terça-feira, 23 de julho de 2013

Viagens 11 - Madrid e Barcelona

Madrid e Barcelona rivalizam entre si a primazia da maior cidade espanhola.
São ambas lindas, grandes, plenas de interesse, mas também de acentuadas diferenças.
Uma, Madrid é a capital do país, bem central geograficamente, em plena Castela, sendo Barcelona, lá no Norte, a capital da Catalunha, uma das regiões autónomas que mais reivindica a independência, até porque é a região mais rica do país.
Madrid é mais monumental, Barcelona mais europeia.
Conheço as duas, que visitei variadas vezes, mas conheço melhor Madrid e talvez por isso a minha preferência vá para a capital.
As visitas a Barcelona resumem-se a três, sendo a primeira a mais interessante, já que a visitei a convite de um amigo, Xavier, que conheci quando passei um mês em Bradford (Inglaterra), na mesma casa em que ele estava, tornando-nos bons amigos e depois fui visitá-lo, tendo ficado em sua casa, em Sabadell, nos arredores de Barcelona.
Mostrou-me tudo o que havia para mostrar, o que se mostra a toda a gente e o que pouco se mostra. Fiquei a conhecer bem a cidade e o povo catalão, até porque a mãe do Xavier, encantadora, nem castelhano falava, só catalão, mas conseguíamos entender-nos.
Visitámos o Bairro Gótico
a Sagrada Família
 a zona do Porto
as obras de Gaudi
as Ramblas

e tudo o mais…
Naquela altura, ainda não me tinha assumido totalmente como gay, pelo que nada fiquei a saber sobre esse aspecto, de Barcelona; e embora nunca tivéssemos abordado o assunto, não tenho hoje qualquer dúvida que o Xavier era, como eu, gay.
Mais tarde, na tal viagem grande, de comboio para Atenas, parei dois dias ali e revisitei alguns locais mais interessantes.
Finalmente visitei de novo a cidade, com o Duarte, após as Olimpíadas e era uma cidade “nova”. Também foi nessa altura que conheci alguma vida gay e frequentei uma conhecida praia gay, nos subúrbios da cidade.

Já Madrid, perdi a conta às vezes que ali estive, só, acompanhado e acompanhado por variadas pessoas.
Conheço muito bem toda a cidade, e durante muitos anos, fiquei sempre hospedado num hostal, logo no início da Calle Carretas, junto à Puerta del Sol e por cima do já defunto Cine Carretas, uma “relíquia” da vida gay madrilena, que punha o nosso “Olímpia” a um canto; nunca vi tanto sexo junto ao mesmo tempo, nos acentos, nas coxias, nos lavabos, eu sei lá…
Aliás a vida gay de Madrid é imensa, quase roda centrada no famoso bairro da Chueca, ali ao lado da Gran Via.
São bares, discotecas, restaurantes, lojas de moda, saunas, cafés, hostales, é toda uma zona em que prevalece a vida gay.
Aí fui pela primeira vez a um quarto escuro e numa bela noite de passagem de ano, como sempre passada na Purta del Sol, com o Duarte, depois fomos para os bares e discotecas e já com uns copitos, ao regressarmos ao hostal pelas cinco da matina, fomos comer uns churros e nesse local estava uma moça portuguesa, com quem conversámos e sem qualquer problema, e pela primeira vez, admitimos em público que éramos gays e tínhamos passado uma noite estupenda.
Também já assisti a duas paradas do orgulho gay em Madrid e nunca vi uma coisa assim: as ruas pejadas de mais de um milhão de pessoas
à noite na Chueca não se podia dar um passo, indiscritível…
E também ali, em Madrid conheci o primeiro bar de “bears”, que ainda existe, o “Hot”
e a discoteca com o maior quarto escuro do mundo (é 4 ou 5 vezes maior que o restante espaço) – é o “Strong”

Mas Madrid não é só vida gay, claro.
Tem praças lindas, Plaza Mayor
Cibelles
tem uma avenida fabulosa, o Paseo de la Castellana
 tem um parque maravilhoso no centro da cidade, o Retiro
tem museus dos melhores do mundo ,o Prado
ou o Reina Sofia
tem a Gran Via
tem os bairros típicos (Lavapiés, 2 de Mayo e outros), tem o Rastro (a feira da Ladra lá do sítio), tem monumentos magníficos
ruas comerciais apinhadas de gente, a toda a hora e tem um povo magnífico!!!
Madrid é uma festa.

