Eu estou-me completamente borrifando no Festival da Eurovisão e na canção que ali nos representa.
Já foi tempo em que tanto o Eurofestival, como a escolha da canção representante do nosso país eram espectáculos de grande audiência e de enorme disputa; hoje, interessam a muito pouca gente.
Mas, vai-se repetindo a rotina e lá se escolheu no passado sábado a lusa representação.
Não vi o programa e não tenho qualquer opinião sobre as canções em disputa. Apenas conheço a que ganhou e com espanto vejo que foi escolhida uma canção que se tivéssemos mandado em 1975, durante o governo daquele tipo, o Vasco Gonçalves, teria algum cabimento.
Mas agora, com uma democracia estabelecida, pretender transformar uma canção de um grupo de imbecis numa bandeira do protesto de toda uma geração à rasca, é perfeitamente absurdo.
Esta é a minha opinião; e por concordar em absoluto com a opinião do cronista Ferreira Fernandes, do DN, aqui deixo a transcrição da sua última crónica, e que versa sobre este tema.
"A arma do povo é o televoto. Para o maior dos portugueses, elegeu Salazar; para os maiores do cançonetismo, os Homens da Luta. É um conservador este povo de valor acrescentado: se não são botas são boinas, é para aí que lhes foge o chinelo do voto. Mas foge-lhes só a eles? O povo votante deste Festival da Canção esteve ao nível das escolhas de tantos júris anteriores: o gel do Jel vale o mesmo que gelatinosas canções outrora vencedoras, o espanto fingido na cara pitosga do Falâncio é igual ao fingimento geral de outras divas que "nos" representaram. E, no entanto, este 47.º Festival foi especial. O duo disparatado que o ganhou vai dar o seu próximo recital na manifestação do dia 12 - aquela contra todos os partidos e todos os políticos, mas que já teve apoio expresso de alguns partidos e alguns políticos. Jel e Falâncio vão com aquele enxoval que os cunhou (como a carapinha loura ao Abel Xavier): a boina e as calças à boca de sino, o "pá" e o "camarada", mais a procissão que agora os acompanha, a ceifeira, o operário da Lisnave, o furriel de camuflado... Os saudosos do Verão Quente de 75 deveriam aborrecer-se, porque gozados pelo duo idiota, mas, ao que parece, estão encantados. Estes Homens da Luta são instrumento de uma tenebrosa vontade conspirativa? Antes fosse. Estes Homens da Luta são só a expressão vazia (mas vasta) de quem pensa, mesmo, que isto vai lá de megafone".