terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Fotos do ano

Em jeito de balanço, e agora que já não tenho paciência para aquelas escolhas dos "melhores e piores" do ano, em vários sectores, socorro-me de um assombroso conjunto de fotos escolhidas por uma entidade americana, como as melhores de 2008, para lembrar o ano que agora finda.
Gostaria que daqui a um ano, o tipo de fotos fosse menos centrado na violância, quer humana quer da Natureza, na dor e na tristeza.
Para todos, votos de um bom ano.
Podem e devem ver todas as fotos aqui.

domingo, 28 de dezembro de 2008

A tropa cá do João 13 - (Moçambique 7)

(Nova Freixo, hoje Cuamba)



E veio finalmente a tão esperada ordem de abandonar o aquartelamento da Ilha de Metarica, para rumar até Nampula, onde se faria o desmembramento da Companhia, penso que seria a primeira a ser desmembrada naquela colónia (fora as que regressavam entretanto a Portugal).
Foi com alvoroço e muita satisfação que iniciámos a preparação da coluna auto que levaria os homens e o material ainda operacional até Nova Freixo, uma cidadezinha simpática, onde a guerra nunca tinha chegado, e de onde iríamos depois até Nampula, de comboio. Deixámos no quartel as viaturas inoperacionais e os “edifícios” que serviam de casernas, e de apoio logístico: administração, transmissões, saúde e messe de oficiais e sargentos e ainda um edifício, esse sim construído por nós e que era a minha habitação e posto de comando; fizemos um grande pano onde escrevemos “Oferta do exército português ao povo de Moçambique” e ala., que se faz tarde…Eu fui de avião com o pessoal administrativo, pois transportávamos o cofre e documentação importante que não devia ser transportado em coluna, apesar de esta coluna auto nem poder ser considerada de alto risco.
Chegados a Nova Freixo, todo o pessoal, com dinheiro no bolso pois tinham recebido o pré antes da partida, procurou com naturalidade o óbvio e que não tinham no quartel no mato: diversão, essencialmente baseado no álcool e nas mulheres; até eu, após um bom banho e uma refeição normal na messe me dei ao luxo de ir ao cinema. Instalado na minha cadeira, fui várias vezes interpelado por militares da PM (polícia militar) que me questionavam o que fazer com o soldado A ou B, apanhados com copos a mais a perturbar a santa calma da cidade; a minha resposta foi sempre a mesma, que os prendessem e os deixassem passar a bebedeira na esquadra pois de manhã, estariam bem , a não ser a ressaca; ao menos não provocariam distúrbios…
Passados dois dias, e feito o abate do material, lá rumámos a Nampula, num comboio que quase dava tempo para nos apearmos e voltar a entrar; chegámos à capital militar de Moçambique, após longuíssimas horas de viagem, e nem me passava pela cabeça os trabalhos que me esperavam naquela cidade; mas isso fica para o derradeiro episódio desta saga.

Como há muito não publicava nada desta série, podem seguir o último episódio aqui e aqui.


©Todos os direitos reservados. A utlilização dos textos deste blogue, qualquer que seja o seu fim, em parte ou no seu todo, requer prévio consentimento do seu autor.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Justiça portuguesa

