quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eduardo VIII - Duque de Windsor

Acabei de ler mais um interessante livro que fala sobre o papel de algumas pessoas, que sendo gays tiveram algum impacto na História.
Trata-se do livro de Paul Tournier “ Os Gays na História”, e logo no início o autor explica o critério das suas escolhas, pois como parece óbvio, a “oferta” era muita; assim, ele apenas escolheu personagens masculinos, à excepção de um curto episódio sobre a figura bíblica de Ruth, e também, com excepção dos vultos culturais da Renascença, escolheu personalidades que de uma forma mais ou menos directa tiveram algum impacto na História.
Assim, encontramos referências a alguns homossexuais suficientemente conhecidos como tais: Sócrates, Alexandre, Júlio César, Adriano, David, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Shakespeare, Edward II de Inglaterra, Carlos XII da Suécia, Ludwig II da Baviera ou T.E.Lawrence, bem como outros menos conhecidos, como alguns reis e príncipes medievais (Jaime de Aragão, João II e Henrique IV de Castela), e um rei consorte espanhol – Francisco de Bourbon.
Mas mais interessantes são aquelas personagens de que há fortes indícios da sua homossexualidade, mas não certezas: S.João (o apóstolo favorito de Cristo), S.Paulo e Santo Agostinho, Voltaire e Robespierre, Lincoln, e Hitler.
Deixei propositadamente para o fim, uma das personagens que maior interesse me despertou – Eduardo VIII de Inglaterra, mais conhecido como Duque de Windsor e tio da actual rainha Isabel II.
Eduardo era filho de Jorge V e seu eventual sucessor.
No entanto, a sua vida foi cheia de pormenores muito curiosos e alguns pouco conhecidos.
Desde cedo Eduardo mostrou duas facetas da sua vida; por um lado, era conhecida a sua simpatia pela Alemanha e mormente por Hitler, então em plena ascenção política (anos 30) e por outro lado o seu gosto por pessoas do mesmo sexo, tendo um caso amoroso durante muitos anos com o seu secretário Dudley Metcalfe.
Sabendo Hitler da sua homossexualidade, e sendo ele um futuro rei de Inglaterra, este assunto preocupava o rei seu pai e os serviços secretos ingleses, que o vão visitar à sua residência oficial de Fort Belvedere,
para lhe exigirem um casamento antes de ser rei, para assim “apagar” essa imagem.
Ora nessa sua residência, o Duque de Winsor dava festas muito badaladas e recebia hóspedes variados, entre os quais apareceu um casal americano, os Simpson.
A uma certa altura o casal começou a deteriorar o seu casamento que acabou em divórcio e o Duque começou a ser um acompanhante preferencial de Wallis, a divorciada senhora Simpson.
Quando é feita essa proposta de casamento ao Duque, ele aceita com uma condição, que o casamento fosse com Wallis Simpson e fosse um casamento branco, ou seja, não consumado, deixando ao critério da senhora se ela quisesse ter um filho ou não (claro por interposta pessoa).
Entretanto em 1936 morre Jorge V e a Inglaterra vê-se com um rei – Eduardo VIII, com 42anos, solteiro e sem noiva.
A solução é o tal casamento, mas Wallis é divorciada e americana, e não só os súbditos a não aceitariam como rainha como o próprio Arcebispo de Cantuária, chefe da igreja inglesa não o permitiria, pelo que 11 meses depois, Eduardo VIII, abdica do trono, “por amor”, a favor do seu irmão Jorge VI, pai de Isabel II. Casa com a senhora Simpson em França, e curiosamente o padrinho de casamento é o seu secretário e amante
e passam a viver em França.
A vida sexual entre os dois era inexistente e a uma certa altura Wallis traz para a sua residência, um playboy americano amigo e bissexual, Jimmy Donahue, que contentava os dois duques sexualmente.
A coroa britânica nunca aceitou este casamento e o Duque apenas foi autorizado a visitar Londres por altura da morte da sua avó, Mary.
Mais tarde, houve uma certa abertura de Isabel II para resolver esta questão e os restos mortais daquele que foi rei por 11 meses, como Eduardo VIII, estão sepultados, como os da Duquesa, em Windsor.

