domingo, 21 de dezembro de 2014

O Jorge - um grande Amigo que perdi...


Todos nós temos amigos e todos nós temos, dentre os nossos amigos, alguns que não sendo denominados mais amigos que os demais, o são realmente.
Nesses amigos especiais têm uma importância grande aqueles que nós conhecemos quando éramos crianças e com quem mantivemos ao longo dos anos uma relação de proximidade afectiva, mesmo quando as distâncias nos separam.
Eu não sou excepção e tenho (não mais) de meia dúzia deles.
Nunca estabeleci comparações afectivas mas essa questão da “antiguidade” pesa muito, pois são muitas cumplicidades que se tiveram, muitos momentos marcantes vividos em comum, muitos acontecimentos (bons e menos bons) sentidos simultaneamente, enfim um mundo de “muitos mundos”.
Há anos perdi um desses amigos, o Pedro, que vivia na altura em Portalegre e era um ano mais novo que eu – foi vítima de uma leucemia aos cinquenta e tal anos.
Entretanto perdi outros amigos, cuja morte muito senti por diversas razões, entre eles o Francisco, há precisamente um ano (19 de Dezembro de 2013).
E agora, exactamente um ano depois vi partir, sem surpresa, mas com uma dor imensa outro dos tais amigos que falei de início – o Jorge!
Nunca pensei que fosse tão difícil e tão doloroso...
Em toda a nossa vida (eu era 15 dias mais velho que ele), só estivemos realmente separados durante o período da guerra colonial que ambos fizemos quase no mesmo tempo, mas em cenários diferentes: eu em Moçambique, ele em Angola; eu no mato, ele no ar condicionado de Luanda.
Se refiro este facto é apenas porque ele reflecte um pouco a maneira como o Jorge viveu a sua vida. O Jorge era um optimista nato, via tudo sob um prisma positivo e essa forma de encarar a vida levou-o sempre a situações aparentemente denominadas de “sorte”.
Sim, ele teve muitas ocasiões em que foi bafejado pela sorte, mas fazia por isso...
É talvez de todas as pessoas que já conheci, quem nunca se zangou com ninguém, para quem a adversidade era apenas um acidente de percurso e a quem aconteciam coisas incrivelmente boas, porque ele predispunha a sua vida para que tal acontecesse.
Só não pôde fazer nada contra o linfoma que o atacou há uns anos e que foi debelado como geralmente acontece numa primeira aparição mas que volta sempre mais tarde noutro orgão do corpo e que geralmente é fatal.
Assim aconteceu agora.
O Jorge era filho de um casal que era o casal mais amigo dos meus Pais, pelo que nos conhecemos em crianças e embora na instrução primária tivéssemos diferentes escolas, pertencemos à mesma turma no Liceu e entrámos juntos para Económicas.
Partilhámos várias casas aqui em Lisboa durante a nossa vida universitária e apenas seguimos percursos profissionais diferentes mas sempre em contacto.
Agora, ambos reformados, ambos a vivermos na grande Lisboa, tínhamos com mais três amigos, um almoço mensal num restaurante perto da Av. de Roma em que recordávamos os velhos tempos, contávamos as novidades e falávamos sobre futebol e política.
(nesta foto, o Jorge é o da esquerda e o Francisco o da direita)

Aí éramos opositores: ele sportinguista, eu benfiquista, ele de direita e eu de esquerda – mas eram conversas, por vezes acaloradas e nunca discussões.
Agora com o desaparecimento do Francisco, o ano passado, e agora do Jorge, pensamos que é impossível continuarmos a ir ao mesmo local; temos que reformular os nossos encontros.
Sexta-feira no velório, sábado no funeral, tanta gente que há tanto tempo não via...tanto abraço emocionado, defronte daquele caixão que a todos nos unia.
Meu querido Jorge, jamais te esquecerei. Um dia destes hei-de ir à tua procura pois sei que estás, como sempre, num belo lugar.
(na sua bela casa de Azenhas do Mar, comigo, com o Déjan e com o Duarte)

22 comentários:

  1. Sempre complicado e difícil quando somos apanhados que a pessoa de quem gostamos, já não está no meio de nós

    Deixo-te um grande abraço de amizade

    Paz à sua alma

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    1. Caro Francisco
      é verdade o que dizes.
      Um grande obrigado.
      Abraço amigo.

