Uma introdução que não faz parte do “quase conto” mas que o justifica parcialmente.
Eu não sei ficcionar histórias, ou talvez seja um certo comodismo de pensamento, que não de escrita; sei sim, relatar factos que comigo se passaram e por vezes consigo transmitir por palavras esses factos de uma maneira que quem as lê consiga “ver o filme”.
Dito isto…
Esta é a minha (fraca) contribuição para a louvável iniciativa do Sad Eyes (mais uma) “Pixel Happy Xmas”. Não sei se poderá ser aceite como participação, mas pelo menos sei que contribuí como pude, numa altura em que as coisas não correm como eu contava em relação à minha projectada viagem a Belgrado no final deste mês e que naturalmente me afectam.
“Recordo um Natal, já algo distante em que os meus Pais foram passar a quadra com uma irmã minha e respectiva família, ao Brasil.
Fiquei só, os meus irmãos distribuídos por outras famílias e eu aqui por Lisboa…
Sim, o Natal é a festa da Família, quando ela existe ou quando ela está presente; e quando tal não acontece?
Nesse Natal estive tentado a ir passar a noite da Consoada com um grupo de pessoas, algumas delas, meus amigos e outros conhecidos, que, por falta da família e por falta dos seus companheiros que tinham ido passar o Natal às suas terras, ficavam sós e assim, todos os anos se reuniam numa Consoada para eles, ali na zona da Charneca da Caparica. Entre eles um bem conhecido transformista, talvez o melhor de todos que já houve em Portugal e que já não está entre nós.
Não fui, não porque fosse mal recebido, antes pelo contrário, mas porque sabia que embora passasse aquela noite acompanhado, em família também, embora de outro género, estaria triste por vários motivos e poderia estragar o convívio.
Mas imaginei como seriam essas Consoadas das pessoas que não sendo jovens, apenas tinham os seus afectos com as pessoas que amavam, mas que não estavam presentes, e tinham os afectos deles com eles próprios, decerto trocariam presentes, teriam uma ceia com bacalhau e iguarias próprias da época e passariam umas horas acompanhados. E depois, regressariam a suas casas com a sua solidão.
Esta é uma realidade que atinge hoje muitas pessoas, e não quero misturar o Natal dos sem abrigo, que é outra realidade bem triste, mas diferente.
Refiro-me àqueles homossexuais que passam o Natal sós e talvez sintam nessa noite, mais do que em qualquer outra ocasião, a falta de uma Família.”
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
"Quase um conto de Natal"
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Nem precisas ficcionar porque tens muitos e interessantes histórias para nos contar.
ResponderEliminarAdorei esta e não acho nada que seja um fraco contributo, muito pelo contrário.
Agradeço a divulgação.
Abraço.
olha a canção do sad! :)
ResponderEliminargostei da tua história, quase um conto. não é nada fraca, é um pedaço da tua vida, como podes chamar a isso fraco?! tens recordações, sejam tristes ou felizes.
bjs.
Também gostei. As histórias verdadeiras às vezes têm mais para contar que as de ficção.
ResponderEliminarAbraço.
Apesar de não conseguir "fazer" bem os meus (bem, se calhar também é desses filmes "desfeitos" que mais gosto...), tu sabes como mostrar e por-nos a sentir as vidas d@s outr@s como ninguém! E como já viveste muitas...
ResponderEliminarAqui é lugar para aprender, sempre!
Obrigado João! (e pena pelos planos trocados:( )
Sad
ResponderEliminarsempre gentil e amigo.
Mas não podia deixar de participar,pois sempre participei em todas as tuas iniciativas.
Abraço amigo.
Margarida
ResponderEliminare quem não tem recordações?
É relativamente fácil dar-lhes vida no papel; já é mais difícil imaginar histórias que tenham como figura central pessoas que tu malconheces e tu fazes isso na perfeição.
Estou ansioso por conhecer a tua história sobre o café da tua aldeia...
Beijinho.
Arrakis
ResponderEliminarna ficção podemos desdobrar as histórias; nas recordações temos que nos cingir aos factos. O que podemos é acentuar certos pormenores.
Abraço amigo.
João
ResponderEliminardesculpa, mas na arte de traduzir em palavras as vivências tu és mestre!
E consegues fazê-lo num articulado tão pessoal e original, que por vezes mato a cabeça para me situar na acção; mas isso é fascinante.
Eu, ao contrário sou bastante linear nas exposições.
Abraço amigo.
Gostei e muito, João!
ResponderEliminarPode não ser propriamente uma história de Natal o que nos contas, mas é, sem sombra de dúvida, um desabafo e o relato verídico de um Natal da tua vida e de outras vidas semelhantes.
Aqui não vejo a diferença entre os solitários, quer sejam homo ou heterossexuais.
Beijinhos.