Como apêndice uma curiosa foto...

28 comentários:

  1. Interessantíssima postagem!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    Vou ver se consigo o livro!
    Obrigado!!!!!!

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    1. Ricardo
      isto que dizes, partindo de ti faz-me corar...
      Sim, o livro é muito interessante e é um daqueles livros fáceis de ler, não se perde em considerações filosóficas e enumera coisas que são deveras interessantes mesmo sobre personalidades que nós julgávamos conhecer razoavelmente bem. Por exemplo, aprendi muitas coisas sobre Sócrates...
      Abraço amigo.

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  2. Os escândalos de hoje em dia são uma ninharia comparados com este. Uma sorte a força mediática ainda ser embrionária na altura.

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    1. Alex
      ainda por cima vividos numa época extremamente difícil, pois apanha o meio da década de 30 do século passado com a Guerra Civo de Espanha a servir deensaio geral para a 2ªGG e a ascenção de Hitler.
      O Duque passou mesmo uma temporada em Berlim, no tempo em que Berlim era uma cidade fascinantemente perigosa e em que ele se rodeava de amigos ingleses pró-germânicos.
      A história de todo um romance fabricado pelas revistas sensacionalistas da época, entre ele e Willy Simpson era e foi sempre só fachada - não digo que não houvesse afectos., mas tão só, isso.
      De onde se vê que a dinastia dos Windsor com os escândalos da actualidade, incluindo o caso de Diana e Carlos com os respectivos adultérios, o alcoolismo da princesa Margarida, os sucessivos divórcios de quase toda a família real, a própria vida sexual do príncipe Filipe, tudo isso já tem muitos antecedentes.
      Até a puritana Vitória teve o seu caso depois de ter ficado viúva...
      Mas aqui, no caso do Duque de Windsor, o escândalo era duplo e de uma importância magna como dizes.
      Abraço amigo.

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  3. Muito interessante este livro :)

    também quero um secretário ou vários lolololololololol

    Abraço amigo,

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    1. Francisco
      aquele foi um secretário para a vida inteira.
      Abraço amigo.

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  4. Muito interessante! Também vou querer ler esse livro! ^^

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    1. João
      eu comprei-o há relativamente pouco tempo, mas parece-me que nos sites de livros esgotados...
      Mas vale a pena.
      Abraço amigo.

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  5. Interessante... Desconhecia esta faceta de Eduardo VIII. Sabia, como todos, da polémica em torno de Wallis Simpson, aliás, um dos episódios mais conhecidos e caricatos da família real inglesa.

    Também por cá tivemos os nossos monarcas homossexuais (sê-lo-iam?). Há fortes indícios e suspeitas quanto a D. Afonso VI, o famoso mentecapto que alcançou o trono; fala-se de D. Sebastião, sem nada de muito concreto; e, pasme-se!, de uma bissexualidade de D. Pedro I (sim, o da Inês de Castro, esse mesmo). Quanto ao último, D. Pedro, há cartas que o atestam.

    Nos inícios do ido ano de 2010, escrevi um texto sobre a suposta homossexualidade de D. Afonso VI. Para quem tenha curiosidade, onde te incluo, pode ler aqui. Se mo permites, deixo o link:

    http://asaventurasdemark.blogspot.pt/2010/02/d-afonso-vi-amizade-homoerotica.html

    Entretanto, tive, por lá, uma discussão com alguém sobre isto. Recusam-se a ver a realidade, é no que dá. :)

    abraço, querido João.

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    1. Mark
      eu recordo-me de ter lido e como sempre, o que escreves sobre História, é excelente e fica, com uma viva recomendação minha a dica para lerem este texto.
      Curiosamente, Paul Tournier refere, muito ao de leve, a possível homossexualidade ou pelo menos bissexualidade de Fernão de Magalhães e de Vasco da Gama, quando fala genéricamente no Renascimento.
      Abraço amigo.

