse técnica, já teria sido adoptada. Que se passará quando os cidadãos europeus constatarem que os seus sacrifícios são em vão e que a recessão se prolonga? Que níveis de violência os protestos alcançarão? Como se manterá a ordem na economia, nas mentes e nas ruas? Haverá uma tripla aliança entre o poder económico, o mediático e o militar? As democracias europeias converter-se-ão em “democracias autoritárias”?»

- Artigo publicado em Le Monde Diplomatique em espanhol, traduzido por António Martins para Outras Palavras, revisto por Carlos Santos para esquerda.net
Esqueceram-se que aqui já temos o "agente" a trabalhar, o Gasparzinho...

Este texto foi enviado, como a minha participação para  o tema mensal da "Fábrica de Letras" - a crise!