Janita
ResponderEliminarclaro que no Natal há sempre gente só, independentemente da orientação sexual; mas em homossexuais que já ultrapassaram a juventude e sem família directa onde se acolham nesse dia, talvez haja ainda mais solidão.
Beijinho.
Depois da morte da minha mãe, pouco ou nada ligo ao Natal. O que ainda vai salvando esta quadra, são a catrafada de sobrinhos e sobrinhas
ResponderEliminarAdorei esta tua história :)4
Abraço amigo João
Francisco
ResponderEliminarpara mim também já foi uma data bonita. Agora é passado com a minha Mãe e uma irmã, e nada mais...
Que passe depressa.
Abraço amigo.
mas é neste registo que tu és inultrapassável, João, quando contas as tuas histórias, falas da tua vida, das tuas vivências, da tua maneira de estar na vida e no mundo, e com os outros.
ResponderEliminare tens o talento de transformar aquilo que é teu em relatos que interessam e (co)movem os outros, porque se revêm nesse relatos ou porque os ajudam a pensar melhor sobre si próprios.
e não é só a ficção pura e dura que constitui a literatura. é muito mais a capacidade de transformar as experiências em arte, em objectos artisticos, culturais ou literários, que ajudam a iluminar a vida e as vidas.
Miguel
ResponderEliminartalvez seja como dizes, maseu sinto uma certa frustração em não conseguir transpôr para texto (como faço nas recordações), as ideias que variadas vezes me assaltam.
Abraço amigo.
essa é uma data que ficar longe da familia deve ser triste mesmo.
ResponderEliminarFrederico
ResponderEliminarmuito triste, mesmo. A solidão é ainda maior.
Abraço amigo.
João deste um excelente contributo e transmitiste o que sentiste claramente. É no Natal que as pessoas sentem falta das famílias porque sabem que todos estão reunidos com elas, menos eles. Nesta quadra os sem abrigo, os velhinhos, as pessoas que vivem e estão sós, não me saem do pensamento. Também já passei alguns Natais só, por opção e jurei nunca mais porque dei comigo com uma enorme melancolia e com as lágrimas a correr. Por tudo isto espero que consigas realizar a viagem planeada. Beijinhos
ResponderEliminarMary
ResponderEliminara viagem planeada era só para depois do Natal, pois apesar de tudo vou passá-lo em família, com minha Mãe e uma irmã; não é nada como dantes, mas é a Família.
A viagem terá que ficar adiada, talvez para a Primavera...
Beijinho.
reflexao perfeitamente válida. E outros que não passam com o parceiro, porque a família não aceita.
ResponderEliminarSpeedy
ResponderEliminarclaro, esses estão incluídos no grupo e não serão assim tão poucos...infelizmente.
Abraço amigo.
Querido João, os melhores contos e as melhores histórias têm sempre um pouco de verdade. A tua contribuição foi muito válida, aliás, como o próprio sad já disse.
ResponderEliminarResolvi participar com o meu conto e tive um feedback positivo. Dizem que tenho uma escrita doce. Fico muito lisonjeado. :)
abraço :3
Mark
ResponderEliminarfiquei muito satisfeito por teres concorrido. Pela forma como escreves, sabia "a priori" que uma tua participação era de certeza absoluta, muito boa.
Ganhou o concurso e ganhaste tu pois continuas num processo muito bom de te descobrires e ao mesmo tempo de te expores.
Não és mais aquele rapazinho, inteligente e culto que sempre foste, mas habituado a que tudo o que é necessário te viesse a ter à mão; agora és um homem que conheces muito melhor a vida e que opina sobre ela. Cresceste muito e positivamente.
Abraço amigo.
Lembro-me sim!...
ResponderEliminarDesse tal Natal, porque tu me o contaste; assim como um desabafo melancólico.
Era no tempo em que tinham-mos cumplicidades, e segredos guardados só para nós dois.
Agora!... Já muitos Natais passaram, ficando tu sempre guardado dentro da minha caixa de segredos.
Para ti, dedico-te como prenda de Natal «o meu conto de Natal», que está no triângulo.
FELIZ NATAL
Olá Miguel
ResponderEliminartu também estás sempre guardado dentro de mim, pois foram muitas e boas as "cumplicidades".
Agradeço a dedicatória, a qual já comentei e que muito aprecio.
Como sempre os votos natalícios serão no próprio dia, por viva voz (telefónica).
Abraço amigo.
É o teu contributo e muito bem!
ResponderEliminarSão as realidades da vida que fazem a história de toda uma sociedade. Este teu "quase conto" repete-se todos os anos nesta quadra, não é exclusivo dos homossexuais, mas reflete, toda uma sociedade mal amada ou mal relacionada com os seus.
Mz
ResponderEliminarmuito bem definida essa faixa de população a que tu chamas, com toda a propriedase de "mal amada".
Beijinho.