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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Vou ter contigo


Quero libertar-me dos deuses
Não ter medo da tempestade
E equilibrar-me na espuma branca do nosso mar!
Quero olvidar fantasmas
Navegar de vela desfraldada
Só com a ajuda do teu sorriso!
Quero pôr termo ao meu circo
Largar aplausos de multidões
E isolar-me lentamente na tua vertigem!
Quero amparar-me nos teus silêncios
Romper o dique das minhas lágrimas
E beijar o doce prazer do teu olhar!
Quero abraçar-te
Envolver-te no meu cansaço
Recusar ilusões efémeras e perenes angústias!
Quero dar-te o que me resta
E que por tão frágil me deixaram:
A loucura da minha sombra,
E a força brutal de um grito sufocado!!

Por tudo isto, meu amor, vou ter contigo...

Este poema é a minha colaboração para o tema proposto para o corrente mês, da "Fábrica de Letras".

sábado, 18 de agosto de 2007

Quem é o poeta ?



"Quando eu era muito nova

E altamente ansiosa

Com um chinês fui casar.

Por Yung Li Po conhecido

E chinês, como é sabido,

Antes de me desposar.


Ele não me maltratou

Mas de mim nunca gostou

Embora eu fosse casar.

Talvez porque eu culpa tive

Em lhe dar um bom motivo

Antes de me desposar.


Acabei divorciada

E assim obrigada

Porque quis, a me casar

Com outro homem então.

Ele era como um irmão

Antes de me desposar.


O pior que este tivera

É que meu irmão não era

Depois que fomos casar.

Assim gordura ganhei,

E de esbelta me fartei,

Antes de me desposar.


Tentei um velhote então

Que era rico até mais não

E a fortuna me quis dar.

Envenenei sua mente

E logo morreu, felizmente,

Antes de me desposar."



Quem escreveu este poema ? e que tal adivinhar? o prémio? a consolação de ter acertado...

sábado, 11 de agosto de 2007

O centenário de um HOMEM


Amanhã, dia 12 de Agosto, faz exactamente 100 anos que numa aldeia para lá dos montes, nasceu um dos mais notáveis portugueses do século XX: Miguel Torga.
Para além de ser um escritor de grande mérito ( relembro que o Nobel português, na literatura, foi de Saramago...), foi um ilustre médico e acima de tudo um Homem recto e bom, um Homem vertical.
A ele, lhe rendo, nesta data a minha singela homenagem. Obrigado Miguel Torga.

A Terra

Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!



segunda-feira, 6 de agosto de 2007

"Ninguém se importa comigo"


Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)