sábado, 17 de janeiro de 2015

Viagens 15 - Berlim

Estando a dois dias de partir para a Alemanha por um período de duas semanas, em que estarei na região da Renânia do Norte- Vestfália
 vou aqui recordar outras duas viagens (entre outras) que efectuei a este país, e referentes a visitas a Berlim.
Ambas as viagens foram efectuadas com o Duarte e a primeira delas ocorreu em Dezembro de 1990, ou seja cerca de um ano após a queda do muro e três meses depois da reunificação da Alemanha.
Imagina-se facilmente o imenso interesse que a cidade de Berlim tinha nesse momento.
Os restos do muro eram ainda numa grande extensão
 e podia ver-se em diversos locais a terra de ninguém que havia na antiga RDA nas zonas perto do muro.
Ainda funcionava como ponto de grande interesse turístico o famoso posto fronteiriço conhecido como “Check Point Charlie”
e o comércio de coisas relativas à União Soviética e à RDA junto às Portas de Brandeburgo era diversificado e muito interessante – vendia-se de tudo – recordo que comprei um pedacinho do muro, autenticado (?), e um daqueles gorros de pele muito quentinhos, com orelhas e que tinha um emblema com a foice e o martelo no centro

Descer a Unter den Linden
a grande avenida da ex- Berlim Leste, ainda com todos os edifícios intactos (a embaixada soviética era imponente) e aqueles hotéis com criadas uniformizadas a servir o chá nos restaurantes eram deslumbrantes.
Foi um privilégio ter conhecido ainda essa Berlim, que hoje está completamente remodelada.
Posso afirmar que apesar de Berlim Leste ser uma cidade uniformizada segundo os padrões de vida soviéticos, com aqueles monstros de betão todos semelhantes a servirem de apartamentos, na parte mais próxima das Portas de Brandenburgo, havia e continua a haver os mais belos e grandiosos locais de toda a cidade de Berlim, extremamente bem conservados depois de reconstruídos (Berlim foi arrasada no final da II GG) e a merecerem visitas demoradas.
Berlim na sua parte oeste, era uma grande cidade, moderna, com motivos de grande interesse também, nomeadamente a sua principal avenida, a Kurfurstendamm
mais conhecida como “Ku'damm” e que tem como ex-libris as ruínas da torre da antiga igreja do Kaiser Wilhelm, destruída durante a guerra.
Toda a cidade fervilha de vida, com um comércio fabuloso e uma vida nocturna deslumbrante.
Nós ficámos hospedados num hotel bastante bom e central e passámos ali o ano, tendo celebrado a meia noite num bar célebre que havia mas já não existe e é pena – o “Andreas Kneipe”, que era um autêntico local de culto gay.
Visitámos variadíssimos locais nocturnos todos de ambiente gay e com as mais variadas tendências.
E claro que apanhámos um frio de rachar.

Esta visita foi de curta duração e daí termos ficado com vontade de regressar com mais tempo.
Isso veio a acontecer em 2004, pois entretanto conhecemos um casal gay alemão – o Heinz, médico reformado e o Peter, que com ele trabalhara, e que compraram uma casa na Parede, onde passavam metade do ano (o Inverno), mas que mantinham a sua casa em Berlim e que nos convidaram para lá ficarmos hospedados durante a nossa visita. 
Aliás, na parte final desta nossa segunda visita a Berlim, juntaram-se a nós e também na casa do Heinz e do Peter os nossos comuns amigos João e o Carlos, de Almada

Então pudemos visitar muito melhor Berlim, com guias muito competentes e pudemos aquilatar a enorme evolução que a cidade teve nesses 14 anos, nomeadamente na zona perto das Portas de Brandenburgo
de um lado e doutro. 
No antigo lado oriental, os antigos edifícios deram lugar a prédios modernos e é hoje uma da zonas mais importantes da cidade (a embaixada russa está no mesmo sítio, claro, mas sem os símbolos comunistas de antigamente).
Recordo que nessa altura se estava a construir perto a nova embaixada americana e estava quase concluído o moderno Memorial de homenagem aos judeus mortos na guerra

Do lado de cá, a antiga zona do muro, agora totalmente demolido à excepção de um pequeno pedaço que ficou como recordação
embora esteja assinalado no solo toda a sua localização, foi transformada na mais sofisticada e moderna zona de Berlim, com edifícios de uma arquitectura arrojada e magníficos numa zona à volta de Postdamer Platz

Mas foi também possível ver todos os monumentos da antiga Berlim Leste, como a Catedral
a Alexanderplatz com a Torre de Televisão de onde se tem uma panorâmica fabulosa da cidade
 a Ópera

 o Museu Bode

o Altes Museum
a Alte Nacionalgalerie
 e também da parte ocidental, nomeadamente o Reichstag (Parlamento)
 a Ponte de Oberbaum
e outros, além das Portas de Brandenburgo e das ruínas da Ku'Damm já referidas.
E claro o magnífico Palácio de Charlottenburg

A vida nocturna não podia ser esquecida e não hesito em considerar hoje em dia Berlim como um dos principais centros gays da Europa; fomos a bares que nunca pude pensar existirem, com cenas “eventualmente chocantes” mesmo para mentes muito abertas, passadas naqueles quartos escuros em que tudo era permitido e por vezes nem sequer eram muito escuros...