Boa! Por uma destas é que eu não esperava. Por este andar... dentro em pouco nenhum malfeitor escapa à justiça. Assim mesmo é que é, pois então! A justiça portuguesa está de parabéns!
Depois de anos e anos a batalhar eis que surgem os primeiros resultados.
Desde a morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia,
Ao desaparecimento de Madeleine McCann,
Ao caso Casa Pia
Do caso Portucale Operação Furacão
Da compra dos submarinos
Às escutas ao primeiro-ministro
Do caso da Universidade Independente
Ao caso da Universidade Moderna
Do Futebol Clube do Porto
O Apito Dourado
Ao Sport Lisboa Benfica
Da corrupção dos árbitros
À corrupção dos autarcas
De Fátima Felgueiras
A Isaltino Morais
Da Braga parques
Ao grande empresário Bibi
Das queixas tardias de Catalina Pestana
Às de João Cravinho
As operações imobiliárias da Obriverca
As alterações dos PDM’s para beneficiar construtores.
As acusações feitas por Marinho Pinto bastonário da Ordem dos Advogados e que o MP prometeu investigar.
Dos doentes infectados por acidente e negligência com o vírus da sida?
Do miúdo electrocutado no semáforo
Do outro afogado num parque aquático?
Das crianças assassinadas na Madeira
Do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?
Do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?
A miúda desaparecida em Figueira?
Todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
As famosas fotografias de Teresa Costa Macedo?
Aquelas em que ela reconheceu imensa gente 'importante', jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão?
Os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran
Os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?
O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.
A distribuição aos amigos das casas da Câmara de Lisboa.
Pois é... a justiça portuguesa está de Parabéns!
Depois de anos e anos a batalhar eis que surgem os primeiros resultados. Prenderam um jovem que fez um download de música ...YEAAAAAAAAH!... VIVA!!!!
Primeiro português condenado à prisão por pirataria musical na Internet!... O Indivíduo poderá passar entre 60 a 90 dias atrás das grades por ter feito o download e partilhado música ilegalmente com outros utilizadores!...
Confirmam-se as declarações do Bastonário dos Advogados: “O Ministério Público é muito forte com os fracos e muito fraco com os fortes”, afirmou.
“Existe em Portugal uma criminalidade muito importante, do mais nocivo para o Estado e para a sociedade, e andam por aí alguns impunemente a exibir os benefícios e os lucros dessa criminalidade, sem haver mecanismos para lhes tocar. Alguns até ocupam cargos relevantes no aparelho de Estado português, ostensivamente”, afirmou Marinho Pinto, citado pelos jornais portugueses. Segundo afirmou, “o fenómeno da corrupção é um dos cenários que mais ameaça a saúde do Estado de direito em Portugal'.

(lido aqui)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Inverno

Eu não tenho a mínima formação musical, nem na minha família era comum o gosto pela chamada música clássica; fui portanto um pouco auto-didacta na minha aprendizagem do gosto por este tipo de música. Claro que ouvia falar de Mozart ou Beethoven, mas não identificava os compositores e o máximo que conhecia era o “Hino da Alegria” que sabia ser a parte final duma qualquer sinfonia do génio surdo; claro que me estou a referir à minha infância e adolescência.
Quis o acaso, que uma vez, ao ver um filme, se não estou em erro, chamava-se “O Ídolo”, era com a Jennifer Jones e tratava de um romance problemático entre uma mulher de meia idade e o melhor amigo do seu filho, reparasse numa cena, muito bela da entrega dessa mulher ao adolescente numa sala apenas iluminada pelo fogo de uma lareira (o filme era a preto e branco) e nessa cena havia um fundo musical fortíssimo e que o próprio adolescente, desconhecendo-o quer identificar tendo a senhora em questão indicado que se tratava do “Inverno” de Vivaldi. Nunca tinha ouvido o nome deste compositor, mas no dia seguinte entrei numa discoteca para comprar o disco, pois tinha gostado muito; aí me informaram que podia comprar o vinil em 45 rotações, ou optar pela obra completa, que se chamava “As Quatro Estações” em 33 rotações, opção que escolhi.
Foi este o primeiro disco clássico que comprei e esta a primeira obra sinfónica que ouvi na íntegra; ao longo dos anos desenvolvi o gosto por este tipo de música, comecei a interessar-me e vindo para Lisboa a estudar comecei a assistir a concertos, bailados e óperas, sempre com agrado crescente; mas Vivaldi e o seu “Inverno” sempre ficaram no meu ouvido e ainda é hoje uma das melodias que mais oiço.
Entrados que somos no novo solstício, que coincide quase no calendário com as festividades do Natal e Ano Novo, e porque há muito perdi o gosto pelo Natal tradicional , porque se avizinha um ano assaz difícil e agreste, como agreste é esta estação do ano, e porque vivo momentos de alguma agitação, com características invernosas, por tudo isto, resolvi “comemorar estas festas” com este post, não querendo deixar de desejar a todos que passem esta época o melhor possível e dentro das vivências habituais de cada um.
Por mim, recordo John Steinbeck e chamar-lhe-ia mais apropriadamente “O Inverno do Nosso Descontentamento”.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Déjanito


