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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

LER!!!!!!!!!!!

De há uns tempos a esta data recomecei um hábito que desenvolvi na minha juventude e que interrompi estupidamente durante anos anos a fio – ler!
Em boa hora o fiz e os problemas que isto me acarreta neste momento são dois: conseguir ler tudo o que tenho em casa, antes de morrer, e onde colocar tanto livro.
Entretanto, tenho um perfil num site deveras interessante – o Goodreads, onde se fala, se escreve e actualizamos as nossas leituras.
 Um dos desafios a que acedi já no ano anterior e neste também é o chamado “"Your Challange Books”, para cada ano; o ano passado estabeleci um ambicioso patamar de ler uma média de um livro por semana (52 livros) e que cumpri com 2 ou 3 livros a mais.
Neste ano mantive o mesmo objectivo e faltando ainda mais de dois meses para o final do ano, ele já foi superado, pois já li este ano 55 livros ( https://www.goodreads.com/user_challenges/1126769). 

Quero destacar aqui alguns factos curiosos: destes 55 livros, 36 foram escritos em português, sendo 31 de autores portugueses (mais de 50% do total) e 5 de escritores brasileiros.
O autor mais lido foi Allan Massie (4 livros)
seguido de Fernando Caio Abreu (3 livros)
e três autores portugueses com dois títulos cada: Ana Cristina Silva, José Régio e Mário Cláudio.

Quase todos os livros lidos são de ficção, sendo os relacionados com a História, uma fatia importante. Li 5 livros de fotografia, vários sobre a guerra colonial, um deles da minha autoria
um de banda desenhada e infelizmente apenas um de poesia e um ensaio.

Destaque ainda para os livros editados pela Index, dos quais li três além do meu, sendo um dos dois editores (João Máximo e Luís Chainho) e outro da Margarida Leitão.

Quanto à qualidade, exceptuando um livro deplorável
a média foi excelente, tendo atribuído por 8 vezes a nota máxima – 5 ***** , e permito-me destacar um livro como o melhor do ano e talvez o melhor de há muitos anos, de um jovem e promissor escritor português, Norberto Morais - “O Pecado de Porto Negro”

São estes os restantes livros que obtiveram as 5 *****















sábado, 17 de maio de 2014

Allan Massie

Historiador, jornalista e escritor britânico, nasceu a 19 de outubro de 1938, em Singapura.
Cresceu em Aberdeenshire na Escócia e foi educado na Inglaterra estudando em Glenalmond e no Trinity College, em Cambridge, onde se formou e passou a lecionar História.
Também morou e lecionou durante vários anos na Itália .
Atualmente é resenhista-chefe do The Sotsman, colunista do Daily Telegraph e do Spectator, membro da Real Sociedade de Leitura e juiz do Prémio Man Booker .
Autor prolífico, já publicou mais de 30 livros, incluindo 19 novelas, destacando-se especialmente pela popularidade alcançada por seus romances históricos.
Um grande admirador de Sir Walter Scott Sir e do russo Andrei Makini , Massie mora há 25 anos com sua esposa Allison e seus três filhos na cidade de Selkirk , na fronteira escocesa.
Foi a sua escrita sobre a História, em particular sobre Roma, que mais o celebrizou.
Allan Massie escreveu cinco livros sobre a vida de cinco” imperadores”* romanos: César, António, Augusto, Tibério e Calígula, aqui ordenados por ordem cronológica.
Li todos eles, à excepção do primeiro, que lerei oportunamente.