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  6. Pedaços de história escondidos da maioria das pessoas.
    Nem sempre estas vidas, e outras paralelas, foram entendidas como na actualidade.
    Parece que muitos "tabus" foram desmitificados.

    Desculpa passar poucas vezes.
    Tenho andado cheio de trabalho e um cansaço que acaba de me pôr KO.

    Votos de um bom fim de semana.

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    1. Luís
      não tens que te desculpar de nada; estou agradecido sempre das tuas visitas e comentários.
      Sobre este assunto, não sei se com os progressos das comunicações e da pressão mediática sobre assuntos tão melindrosos pelo envolvimento de pessoas ligadas directamente ao poder, teriam passado tão incólumes como passaram estes.
      Porque aqui não se trata apenas da assunção da homossexualidade de uma pessoa pública, mas sim de um futuro rei com simpatias políticas para com personalidades potencialmente contrárias ao interesse da sua nação e assim poder ser chantageado por tal.
      Hoje é fácil encontrarmos detentores de cargos públicos assumirem a sua orientação sexual diferente, sem problemas, desde presidentes da república, a primeiro ministros, ministros e presidentes de câmara de grandes cidades, o que é muito saudável.
      Abraço amigo.

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  7. Nunca senti simpatia pelo Eduardo VIII, por causa das suas tendências germanófilas. Mas sempre pensei que a sua renúncia ao trono tinha sido um acto de rebeldia; o teu post torna claro que foi sobretudo resultado da real politik, quer cortesã, quer na disposição das peças para o xadrez da II guerra mundial.

    o livro, é interessante? vale a pena ler?

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    1. Miguel
      a sua abdicação foi-lhe totalmente imposta e convenhamos, não havia outra forma de resolver uma situação potencialmente explosiva.
      Foi um casamento de conveniência que depois foi alimentado, com gosto frívolo, admito, por ambos, coniventes com uma sexualidade entre ambos inexistente a não ser por interpostas pessoas.
      Quanto ao livro, embora não seja uma obra prima, torna-se deveras interessante pela descrição de situações, nunca baixando à grosseria, que ajudam aconhecer melhor certas personalidades e até a conhecer algumas completamente de novo.
      É um livro honesto sobre um tema que obrigou o autor a escolhas pessoais, sempre susceptíveis de critica, como é normal.
      abraço amigo.
      Quase me apetecia escrever textos semelhantes a este sobre, por exemplo S.Paulo ou sobre Hitler.
      Abraço amigo.

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  8. há alguns anos, vi num dos canais da cabo um documentário sobre esta personagem, mas não abordou a sua suposta homossexualidade, como é óbvio. ele era constantemente investigado pelos serviços secretos, pelo FBI, mesmo a sua passagem por cá foi seguida, é muito natural que esteja tudo registado, mas nos segredos dos deuses. o que seria da GB, o rei homossexual, germanófilo e casado com uma mulher divorciada duas vezes? seria a queda da monarquia. nunca. ele foi bem manobrado para sair de cena e criaram-lhe um cargo fantoche nas bahamas.
    daria um excelente filme. não sei por que é que ainda não pensaram nisto...
    bjs.

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    1. Margarida
      é curioso, mas esse filme já existe e só agora com uma busca na net cheguei a ele; é um filme recente, realizado pela (pasme-se) Madonna!
      Mas parece que se centra essencialmente na problemática do seu relacionamente afectivo com Mrs.Simpson e a abdicação do rei.
      Por outro lado há uma história paralela passada em 1998.
      O filme chama-se "W/E", iniciais de Wallis e Edward...
      Beijinho.

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  9. Esse é último filme realizado pela Madonna, 'W/E', é sobre o casal e tem um perspectiva muito interessante. Aliás foi uma obra que passou ao lado (cá nem estreou) não se percebe bem porquê. É um excelente filme, vale mesmo a pena ver.
    Abraço.

