Fui ver mais um espectáculo dos Artistas Unidos, no Teatro da Politécnica, de seu nome "Penélope", da autoria do irlandês Enda Walsh, numa encenação de Jorge Silva Melo.
São quatro homens apenas e falam entre si sobre tudo e nada, mas principalmente sobre salsichas, num cenário tremendamente kitsch, de uma sinceridade brega tão verdadeira que nos cega e nos comove.
«A mente é um balde de enguias» é uma das muitas tiradas humorísticas do texto, uma das marcas firmes de Enda Walsh, autor da peça, numa adaptação de Jorge Silva Melo. Estamos perante um espectáculo fascinante, de deixas acutilantes e ricas de uma comédia repleta de subterfúgios muito explícitos.
A conversa mantém-se animada, recordando o momento em que recebem a barbacoa — objecto central do palco — de remetente indefinido, e descobrindo mais tarde que partilharam do mesmo sonho na noite anterior: a tal barbacoa a arder, anunciando a morte. É com este pretexto que surge o nome de Penélope (Joana Barros) pela primeira vez. Em momentos repetidos, os quatro (João Vaz, José Neves, Pedro Carraca e Pedro Luzindro) apresentam estratégias distintas para conquistar Penélope, «um amor inconquistável» e que não se deixa levar pelas fracasdeclarações de quatro fracos humanos. Em vão.
À medida que a trama se desenvolve, é visível a mutação das personalidades distorcidas de cada um deles, e a morte vem ao de cima através de uma epifania.
Estes são os quatro sobreviventes entre quase cem, vivendo no fundo de uma piscina à espera de conquistar Penélope.
As interpretações são seguras e saliento dentro todas a de Pedro Carraca.
A sessão a que fui era a uma hora pouco habitual - 19 horas - mas muito convidativa; no entanto, comigo éramos 7 os espectadores...
Pois, a Cultura de que falo no início, perante a crise, "apaga-se", e esse apagão não é só da parte do público, que terá mais onde gastar o pouco que tem, (embora o preço do bilhete fosse apenas de 5 euros), mas principalmente de quem deve zelar por ela, a nível nacional.
A Cultura, de há muito a esta parte, tem sido sempre o "patinho feio" dos governos sucessivos, a ponto de um deles ter tido como respectivo secretário de estado, um inenarrável Pedro Santana Lopes que até conseguiu pôr Chopin a tocar violino...
Mas, no actual Governo e com a austeridade que o comanda está a atingir-se a estaca zero para a Cultura, sem apoio no cinema, sem comparticipação para as companhias de teatro, no desleixo nos museus, eu sei lá...
Esta continuada política de falta de apoio à cultura já levou para fora do país nomes como Helena Vieira da Silva, Paula Rego e Maria João Pires, entre outros.
Somos assim tão ricos que culturalmente nos possamos permitir esta situação?
Para cúmulo, perdemos no espaço de uma semana dois vultos importantes da nossa Cultura: o cineasta Fernando Lopes e o músico Bernardo Sasseti.
Não menosprezemos a Cultura, pois a Cultura não é elitista, há cultura num Grupo Folclórico, como numa companhia de teatro amador. Direi mais e numa perspectiva subjectiva a cultura (não a Cultura), é tão importante que ela é responsável pela falência de tantas relações afectivas, como os factores sexuais, por exemplo. Quantas relações não terminam porque as duas pessoas não se entendem culturalmente?
E deixo-vos com dois vídeos exemplificativos do que é a Cultura; dois exemplos muito diferentes, mas ambos magníficos, um na música, outro na sétima arte.
«A mente é um balde de enguias» é uma das muitas tiradas humorísticas do texto, uma das marcas firmes de Enda Walsh, autor da peça, numa adaptação de Jorge Silva Melo. Estamos perante um espectáculo fascinante, de deixas acutilantes e ricas de uma comédia repleta de subterfúgios muito explícitos.