Gaio Júlio César Germânico - Calígula - é considerado pelos historiadores um dos mais cruéis, sangrentos e autoritários imperadores romanos. Tinha menos de 25 anos quando se tornou imperador, sem nunca ter servido no exército ou assumido um cargo público. Seu reinado foi breve e marcado pela instabilidade mental, com relatos de orgias e devassidão sexual, delírios de loucura e grandeza. Nesta biografia romanceada, o autor questiona a versão da maioria dos historiadores e filósofos a respeito desse personagem símbolo da decadência romana.
"Quis o acaso que tivesse lido em primeiro lugar “Calígula”, e a seguir “Tibério”, o que é curioso pois comecei a ler historicamente, de trás para a frente. Sucede que Massie, naturalmente, ocupa bastante das suas primeiras páginas com os tempos mais recuados do imperador que está a descrever, e portanto já em “Calígula” se falava algo de Tibério, o então imperador reinante; neste livro (“Tibério”), grande parte do livro, quase metade é passado nos tempos do imperador Augusto, seu padrasto, o que me vai levar a que seja a biografia deste último imperador a minha próxima leitura de Massie. E também é curioso que tivesse ido a recordar, após ter acabado de ler este livro, as primeiras páginas de “Calígula”. Eu gosto muito de História e Roma, como a civilização grega, sempre me fascinou; já tinha lido antes livros sobre Adriano (M.Yourcenar) e sobre Juliano (G.Vidal) e começo a ter uma visão muito completa daqueles tempos, e duma forma global, o que me é particularmente grato. Neste livro, Massie dá-nos uma visão muito completa de como era a vida na Roma, imediatamente anterior a Cristo e durante a sua vida terrena (a morte de Cristo aconteceu durante o reinado de Tibério, embora ele nada tivesse a ver com esse acontecimento). É fabulosa a descrição de toda a vida palaciana, com intrigas e acontecimentos sucessivos, sem descurar a parte militar do império e muito interessante a descrição como a vida da família imperial está totalmente nas mãos do imperador, que a modela como bem entende. Massie é um apaixonado pela Roma imperial e eu cada vez estou mais apaixonado pela leitura dos seus livros. Imperdível para quem gosta de História."**
“…mas é de “Augusto” que quero falar, o primeiro imperador romano, já que Júlio César, que o antecedeu no governo romano nunca obteve do Senado o título de “prínceps”, atribuído aos imperadores. Este livro está elaborado em duas partes: o Livro I, que decorre desde o início da actividade pública de Augusto, aos 19 anos e derivada de ser o filho adoptivo de César, seu tio, quando ele morre e que vai até à morte de Marco António e Cleópatra, sendo António o homem que de certa forma com ele construiu os alicerces da paz romana, primeiro em triunvirato com Lépido e depois sozinho com António, numa relação muito conturbada entre ambos, de “amor/ódio” e que os faz extremas a situação a um ponto de conflito. Esta parte lê-se muito bem, é muito descritiva e empolgante e vai num crescendo de interesse. Há depois o Livro II, que nos relata de uma forma mais pausada as memórias de Augusto desde que começou a governar realmente a República, com as referências mais centradas na sua vida familiar, nos amigos e na sua concepção do poder. Não será tão atractiva esta segunda parte do livro, mas para mim é talvez ainda mais importante pois mostra-nos as razões pessoais que levaram Augusto a agir em momentos chave do seu governo e também questionam de certa forma, e por via indirecta a forma demasiado determinada como ele exerceu o poder. O que é um facto é que e ao contrário de António, de grande parte dos seus familiares e principalmente dos seus sucessores, ele morreu com 77 anos, o que na altura era uma muito provecta idade. Massie é um mestre neste tipo de livros, já o havia demonstrado também com “O Rei David”, e é pena que não tenha continuado as biografias dos imperadores depois de Calígula; talvez porque o sucessor deste, Cláudio, já tivesse um livro sobre a sua vida, com grande sucesso, “Eu, Cláudio” de Robert Graves e do qual curiosamente Massie faz questão de se afastar com algumas críticas ao mesmo. Há no entanto um outro livro de Allan Massie, em edição brasileira, que não encontro à venda no nosso país intitulado “Os Herdeiros de Nero”, e que procuro adquirir no país irmão. Mas gostaria muito de ver a forma como Massie trataria dos “reinados” de Cláudio e depois, de Nero. Enfim, “Augusto” é um livro fundamental para quem gosta de História e principalmente, da história apaixonante de Roma. “**
“Allan Massie é cada vez mais um autor imprescindível para quem gosta de pesquisar a vida de Roma desde os tempos de César até Calígula (inclusive). .. …Como já afirmei antes comecei a ler esta obra de trás para a frente, isto é, comecei por ler o livro sobre Calígula, e por mero acaso, tendo depois vindo a seguir um percurso cronologicamente inverso. Depois de ter lido o livro sobre Augusto, que como indiquei na critica que fiz, se desdobra em dois: um primeiro até à morte de Marco António e Cleópatra e um segundo sobre as reflexões do imperador sobre a sua vida, a sua família e o seu percurso até à sua morte, fiquei desde logo com vontade de ler de seguida o livro dedicado a Marco António, “António”, já que a vida dele está muito interligada á de Octaviano (mais tarde Augusto, já como primeiro imperador de Roma). Se tinha visto o percurso de ambos sob o ponte de vista de Octaviano, seria muito interessante ver como descreveria Massie , Marco António, sob o seu próprio ponto de vista. Claro que é fascinante ver as diferenças, e se depois de ler “Augusto”, tinha ficado com uma visão quase sempre muito positiva dele, (apenas na parte segunda do livro, Augusto relembra certas decisões suas que não terão sido muito recomendáveis), depois desta leitura de “António” se fica com uma “fotografia” mais real do grande imperador que terá sido Augusto, mas também do seu lado negativo e que não foi assim tão pequeno… Mas o livro debruça-se é sobre a vida de Marco António, desde a sua juventude ao seu suicídio, passando essencialmente pelo período em que logo após o assassinato de César, tomou em suas mãos, o poder de Roma, primeiro só e depois num triunvirato com Octaviano e Lépido. E também das suas campanhas militares, pois foi um dos maiores generais de Roma, embora com grandes ambições que acabaram por lhe serem nefastas. Nefasta foi também a sua ligação amorosa com Cleópatra, rainha do Egipto, que já havia sido amante de César, e por causa de quem, ele acabou por encontrar a morte. Num ponto os dois livros coincidem: na relação de amor/ódio que sempre houve entre estes dois grandes vultos da história de Roma. Falta-me agora apenas a leitura do primeiro livro, “César”, embora e isso sucede com todos os cinco livros referidos, haja sempre informação sobre as figuras que os antecedem e das que os irão suceder. Por isso já estou na posse de algumas referências fundamentais sobre Júlio César, o que, ao invés e lhe tirar interesse, ainda mais o desperta.“** 

Ainda antes de iniciar a leitura destes livros sobre Roma, tive um primeiro contacto com a obra de Allan Massie, através do seu Livro "O Rei David"
David, rei de Israel, é-nos apresentado neste romance como uma personalidade torturada e fascinante. O mundo de sexo, intriga, conflitos ferozes e obsessão religiosa sugere muitas vezes, não memórias bíblicas, mas alguns dos dramas que ensombram diariamente a terra onde David governou como rei.


Ainda deste autor, e também de cariz histórico li o livro "O Crepúsculo do Mundo"
A acção de "O Crepúsculo do Mundo", o primeiro volume de uma trilogia sobre a Idade Média, decorre durante a época das invasões bárbaras. Marco, o seu protagonista, um jovem nobre romano, é, de acordo com uma lenda, filho do próprio Arcanjo S. Miguel. O romance descreve-nos as suas extraordinárias experiências, em busca de sentido e estabilidade num mundo doravante crepuscular, onde os velhos deuses morreram ou agonizam, mas os seus mistérios atraem ainda muita gente, e onde a nova religião está ameaçada por novos barbarismos.