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    1. Arrakis
      o filme é de 2011 e eu vou procurar sacá-lo, claro.
      Embora já me tivesse informado minimamente, parece que o lado homossexual do Duque é um bocado ou mesmo totalmente negligenciado, o que me admira um bocado, sendo um filme da Madona.
      Abraço amigo.

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  10. Delicioso post, João bem como a música.
    Abraço e ... obrigado por esta lição de cultura geral.

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    1. Obrigado Paulo
      achei que era um assunto de interesse e desconhecido de muita gente; daí a sua postagem.
      A música teria de ser inglesa, de preferência com conotações homossexuais (Pet Shop Boys) e com algo de irónico - considerar a homossexualidade um pecado...
      Abraço amigo.

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  11. Caro João,
    Mais um post interessantíssimo, como não podia deixar de ser. Já sabia da homossexualidade de Eduardo VIII depois que vi um excelente documentário da BBC. Outra figura da realeza britânica igualmente gay era Lord Mountbatten primo do primeiro, e ambos amigos de aventuras.
    Um excelente documentário com a chancela da BBC.
    Há um mundo desconhecido de figuras da história que foram homo ou bissexuais, porém algumas delas viveram numa época em que os gostos sexuais não eram tão catalogáveis como hoje.
    Por exemplo D. Pedro I foi um apaixonado por Inês de Castro, mas se de vez em quando gostava de ir para a cama com o seu mordomo isso era completamente irrelevante desde que fizesse o que se lhe pedisse como rei, nomeadamente que tivesse descendência bastante, sobretudo varões, quer legítimos quer bastardos.


    Um abraço com amizade!

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    1. Lear
      o que me seduziu nesta história, bem como noutras focadas neste livro é a forma como são contados os factos, com real sentido e sem especulação e até algumas vezes sob a forma de apenas suspeição quando não há provas irrefutáveisl, como é o caso de Lincoln.
      Mas no caso de Eduardo VIII, as provas são muitas e as conclusões tiradas são bastante evidentes e contrariam bastante o romance apenas cor de rosa de uma frívola relação de gente rica.
      Abraço amigo.

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  12. (adoro a música)

    Olha que escândalo tão grande, eu a pensar que a Wallis e ele eram um casal super feliz e tal, e ele fez tudo por amor...realmente faz muito sentido...a família real inglesa tem este lado tão humanamente duvidoso, intrigante.

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    1. Ima
      sobre a música já expliquei aí para cima a sua razão de ser aqui...
      Sobre o caso dos Duques de Windsor, as coisas acabam sempre por se saber exactamente como foram, não é verdade?
      Abraço amigo.

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  13. Aprendi "umas coisas" com o teu post:))))

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    1. É para isso que serve a partilha e eu fico muito satisfeito com isso, Justine
      Beijinho.

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  14. Essa tua referência ao Hitler é interessante. Porém, se a memória não me falha, a família real inglesa tem no seu sangue genes alemães. Só após a primeira guerra mundial é que os Windsor tiraram do nome oficial o apelido alemão que até então usavam. E não era só Eduardo que admirava o ínfame ditador, muitos antes da segunda guerra admiravam aquele que iria colocar o mundo às avessas.

    Recordo ainda que na Grécia antiga era normal os homens, pelo menos os mais importantes, darem-se com "rapazinhos". Era aceitável pela sociedade e em alguns casos, uma obrigação. Coisas da altura...

    Mas gosto da publicação. Talvez um dia leia essa obra literária. Talvez depois da série "Dois Mundos" (pub).

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  15. Ribatejano
    as famílias reais europeias têm todas genes de todas as nacionalidades pois casavam entres si.
    Mas no caso deste Eduardo as simpatias eram por demais evidentes quando já se sabia no que Hitler se iria transformar...
    Na Grécia antiga, não eram só os homens importantes que iniciavam rapazinhos na sexualidade; eram todos porque assim eram as regras da sociedade, quando chegavam a uma certa idade eram eles que iniciavam outros. As relações homossexuais entre adultos muitas vezes até nem eram muito bem toleradas.
    Fazes bem em ler o livro...
    Abraço amigo.

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