segunda-feira, 14 de março de 2011

Homossexuais no Estado Novo (1)


Acabei há dias de ler um livro muito interessante e que nos mostra como era difícil ser-se homossexual em Portugal nos últimos 100 anos, sendo um bom ponto de partida para a história dos movimentos LGBT no nosso país.
Trata-se de “Homossexuais no Estado Novo”, da autoria de São José Almeida, que cumprimento pelo seu trabalho de pesquisa e divulgação. Neste livro, colaboraram muitas pessoas, indirectamente, através dos seus testemunhos e documentação, entre os quais me permito destacar duas, sempre muito ligadas à história da homossexualidade em Portugal: o jornalista Fernando Dacosta e principalmente o Professor Universitário António Fernando Cascais.
Eu dividiria este livro em duas partes, muito subjectivamente: os anos que medeiam o início do Estado Novo e os meados da década de sessenta, e os posteriores, até ao 25 de Abril (embora no livro haja algumas referências ao imediato pós 25/4).
E isto porque foi nesse meio tempo que eu vim estudar e viver para Lisboa e comecei a viver a minha homossexualidade.
Dos tempos passados, se há figuras bem conhecidas, como António Botto, João Villaret e outros, também há nomes e histórias que eu não conhecia, principalmente no campo lésbico.
E há um muito apurado estudo de todo um processo legislativo da homossexualidade, ainda quando era considerada um crime e depois quando passou a ser considerada uma patologia. A documentação é grande e trabalhosa.
Há a descrição de episódios pessoais, que só por si valeriam a leitura; e há uma conclusão imediata: durante esses tempos a homossexualidade era vista de diferente maneira, conforme ela era passada numa elite burguesa e intocável, ou se era praticada pela sociedade em geral, o povo.
A partir de 1963, comecei a ver e a entender, enfim a “viver” as coisas de uma forma directa e portanto o livro tornou-se quase um álbum de recordações, de pessoas e lugares. Por isso e em próximas postagens irei dedicar alguma prosa a certas pessoas e locais desta Lisboa que eu conheci razoavelmente bem.

42 comentários:

  1. Parece-me sem dúvida muito interessante o livro. Se tiver oportunidade e tempo hei-de lê-lo. Claro que os tempos de agora não se comparam a essa altura conturbada. Mas a verdade é que ser homossexual não é fácil independentemente do sítio ou do lugar. Haverá sempre alguém pronto a dificultar-nos a vida, a evolução e mesmo a liberdade.
    Um abraço.

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  2. André
    é realmente interessante e vale a pena a sua leitura.
    Pelo que é relatado na parte que eu assinalo como segunda, pois a vivi, a autora é muito fiel ao que realmente acontecia.
    Abraço amigo.

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  3. fico a aguardar com imensa curiosidade o relato das tuas histórias desta altura.
    abraço

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  4. Pedro
    Algumas bem curiosas...
    Abraço amigo.

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  5. e ainda assim:

    http://www.ipjornal.com/noticias-saude-bem-estar/saude/433861_bastonario-considera-normal-artigo-que-classifica-homossexuais-anormais.html

    beijinhos

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  6. Um livro que desconhecia e que é, certamente, muito interessante. A sexualidade sempre foi tratada como tabu e da homosexualidade falava-se em surdina, como chacota até, dizendo tratar-se de comportamentos desviantes da norma, como se ela não existisse desde sempre, e referindo-se a homens e mulheres com termos pejorativos.Quanta tacanhez nisto tudo! Mais uma vez me vieram à memória as palavras do Senhor teu Pai, Grande Homem!
    Aguardo,com interesse,os próximos posts.
    Bem-hajas, J.

    Beijinhos

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  7. Isabel
    é lamentável; está ainda no tempo do Prf. Egas Moniz.
    Bejinho.

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  8. Isabel
    curiosamente, o Estado Novo nunca perseguiu directamente os homossexuais: vigiava-os, chantageava-os e descriminava-os, isso sim.
    Ou fingia não conhecer os casos passados na alta sociedade ou até na esfera do poder.
    Um caso interessante foi o de Júlio Fogaça, dirigente comunista e oponente de Cunhal a que a PIDE nunca se importou muito com o facto dele ser homossexual, embora tenha prendido o seu amante, que curiosamente, não era comunista.
    Beijinho.

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  9. Isabel e João,

    Claro que o senhor ainda está no tempo do Prf. Egas Moniz! basta ler o que este ele escreve para perceber que lhe fizeram uma lobotomia.