" Parti para esta leitura um pouco de pé atrás já que o período medieval, a idade das trevas, é a que menos me atrai na história da humanidade. Trata-se do primeiro livro de uma trilogia sobre a Idade Média, centrada num jovem que faz uma aprendizagem da vida numa longa viagem pelos vastos territórios do ainda império romano, já decadente e que o narrador procura fantasiar com variadíssimos episódios nem sempre bem integrados e dos quais o próprio se penitencia. Enfim, um período sombrio da História que encontra numa narrativa também muito cinzenta, o complemento para não me entusiasmar e que só logra as três estrelas pelo muito apreço que nutro pelo autor. Tenho pena de não encontrar os dois livros que se lhe seguem, pois seria interessante saber se Massie consegue sair do novelo em que se envolve neste livro. E o que mais me desagrada é que as referidas “fantasias” utilizadas parecem tão pouco verosímeis que, para quem, como eu, prezo muito o romance histórico, me parece quase blasfemo."**

 O segundo volume da trilogia, entretanto descoberto, é dedicado ao rei que está ligado à lenda dos Cavaleiros da Távola Redonda – “Rei Artur”, o qual vou procurar ler oportunamente.

Uma referência a alguns dos principais outros títulos da vasta bibliografia de Allan Massie: "A Question of Loyalties", "The Ragged Lion", "The Sins of the Father", "Glasgow: Portraits of the City", "The Last Peacock", "Byron’s Travels", "Chalemagne and Roland", "Cold Winter in Bordeaux".

*- Na realidade, imperadores foram apenas os três últimos, pois o título de "Princeps", que significava imperador, apenas foi atribuído pela primeira vez a Augusto. César foi acima de tudo conhecido como "ditador", que na altura demonstrava poder absoluto, sim, mas não tinha a conotação que hoje é dada a esta palavra; e Marco António foi "apenas" quem tomou as rédeas do poder em Roma após o assassinato de Augusto.

** A minha crítica inserida na altura da sua leitura, no site "Goodreads"

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eduardo VIII - Duque de Windsor

Acabei de ler mais um interessante livro que fala sobre o papel de algumas pessoas, que sendo gays tiveram algum impacto na História.
Trata-se do livro de Paul Tournier “ Os Gays na História”, e logo no início o autor explica o critério das suas escolhas, pois como parece óbvio, a “oferta” era muita; assim, ele apenas escolheu personagens masculinos, à excepção de um curto episódio sobre a figura bíblica de Ruth, e também, com excepção dos vultos culturais da Renascença, escolheu personalidades que de uma forma mais ou menos directa tiveram algum impacto na História.
Assim, encontramos referências a alguns homossexuais suficientemente conhecidos como tais: Sócrates, Alexandre, Júlio César, Adriano, David, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Shakespeare, Edward II de Inglaterra, Carlos XII da Suécia, Ludwig II da Baviera ou T.E.Lawrence, bem como outros menos conhecidos, como alguns reis e príncipes medievais (Jaime de Aragão, João II e Henrique IV de Castela), e um rei consorte espanhol – Francisco de Bourbon.
Mas mais interessantes são aquelas personagens de que há fortes indícios da sua homossexualidade, mas não certezas: S.João (o apóstolo favorito de Cristo), S.Paulo e Santo Agostinho, Voltaire e Robespierre, Lincoln, e Hitler.
Deixei propositadamente para o fim, uma das personagens que maior interesse me despertou – Eduardo VIII de Inglaterra, mais conhecido como Duque de Windsor e tio da actual rainha Isabel II.
Eduardo era filho de Jorge V e seu eventual sucessor.
No entanto, a sua vida foi cheia de pormenores muito curiosos e alguns pouco conhecidos.
Desde cedo Eduardo mostrou duas facetas da sua vida; por um lado, era conhecida a sua simpatia pela Alemanha e mormente por Hitler, então em plena ascenção política (anos 30) e por outro lado o seu gosto por pessoas do mesmo sexo, tendo um caso amoroso durante muitos anos com o seu secretário Dudley Metcalfe.
Sabendo Hitler da sua homossexualidade, e sendo ele um futuro rei de Inglaterra, este assunto preocupava o rei seu pai e os serviços secretos ingleses, que o vão visitar à sua residência oficial de Fort Belvedere,
para lhe exigirem um casamento antes de ser rei, para assim “apagar” essa imagem.
Ora nessa sua residência, o Duque de Winsor dava festas muito badaladas e recebia hóspedes variados, entre os quais apareceu um casal americano, os Simpson.
A uma certa altura o casal começou a deteriorar o seu casamento que acabou em divórcio e o Duque começou a ser um acompanhante preferencial de Wallis, a divorciada senhora Simpson.
Quando é feita essa proposta de casamento ao Duque, ele aceita com uma condição, que o casamento fosse com Wallis Simpson e fosse um casamento branco, ou seja, não consumado, deixando ao critério da senhora se ela quisesse ter um filho ou não (claro por interposta pessoa).
Entretanto em 1936 morre Jorge V e a Inglaterra vê-se com um rei – Eduardo VIII, com 42anos, solteiro e sem noiva.
A solução é o tal casamento, mas Wallis é divorciada e americana, e não só os súbditos a não aceitariam como rainha como o próprio Arcebispo de Cantuária, chefe da igreja inglesa não o permitiria, pelo que 11 meses depois, Eduardo VIII, abdica do trono, “por amor”, a favor do seu irmão Jorge VI, pai de Isabel II. Casa com a senhora Simpson em França, e curiosamente o padrinho de casamento é o seu secretário e amante
e passam a viver em França.
A vida sexual entre os dois era inexistente e a uma certa altura Wallis traz para a sua residência, um playboy americano amigo e bissexual, Jimmy Donahue, que contentava os dois duques sexualmente.
A coroa britânica nunca aceitou este casamento e o Duque apenas foi autorizado a visitar Londres por altura da morte da sua avó, Mary.
Mais tarde, houve uma certa abertura de Isabel II para resolver esta questão e os restos mortais daquele que foi rei por 11 meses, como Eduardo VIII, estão sepultados, como os da Duquesa, em Windsor.