A última vez que lá estive foi na passagem do ano 2010/2011, com o Déjan; foram só três dias , mas foi maravilhosos e claro com a meia-noite de 31 de Dezembro na Puerta del Sol.

De outras visitas a Madrid, tive a oportunidade de visitar Toledo
magnífica cidade banhada pelo Tejo, o Escorial
que é o grandioso mosteiro que funciona como panteão real, e o sinistro Valle de los Caídos
a homenagem ao fascismo franquista e onde está sepultado o ditador.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eduardo VIII - Duque de Windsor

Acabei de ler mais um interessante livro que fala sobre o papel de algumas pessoas, que sendo gays tiveram algum impacto na História.
Trata-se do livro de Paul Tournier “ Os Gays na História”, e logo no início o autor explica o critério das suas escolhas, pois como parece óbvio, a “oferta” era muita; assim, ele apenas escolheu personagens masculinos, à excepção de um curto episódio sobre a figura bíblica de Ruth, e também, com excepção dos vultos culturais da Renascença, escolheu personalidades que de uma forma mais ou menos directa tiveram algum impacto na História.
Assim, encontramos referências a alguns homossexuais suficientemente conhecidos como tais: Sócrates, Alexandre, Júlio César, Adriano, David, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Shakespeare, Edward II de Inglaterra, Carlos XII da Suécia, Ludwig II da Baviera ou T.E.Lawrence, bem como outros menos conhecidos, como alguns reis e príncipes medievais (Jaime de Aragão, João II e Henrique IV de Castela), e um rei consorte espanhol – Francisco de Bourbon.
Mas mais interessantes são aquelas personagens de que há fortes indícios da sua homossexualidade, mas não certezas: S.João (o apóstolo favorito de Cristo), S.Paulo e Santo Agostinho, Voltaire e Robespierre, Lincoln, e Hitler.
Deixei propositadamente para o fim, uma das personagens que maior interesse me despertou – Eduardo VIII de Inglaterra, mais conhecido como Duque de Windsor e tio da actual rainha Isabel II.
Eduardo era filho de Jorge V e seu eventual sucessor.
No entanto, a sua vida foi cheia de pormenores muito curiosos e alguns pouco conhecidos.
Desde cedo Eduardo mostrou duas facetas da sua vida; por um lado, era conhecida a sua simpatia pela Alemanha e mormente por Hitler, então em plena ascenção política (anos 30) e por outro lado o seu gosto por pessoas do mesmo sexo, tendo um caso amoroso durante muitos anos com o seu secretário Dudley Metcalfe.
Sabendo Hitler da sua homossexualidade, e sendo ele um futuro rei de Inglaterra, este assunto preocupava o rei seu pai e os serviços secretos ingleses, que o vão visitar à sua residência oficial de Fort Belvedere,
para lhe exigirem um casamento antes de ser rei, para assim “apagar” essa imagem.
Ora nessa sua residência, o Duque de Winsor dava festas muito badaladas e recebia hóspedes variados, entre os quais apareceu um casal americano, os Simpson.
A uma certa altura o casal começou a deteriorar o seu casamento que acabou em divórcio e o Duque começou a ser um acompanhante preferencial de Wallis, a divorciada senhora Simpson.
Quando é feita essa proposta de casamento ao Duque, ele aceita com uma condição, que o casamento fosse com Wallis Simpson e fosse um casamento branco, ou seja, não consumado, deixando ao critério da senhora se ela quisesse ter um filho ou não (claro por interposta pessoa).
Entretanto em 1936 morre Jorge V e a Inglaterra vê-se com um rei – Eduardo VIII, com 42anos, solteiro e sem noiva.
A solução é o tal casamento, mas Wallis é divorciada e americana, e não só os súbditos a não aceitariam como rainha como o próprio Arcebispo de Cantuária, chefe da igreja inglesa não o permitiria, pelo que 11 meses depois, Eduardo VIII, abdica do trono, “por amor”, a favor do seu irmão Jorge VI, pai de Isabel II. Casa com a senhora Simpson em França, e curiosamente o padrinho de casamento é o seu secretário e amante
e passam a viver em França.
A vida sexual entre os dois era inexistente e a uma certa altura Wallis traz para a sua residência, um playboy americano amigo e bissexual, Jimmy Donahue, que contentava os dois duques sexualmente.
A coroa britânica nunca aceitou este casamento e o Duque apenas foi autorizado a visitar Londres por altura da morte da sua avó, Mary.
Mais tarde, houve uma certa abertura de Isabel II para resolver esta questão e os restos mortais daquele que foi rei por 11 meses, como Eduardo VIII, estão sepultados, como os da Duquesa, em Windsor.