    Beijos e abraços

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  10. que haja gente com falta de cultura no país, que ainda considere a homossexualidade uma doença, é triste, mas admito-o.
    Agora um médico, primeiro, e depois com o aval do Bastonário da Ordem, é algo de irracional.
    Abraço amigo.

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  11. É um livro a ler logo que possa. Já tinha lido o anúncio, o teu post deu-me outras informações. Obrigada

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  12. Justine
    É um documento interessantíssimo e que nos faz ter vontade, de nalguns casos, ir mais além, e explorar via Internet, o desenvolvimento desses casos e as suas formas multifacetadas.
    Beijinho.

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  13. Isto não tem nada a ver com este post!

    A propósito de http://bomladrao.blogspot.com/2011/02/kiss-pic_25.html

    Sabes que ele faz hoje 25 aninhos?

    Abraço-te

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  14. Como deves calcular, as minhas leituras obrigatórias não me dão uma grande margem para ler outro tipo de livros. Todavia, vou comprá-lo para ler logo que tenha disponibilidade.
    O teu texto é prolífero a várias considerações. A homossexualidade, antes como agora, existia, porém, era reprimida. Nos estratos sociais elevados havia uma "aceitação muda". Uma tia-avó minha tinha um grande amigo gay na década de 50. Ele circulava de forma normal e vivia a sua sexualidade. Não era incomodado devido às suas origens aristocráticas... Sabia-se, mas não se comentava... Há uma ideia generalizada - e errónea - de que o 25 de Abril trouxe uma abertura para a homossexualidade. Trata-se de um erro propagado pela sociedade. Não nos esqueçamos das palavras do General Galvão de Melo que foi perentório (Acordo Ortográfico) ao afirmar que "o 25 de Abril não foi feito para prostitutas e homossexuais". Na realidade, o então homossexualismo continuou a ser punido, juntamente com a prostituição, até à reforma penal de 1982 que os descriminalizou. No entanto, havia de ser considerado "doença" pela O.M.S até ao início da década de noventa do século passado!...
    Um longo caminho foi percorrido desde os primórdios do Estado Novo (1933) até aos nossos dias...
    Será, com certeza, um livro de uma leitura útil e elucidativa, de forma a mostrar uma realidade que muitos desconhecem...

    Abraço, my dear ^^

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  15. bem que me podia convidar para o seu aniversário; embora um pouco novo de mais para o meu gosto, até lhe dava um "presente"...
    Abraço amigo.

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  16. Mark
    até parece que leste o livro...
    É tudo verdade o que dizes e lá se fala no caso do Galvão de Melo (eu recordo-me disso).
    O PCP nunca foi de aceitar muito bem a homossexualidade e o caso do Júlio Fogaça tem algo a ver com isso.
    Curiosamente, há quem dissesse que nos comícios do PCP, se engatava muito facilmente, eheheh...
    Abraço amigo.

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  17. Deve ser um livro de facto interessante, é pena que ainda tanto caminho tem de ser palmilhado...

    Abraço

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  18. ainda não li mas adoro sugestões de livros :) ficarei a espera do momento para o ler!Beijinho pinguim **

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  19. Sérgio
    é um facto, e o mais difícil,pois é essencialmente a nível de mentalidades.
    Abraço amigo.

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  20. Maria
    acredita que vale a pena; geralmente as pessoas preferem ficção, mas por vezes é bom variar e um bom ensaio, como este é muito apelativo.
    Beijinho.

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  21. Lembras-te de um extra que saiu num jornal, julgo que á dois anos? Talvez no Público. O que li nesse extra é só o que sei sobre a Homossexualidade no estado Novo, gostava de ler este livro e saber mais. Tenho que procurar. ;) Obrigado pela sugestão.
    Abraço

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  22. Félix
    sim, recordo-me vagamente.
    Eu posso emprestar-te o livro: tens é que vir cá buscá-lo, eheheh...
    Depois ligo-te para falar nisso.
    Abraço amigo.

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  23. LOL

    Pelo que dizes ele é bem capaz de gostar do "presente" que tens para lhe oferecer...

    Abraço-te

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  24. isso depende...
    Depende do que é o meu "presente"(eheheh, pode ser uma de várias coisas), e depende dos seus "gostos"...
    Abração.

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  25. alguem recentemente disse q as associaçoes neo-nazis estão pejadas d homossexuais, o q é tremendamente ironico ms faz tdo o sentido aquando analizado num prisma psicologico de negação.
    nao, me esqueço qd o dirigente do PNR disse q tem amigos homossexuais. adoro este tipo de argumentos bacocos q tentam escamotear um odio proprio, alargado à raça humano q geralmente s reflete em minorias.

    e este livro parece d facto interessante.

