Amanhã, dia 12 de Agosto, faz exactamente 100 anos que numa aldeia para lá dos montes, nasceu um dos mais notáveis portugueses do século XX: Miguel Torga.
Para além de ser um escritor de grande mérito ( relembro que o Nobel português, na literatura, foi de Saramago...), foi um ilustre médico e acima de tudo um Homem recto e bom, um Homem vertical.
A ele, lhe rendo, nesta data a minha singela homenagem. Obrigado Miguel Torga.
A Terra
Também eu quero abrir-te e semear Um grão de poesia no teu seio! Anda tudo a lavrar, Tudo a enterrar centeio, E são horas de eu pôr a germinar A semente dos versos que granjeio.
Na seara madura de amanhã Sem fronteiras nem dono, Há de existir a praga da milhã, A volúpia do sono Da papoula vermelha e temporã, E o alegre abandono De uma cigarra vã.
Mas das asas que agite, O poema que cante Será graça e limite Do pendão que levante A fé que a tua força ressuscite!
Casou-nos Deus, o mito! E cada imagem que me vem É um gomo teu, ou um grito Que eu apenas repito Na melodia que o poema tem.
Terra, minha aliada Na criação! Seja fecunda a vessada, Seja à tona do chão, Nada fecundas, nada, Que eu não fermente também de inspiração!
E por isso te rasgo de magia E te lanço nos braços a colheita Que hás de parir depois... Poesia desfeita, Fruto maduro de nós dois.
Terra, minha mulher! Um amor é o aceno, Outro a quentura que se quer Dentro dum corpo nu, moreno!
A charrua das leivas não concebe Uma bolota que não dê carvalhos; A minha, planta orvalhos... Água que a manhã bebe No pudor dos atalhos.
Terra, minha canção! Ode de pólo a pólo erguida Pela beleza que não sabe a pão Mas ao gosto da vida!
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Viva terra, e estas bonitas palavras do Miguel Torga.
ResponderEliminarAbraço!
Torga, como bom transmontano sempre deu uma importância à terra, pois é da terra, mesmo que por vezes magra em compensações, que nos vem o sustento, amigo Lampejo.
ResponderEliminarAbraço.
Não foi «à toa» que adoptou o pseudónimo Torga...
ResponderEliminarBonitas palavras, bela homenagem!
Beijinho :-)
Querida Carla
ResponderEliminaro que mais me impressiona em Torga, mesmo apesar da excelência da sua escrita, é a sua postura perante a vida, inclusive, a sua figura, ao mesmo tempo austera e simples. ao contrário de quase todos os autores, que me conseguem transmitir imagens das suas personagens, em Torga, eu estou sempre a vê-lo a ele, pois os seus livros acabam por ser um retrato de si próprio e das atmosferas naturais e humanas que o rodeiam.
Precisamente por isso, ao escolher o seu nome literário, não se "tapou", antes se deu mais a quem o leu.
Um autor e Homem excepcional.
Beijinhos.
Além do poeta, há também o contista. Este é um bom momento para reler, por exemplo, «Bichos», «Contos da Montanha» e «Novos Contos da Montanha». Os contos são de tal modo bons que qualquer idade os aprecia...
ResponderEliminarUm abraço! :-)
Caro Ric
ResponderEliminaraliás para mim, Torga é acima de tudo um grande contista; eu não lhe chamei poeta, mas sim escritor. Apenas não referi as suas principais obras, porque quis dar destaque à sua vertente humana; a escolha deste poema, foi porque seria difícil trancrever um conto, e parte de um, perderia, talvez o contexto; e ainda porque este poema tem muito a ver com o universo de Torga e a sua ligação à terra.
Abraço.
Foi com "Os Bichos" que conheci Miguel Torga, infelizmente não sei do velho livrinho que tive que comprar para a escola, talvez esteja em casa da minha mãe. Foi um livro que me marcou muito e gostava de o reler. Nos contos ou na peosia foi um dos grandes nomes da nossa literatura e merece todas as hoemnagens que lhe prestaram hoje.
ResponderEliminarUm abraço
Eu não quis destacar nada da obra dele, pois é demais conhecida, nas suas várias vertentes. Quis sobretudo associar a sua escrita, que é soberba, ás suas condições humanas e geográficas. Daí, o poema ser "A terra", e a música que se ouve , ter de alguma forma a ver com Coimbra, terra onde viveu a maior parte da sua vida, amigo P.
ResponderEliminarUm abração.
Eh pá!
ResponderEliminarMiguel torga!