Vai fazer este mês três anos que te “conheço”. Tudo começou num site da net, em que uma troca de mensagens originou o recíproco envio de endereços de e-mail, e assim durante meses, numa progressiva entrega, fomos encontrando aquilo que afinal ambos procurávamos: o “outro”! Não foi o lado físico que mais me tocou, no que a mim diz respeito; foi a beleza interior que me foste desvendando, mas tive depois o grato prazer de descobrir como a beleza exterior acompanhava a outra…
Mas estávamos longe e não era fácil marcar um encontro para tomar um café, ou mesmo combinar um local a “meio caminho”, para passar um fim de semana; uma deslocação de um de nós ao país do outro era necessária, mas também não era fácil; implicava custos, mas mais que isso, algum risco de se não ser a pessoa pensada. Claro que a “fotografia” estava feita há muito, mas há sempre contornos que só o conhecimento real nos pode revelar; seria que “conjugávamos” na convivência diária em todas as suas facetas, incluindo necessariamente a sexual, como parecia acontecer virtualmente?
Depois de muito conversarmos sobre o assunto, ficou assente que eu iria a Belgrado conhecer-te e ficaria em tua casa durante duas semanas; é curioso que este passo se concretizou apenas após nove meses ( o tempo de uma gestação) depois de nos conhecermos virtualmente, o que mostra que não foi algo de impetuoso…
Descrever a sensação do nosso primeiro encontro, no aeroporto, é impossível! Não há palavras, nem houve quase palavras, apenas um enorme sorriso mútuo e um trocar de dedos no táxi que nos transportou à cidade, até tua casa; aí, mal a porta se fechou por de trás de nós, libertámo-nos e pudemos finalmente “encontrarmo-nos um ao outro", como tanto ansiávamos. Foram 15 dias inesquecíveis e em que consolidei definitivamente o amor que já te dedicava. A separação, a primeira de várias, foi dolorosa.
Depois foi o começo dos encontros, sempre demasiado curtos e das separações, sempre muito sofridas; duas vezes aí, duas vezes cá, em Londres e em Itália; apenas algo mitigou sempre a dor do adeus e foi a certeza, com data escolhida, do próximo encontro.
Durante os longos períodos de separação, estás sempre comigo e há rotinas que não quebramos: um telefonema perto da hora do almoço, quando possível um beijo rápido no MSN durante a tarde e o namoro nocturno, chova ou faça sol, e mesmo quando há compromissos, ou espero por ti ou tu por mim; e por vezes as conversas nem são longas, pois há cansaço ou sono, mas basta ver o teu sorriso e trocar aquelas nossas frases, para ser sempre bom o nosso “reencontro” diário; por vezes, (deixemo-nos de ser hipócritas), mas muito raramente, vamos um pouco mais além, naquilo que a webcam permite, o que não poderá ser considerado mal e que me dá muito mais prazer do que se estivesse a viver uma “situação real” com outra pessoa; finalmente não nos deixamos dormir sem por telefone desejarmos com um beijo uma noite descansada um ao outro.
Esta a nossa rotina, “quebrada” aqui e ali, com um SMS ou um telefonema a dizer “Adoro-te”, de parte a parte ou por uma ou outra notícia mais urgente.
Agora, aprazado que estava o nosso próximo encontro para 2 de Fevereiro, novamente em Belgrado, há infelizmente uma quase certeza de que o mesmo não se irá efectivar nessa data o que acontece pela primeira vez; e, pior que isso, não há, nem pode haver, por ora, uma data certa, apenas a certeza do encontro aí e que será o mais breve possível. Esta desilusão, esta incerteza, traz-me angustiado. Mas há momentos na vida que nos fazem partidas e eu estou a viver um desses momentos; circunstâncias várias, impedem-me de me deslocar nessa data e esse facto apenas aumenta ainda mais os problemas que vou tendo. Sinto que da tua parte, também isto te afecta, embora o teu feitio seja muito diferente do meu; aliás somos mesmo muito diferentes e daí a nossa complementaridade. Eu tenho os meus problemas, variados e reais e tu tens os teus, necessariamente diferentes, mas também reais; daí a necessidade cada vez maior de nos termos, um ao outro.
Como tudo seria diferente para mim, se ao fim do dia, no terno abraço nocturno, te pudesse contar naquele tom de voz “baixinho”, tudo o que vai passando e tu sabes, mas que preciso de te sussurrar enquanto te sinto ao meu lado.
Preciso, mais que nunca, de ti, Déjan, da tua presença, do teu abraço, do teu calor, do teu cheiro… Nunca, ao longo de três anos, precisei tanto de ti, e, logo agora não posso contar os dias que faltam para te voltar ouvir chamar-me aqueles nomes amalucados que inventas para mim e que me fazem tão feliz. E sei que também tu precisas de mim, pois conheço-te como ninguém. Tu, além de mim, não tens ninguém que te conheça por inteiro, a quem possas falar de TUDO aquilo que és, e dos teus anseios; tens amigos fabulosos, conheço-os, mas no teu país, o peso de ser diferente é ainda maior do que aqui.
Preciso muito de ti; pela primeira vez, a distância torna-se insuportável…