Aproveitámos e fizemos duas visitas a outras cidades, qualquer delas memorável – Potsdam
ali bem perto, com um local assombroso de belo, o Palácio de Sanssouci
 mas toda a cidade maravilhosa.

E fomos a uma das mais belas cidades alemãs, Dresden, que tal como Berlim, foi arrasada no final da guerra e totalmente reconstruída posteriormente, situada nas margens do Elba

São tantos e tão belos os monumentos desta cidade que é difícil enumerá-los todos, mas refiro todo o centro histórico, com relevo para a Ópera Estadual da Saxónia
o Zwinger

a Fraunkirche
o Desfile dos Príncipes
a Catedral Católica

eu sei lá, uma das mais belas cidades em que já estive.
Demos ainda um salto a um lugar muito perto de Dresden e muito bonito, banhado também pelo Elba – Pillnitz, com o seu Castelo e Parque

Mas e como não há bela sem senão, houve quase no final da nossa estadia um caso bastante aborrecido. Como já disse estivemos em casa dos nossos amigos Heinz e Peter Heinz é um médico ginecologista reformado e os seus pais foram assassinados pelos russos no final da guerra; daí um ódio de morte a tudo o que é comunista, que se poderia compreender em parte se não fosse tão exacerbado ao ponto de ser nalguns casos ridículo.
Por exemplo, na Alemanha tudo o que há de bom se deve apenas aos alemães ocidentais e a reunificação foi a pior coisa que a Alemanha podia ter feito já que toda a zona antes pertencente à RDA não valia nada e já em Dresden houve uma pega entre mim ele pois para ele não dava valor algum ao fabuloso trabalho de reconstrução da cidade efectuado durante a existência da RDA.
Os monumentos de Berlim Leste eram desvalorizados e os comentários a tudo o que era de esquerda em qualquer parte do mundo constantes.
Poucas vezes tenho visto alguém tão da extrema direita. Mas eu era visita e a maior parte das vezes fingia não ouvir...
Até que uma noite estávamos em casa a ver televisão e apareceu o então presidente Bush, personagem que nunca foi da minha simpatia e eu comentei que não gostava do tipo...O que eu fui dizer.......Ele começa com uns disparates perfeitamente desadequados do meu comentário e de repente está a falar de Portugal, que o nosso país era uma merda, que só estávamos na UE e éramos algo desenvolvidos porque a Alemanha nos ajudava, que não prestávamos para nada, enfim, mesmo sendo visita senti-me profundamente ofendido até porque eles tinham escolhido Portugal para viver a sua reforma no Inverno como lhe fiz ver. Nada o demoveu e senão faltasse apenas um dia para nos virmos embora, eu teria mesmo saído lá de casa.

Foi extremamente desagradável e as nossas relações nunca mais foram boas; vimos-nos duas ou três vezes aqui em Portugal, sempre com discussões pelo meio e actualmente nada sei deles.

18 comentários:

  1. Fiz uma viagem maravilhosa a uma parte da Alemanha que desconheço na totalidade. Existem pessoas tão marcadas pelo ódio que nunca conseguirão ver o outro lado. Nunca serão tolerantes.
    Desejo que nesta viagem sejas ainda mais feliz.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Luís
      ainda bem que gostaste da viagem que "fizeste". Eu também gostei muito, Berlim é hoje uma das cidades mais apelativas da Europa e Dresden e Potsdam autênticas jóias que merecem uma visita demorada.
      Esta viagem de agora não tem qualquer motivação turística, nem sequer vou passar do aeroporto de Dusseldorf, pois tenho dentro do mesmo a estação ferroviária para ir de comboio para Olpe. E Olpe pouco ou nada de especial terá, a não ser o Reno, claro.
      Mas tem a maior atracção possível - a pessoa que amo e é para o ver e para estar comele sempre que possível (ele está a trabalhar) que ali vou.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  2. Quantos lugares deslumbrantes....
    Viajar faz bem pra alma...
    Abraços garoto!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ro
      a velha Europa está cheia de defeitos, eu sei, mas continua com uma riqueza cultural incomparável.
      Estas cidades que aqui partilho são um bom exemplo disso.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  3. Pegando na deixa do Francisco: Recordar é viver.
    Nunca tive grande interesse de visitar a Alemanha, mas aqui a partir do sofá, este roteiro é mais que saboroso que até faz concorrência às celebres salsichas alemãs.
    rsrsrsrsrsrsr
    Quanto ao comportamento desse teu amigo, também me parece que os alemães não gostam muito Portugal. A algum tempo conheci um artista alemão muito conhecido, que também falou mal dos portugueses. Não me senti ofendido, porque desvalorizei, mas pelos vistos precisa de cá estar para ganhar dinheiro, ou quem sabe um digno representante da propaganda ideológica alemã. Mas isso são outras panelas...