A conversa mantém-se animada, recordando o momento em que recebem a barbacoa — objecto central do palco — de remetente indefinido, e descobrindo mais tarde que partilharam do mesmo sonho na noite anterior: a tal barbacoa a arder, anunciando a morte. É com este pretexto que surge o nome de Penélope (Joana Barros) pela primeira vez. Em momentos repetidos, os quatro (João Vaz, José Neves, Pedro Carraca e Pedro Luzindro) apresentam estratégias distintas para conquistar Penélope, «um amor inconquistável» e que não se deixa levar pelas fracasdeclarações de quatro fracos humanos. Em vão.
À medida que a trama se desenvolve, é visível a mutação das personalidades distorcidas de cada um deles, e a morte vem ao de cima através de uma epifania.
Estes são os quatro sobreviventes entre quase cem, vivendo no fundo de uma piscina à espera de conquistar Penélope.
As interpretações são seguras e saliento dentro todas a de Pedro Carraca.
A sessão a que fui era a uma hora pouco habitual - 19 horas - mas muito convidativa; no entanto, comigo éramos 7 os espectadores...
Pois, a Cultura de que falo no início, perante a crise, "apaga-se", e esse apagão não é só da parte do público, que terá mais onde gastar o pouco que tem, (embora o preço do bilhete fosse apenas de 5 euros), mas principalmente de quem deve zelar por ela, a nível nacional.
A Cultura, de há muito a esta parte, tem sido sempre o "patinho feio" dos governos sucessivos, a ponto de um deles ter tido como respectivo secretário de estado, um inenarrável Pedro Santana Lopes que até conseguiu pôr Chopin a tocar violino...
Mas, no actual Governo e com a austeridade que o comanda está a atingir-se a estaca zero para a Cultura, sem apoio no cinema, sem comparticipação para as companhias de teatro, no desleixo nos museus, eu sei lá...
Esta continuada política de falta de apoio à cultura já levou para fora do país nomes como Helena Vieira da Silva, Paula Rego e Maria João Pires, entre outros.
Somos assim tão ricos que culturalmente nos possamos permitir esta situação?
Para cúmulo, perdemos no espaço de uma semana dois vultos importantes da nossa Cultura: o cineasta Fernando Lopes e o músico Bernardo Sasseti.
Não menosprezemos a Cultura, pois a Cultura não é elitista, há cultura num Grupo Folclórico, como numa companhia de teatro amador. Direi mais e numa perspectiva subjectiva a cultura (não a Cultura), é tão importante que ela é responsável pela falência de tantas relações afectivas, como os factores sexuais, por exemplo. Quantas relações não terminam porque as duas pessoas não se entendem culturalmente?
E deixo-vos com dois vídeos exemplificativos do que é a Cultura; dois exemplos muito diferentes, mas ambos magníficos, um na música, outro na sétima arte.
Bem Pinguim, o segundo exemplo de cultura que colocas aqui é genial. Para mim "O Grande Ditador" ("The Great Dictator" de 1940) de Charles Chaplin é, quanto a mim, um dos melhores filme que alguma vez foram feitos. E o monólogo deste vídeo está ainda tão actual (e tão em voga) que até arrepia (e assusta)... Obrigado João.
ResponderEliminarCaro João! que bela surpresa esta, logo pela manhã de um dia feriado! Os teus comentários a propósito da vivência cultural são muito pertinentes. Penso que para além de todos os instrumentos informáticos (internet) que nos disponibilazam informação em catadupas sobre o que for, o contacto "em carne e osso" com actividades culturais distintas (desde a leitura em papel até ao teatro passando por milhentas outras), é uma experiêcia enriquecedora que nos toca directamente e que nos mantem em sintonia com a vida e com os sentimentos reais de quem nos rodeia, através dos olhos e dos sentimentos de seus criadores. Os exemplos que nos dás isso sublinham.O discurso do "Ditador" é uma pedrada no charco da vida real, completamente ajustado a todos os tempos e mais ainda ao presente. A Bartolli só pode fazer exultar a sensibilidade de quem a escuta, transportando-nos a outros níveis de entendimento e êxtase. Inexcedíveis!! Abraço por partilhares!