Adriano Correia de Oliveira!
Obrigado!:)
Abraço
Obrigado Bernardo
ResponderEliminaré um prazer quando sentimos que compartilham o gosto pelos temas, escritos e ouvidos, que nós gostamos; infelizmente, nem sempre acontece...
Abraço.
Amigo Pinguim,
ResponderEliminarRegressado de uma pausa blogosférica, eis-me a comentar de novo...
Não percebi essa do Saramago...
Quanto a mim, é um dos cinco Nobeis melhor atribuidos pela academia sueca, na relação qualidade literária / mensagem da obra (que é a relação que resume o objectivo do prémio, tal como o queria Alfred Nobel) - os outros quatro são Camus, Garcia Márquez, Thomas Mann e John Steinbeck - Miguel Torga podia muito bem ter sido Nobel - Será sempre um tema polémico, este do Nobel... Mas não compreendo o porquê desse parêntises... Saramago é, goste-se ou não do homem, esteja-se ou não de acordo com as posições (políticas e não só) que toma, um dos maiores e melhores romancistas da literatura mundial. Afectivamente, Saramago e Torga, estão na categoria dos meus preferidos, e dos poucos de quem li praticamente toda a obra... (Fazendo um parêntises também - infelizmente Yukio Mishima tinha posições pessoais de cariz fascista, de extrema-direita, e não é por isso que a sua obra deixa de ser uma mas melhores e mais reconhecidas - e homoerótica, porque não dizê-lo?) - Ou talvez eu tenha entendido mal o parêntises, e então esqueçam este palavreado todo...
Abraço.
Caro André
ResponderEliminarobrigado pela tua visita.
É curioso que nos prémios Nobel qu mencionas, só discordo mesmo de Saramago; a única coisa que gostei, nessa atribuição foi que ele fosse português (mas até isso hoje é quase questionável...); quando digo que não gosto, é porque não gosto da sua obra, tirando talvez "Ajangada de pedra"; sei que isso pode ser controverso, mas é um facto. Nunca diria que não gosto de determinado artista, em qualquer campo, pelas suas característucas, isso "fica à porta", e concordo com o que dizes de Mishima.
Dou-te um exemplo de alguém que me repugnava (é o termo exacto), como homem, e que sempre admirei pela sua obra: Ary dos Santos!
Quanto a Torga, além de ter todas as qualidades de um grande homem da escrita, nas suas diferentes "nuances", foi também um Homem exemplar, um bom exemplo de um português real. Foi isso que pretendi realçar no meu post.
Não corri a blogosfera, é claro, mas na minha lista de bloguistas, além de mim e de ti, mais 2 pessoas se referiram a Torga, nesta data; não será isto, muito pouco? Era aí que eu queria chegar, quando comparava com Pessoa, não comparava a obra, são diferentes, claro, mas a atitude das pessoas em relação a ukm e a outro; e isso não caíu bem, paciência...
Forte abraço, amigo.
Estou de acordo contigo quanto ao Miguel Torga, só não concordo no referir do Saramago... Isto é, não é por Saramago ser bom escritor ou não, que Torga é maior ou menor...
ResponderEliminarQuanto às celebrações mornas, quase apagadas com que se celebrou o centenário de Miguel Torga, em oposição aos quase três anos ininterruptos com que se celebrou Pessoa (1985 - 50 anos da morte, a 1988 - centenário do nascimento), há para mim uma razão... É que Pessoa, como se tornou lugar-comum dizer-se, dá para tudo, e Torga é subversivo! Aqueles que dele fizeram um bandeira - o PS ao qual ele sempre recusou filiar-se - poderiam agora ver as suas palavras virarem-se contra si...
Bem, quanto à questão do Saramago, o que no fundo quero dizer é que, independentemente de gostarmos ou não de Saramago, é Torga que celebramos!
Amigo André
ResponderEliminardou a mão à palmatória no que respeita à inoportunidade de referir o Saramago, independentemente dos gostos de cada um, é claro. Era de Torga que se falava...
Quanto à comparação com o estilo de comemorações, em todos os sentidos, não só do Governo, note-se, com Pessoa, parece-me que puseste o dedo na ferida; era aí que eu queria chegar, não questiono Pessoa, é impossível, mas como tu dizes e bem, dá para tudo...
Viu-se no incrível final do ainda mais incrivel programa sobre os maiores portugueses, a triste figura que a sua defensora fez no "debate" com o defensor de Camões, por exemplo.
Abraço, e estamos esclarecidos.