Como apêndice uma curiosa foto...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Pierre et Gilles

Embora as primeiras obras de Pierre et Gilles datem de alguns anos antes, as suas estratégicas formais parece terem-se fixado naturalmente nos anos setenta do século passado.
Pierre tira fotografias sobre as quais Gilles pinta.
A evolução das tecnologias não teve o mais pequeno efeito sobre a obra da dupla, que se tem mantido à margem das facilidades proporcionadas pelos retoques digitais ou das formas de duplicação propiciadas pelo computador.
Há um ritmo constante de novas imagens sem períodos, focadas sobre matérias específicas. São temas vastos e intemporais, muitas vezes interligados, do amor, da morte, da mitologia e da religião.
As imagens de Pierre et Gilles são feitas no estúdio da cave da sua casa, atingindo a vida física no mesmo espaço em que o sujeito posa.
Um dos seus hábitos é fotografarem gente célebre, sendo imensa a galeria de personalidades já retratadas.


Apresento aqui alguns dos seus trabalhos que mais apreciei, certo de que outras escolhas seriam muito válidas, mas também procurar cobrir vários ângulos do tipo de fotos que publicam.





















sábado, 13 de julho de 2013

Reencontro em Lisboa

Pois é, desta é que foi de vez.
Finalmente e depois de sucessivos adiamentos devidos  à vida do Déjan que mudou muito por causa do estágio que está a fazer, finalmente chegámos à escolha de datas e os bilhetes estão comprados: chegará a Lisboa à noitinha de 9 de Outubro e aqui permanecerá até 24 do mesmo mês.
Depois de oito meses separados a completar nessa altura, estaremos de novo juntos, pouco tempo antes do nosso oitavo aniversário.
Vão ser dias bons, passados quase sempre aqui em Lisboa com uma ida aqui ou ali, mas acima de tudo, um com o outro e sem o fantasma de exames.
Antes pelo contrário, iremos decerto falar no seu futuro, lá para princípios de 2014, na Alemanha, onde eventualmente acontecerá o nosso posterior reencontro.
Gostaria de aproveitar a presença dele aqui para promover aquele jantarinho, de "lançamento" do livro do Miguel, de que falei no post sobre o seu livro, e que não tendo o alcance nem a preocupação de um jantar de blogs, será aberto a quem quiser estar presente e que portanto será a 12 ou 19 de Outubro, data a confirmar com o Miguel e no sítio do costume - o Guilho!
Mas disso falaremos mais detalhadamente mais tarde.
Deixem-me ficar a sonhar com este Outono que promete, apesar de todas as crise, ter duas semanas de muita felicidade.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"Sinais de Fogo"