Como apêndice uma curiosa foto...

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"Sinais de Fogo"

Jorge de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 Santa Bárbara, Califórnia,  4 de Junho de 1978)  foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Filho único de Augusto Raposo de Sena, natural de Ponta Delgada e comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Teles Grilo de Sena, natural da Covilhã e dona-de-casa. Ambas as famílias eram da alta burguesia, a paterna de suposta linhagem aristocrática de militares e altos funcionários, e a materna de comerciantes ricos do Porto. Segundo relata no seu conto Homenagem ao Papagaio Verde, teve uma infância recolhida, solitária e infeliz, o que fez com se tornasse introspectivo, observador e imaginativo.
Fez a instrução primária e os primeiros anos do liceu no Colégio Vasco da Gama. Concluiu os estudos secundários no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho. Era um jovem que lia avidamente, tocava piano e escrevia poemas. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, fez os exames preparatórios com as notas mais elevadas.
Sena nutria a ideia algo romântica de se tornar oficial da marinha, seguindo as pisadas do pai. Em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso. A 2 de Outubro de 1937 , iniciou a sua viagem de instrução a bordo do navio escola Sagres. Visitou os portos de S. Vicente, Santos, Lobito, Luanda, S. Tomé e Dakar, chegando a Lisboa no final de Fevereiro de 1938 . O contacto com a imensidão do oceano, a azáfama da vida a bordo e o movimento e mudança constantes agradaram ao jovem Sena, mas nem tudo correu bem. Segundo o relato de um antigo camarada de curso, naquele ano a viagem de instrução foi excepcional e particularmente dura e exigente em termos de preparação e destreza física, copiando o modelo da marinha alemã. Na parte teórica do curso Sena era brilhante, mas em termos atléticos era medíocre e apesar dos muitos esforços que fez não conseguiu satisfazer as elevadas expectativas do comandante do curso, que parecia nutrir um ódio de estimação pelo cadete contemplativo e intelectual. No final da viagem, foi comunicado a Sena que iria ser proposta a sua exclusão da Marinha por lhe faltarem as "necessárias qualidades" para oficial. Sena ficou profundamente frustrado e desgostoso com esta rejeição e o seu afastamento definitivo de um modo de vida que tanto almejava.
Apesar da sua inclinação natural para a literatura, o sobredotado Sena decidiu frequentar o curso de Engenharia Civil, iniciando-o em Lisboa e concluindo-o no Porto, em 1944, com a ajuda financeira dos seus amigos Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal. O curso pouco o entusiasmou, mas durante todo esse tempo escreveu bastantes poemas, artigos, ensaios e cartas. Desde os 16 anos que escrevia e em 1940, sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os seus primeiros poemas na revista Cadernos de Poesia, dirigida por Cinatti, Blanc de Portugal e Tomás Kim. Em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição, que não impressiona muito o seu amigo e crítico João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro considera-o um livro revelador mas difícil.
Em 1947, Sena inicia a sua carreira de engenheiro, que durou 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autónoma das Estradas (JAE), onde permanecerá até ao seu exílio para o Brasil em 1959.
Em 1940, no Porto, Jorge de Sena conhece e torna-se amigo de Maria Mécia de Freitas Lopes (irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes), começando a namorar em 1944 e casando-se em 1949. Jorge de Sena e Mécia de Sena tiveram nove filhos. Mecia, sua incansável companheira e enérgica colaboradora, apoiando o escritor nas inúmeras crises que lhe surgiram ao longo de uma vida por vezes atribulada.
Trabalhava incansavelmente, para sustentar a crescente família. Além do seu absorvente trabalho diurno na JAE (que lhe possibilitou viajar e conhecer o Portugal profundo), Sena também se dedicava à direcção literária em editoras, à tradução e revisão de textos, ocupações que lhe roubavam precioso tempo para a investigação literária e a para a sua obra. A banalidade e a pequenez do quotidiano no Portugal de Salazar das décadas de 1940 e 1950 atormentam-no, bem assim como a mediocridade, a mesquinhez e a intriga dos meios literários, a opressão política, a censura literária, resultando num ambiente de trabalho sufocante e absolutamente frustrante, mas que não deixam de o inspirar para o poema É tarde, muito tarde na noite…
Durante esses anos publica várias obras: O Dogma da Trindade Poética – Rimbaud (1942), Coroa da Terra, poesia (1946), Páginas de Doutrina Estética de Fernando Pessoa(organização), 1946, Florbela Espanca (1947), Pedra Filosofal poesia (1950), A Poesia de Camões (1951), etc.
A sua situação como escritor e cidadão estava a tornar-se insustentável. Como escritor, não tinha tempo livre para escrever, apenas o podia fazer de modo insuficiente e limitado à noite e aos domingos. Também o facto de não pertencer a nenhum círculo académico e a falta de apoio institucional lhe frustrava qualquer pretensão de poder vir a editar alguma obra mais ambiciosa. Por outro lado, a sua participação numa tentativa revolucionária abortada em 12 de Março de 1959, colocou-o em posição de prisão iminente, no caso muito provável de algum dos conspiradores presos pela PIDE denunciar os que ainda se encontravam livres.
Em Agosto de 1959, viajou até ao Brasil, convidado pela Universidade da Bahia e pelo Governo Brasileiro a participar no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Tendo sido convidado como catedrático contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de S. Paulo, aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio. Ele faz amizade com o poeta Jaime Montestrela, que dedicou o seu livro Cidade de lama. Por motivos profissionais teve de adoptar a cidadania brasileira.
Não foi contudo um exílio libertador. Sentia saudades da pátria, apesar do rancor perene que nutria pela pequenez, mesquinhez e falta de reconhecimento nacionais que o atormentariam até ao final da vida.
Em 1961, Jorge de Sena foi ensinar Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Em 1964, depois de vencer alguns preconceitos académicos pelo facto de ser licenciado em Engenharia, Jorge de Sena defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos académicos "com distinção e louvor".
O período de seis anos que passou no Brasil foi muito produtivo. Finalmente, tinha toda a disponibilidade para se dedicar à sua obra com a devida profundidade e profissionalismo. Poesia, teatro, ficção, ensaísmo e investigação. Parte do romance Sinais de Fogo e a totalidade dos contos Novas Andanças do Demónio foram escritos neste período.
A degradação da situação política no Brasil, com a instalação de uma ditadura militar a partir de Março de 1964, fez com que Jorge de Sena, mais do que nunca avesso a prepotências, aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, para partir para os Estados Unidos em Outubro de 1965. Em 1967 foi nomeado catedrático do Departamento de Espanhol e Português da referida universidade.
De 1970 até 1978 foi catedrático efectivo de Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. Apesar da satisfação de ensinar e da amizade que os alunos lhe dedicavam, Sena não foi feliz. Queixava-se da "medonha solidão intelectual da América" onde não havia "convívio intelectual algum" e da esterilidade e espírito burguês do meio académico, que não se interessava pela sua obra.
Quando se deu o 25 de Abril Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Sena visitou Portugal, contudo, nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa se dignou convidar o escritor para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro. Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério do Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.

Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.

Acabei de ler à dias o romance “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena, do qual já tinha lido com muito agrado uma colectânea de contos sob o título “Os Grão Capitães”.
Este romance, em que a personagem principal, Jorge, tem muito de autobiográfico, passa-se na sua maior parte na Figueira da Doz, uma praia onde passei grande parte dos Verões da minha infância e da minha juventude; e se bem que a época seja diferente (finais dos anos 30 do século passado), não diferiria muito da Figueira dos anos 50/60 que eu conheci.
È um livro nem sempre fácil, devido às muitas considerações filosóficas que o autor vai entremeando com o decorrer da acção, mas com um elevado valor intelectual, podendo sem qualquer dúvida considerar-se talvez o mais importante ou pelos menos dos mais importantes marcos da literatura portuguesa da segunda metade do século XX.
 Com uma inesperada e nada contida narração sexual, tem, ouso dizê-lo, das mais ousadas narrativas sexuais jamais escritas em português, desde o mundo da prostituição, ao amor heterossexual puro (?), ás orgias, ao sexo homossexual, enfim, para todos os gostos, mas nunca gratuito ou deslocado.
No meio de toda a acção está a Guerra Civil Espanhola, a confirmação da ditadura portuguesa, a ascensão do nazismo e todos os fenómenos daí advindos na formação humana e política do Jorge.
O livro pode considerar-se inacabado, pois haveria várias hipótese finais que nunca chegaram a ver a luz do dia; apesar de tudo é um longo romance, com cerca de 600 páginas.
Deste romance foi realizado um filme, por Luís Filipe Rocha, em 1995 tendo Diogo Infante como protagonista, cujo trailer aqui deixo.
E também deixo o primeiro vídeo de uma magnífica série de cinco episódios, apresentados na RTP 2, sob o título genérico de Grandes Livros, e que merece ser visto na íntegra (está no You Tube). Curiosamente as cenas do filme aqui apresentadas não são do filme do LFRocha.  
Um livro memorável que merece a atenção de quem se interessa por ler, mas também por quem se interessa por um período tão interessante da nossa História recente.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Viagens 9 - Espanha aqui tão perto (região Centro)

Nesta segunda incursão das minhas viagens a terras espanholas, não longe das fronteiras portuguesas, privilegio os tempos em que vivi na Covilhã e a facilidade com que habitualmente dávamos uma “saltada” a Espanha.
Neste mapa se pode ver quão perto distam da Covilhã, as cidades de Salamanca e de Cáceres. 

 Afinal, Salamanca é uma grande cidade, se a comparamos com a minha cidade e muito mais acessível, pelo menos nesses tempos, do que Lisboa ou o Porto; e sempre era ir a um outro país. Da Covilhã a Salamanca, distam cerca de 200 Kms, de uma boa estrada, então e por isso era frequente, quer familiarmente, quer mais tarde sozinho ou com amigos deslocar-me ali. Salamanca é uma linda cidade, universitária com todo o bulício que isso implica, com uma Catedral imponente que se recorta de qualquer ângulo pelo qual se espreite a cidade. Merece uma demorada visita.
Mas o centro atractivo desta cidade castelhana reside na sua Plaza Mayor, considerada como a mais bela de toda a Espanha, suplantando mesmo a de Madrid; é enorme e com todos os pormenores que necessita para ser considerada como tal: monumentalidade, dezenas de esplanadas ao longo das suas arcadas e espaço, muito espaço.
Uma ida a Salamanca a passar um fim de semana era sinal de um tempo óptimo para comprar algumas coisa, visitar outras e também viver aquelas típicas situações de comer umas tapas antes de um jantar tardio e de muita diversão nocturna, naquelas ruas estreitinhas que partem da Plaza Mayor e estão repletas de bares e “bodegas”.