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Mudanças em Washington

É já no próximo dia 20 de Janeiro que Bush deixa (finalmente) a Casa Branca. Como se sabe o próximo inquilino será Barak Obama, recentemente eleito presidente dos E.U.A.
Como é normal, nestes casos, os novos "inquilinos" das residências oficiais fazem pequenos ajustes para se sentirem mais de acordo com o seu modo de viver.
Obama apenas pediu uma pequena alteração: que fosse pintada a fachada da sua nova residência; resta um problema - como chamar agora à casa oficial do presidente americano?

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

"We All Sleep Alone"

Numa versão bastante diferente daquela que Cher cantou, uma bela canção, numa bela voz e um cantor "especial" - Ron Morris!!!



Somebody, somewhere, turns off the lights
Somebody all alone faces the night
You've got to be strong when you're out on your own
Cause sooner or later, we all sleep alone

Nobody, nowhere, holds the key to your heart
When love's a possession, it'll tear you apart
You may have lovers wherever you roam
But sooner or later, ooh, we all sleep alone

Oh, the young and the young at heart wait
But the wait never ends in the soul
When you feel love is all gone away
Independence has come
And into the night I go

Don't make no promises that I can't keep
I won't be no prisoner of somebody's needs
You may have lovers wherever you roam
But sooner or later, ooh, we all sleep alone
Ooh, we all sleep alone

Yeah, yeah, we all sleep alone, yeah
And I know, And I know how you feel
Like I've taken what you're saying to me
Cause we all sleep alone
Yes, we all sleep alone

domingo, 14 de dezembro de 2008

"Porque ainda se morre de amor" (transcrição)



Não é de todo meu hábito transcrever textos, a não ser que sejam necessários para desenvolver um tema ou porque assim consigo exprimir conceitos, ideias ou sentimentos que desejo transmitir. Ainda menos é habitual transcrever na íntegra um texto de outro blog, penso mesmo nunca o ter feito até aqui, mas tudo tem uma excepção e ela surge hoje e aqui, com a transcrição integral do último post do amigo “Melões Melodia”, que penso me perdoará a descortesia; mas não consigo reprimir a emoção que me provocou a leitura deste texto, e visto apenas termos 3 ou 4 bloguistas comuns nos nossos links, gostaria que este maravilhoso e comovente texto, tivesse a maia ampla divulgação possível. Apenas não coloquei o vídeo com a cena do filme “Amadeus”, mas reproduzo a fabulosa música de Mozart.