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  2. A dor é e será sempre inevitável, mas restam-te as memórias e as recordações de todos os momentos que passaram juntos. Isso ficará para sempre vivo e mante-lo-à vivo no coração das pessoas que o conheceram e que gostavam dele, como tu!

    Forte abraço amigo, João.

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    1. João
      por experiência própria também soubeste há pouco tempo o que é a perda de um ente querido.
      Não há palavras para exprimir a falta, mas temos que, e por isso mesmo, viver a nossa vida, e aproveitá-la.
      Ficam como tu dizes as memórias.
      Abraço amigo.

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  3. Vim aqui para desejar Boas Festas e ... como dizer isso?
    Não consigo. O que lhe desejo é que o Ano Novo traga só bons momentos!
    Um abraço forte.

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    1. Rosa
      é a segunda vez consecutiva que a morte leva um amigo nas vésperas do Natal e a data quer se queira, quer não, fica sempre um pouco ensombrada.
      Obrigado pelos teus votos que retribuo obviamente.
      Beijinho.

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  4. Os meus sentimentos, João.

    um abraço forte.

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  5. ah, João... :( não há palavras suficientes para estas alturas. um grande amigo, de toda a vida, com quem partilhaste tanta coisa. ficam as recordações, os risos, os abraços, a Amizade...
    todavia, nesta altura do ano é muito triste.
    bjs e força.

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    1. Margarida
      além de tudo o mais quando começo a recordar a lista das "partidas", confesso que começo a assustar-me com a quantidade de gente da minha idade ou ainda mais novos que ali consta.
      Parece que está cada vez mais perto a hora da minha geração...
      Beijinho.

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  6. Só sente a dor da perda quem, um dia, "encontrou". Celebremos os encontros, pois.

    Um beijão pra você, que foi dos que me proporcionaram o melhor dos encontros deste ano!

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    1. Edu
      muito bonita a forma como "deste a volta" a esta grande tristeza..
      E um enorme obrigado por me teres dado a honra de te receber (encontrar), não só a ti, mas também à Senhora tua Mãe e ao Reginaldo.
      Boas Festas para todos vocês.
      Beijo.

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    2. O que dizer?
      Uma vez mais o cancro! Sempre o cancro...
      ODEIO o cancro. Odeio, odeio, odeio.
      Que esteja em paz, agora sem sofrimento.

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    3. Pois é Paulo, tens toda a razão e tens tu, pessoalmente mais que razão sobre esta terrível doença.
      Mas temos que olhar para a vida sem nunca esquecer, claro, quem partiu.
      Abraço amigo.

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  7. Solidário com a tua dor, João, permite-me no entanto que te deseje um Natal em Paz junto dos que te são queridos.
    Forte abraço

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    1. Carlos
      claro que a dor é grande, mas nada nem ninguém me devolve o meu grande amigo.
      Assim há que viver a Vida cada vez mais com a noção de que ela é curta.
      E assim sendo festejemos o Natal...
      Bom Natal para ti também.
      Abraço amigo.

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  8. Lamento profundamente a perda de teu amigo :-(

    Vinha deixar votos de Boas Festas... fiquei um pouco sem jeito.

    Paz, saúde, João, nesta noite fria.

    Um beijo

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  9. G-Souto
    obrigado pelas tuas palavras. Infelizmente a "ceifeira" não escolhe datas...
    Mas é Natal e o frio da noite esbate-se no calor da família.
    Boas Festas.
    Beijinho.

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  10. Bom dia João
    Hoje os cães, aqui ao redor de nossa casa, não uivam. Oferecem-me a paz que procuro. Deixam-me arrumar os pensamentos.
    Li a dor que te fez escrever este grito de saudade pela partida de um amigo.
    Quem me dera ter amigos assim.
    Aprendi a amar sem me prender. Dar-me sem nada querer. Ver e nada guardar.
    A vida vai-me ensinando que o que é viver.
    Ter amigos é sofrer porque partem e nos deixam a sangrar

    Natal é todos os dias.
    Votos de bom Ano - 2015

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  11. Luís
    as tuas palavras sempre tão belas e adequadas comovem-me sempre e mais ainda num caso como este.
    Um sincero muito obrigado.
    E que 2015 seja realmente um ano com poucos uivos de cães...
    Abraço amigo.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!