Mas, e quase a meio caminho entre a Covilhã e Salamanca está uma pequena cidade que merece uma paragem; trata-se de Ciudad Rodrigo
uma cidade murada, pequena mas excepcionalmente atractiva com alguns monumentos que justificam umas horas de visita, nomeadamente todo o centro histórico, com destaque para a Catedral.
Fica apenas a 25 kms da fronteira portuguesa.

Já o terceiro destino, deste roteiro fica mais a Sul, já na Estremadura espanhola: é a cidade de Cáceres, para a qual se pode ir pelo mesmo caminho até Ciudad Rodrigo e aí divergir para Sul, ou então entrando em Espanha pela fonteira perto de Penamacor.
Cáceres é o maior município espanhol em extensão e a sua Ciudad Vieja é Património da Humanidade por ser um dos mais importantes conjuntos urbanos da Idade Média e do Renascimento de todo o mundo.
É uma cidade austera e talvez por isso me impressionou muito ter ali assistido às cerimónias religiosas de uma Sexta Feira Santa que ganharam no meio daquela monumentalidade muito própria, um espirito especial. Curioso que tendo já assistido a festividades semelhantes na Andaluzia (Sevilha e Cáceres), me ficaram mais na memória, estas, de Cáceres.

Não falo nestes relatos, de Badajoz, não só porque já dista um pouco da Covilhã. Mas também por ser tão raiana que é quase meio portuguesa e confesso, não é uma cidade que me entusiasme – prefiro Elvas!

quinta-feira, 14 de março de 2013

Viagens - 7 - (parte 2)


Portanto, o regresso, com paragens programadas para Belgrado, Veneza e Marselha, iniciou-se com uma longa viagem nocturna de Atenas para Belgrado; era um comboio daqueles com compartimentos para oito pessoas, quatro de cada lado
e preparamos-mos para dormir, (os bancos deslizavam e permitiam-nos dormir estendidos, mas com um conforto muito relativo). 
Naquela altura usavam-se as “pochetes”, onde se metiam as coisas mais pequenas e necessárias, e eu lá tinha a minha, onde guardava os documentos, o bilhete do comboio, o dinheiro e quaisquer outros objectos fundamentais (ainda não havia telemóveis, nem cartões de crédito nem outras “modernices”).
Eu viajava com um saco com roupa, pouca, apenas o essencial e essa pochete, que inadvertidamente deixei junto ao saco, em cima, na prateleira para as bagagens, em vez de a guardar comigo, enquanto dormia.
O comboio ia fazendo algumas paragens, e as pessoas abriam a porta do compartimento para ver se havia algum lugar vago e voltavam a fechar; claro que dormindo, ouvíamos esse barulho, mas nem ligávamos.
O que é um facto, é que ao chegar a Belgrado, pelas seis da manhã, o saco estava lá, mas a pochete alguém a tinha levado (estava mesmo à mão de semear…). 
E assim me vi na estação de Belgrado,
 indocumentado, teso e sem bilhete para seguir viagem (o bilhete era Covilhã/Atenas/Covilhã e mencionava as cidades que eu tinha planeado visitar, e tinha uma duração de cerca de dois meses).
Recordo-me tão bem de tudo, como se passou, em Belgrado quando cheguei : um gabinete da Polícia ainda dentro da gare, onde me dirigi, para lhes pedir que me ficassem com o saco e me ajudassem a procurar a embaixada portuguesa. 
Mas ninguém falava inglês e o diálogo tornou-se impossível, só os ouvia repetir “Portugália, Portugália” e não acederam a guardar o saco. 
Claro que junto a uma gare principal de uma grande cidade há sempre algum hotel, e vi logo um, mesmo em frente, um hotel pequeno, mas alguém devia falar inglês…
Para lá me dirigi e o recepcionista – rapaz novo e falando mais ou menos inglês, foi de uma imensa simpatia: acedeu a guardar-me o saco, deu-me uma planta da cidade e mostrou-me onde era a embaixada (longe, longe dali) e dizia-me que devia tomar o autocarro tal até certo sítio e daí um outro até lá. 
Simplesmente eu não tinha dinheiro e disse-lhe que ia a pé, até porque tinha muito tempo até a embaixada abrir; que não, era longe, devia apanhar o 83 (agora sei que o primeiro autocarro era esse porque conheço bem a zona) e depois o outro e não passava disto. E foi quando me estendeu uma nota de alguns dinares para os bilhetes (ele não me conhecia, mas até lá ficava o saco, pelo que ele confiava em mim).
Lá apanhei os autocarros e realmente eram uns quilómetros para lá chegar (Belgrado tem uma avenida com 8 quilómetros).
Enfim cheguei ao edifício da embaixada, muito pobrezinha, diga-se de passagem, muito cedo e sentei-me por ali à espera que abrissem no horário estabelecido; quando tal aconteceu, subi umas escadas e deparou-se uma moça, louraça bem ao estilo eslavo e eu com um “bom dia” bem português que ela não entendeu; vá lá que falava inglês, e lá lhe expliquei a minha triste situação.
Levou-me à presença de um senhor, mais ou menos da minha idade –jovem portanto – português que me pediu para lhe relatar a situação. Eu sabia que na altura o embaixador português na Jugoslávia era o escritor Álvaro Guerra, pessoa conhecida e cujo cargo era apenas político, pois não era da carreira diplomática.
Não estava à espera de ser recebido por ele, naturalmente, mas o individuo era alguém importante lá na embaixada e ouviu-me bem e depois começou uma conversa simpática, de onde eu era, onde tinha estudado, isto e mais aquilo e concluímos que tínhamos frequentado Económicas (ISCEF) nos mesmos anos, embora não nos conhecêssemos pessoalmente , mas tínhamos conhecimentos comuns, de algumas pessoas que até ocupavam lugares de destaque na altura, em Portugal. 
Isto para dizer que o homem me pôs completamente à vontade, me disse que aquela conversa tinha como fim saber se a minha história era verdadeira ou não e que iria tratar de imediato de me arranjar um novo passaporte com a validade de 15 dias, mais que suficiente para chegar a Portugal, um bilhete de comboio até à Covilhã e me disponibilizaria algum dinheiro para eu aguentar a viagem de regresso. 
Claro que o bilhete indicava Veneza e Marselha como eventuais paragens, mas eu não acreditava que pudesse visitar essas cidades, naquelas condições. Quando eu, chegado a Portugal liquidasse o empréstimo do dinheiro emprestado e do preço do bilhete, podia arranjar um novo passaporte normal aqui. 
Entretanto e como aquilo ia demorar umas horas, o homem, super simpático convidou-me a tomar o pequeno almoço com ele, num hotel que ainda hoje existe e que no momento era um dos melhores – o Slavia – no centro da cidade e que na altura era quase só para pessoal diplomático.
Tito tinha morrido havia três  meses e a Jugoslávia era um país comunista, apenas um pouco afastado da ortodoxia soviética.  Foi um dos melhores pequeno almoços que já tive e a companhia foi excelente.
Enfim, uma horas mais tarde, com documentos, bilhete e algum dinheiro, regressei ao hotel onde deixara o saco e lá fiquei hospedado duas noites, pois não quis deixar de visitar Belgrado.
Esta história é para mim muito importante, pois foi o meu primeiro encontro com uma cidade que tantos anos depois se tornou uma das que mais amo, por razões que toda a gente conhece. 
Na altura, fiquei com uma noção de uma cidade cheia de contrastes, mesmo a nível do povo, mas não podemos esquecer o contexto político da época – 1980 e o facto do líder carismático de quase quarenta anos de poder ter morrido havia três meses. 
Pouco mais visitei que a zona central da cidade, mas recordo perfeitamente alguns locais, que depois revisitei, como é óbvio.
Pela primeira vez estava num país comunista e em que era muito difícil a comunicação, já que muito pouca gente falava inglês, já que a segunda língua depois do servo-croata era o russo e depois o alemão, e eu dessas não percebia, nem percebo patavina.
Dois dias depois lá estava na velha gare de Belgrado (bem precisa de reforma urgente) a apanhar o comboio na direcção de Veneza; será que iria parar lá para visitar um dos sítios mais emblemáticos da minha programação?
É o que vamos saber na terceira e última parte desta viagem memorável…