ResponderEliminarLuís
ResponderEliminaré precisamente pela sua incrível "actualidade" que eu o escolhi.
Chaplin foi sem qualquer sombra de dúvida um génio.
Abraço amigo.
Olá Carlos
ResponderEliminarnão sei porquê, mas talvez por ver a alegria com que aqueles cinco intérpretes agradeciam os merecidos aplausos após a sua representação, de...sete espectadores, eu de imediato comecei a fazer a ligação daquela visão da peça, ontem, com a situação da Cultura no nosso país e em geral.
Como sou Carneiro, teve mesmo que sair uma postagem nesse sentido.
E apeteceu-me mostrar dois momentos de "alta Cultura", com a Bartoli e o Chaplin.
Abraço amigo.
Já fiquei um pouco mais culto, já sei onde vou gastar 5 euros :)
ResponderEliminarObrigado e bom Feriado
Abraço amigo
Francisco
ResponderEliminarnão tenho a certeza, mas penso que terá sido a última representação da "Penélope" e o preço de ontem era por ser uma sessão àquela hora; mas também não será mais que 10...
Bom feriado para ti também.
Abraço amigo.
E eu gosto muito da música sacra de Mozart, Exsultate, Missas, Requiem, Laudate Dominum, Ave Verum... embora me pareça que a Bartoli esteja cada vez mais a exagerar nos arrebiques barrocos.
ResponderEliminarJoão, como sabes, tb a fui ver, mas não tenho esse jeito especial de colocar em palavras o que senti na altura. a tua descrição está muito boa.
ResponderEliminarreparo bem nos dias das estreias, a politécnica, nos dias grátis, está cheia, nos outros dias, assistimos à peça na pequena sala nas traseiras... fui ver uma, e não me importei de pagar, pq queria mesmo ver, 10 € (e éramos uns 8, incluindo um actor que deve ter pago o preço especial para artistas).
o grande ditador é um filme marco, a Cecília fez anos na semana passada (ouvi na antena 2).
bjs.
Adoro o Grande Ditador, filme excepcional!!
ResponderEliminarJoão
ResponderEliminarmas foram esses arrebiques barrocos que lhe deram nome, hehehe...
Seja como for, a Bartoli tem uma voz poderosíssima.
Abraço amigo.
Margarida
ResponderEliminarquanto aos actores, o "discurso" quase no fim, do Pedro Carraca, é um grande momento e gostei de ver o João Vaz, aquele do anúncio do "Estou xim!", transformado num bom actor.
Quanto ao público, o meu record foi há muitos anos, no Teatro Estúdio da Luzia Maria Martins, Na Feira Popular, onde éramos apenas dois espectadores..
Sobre os dois vídeos, penso serem consensualmente bem aceites.
Beijinho.
Frederico
ResponderEliminarum dos melhores filmes jamais realizado.
Abraço amigo.
o João Vaz é um excelente actor, pena estar mal aproveitado. julgo que pertence ao TNDMII.
ResponderEliminaro discurso do P Carraca foi a cereja em cima do bolo, adorei!
Margarida
ResponderEliminarquem pertence ao TNDMII é o José Neves, o que está nesta foto que aui deixei...
Beijinho.
true, true, enganei-me no nome :D, a cara é essa mesma... bjs.
ResponderEliminarMargarida
ResponderEliminarassunto esclarecido.
Beijinho.
7 espectadores num espectáculo dos Artistas Unidos! que tristeza.
ResponderEliminargostei muito do texto, levanta questões interessantes. Quanto ao preço que iremos pagar pelo actual desinvestimento na cultura, não tenho dúvidas de que será elevado e que não vai demorar muitos anos.
estamos mesmo na miséria.
Miguel
ResponderEliminaré verdade; e eu que cheguei sobre a hora e sem bilhete, como não vi por ali quase ninguém, fui perguntar à menina que vendia os bilhetes, se ainda lugares...ela bem sorriu...
Abraço amigo.