Jorge de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 Santa Bárbara, Califórnia,  4 de Junho de 1978)  foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Filho único de Augusto Raposo de Sena, natural de Ponta Delgada e comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Teles Grilo de Sena, natural da Covilhã e dona-de-casa. Ambas as famílias eram da alta burguesia, a paterna de suposta linhagem aristocrática de militares e altos funcionários, e a materna de comerciantes ricos do Porto. Segundo relata no seu conto Homenagem ao Papagaio Verde, teve uma infância recolhida, solitária e infeliz, o que fez com se tornasse introspectivo, observador e imaginativo.
Fez a instrução primária e os primeiros anos do liceu no Colégio Vasco da Gama. Concluiu os estudos secundários no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho. Era um jovem que lia avidamente, tocava piano e escrevia poemas. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, fez os exames preparatórios com as notas mais elevadas.
Sena nutria a ideia algo romântica de se tornar oficial da marinha, seguindo as pisadas do pai. Em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso. A 2 de Outubro de 1937 , iniciou a sua viagem de instrução a bordo do navio escola Sagres. Visitou os portos de S. Vicente, Santos, Lobito, Luanda, S. Tomé e Dakar, chegando a Lisboa no final de Fevereiro de 1938 . O contacto com a imensidão do oceano, a azáfama da vida a bordo e o movimento e mudança constantes agradaram ao jovem Sena, mas nem tudo correu bem. Segundo o relato de um antigo camarada de curso, naquele ano a viagem de instrução foi excepcional e particularmente dura e exigente em termos de preparação e destreza física, copiando o modelo da marinha alemã. Na parte teórica do curso Sena era brilhante, mas em termos atléticos era medíocre e apesar dos muitos esforços que fez não conseguiu satisfazer as elevadas expectativas do comandante do curso, que parecia nutrir um ódio de estimação pelo cadete contemplativo e intelectual. No final da viagem, foi comunicado a Sena que iria ser proposta a sua exclusão da Marinha por lhe faltarem as "necessárias qualidades" para oficial. Sena ficou profundamente frustrado e desgostoso com esta rejeição e o seu afastamento definitivo de um modo de vida que tanto almejava.
Apesar da sua inclinação natural para a literatura, o sobredotado Sena decidiu frequentar o curso de Engenharia Civil, iniciando-o em Lisboa e concluindo-o no Porto, em 1944, com a ajuda financeira dos seus amigos Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal. O curso pouco o entusiasmou, mas durante todo esse tempo escreveu bastantes poemas, artigos, ensaios e cartas. Desde os 16 anos que escrevia e em 1940, sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os seus primeiros poemas na revista Cadernos de Poesia, dirigida por Cinatti, Blanc de Portugal e Tomás Kim. Em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição, que não impressiona muito o seu amigo e crítico João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro considera-o um livro revelador mas difícil.
Em 1947, Sena inicia a sua carreira de engenheiro, que durou 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autónoma das Estradas (JAE), onde permanecerá até ao seu exílio para o Brasil em 1959.
Em 1940, no Porto, Jorge de Sena conhece e torna-se amigo de Maria Mécia de Freitas Lopes (irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes), começando a namorar em 1944 e casando-se em 1949. Jorge de Sena e Mécia de Sena tiveram nove filhos. Mecia, sua incansável companheira e enérgica colaboradora, apoiando o escritor nas inúmeras crises que lhe surgiram ao longo de uma vida por vezes atribulada.
Trabalhava incansavelmente, para sustentar a crescente família. Além do seu absorvente trabalho diurno na JAE (que lhe possibilitou viajar e conhecer o Portugal profundo), Sena também se dedicava à direcção literária em editoras, à tradução e revisão de textos, ocupações que lhe roubavam precioso tempo para a investigação literária e a para a sua obra. A banalidade e a pequenez do quotidiano no Portugal de Salazar das décadas de 1940 e 1950 atormentam-no, bem assim como a mediocridade, a mesquinhez e a intriga dos meios literários, a opressão política, a censura literária, resultando num ambiente de trabalho sufocante e absolutamente frustrante, mas que não deixam de o inspirar para o poema É tarde, muito tarde na noite…
Durante esses anos publica várias obras: O Dogma da Trindade Poética – Rimbaud (1942), Coroa da Terra, poesia (1946), Páginas de Doutrina Estética de Fernando Pessoa(organização), 1946, Florbela Espanca (1947), Pedra Filosofal poesia (1950), A Poesia de Camões (1951), etc.
A sua situação como escritor e cidadão estava a tornar-se insustentável. Como escritor, não tinha tempo livre para escrever, apenas o podia fazer de modo insuficiente e limitado à noite e aos domingos. Também o facto de não pertencer a nenhum círculo académico e a falta de apoio institucional lhe frustrava qualquer pretensão de poder vir a editar alguma obra mais ambiciosa. Por outro lado, a sua participação numa tentativa revolucionária abortada em 12 de Março de 1959, colocou-o em posição de prisão iminente, no caso muito provável de algum dos conspiradores presos pela PIDE denunciar os que ainda se encontravam livres.
Em Agosto de 1959, viajou até ao Brasil, convidado pela Universidade da Bahia e pelo Governo Brasileiro a participar no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Tendo sido convidado como catedrático contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de S. Paulo, aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio. Ele faz amizade com o poeta Jaime Montestrela, que dedicou o seu livro Cidade de lama. Por motivos profissionais teve de adoptar a cidadania brasileira.
Não foi contudo um exílio libertador. Sentia saudades da pátria, apesar do rancor perene que nutria pela pequenez, mesquinhez e falta de reconhecimento nacionais que o atormentariam até ao final da vida.
Em 1961, Jorge de Sena foi ensinar Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Em 1964, depois de vencer alguns preconceitos académicos pelo facto de ser licenciado em Engenharia, Jorge de Sena defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos académicos "com distinção e louvor".
O período de seis anos que passou no Brasil foi muito produtivo. Finalmente, tinha toda a disponibilidade para se dedicar à sua obra com a devida profundidade e profissionalismo. Poesia, teatro, ficção, ensaísmo e investigação. Parte do romance Sinais de Fogo e a totalidade dos contos Novas Andanças do Demónio foram escritos neste período.
A degradação da situação política no Brasil, com a instalação de uma ditadura militar a partir de Março de 1964, fez com que Jorge de Sena, mais do que nunca avesso a prepotências, aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, para partir para os Estados Unidos em Outubro de 1965. Em 1967 foi nomeado catedrático do Departamento de Espanhol e Português da referida universidade.
De 1970 até 1978 foi catedrático efectivo de Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. Apesar da satisfação de ensinar e da amizade que os alunos lhe dedicavam, Sena não foi feliz. Queixava-se da "medonha solidão intelectual da América" onde não havia "convívio intelectual algum" e da esterilidade e espírito burguês do meio académico, que não se interessava pela sua obra.
Quando se deu o 25 de Abril Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Sena visitou Portugal, contudo, nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa se dignou convidar o escritor para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro. Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério do Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.

Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.

Acabei de ler à dias o romance “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena, do qual já tinha lido com muito agrado uma colectânea de contos sob o título “Os Grão Capitães”.
Este romance, em que a personagem principal, Jorge, tem muito de autobiográfico, passa-se na sua maior parte na Figueira da Doz, uma praia onde passei grande parte dos Verões da minha infância e da minha juventude; e se bem que a época seja diferente (finais dos anos 30 do século passado), não diferiria muito da Figueira dos anos 50/60 que eu conheci.
È um livro nem sempre fácil, devido às muitas considerações filosóficas que o autor vai entremeando com o decorrer da acção, mas com um elevado valor intelectual, podendo sem qualquer dúvida considerar-se talvez o mais importante ou pelos menos dos mais importantes marcos da literatura portuguesa da segunda metade do século XX.
 Com uma inesperada e nada contida narração sexual, tem, ouso dizê-lo, das mais ousadas narrativas sexuais jamais escritas em português, desde o mundo da prostituição, ao amor heterossexual puro (?), ás orgias, ao sexo homossexual, enfim, para todos os gostos, mas nunca gratuito ou deslocado.
No meio de toda a acção está a Guerra Civil Espanhola, a confirmação da ditadura portuguesa, a ascensão do nazismo e todos os fenómenos daí advindos na formação humana e política do Jorge.
O livro pode considerar-se inacabado, pois haveria várias hipótese finais que nunca chegaram a ver a luz do dia; apesar de tudo é um longo romance, com cerca de 600 páginas.
Deste romance foi realizado um filme, por Luís Filipe Rocha, em 1995 tendo Diogo Infante como protagonista, cujo trailer aqui deixo.
E também deixo o primeiro vídeo de uma magnífica série de cinco episódios, apresentados na RTP 2, sob o título genérico de Grandes Livros, e que merece ser visto na íntegra (está no You Tube). Curiosamente as cenas do filme aqui apresentadas não são do filme do LFRocha.  
Um livro memorável que merece a atenção de quem se interessa por ler, mas também por quem se interessa por um período tão interessante da nossa História recente.

domingo, 7 de julho de 2013

Clássicos da dança no feminino

Este post pretende homenagear os grandes nomes da dança feminina, no cinema e refiro-me como é óbvio a  nomes clássicos, já que no cinema mais moderno, muitos outros nomes poderíamos acrescentar.
E nem sequer estou a pretender que estes serão os nomes mais importantes, pois outros haveria que aqui não estão, como Betty Grable ou Cyd Charrisse por exemplo; e poderíamos mesmo contestar a inclusão de Carmen Miranda, essencialmente uma cantora, ou mesmo de Rita Hayworth, acima de tudo,uma actriz.
São de qualquer forma cinco excelentes vídeos, onde além das já citadas Carmen Miranda e Rita Hayworth, podemos encontrar as realmente fabulosas bailarinas que foram Eleonor Parker (aqui acompanhada pelo genial Fred Astaire), Ann Miller e principalmente Ginger Rogers.
Saborear estas preciosidades é bom em tempo de calor e de crise.
Qualquer dia virão os homens...








