segunda-feira, 26 de abril de 2010

Com bolinha...ou talvez não...


Este texto de Millôr Fernandes poderá eventualmente chocar algumas mentes mais conservadoras, mas ele é exemplificativo de um sem número de pessoas que usam estes vernáculos, no seu dia a dia, quer oralmente, quer principalmente em pensamento. E deixemos-nos de questões moralistas, pois estes termos fazem parte da língua portuguesa e quem os emprega de vez em quando, não pode nem deve ser apelidada de grosseira ou mal criada: tudo depende do seu uso devido ou indevido, do contexto e até da região onde ele usado; no Norte do país estas frases são muito mais usadas que nas outras regiões, por exemplo...


"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à

quantidade de "foda-se!" que ela diz.

Existe algo mais libertário do que o conceito do "foda-se!"?

O "foda-se!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma

pessoa melhor.

Reorganiza as coisas. Liberta-me.

"Não quer sair comigo?! - então, foda-se!"

"Vai querer mesmo decidir essa merda sozinho(a)?! - então,

foda-se!"

O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na Constituição.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos

extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário

de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos

mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua

língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que

vingará plenamente um dia.

"Comó caralho", por exemplo. Que expressão traduz melhor a

ideia de muita quantidade que "comó caralho"?

"Comó caralho" tende para o infinito, é quase uma expressão

matemática.

A Via Láctea tem estrelas comó caralho!

O Sol está quente comó caralho!

O universo é antigo comó caralho!

Eu gosto do meu clube comó caralho!

O gajo é parvo comó caralho!

Entendes?

No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a

mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".

Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem

nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.

O "nem que te fodas!" é irretorquível e liquida o assunto.

Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras actividades

de maior interesse na tua vida.

Aquele filho pintelho de 17 anos atormenta-te pedindo o carro

para ir surfar na praia? Não percas tempo nem paciência.

Solta logo um definitivo:

"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te fodas!".

O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro

Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,

e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um "Puta que pariu!", ou o seu

correlativo "Pu-ta-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,

sílaba por sílaba.

Diante de uma notícia irritante, qualquer "puta-que-o-pariu!", dito

assim, põe-te outra vez nos eixos.

Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se

reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um

merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.

E o que dizer do nosso famoso "vai levar no cu!"? E a sua

maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do cu!"?

Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus

quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de

seu interlocutor e solta:

"Chega! Vai levar no olho do cu!"?

Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.

Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar

firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado

amor-íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de

maior poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu-se!". E a

sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se fodeu!".

Conheces definição mais exacta, pungente e arrasadora para

uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de

ameaçadora complicação?

Expressão, inclusivé, que uma vez proferida insere o seu autor

num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo

assim como quando estás a sem documentos do carro, sem

carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a

mandar-te parar. O que dizes? "Já me fodi!"

Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada

funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a

saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os

empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e

em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a

desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me fodi!”

Então:

Liberdade,

Igualdade,

Fraternidade

e

foda-se!!!

Mas não desespere:

Este país … ainda vai ser “um país do caralho!”

Atente no que lhe digo

Millôr Fernandes

42 comentários:

  1. Usa-se o verbo "foder" e suas variações por aí também, é? Pensei que poderiam ter alguma outra palavrinha pra eu aprender daqui... :-) Um dicionário de xingamentos usuais em Portugal caía bem. :-)


    Beijo!

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  2. HAHAHAHAH! :D

    Ri-me pa caralhO! :p

    E realmente... um fodA-se na altura certa, faz milagres à tensão arterial.


    *

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  3. "Você é sem educação? Eu também sou! Você VAI TOMAR NO MEIO DO SEU CU!", disse uma conhecida minha para o segurança que a mandou calar a boca.

    Tem mais uns:

    - O véi, vai se fudê, mano!

    - Tô fudido memo...

    - Puta qui pariu! Fudeu tudo, KCT!!!

    - Que bosta! Esse país é uma merda! Só tem político filho da puta...

    "Vote nas putas, porque nos filhos não deu certo".

    "FHC + FMI = FDP"

    E por aí vai! LOL

    Mas na boa... Palavrão é muito feio! LOL

    :-***

    Obs: FHC foi um presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso.

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  4. é caso pra dizer: que texto do caralho!!!!!


    abc

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  5. Ok, lá para o norte é mais assim do que para aqui. Mas a última parte é indiscutível.
    Bjs

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  6. Brutal. Sim, eu também uso as palavras quando devem ser ditas mas às vezes já nem um paralho chega para mandar este paizinho do faz-de-conta..

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  7. Foda-se, que me fartei de rir com o caralho do texto e já sabes que adoro a puta que o pariu de musica que meteste aqui!
    Abraço

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  8. Foda-se! E não é que o cabrão do gajo tem razão, caralho! lol

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  9. Ahahahah muito bom, deu-me um enorme gozo ler este post, é engraçado como um post que deita pelas bordas tanto asneiredo seja escrito de uma maneira tão poética :). Isso sim é arte!

    Abraço!

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  10. Millor Fernandes é um génio! Acho é que não havia necessidade de se alterar texto original para o adaptar ao português de Portugal. É um pouco desvirtuar o que ele escreveu...
    Aproveito para dizer que tenho passado muito aqui ultimamente e queria dizer-lhe que tem aqui um blog muito interessante.
    Abraços

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  11. Ai ai, se o Provedor do blog lê isto manda tudo pró 5º ca**lho e está tudo f**ido. lol
    O texto esta realmente genial.
    E sim...a F word liberta comó caraças.
    Abraço.