A cultura tende a apagar-se com a crise ou somos, na generalidade, um povo com preguiça em pensar, preferindo os enlatados do cinema americano?
ResponderEliminarDurante os meus anos de licenciatura frequentava um cinema em Viseu cuja plateia era, normalmente de 5 a 7 pessoas, contando cgo. Por lá passava apenas cinema de autor.
Abraço,
pv
Paulo
ResponderEliminaristo é o reflexo da falta de investimento na Cultura que sempre foi crónica no nosso país.
Nem todos são auto-didactas...
Abraço amigo.
Se fosse só a cultura... Perante a parangona da crise e da austeridade, há tanta coisa que está a ficar em causa. A cultura é apenas uma dessas faces. Infelizmente.
ResponderEliminarAdoro Cecilia Bartoli. Na semana passada, fizeram um especial na Antena 2.
Um abraço!
Blog Liker
ResponderEliminartens razão, são demasiadas coisas, mas esta da Cultura dói-me mais, pois um país não pode viver dissociado dela.
Mas para os burocratas servos que nos (des)governam, nada interessa senão prosseguir cegamente num caminho que destrói, por razões económicas, sociais e humanas, uma enorme percentagem do povo português.
Abraço amigo.
bom dia!
ResponderEliminarconfirmei na brochura dos AU: a peça está em cena até 30 de junho.
4.ª feira é dia do espectador, a 5 €.
bjs.
Acrescentaria às perdas recentes na área da cultura o italiano Antonio Tabucci, mais português que muitos que aí andam.
ResponderEliminarCoelho
ResponderEliminarmuito bem apontada, essa falha minha.
Abraço amigo.
Margarida
ResponderEliminarobrigado; informação que pode interessar ao Francisco...
Beijinho.
Concordo com o Luís Verissimo.
ResponderEliminarUm abraço
Sérgio
ResponderEliminarentão e não é verdade?
Abraço amigo.
Adorei e ao mesmo tempo fiquei surpreso. Sete expectadores? O que está acontecendo com nosso mundo, querido amigo???? Assustante!
ResponderEliminarRicardo
ResponderEliminarmais do que resultado da enorme crise económica que nos afecta a todos nós (quase todos...), portugueses, é uma consequência da ausência de políticas culturais bem estruturadas no nosso país de há muitos anos a esta parte.
E agora pior, pois este governo pura e simplesmente ignora a Cultura.
Beijo.
A cultura em Portugal tem sido relegada para quinto plano, sexto plano... bom, às tantas nem sei se continua a ter alguma importância! Este Governo, então, reduziu a cultura a algo totalmente supérfluo, impensável se pensarmos que é em países como este (onde o apego à cultura é tão escasso) que os incentivos são mais do que necessários.
ResponderEliminarabraço :3
P.S.: João, deixei de te ver pelo meu blogue. Estranhei a tua ausência. :(
Mark
ResponderEliminarquanto à cultura, estamos totalmente de acordo.
Não estou esquecido do teu blog, mas atrasei-me dois dias sem ir aos blogs e fiquei logo com mais de 1000 postagens para ver no Google Reader e comecei de cima para baixo , na lista e fiquei ontem à noite a dois blogs do teu, pelo que lá irei hoje, ok?
Abraço amigo.
Um povo não cresce sem cultura, claro que não mas, também, não vive sem euros. Vegetar é o que parece que está a ser incutido na mentalidade europeia. Se assim não fosse não havia estes planos de austeridade que enforcam os europeus e em não permite que eles desenvolvam e se desenvolvam. Beijinhos
ResponderEliminarMary
ResponderEliminarclaro que o dinheiro não abunda e há prioridades.
Se me falares que a nível familiar é mais importante comprar bens de alimentação do que um livro, não posso deixar de conversar.
Mas a nível de Estado, continuam a gastar-se milhões com coisa pouco importantes e outras vergonhosas (salários e regalias sumptuosas para os altos quadros políticos económicos) e não se subsidiam formas de cultura essenciais.
Beijinho.