    Valeu.

    Abraço

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. João
      eu não morro de amores pelos alemães e de uma maneira geral (não só por este Hans ou por aquela Ângela que todos conhecemos). Mas devo confessar que, como país, e já conheço um bom bocado dele, é lindo e tem coisas fabulosas.
      Há zonas que não conheço e que não quero perder como Munique, os castelos do Reno e outras cidades.
      Mas estas que aqui retrato, como outras que conheço (Colónia, Hamburgo, Munster p.ex.) são maravilhosas e merecem uma visita.
      Quanto a "amigos" alemães, estamos ambos conversados, pelo que vejo...
      Abraço amigo.

      Eliminar
  4. João, a tua reportagem é completa e elucidativa - inclusiva a última história desse tal senhor alemão fundamentalista...
    Estive em Berlim há dois anos, e continua a ser uma cidade bela e interessantíssima sob todos os pontos de vista!
    Abraço e boa viagem. Aproveita muito bem :-))))))))

    ResponderEliminar
  5. Justine
    agora com o Déjan a viver na Alemanha torna-se mais fácil voltar a Berlim, até porque é uma cidade que ele ainda desconhece.
    E eu já ali não vou desde há 10 anos, note-se...
    Beijinho.

    ResponderEliminar
  6. muito oportuno este relato de viagem! e está um post excelente, cheio de histórias e de informação e muito bem ilustrado.
    abraço grande e tudo a correr sempre muito bem.

    ResponderEliminar
  7. Miguel
    eu tenho ainda uma apreciável quantidade de viagens a publicar aqui, e como justamente referes pareceu-me oportuno neste momento em que me encontro na Alemanha (outra viagem a relatar brevemente), falar destas visitas a Berlim e não só...
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  8. Recordo-me de um post teu sobre a Alemanha e não foi há assim tanto tempo. Eu já estive em Berlim. É uma cidade interessantíssima. Aliás, as únicas vezes em que viajei de avião.

    Os alemães têm uma personalidade distinta dos latinos. Têm aquele travo de superioridade, sim, alguns, não vamos tomar o todo pela parte. Não é por acaso que foram os responsáveis pelas duas guerras mais mortíferas da história da humanidade.

    Espero que estejas a aproveitar cada momento, amigo.

    um abraço.

    ResponderEliminar
  9. Mark
    é evidente que o facto de ter postado estas duas viagens a Berlim nesta ocasião só tem mesmo a ver com o facto de estar novamente na Alemanha, neste momento.
    De resto nada tem a ver Olpe com Berlim, ou quase nada, pois o espírito germânico está nos dois locais e tirando isso tudo as opõe.
    O meu próximo post aqui no blog será evidentemente sobre esta vinda a Olpe e depois explicarei melhor essa oposição.
    Abraço amigo,

    ResponderEliminar
  10. Uma pena uma viagem com tanta coisa bonita terminar com uma discussão sem sentido e inoportuna. Algumas pessoas se deixam tomar por rancores pesados que lhes farão peso pelo resto da vida. Esqueça essa parte da viagem e lembre-se só dos bons acontecimentos.

    Até

    ResponderEliminar
  11. Assim é Margot
    claro que eu compreendo e até aceito que haja um ressentimento natural contra uma entidade, mesmo um país quando a vida dos nossos pais nos é roubada.
    Mas já não aceito, da parte de um indivíduo com uma cultura muito acima da média que se generalize e amplie esse ódio e não se procure até uma atenuante para uma situação muito específica - era um tempo de guerra.
    Mas acima de tudo que se derive para uma especulação acerca de um país que nada teve a ver com o assunto - neste caso Portugal, e que até é escolhido para local de descanso após o período de vida activa acabar.
    É uma imensa deselegância e sobretudo uma total incoerência.
    Como bem dizes, Berlim e as outras cidades não mereciam um final de viagem assim.
    Beijoquita.

    ResponderEliminar
  12. ia escrever o mesmo que a Margot. agora já não vou :) e depois, como agora já pouco sabes deles, nem te preocupes com isso, já foi, é passado.
    desfrutaste da cidade (que não conheço) em pleno e eu também com esta leitura (adorei as fotos).
    boa estada em Olpe e já lá vou! ;)
    bjs.

    ResponderEliminar
  13. Margarida
    na altura fiquei muito magoado e aborrecido, mas agora é passado e amigos assim, esquecem-se facilmente...
    Beijinho,

    ResponderEliminar

Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!