"Porque ainda se morre de amor
Hoje fico em casa. Deveria sair, meter-me na confusão da grande metrópole sob a copiosa chuva, o vento desagradável, o frio, fazer as compras de Natal, enfrentar os grandes armazéns cheios de gente, mas fico em casa.
Hoje estou como o tempo, cinzento, chuvoso, porque não sei lidar com o que não consigo entender.
Ontem vi morrer uma criança. Nunca tinha visto morrer ninguém mas não esperava ver morrer uma criança.
Chamou pela mãe que não estava. Depois chamou por mim que não estava. Mas eu, ao contrário da mãe, estava na mesma cidade e não noutro continente.
Já falara antes aqui do meu menino. O único que não estava terminalmente doente e que ficara sem mãe devido à burocracia estúpida e à lei cega e insensível que pensa defender a civilização ocidental mas a despe da boa moral, da alegria e do amor.
Não foi a doença que matou o meu menino, foram as leis. Desde que a mãe teve de tomar a decisão, fazer a impossível escolha, pior do que a de Sofia e bem mais real, que o menino deixou de comer e quando o fazia, rejeitava, e nesta rejeição não só dizia que não à comida mas também ao tratamento. Com os meses o brilho dos olhos definhava, o olhar tornava-se perdido e ver este olhar numa criança, dói.
Quando me via, sorria e abraçava-me. Pedia-me para não desaparecer como a mãe havia feito.
Ontem quando me ligaram, saí do escritório e fui ao hospital.
Desta vez não me pediram que me desinfectasse ou vestisse a bata azul ou que cobrisse os sapatos. Disseram-me: “Entra, só chama pela mãe e por ti. Achamos que não passa desta noite.”
Sorri-lhe como pude. Sorriu-me e pediu-me um beijo. Estive ali três horas a olhar para o meu menino, o meu preferido, a sorrir-lhe e a passar-lhe a mão pelo cabelo encarapinhado. No silêncio cortado pelo “bip” das máquinas.
Adormeceu mas eu fiquei ali a olhar para ele de coração partido e alma desfeita. Estremeceu, abriu os olhos, olhou para mim e sorriu. Aqueles olhos enormes naquele rosto tão magro.
E num minuto o "bip" tornou-se infinito, entraram as enfermeiras, o médico enquanto eu assistia a tudo como se fosse um filme em câmara lenta e só via aqueles olhos grandes fixados em mim.
A cidade calou-se à minha volta e a paz reinava. Fui até a casa e sentei-me às escuras no silêncio. Ignorei o telefone quando tocou, fugi dos compromissos que tinha, vira morrer uma pessoa, uma criança, o meu menino.
Já tarde, quando as pessoas que haviam saído já dormiam, saí, caminhei lentamente sob a chuva da madrugada que me lavava a alma e acalmava a revolta.
Entrei em casa ensopado, já o céu clareava. Dormi profundamente e quando acordei ainda chovia.
Ainda vejo aqueles olhos grandes e negros fixados em mim.
Para muitos, para as estatísticas, foi mais uma criança que morreu de sida.
Para mim foi uma criança que morreu por amor."




quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"Soldadó"