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  26. R.I.P.per
    e as analogias não ficariam por aqui...
    Baste recordar filmes como "Os Malditos", de Visconti.
    Este livro, claro que não aborda essas questões, que seriam um bom tema para um ensaio, mas é muito interessante, realmente.

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  27. Hummm
    Parece ser interessante. Pelo menos tentar perceber como seria lidar com esta questão naquela altura particularmente especial de costumes sociais.
    Se um dia destes o vir na fnac, mas tenho as minhas leituras tão atrasadas :S bah
    abraço

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  28. caríssimo. li este livro o ano passado, e gostei bastante. além do valor da obra em si (que é muito), vale também pelo facto de ser a primeira tentativa (que eu conheça) de fazer a história, ou parte dela, do que tem sido a vivência dos homossexuais em Portugal. e ainda pelo facto de se tratar de um ensaio especifico sobre um tema LGBT e ter sido editado por uma editora comercial. ou seja, tudo bons sinais.

    agora o melhor é mesmo essa tua promessa de contares histórias que conheceste. espero com muita antecipação. aliás, lembro-me de que aqui há tempos já contaste uma história que, se não me engano, metia um tipo qualquer quer era o antónio das couves ou dos legumes, qualquer coisa assim, e que se não me engano também metia o Cesariny.

    um abraço cheio de curiosidade e interesse pelas histórias que tens para contar.

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  29. Ruy
    o livro é recente e com certeza que o encontrarás facilmente.
    E vale a pena, mesmo com leituras atrasadas.
    Abraço amigo.

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  30. um recado para o Meaningless:

    este livro é precisamente da autora desse artigo da Pública que referes, a São José Almeida, que é jornalista do Público. O livro surgiu a partir desse artigo e da investigação que a jornalista fez para aprofundar o tema depois da publicação do artigo.

    abraço

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  31. Miguel
    és tramado. Sabes, porque já leste o livro, que a autora elege, e com justiça, Cesariny, como a figura homossexual durante o Estado Novo.
    E foi realmente sobre Cesariny e o seu lugar lisboeta de eleição, o Reimar, que eu abordei há tempos e onde falava no tal Manuel das Couves...
    Lá irei em breve; a ele, à Bernarda, ao Monte Carlo, às saunas, aos primeiros bares, aos artistas, etc e tal.
    Abraço amigo.

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  32. Miguel
    eu quase arrisquei dizer isso no meu comentário,mas não estava absolutamente certo.
    Obrigado pelo esclarecimento.
    Abração.

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  33. Foi crime ser-se homossexual? Nunca imaginei. Patologia já tinha ouvido, inclusive vi uma reportagem que referia que o celebro do homossexual tem diferenças e comparavam-no ao cérebro de um doente paranóico mas, crime? Enfim...Estou ansiosa para ler essas histórias. Beijinhos

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  34. Mary
    sim, era um crime, mas só para alguns...
    Aos ricos e poderosos, ignorava-se!
    Beijinho.

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  35. Ainda hoje existem os intocáveis!
    E temos, o nosso país, em pleno sec. XXI ainda a começar a ver, a entender, a tolerar e a aceitar este facto.

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  36. Mz
    no aspecto de diferenciação de classes, penso que estamos hoje, bastante igualitários no que respeita à aceitação ou não da homossexualidade.
    A grande diferença assente nos grandes centros e nos pequenos, onde as pessoas têm um medo muito maior em se expor.
    Já no que respeita à não aceitação, concordo que os passos dados, sim, são importantes, mas há um imenso trabalho a desenvolver, principalmente no campo das mentalidades.
    Beijinho.

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  37. Mauricio
    e tens razões para isso.
    Abraço amigo.

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  38. Parece ser mesmo interessante, o livro.
    Beijos grandes e admiro-te mt.

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  39. Cláudia
    vou ver se consigo pôr as postagens que prometi, sobre a minha visão pessoal, desta época, em relação ao meu tempo apenas, é óbvio.
    Beijinho.

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  40. Se não tivesse as leituras tão atrasadas já tinha com que me entreter.
    Acho interessante a tua visão sobre o assunto e tenho muita curiosidade em relação aos posts que vais publicar sobre o assunto, porque tu viveste de facto uma parte desta época, e por isso tens um conhecimento de causa que a maioria de nós aqui não tem.
    Abraço

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  41. Um coelho
    tens razão no que dizes, e já devia ter posto cá fora, pelo menos uma postagem, das prometidas.
    Vamos ver se será esta semana...
    Abraço amigo.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!