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  12. Foda-se… Que puta de poste cheio de palavrões. Mas ri-me para caralho. A verdade é que ninguém diz “foda-se” com a emotividade e pronuncia que nós cá no norte. Aquilo tem de ser bem puxado do diafragma. Muitos anos de treino. :p
    Um abraço eheh

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  13. Sexta feira telefono-te e digo: João, não vou ao jantar nem que te fodas. Tinhas uma lista grande como caralho e compraste comer comó caralho, agora olha, fodias-te (esta não conhece a Milôr)! ;)

    Eu e a minha malta também usamos muito o "Ah foda-se" para exprimir admiração numa acção ou noticia.
    O Armando deu um finalmente um murro no Tóino. Ah foda-se! lol

    E prontos, puta que pariu esta conversa. A do "olho do cu" não comento, lol.

    Abraço

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  14. Concordo em gênero, número e grau com este ótimo texto.E como é bom soltar estes palavrões em certas situações,rsrs.

    AAAA, também quero agradecer pelo carinho, a força que tens me dado. Aos poucos estou me recuperando daquela notícia. Também perdoe-me pela ausência por aqui em teu blog.

    Grande abraço amigo Pinguim.

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  15. Edu
    este texto é um "aportuesamento" do texto original brasileiro do Millôr Fernandes.
    Mas penso que os vernáculos aqui escritos são realmente os mais usados em Portugal.
    Beijo.

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  16. Ginger
    olá se faz...autênticos milagres.
    Beijinho.

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  17. GiGi
    já vi que a "cultura" dos nossos dois países está muito parecida...
    Beijinho.

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  18. Teresa
    agora em Guimarães fui a um restaurante, uma tasquinha deliciosa ali perto do Toural em que a dona diz as maiores "bacoradas" com uma naturalidade espantosa.
    É uma delícia ali comer, pela comida e pela risada geral; há quem lá vá só para a ouvir.
    Beijinho.

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  19. Maxwell
    e quem as não diz?
    Por vezes alivia mesmo...
    Abração.

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  20. Caro TUSB
    a música não poderia ser outra.
    Abraço amigo.

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  21. Luís
    então achas que se não tivesse razão eu punha isto aqui, num blog tão "decente" e ainda por cima agora em preparação para a visita papal...
    Abraço amigo.

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  22. Ricardo
    é que o Millôr Fernandes é um Senhor a escrever...
    Abraço amigo.

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  23. Olá Gabriel
    obrigado pela visita e pelas tuas palavras.
    Realmente o Millôr é um génio, mas não fica mal a adaptação ao português de Portugal.
    Abraço.

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  24. Miguel
    com tantos "encobrimentos" dos vernáculos até parece que quem está com medo do diácono és tu, eheheheh...
    Abração.

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  25. Não quero ser/parecer puritano, mas irrita-me aquelas pessoas que em cada frase têm de colocar um destes atributos... Num contexto de amigos, tudo bem, mas a nível superior já acho mau gosto. Abraço.

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  26. Sem bolinha... que eu sou do norte. Um tio meu, que infelizmente já faleceu, não dizia uma frase sem dizer esses e outros palavrões a cada palavra que dizia. Era uma risota pegada.

    :))

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  27. Olá Psi
    claro que no Norte o fôlego é maior, mas é um caso de todo o país...
    Abraço amigo.

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  28. Félix
    se me fazes esse telefonema, mando-te para o caralho e nunca mais te falo!
    Abração.

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  29. Glauco
    este teu compatriota é fabuloso...

    Quanto à perda do teu amigo, a solidariedade foi sentida, pois já passei pelo mesmo.

    Abração.

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  30. Francisco
    e porque não? A situação no país está mesmo a precisar de uns bons palavrões.
    Abraço amigo.

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  31. Blog Liker
    temos que fazer aqui uma distinção importante; uma coisa é estas coisas serem ditas e são-no muitas vezes, mas num determinado contexto; outra é ser algo recorrente e passa a ser uma linguagem desagradável...
    Nem oito nem oitenta!

    Abraço amigo.

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  32. Natália
    como já foi tantas vezes repetido, uma realidade é a fala comum das gentes do Norte e outra é a do resto do país; o que é normal no Norte, pode ser menos normal nos outros sítios, mas não é anormal...
    Beijinho.

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  33. Parecidas? Eu digo que são coisas de pai e filhote! Eheheheheh

    :-**

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  34. GiGi
    neste campo até são; e por ser neste campo é que pus a palavra cultura entre comas.
    Beijinho.

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  35. Maria Teresa
    eu não sou nada mal criado, mas esta coisa tinha que pôr...
    Beijinho.

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  36. Eu já conhecia este texto.
    Decerta forma, dizem os entendidos que dizer um palavrão na hora certa, liberta a tensão. Nunca fui muito de dizer palavrões (pela educação que recebi) mas, tbm confesso que, com a idade, por vezes, deixo escapar uma... e até sabe bem (risos).
    Parece que ajuda a liviar a dor. Por exemplo se me magoar a sério, assim tipo dar uma cabeçada sem contar, a minha figurinha é;
    As mãos a coçarem a cabeça e a boca a largar um desses palavrões... está imaginar, não é Pinguim?
    (risos)

    beijinhos

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  37. Olá MZ
    às vezes, sabe mesmo muito bem...
    Beijinho.

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  38. Já conhecia a pérola... é fabulosa.

    beijos

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  39. Blue
    se não conhecesses é que ficaria admirado, eheheh...
    Beijoquita.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!