Há tantos livros que tenho na prateleira e tanta inércia para os ler, que para quebrar essa inércia, resolvi pegar num livro pequeno, que não me demorasse muito a ler; quis o acaso que esse livro fosse um dos que há mais tempo repousam na prateleira, e é um dos muitos que tenho comprado sobre a Guerra Colonial, pois é um tema que muito me interessa pessoalmente.
O livro em causa chama-se “Soldadó” (não, não é erro, é mesmo este o nome), e é de autoria de Carlos Vale Ferraz (pseudónimo de Carlos Matos Gomes), que nasceu em 1946 em Vila Nova da Barquinha, fez os estudos secundários no Colégio Nun’Álvares em Tomar e frequentou a Academia Militar. Entre 1967 e 1974 cumpriu missões militares em África. O seu primeiro romance e o mais célebre foi “Nó Cego” (1983). A ele se seguiram “De Passo Trocado”(1985) e a novela “Soldadó” (1988). O tema destes livros foi sempre o mesmo: a Guerra Colonial; dentre outros livros publicados posteriormente, alguns dedicados a vivências africanas, mas não exclusivamente sobre a guerra, avulta “Os Lobos não usam Coleira” (1991), que foi adaptado ao cinema – “Os Imortais” de António Pedro Vasconcelos.
“-Os portugueses são o melhor povo do mundo em reconciliações, palavra de honra! - garantiu o capitão Baltazar. - Um português nunca fica de mal com o semelhante para sempre!
- Temos a esperteza suficiente para saber que um dia podemos vir a precisar de um favor dos nossos inimigos… - apoiou o Majorué.
- Sim, se não falássemos àqueles que nos ofenderam a quem iríamos meter cunhas?”



Este pequeno trecho é bem elucidativo de que o teor do livro “Soldadó” de Carlos Vale Ferraz vai muito além da análise do clima de guerra, para esboçar determinadas convicções acerca da maneira de ser das nossas gentes.
Soldadó é um militar deslocado para África, em plena Guerra Colonial. Pouco dotado de inteligência e obediente que nem um cão, Soldadó sente-se às mil maravilhas nas suas funções militares. Acata todas as ordens que os sargentos lhe dão com um «sim, senhor» entusiasta, só se sentindo em segurança ao cumpri-las.
De um combate misterioso que ninguém sabe ao certo como começou, Soldadó foi o único ferido. Abre-se um inquérito para tentar esclarecer os factos ocorridos.
É neste inquérito que os sargentos vão contando ao comandante encarregado do relatório a história incrível de Soldadó – o seu nascimento em Cabeça Seca, a sua incursão na vida militar, a viagem para África a bordo do Niassa, as suas funções militares em África.
Com muito humor, são também relatados pitorescos e caricatos acontecimentos militares, pondo em causa toda a instituição militar e, muito particularmente a Guerra Colonial.


Estou agora a ler, com entusiasmo crescente "Nó Cego" e cada vez mais sinto que devo completar a saga "A guerra cá do João", aqui no blog, mas como se diz, "o rabo é o que mais custa a esfolar"...











terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Crises

A crise está aí!
É o que se ouve dizer e é verdade, nós sentimo-la, todos os dias, nos mais variados aspectos da vida.
E também chegou aqui, à Blogosfera, nalguns casos mais directamente relacionados com ela, como se pode notar na acentuada ausência de postagens de alguns bloguistas (refiro-me é claro, aos que habitualmente leio e comento), que costumavam ser mais assíduos, e que agora, por falta de tempo ou motivação, têm andado desaparecidos; infelizmente, esta “crise” na Blogosfera, tem também uma outra razão, bem mais grave e triste, e que se refere àqueles que não postam ou comentam, por razões de saúde suas ou de entes queridos; a esses a minha solidariedade nunca regateada.
Mas, mesmo nos que continuam a “dizer qualquer coisa”, ou se rareiam as postagens ou então se fica por pequenos apontamentos, uma música e pouco mais (o que não significa que sejam assuntos desinteressantes); eu próprio sinto isso em mim, e por vezes falta-me a paciência para “construir” posts com alguma substância.
Hoje, por exemplo, hesitei muito na escolha do tema, e por isso optei por estar aqui a divagar…
Apetecia-me deixar uma referência ao desaparecimento de António Alçada Baptista, que mais do que um “escritor de afectos” como é comum chamar-lhe, foi para mim uma pessoa amiga, embora há já tempos que com ele não privasse; as nossas famílias sempre foram amigas, já que somos da mesma cidade, Covilhã, e quando eu era pequenito ele me levava às costas nas férias estivais nas Penhas da Saúde; fica a saudade do Homem e dos tempos…
Apetecia-me falar de dois factos da política nacional, que tiveram algum relevo nos últimos dias: o descarado apoio do Governo a um banco, que não o mereceria, pois os únicos prejudicados com a sua eventual queda, são pessoas possuidoras de enormes fortunas e cuja “infelicidade” em nada me preocupa; foi mau de mais…E o descalabro total no seio do PSD, que tinha uma soberana ocasião para, no Parlamento, contribuir juntamente com o resto das oposições, derrotar a maioria absoluta do partido do Governo, já que se sabia antecipadamente da ausência de vários deputados do PS e o voto contrário de outros, na questão da suspensão do modelo de avaliação dos professores, mas que, inconsciente ou conscientemente, contabilizou na altura da votação, a falta de 30 deputados; assim, Sócrates continua a sorrir e apesar de toda a contestação, a subir nas sondagens...Um outro aspecto que gostaria de focar, é pessoal, e tem a ver com a crise, mais propriamente com a crise da Justiça, a qual me afecta bastante no momento actual, pondo inclusive em risco a minha deslocação a Belgrado, no início de Fevereiro; mas, a este respeito, quero e devo voltar, mais tarde, com o relevo que merece, e espero que o possa fazer o mais breve possível. Para mostrar como em Portugal também há processos kafkianos…
Enfim, a crise vai continuar, na blogosfera, em Portugal e no mundo, com violência, tragédias e poucas, muito poucas alegrias.
Esperemos por dias melhores, mas quando???

domingo, 7 de dezembro de 2008

Better



Our love has changed
It's not the same
And the only way to say it
is say it..it's better

I can't conceal
This way I feel
For all the times we spend together
Forever just gets better

Seem what I'm try to say is
You make things better
And no matter what the day is
With you here it's better

I stand by you
If you stand by me
I think it's time that I reveal it
Cause I believe it
It's better

Seem what I'm try to say is
You make things better
And no matter what the day is
If you're here it's better

Ooh the more I write song to you
I'm fall in love with everything you do

Oooh..

Seem what I'm try to say is
You make things better
And no matter what the day is
With you here it's better

Our love has changed
It's not the same
And the only way to say it
is say it..it's better



Esta música é linda e o clip é bem conseguido.
Dedico-o a uma pessoa - a TI!
VOLIMTE CHAKO PAKO

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Passado e presente: 10 - Redacção: os pinguins

Retomando a recuperação da parte do meu blog perdido, aqui vai um texto publicado em 24 de Novembro de 2006, pretendendo imitar as redacções da escola primária. A foto é da sala de minha casa.

Redacção: -"OS PINGUINS"

Os pinguins são uns animais muito bonitos. São aves, mas não voam. São como os patinhos, pois podem nadar.

Vivem em grupos muito grandes, nas terras geladas.

São animais de que toda a gente gosta. Eu também gosto muito de pinguins. É o meu animal preferido. Até faço colecção de pinguins e já tenho muitos...

Aqui em casa, há pinguins por todo o lado, e até há uma pessoa a quem chamo "Pinguim"!

Se calhar, foi por causa dessa pessoa que passei a gostar ainda mais de pinguins.

Há muitos amigos que me oferecem pinguins, e às vezes até tenho alguns iguais.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Metamorfoses



"Ser diferente pode tornar-nos solitários. Mas, dos nossos casulos, nós lutamos para sair, renascidos e levantamos voo com asas construídas de delgados fios, e abraçamos o que realmente somos..."



Pintura de Michael Breyette, que podem ver com mais desenvolvimento aqui e aqui.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O HIV mata...

São dois vídeos "roubados", o primeiro aqui e o segundo ali, mas não posso deixar de os partilhar, porque me impressionaram muito; são fortes, mas a doença, infelizmente também o é..