quarta-feira, 3 de julho de 2013

Um país surreal

Não gosto muito de escrever postagens sobre a situação política, mas o que aconteceu em Portugal, a nível político é tão patético, tão surreal, que merece uma referência.
Numa pincelada rápida, o que se passou foi que segunda feira, Vitor Gaspar pede a sua demissão da pasta das Finanças numa elaborada carta enviada ao primeiro ministro. Nela não aponta uma causa directa mas farta-se de mandar pistas e não estarei muito longe da verdade se disser que a razão desse pedido de demissão assenta num somatório de pressupostos: ele já não acreditava na eficácia da sua política que falhou em todos os campos; ele tinha uma crescente oposição dentro do próprio governo, não só do outro partido da coligação, o CDS, mas de vários ministros do PSD.
Os grupos parlamentares que sustentam a coligação estão cada vez mais “rebeldes” e chegam a aprovar no Parlamento 6 medidas apresentadas pelo PS; a desconvocação da greve dos professores só foi conseguida com concessões que criam um perigoso precedente nos regimes de mobilidade da função pública aprovados sob pressão da troika. E ainda foi apanhado na armadilha montada por Teixeira dos Santos que o “entalou” com a questão dos Swapps.
Razões pois de sobra para Gaspar se ir embora, e como não deixa saudades, há a possibilidade de Passos Coelho resolver vários casos de uma vez só com a escolha de um novo ministro que implemente uma política orçamental e económica diferente, como por exemplo Paulo Macedo.
Mas o primeiro ministro mostra uma vez mais que é tudo menos um político e nomeia a pior pessoa possível, Maria Luis Albuquerque
que não só é a garantia de uma política inalterada, como é uma pessoa marcada por fortes suspeitas de políticas financeiras de risco quando gestora da Refer.
Portas, líder do outro partido da coligação, vai aos arames e pede a demissão, havendo uma grande confusão sobre o timing em que a apresentou, mas o facto é que essa demissão é comunicada ao silva de Belém, em cima da hora da tomada de posse da nova ministra das Finanças, acto verdadeiramente triste e bem demonstrativo de como é ridícula e apavorante a “pequena política portuguesa”.
Findo esse chocante episódio, PC reúne com o Governo em S.Bento e vai num instantinho à reunião da comissão política do seu partido a comunicar que no seu discurso ao país irá dizer que não de demite.
Num inacreditável palavreado, comunica essa sua decisão ao país e cúmulo dos cúmulos diz que não aceita a demissão de Portas, pelo que não pediu a sua exoneração ao silva e Belém, e que fará TUDO para que este governo não caia porque isso blá, blá, blá, blá, já sabemos de cor e salteado as consequências que ele invoca.
O que faz PC tomar esta atitude? Ele sabe que se ele se demitir, haverá eleições antecipadas, provavelmente a 29 de Setembro, coincidindo com as autárquicas e sabe que sendo assim, o PSD quase desaparece na contagem dos votos. Não se demitindo, procura ganhar tempo, para inviabilizar a coincidência de datas e vai procurar culpabilizar Portas e o seu partido da crise política.
Aguardam-se os próximos capítulos que prometem ser tão escandalosos como estes aqui relatados.
E o silva? O que faz? NADA!!!!!
O silva é um zero à esquerda, perdeu toda a decência mínima para ser PR. E pode ser, e deve ser, acusado de ter uma imensa quota parte neste “imbróglio” político.
Para piorar a situação, Seguro não é um homem que dê garantias de “salvar o barco”, embora possa ou pelo menos o tente, bater o pé na EU para que Portugal não seja o primeiro país a sair do euro e provocar com isso um efeito dominó de consequências dramáticas.
E nós, ficaremos melhor? De forma alguma e os tempos que aí vêm serão não só difíceis como têm sido, mas também extremamente incertos.
Mas resta-nos a consolação que fizemos o que devíamos ter feito para mandar estes bandalhos para a “p*** que os p****”.