E está prometido um episódio à parte para “aquela noite num hotel de Atenas”…

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Um livro...uma ideia...um outro livro

Acabei de ler um livro de ensaio, género que há muito não lia, e que devo confessar, não me é muito apelativo. Prefiro a ficção, a poesia, as biografias e os romances históricos; mas este era um livro especial que eu precisava de ler, e não dei o tempo por mal empregue.
Trata-se da obra “Homossexualidade – Uma História” (1995), da autoria do polifacetado autor inglês Colin Spencer. Este escritor escreveu sobre diversos temas – Ficção, Ensaio, Teatro, Livros de Culinária, e foi também desenhador. Além deste título, escreveu no ano seguinte, um outro ensaio sobre a homossexualidade (“O Kama Sutra Gay”).
Não sendo uma obra prima e sendo um livro ambicioso, pois não é fácil falar da homossexualidade desde a Pré História até aos nossos dias, terá algumas justificadas lacunas, mas o essencial está lá, desde os tempos em que a homossexualidade (este termo só começou a ser utilizado no século XIX) era considerada normal – Grécia, certos períodos durante o Império Romano, e outras civilizações antigas, incluindo as do extremo oriente e as pré-colombianas, algumas repúblicas renascentistas, mas também e sobretudo da enorme perseguição que quase sempre, ao longo dos séculos, lhe foi movida, a começar pelos judeus, que através da religião lhe moveram uma contínua luta.
 Aliás, ainda hoje, grande parte dos argumentos da religião cristã, contra a homossexualidade, se baseiam em textos bíblicos insertos no Antigo Testamento e em S.Paulo. Basta lembrar o exemplo do texto sobre Sodoma e Gomorra…
Não vou entrar em pormenores sobre todo o texto do livro, eles são muitos, apenas recordar que a homofobia tem grandes e profundas raízes no passado e chegou até nós, na actualidade, pese embora as grandes conquistas que se têm feito, neste campo, nos últimos tempos.
Aliás, uma das lacunas (natural) deste livro, é que tendo sido escrito em 1995, a época desde então até hoje (quase 30 anos) tem sido aquela em que mais se tem implementado em variados países desenvolvidos, do Ocidente, uma visão muito mais aceite desta situação.
Uma coisa é fácil de concluir: apesar de ser a homossexualidade não uma opção, mas uma questão genética, e de ainda hoje haver países que a consideram um crime que leva até à pena de morte, aquilo porque passaram os nossos antepassados pelo facto de serem homossexuais foi algo de terrível e com consequências absolutamente abomináveis, como por exemplo no tempo da Inquisição. No nosso país, no mundo ocidental de uma forma genérica, os dias que correm, são, na defesa dos direitos homossexuais e no reconhecimento da sua existência um quase paraíso por comparação com esses tempos.
Aproveito esta postagem para chamar a atenção para o aparecimento no nosso país de uma editora bastante original, ideia do João Máximo e do Luís, cujo nome é Index ebooks, que aproveitando a vaga das novas tecnologias com o aparecimento e crescimento dos ebooks, têm editado alguns livros de temática LGBT, incluindo algumas traduções de obras importantes, sem edição normal em Portugal; é um trabalho notável que pode ir sendo seguida no blog do João e do Luís.
Por outro lado, tiveram uma ideia muito interessante e que está apenas a dar os primeiros passos e que será a compilação de um Dicionário de Literatura Gay Portuguesa.
Para tal efeito, foi por eles criado um grupo no site goodreads, (que eu aconselho vivamente a quem gosta de ler) e que se chama precisamente “Literatura Gay Portuguesa”, onde os aderentes podem ir acrescentando livros que conheçam e caibam no âmbito do grupo. Por ora, apenas estão inscritos neste grupo, além do João e do Luís, a Margarida, o Miguel e eu próprio. Seria muito interessante que mais pessoas aderissem e contribuíssem com o acrescentar de obras, o debate de críticas e ideias, pois tudo isso é importante para o aparecimento futuro desse Dicionário.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cinema e Música - 3



  Hoje venho aqui falar de um filme, que à primeira vista, nada teria a ver com esta rubrica “Cinema e Música”. Mas, bem vistas as coisas, a música é sempre um elemento fundamental de um filme e mesmo que não seja o seu principal motivo de interesse, há filmes que nos despertam uma sensibilidade musical muito apurada. O filme de que falo é o muito celebrado “A Lista de Schindler” (1993), realizado por Steven Spielberg, sem dúvida um dos melhores filmes que vi e seguramente um dos que mais vezes me humedeceu as faces… É difícil ficar indiferente à temática do filme, o salvamento de uma enorme quantidade de judeus por um homem de confiança dos nazis, Óscar Schindler. O tema musical do filme é do consagrado Jonh Williams que por este seu trabalho ganhou mais um Óscar dos muitos da sua carreira. É um tema belíssimo, muito triste, como convém num filme com este argumento e que no vídeo aqui apresentado tem como solista o famoso violinista Itzhak Perlman.
 
 Mas o principal motivo da inclusão deste filme na rubrica é uma cena, do filme a única cena que tem algo de cor, e que mostra o percurso de uma pequena miúda com um casaco rosa que se dirige para casa, no gueto de Varsóvia, passando pelo meio de cenas terríveis que vão acontecendo nas ruas quando os nazis invadiram o gueto para matarem e prenderem os judeus. Durante essa cena, e misturada com os sons normais do decorrer da mesma, vai-se começando a ouvir uma belíssima canção, cantada por um coro de crianças. É uma canção célebre entre os judeus, cujo nome é “Oyfn Pripetshik” , cuja tradução inglesa é “On the Cooking Stove”, e que foi escrita em Yiddish na segunda metade do século XIX, tornando-se muito popular na altura entre os judeus da Europa central e oriental, até à época anterior ao holocausto; fala-nos de um “rabbi” que ensina às crianças o alfabeto judaico. É uma melodia que ao longo da cena se vai ouvindo cada vez melhor e que está muito bem integrada nela. A cena é espantosa, como se pode ver no vídeo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A Cidadela de Cascais

Quando o Déjan visita Portugal, procuro mostrar-lhe o mais possível do nosso país e assim, apenas resta levá-lo ao Nordeste transmontano para ele ter uma ideia geral do país.

Aqui, na região de Lisboa, na capital e não só, tem visto muita coisa e em todas as visitas há algo de novo a mostrar. Por ele, passava todo o tempo na Baixa, local que o encanta sobremaneira, e desta vez pôde apreciar pela primeira vez o Cais das Colunas, até então e por causa das obras do metro, removido.
Fartámos-nos de calcorrear ruas e avenidas e esta semana andámos pelas ruas manhosas do Cais do Sodré, descemos a Almirante Reis, da Alameda ao Martim Moniz e de carro percorremos algumas zonas que ele não conhecia, como Telheiras, a Av.Lusíada e a zona do Lumiar e Calçada de Carriche.

Fomos a Cascais e visitámos um local que eu também desconhecia, a não ser por fora – a Cidadela!
 E que bela visita foi…É um local que bem se referencia no topo da maravilhosa baía e dentro da fortaleza, encontram-se hoje belos motivos de interesse; além de uma magnífica e moderna pousada
variadas lojas pequeninas de artigos vários e bares e restaurantes.Mas o realce vai para o Palácio da Cidadela, que após muitos anos fechado ao público se pode agora visitar.


Este Palácio pertencia ao Exército e era ali que funcionava o palácio do Governador, até que D.Luís I resolveu transformar o palácio em residência de Verão e até escolheu este local para morrer pois queria finar-se junto ao mar, segundo se diz. Também D.Carlos ali passava os Verões e aí tinha muito do seu “mundo” dedicado a uma das suas grandes paixões – o mar e as ciências náuticas. Já durante a República houve dois Presidentes que usaram este palácio; Craveiro Lopes, como residência de Verão e  Óscar Carmona ali estabeleceu quase permanentemente a sua residência oficial.
É um palácio com belas salas, com destaque para os soalhos e para os tectos e é pena não haver muitas fotos disponíveis pois são consideradas propriedade da Presidência da República, entidade que toma conta do Palácio, num protocolo com a Câmara de Cascais.
Possui uma capela ampla e bonita e tem uma dependência do Museu da Presidência da República, essencialmente vocacionada para as Ordens Honoríficas Portuguesas.
 A visita guiada foi excelente e como foi só para nós dois decorreu num ambiente muito agradável e descontraído.
Vale a pena visitar este sítio.