terça-feira, 9 de setembro de 2014

"Con qué la lavaré"


Vi esta curta de animação, um género do qual até nem sou um particular adepto, no saudoso cinema Quarteto, já há uns anos, no âmbito do então Festival de Cinema  Gay e Lésbico de Lisboa, hoje denominado Queer Lisboa sendo que a edição deste ano se inicia já no final da próxima semana.
Na altura gostei imenso desta curta metragem, premiada em variadíssimos festivais, incluido o Indie Lisboa.
É um filme quase surrealista, de uma beleza assombrosa, com cores ao mesmo tempo garridas e muito carregadas, cheio de pequenos pormenores deliciosos e com homenagens bastante assumidas a diversos artistas como Pierre et Gilles, Cocteau, Fassbinder, Mapplethorp, Tom Of Finland, David Hockney, Genet e outros.

14 comentários:

  1. gostei. e, como dizes, com referências muito interessantes.

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    1. Miguel
      a referência mais explicita é ao duo Pierre & Gilles.
      Abraço amigo.

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  2. A ação acontece em Valência, na Espanha. O cenário, por esta ordem: Torres de Quart (pode-se ver o resultado das bombas de aquando as guerras com Napoleão); el Torito (já não existe, mas existiu); o "Mercado Central", estilo art Noveau (recomendo-vos a visita se vierem por cá); a águia que aparece no carro, no tablier enquadra a ação no tempo: a ditadura franquista, provavelmente já no final, na década de 70; a nota de 100 pesetas é verdadeira (bom, era antes do euro), e correspondia a 100 escudos aproximadamente; o Victor's já não existe. Há uma referência ao passado imperial de Espanha no soldado e no mouro, como ligando a homossexualidade de hoje a tempos pretéritos; ao presente da história da curta-metragem no soldado fardado de militar comunista, a outra forma de oposição ao regime franquista, junto da homossexualidade (punidas ambas por lei); as árvores que aparecem, bom, já vos podéis imaginar, dizem respeito de um jardim valenciamo no antigo rio Turia muito frequentado e que, na altura da ação da curta ainda não existía, pois foi um projeto da década de 80; a Virgem diz respeito, com certeza, à padroeira da cidade de Valência, a "Mare de Déu dels Desamparats" (em catalão: dos desamparados: os homossexuais, etc.), muito querida pelos valencianos, até pelos que não são muitos cristãos; as referências de que vocês falam são citadas ao final da curta. Embora sejam evidentes, tenho de vos dizer que por tema, alusões mais ou menos diretas ou vagas, etc, fala-se de uma Valência já perdida sendo um dos temas principais e recorrente nos dez minutos que dura. Até o pavimento em forma de losangos e coloridos da casa do protagonista era muito típico nas casas de meados do século XX. Em minha casa de quando era criança tínhamo-lo assim.

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    1. Leonardo
      eu conheço Valência, e precisamente já há uns anos, mas não tão distantes, como afirmas ser a actualidade da acção deste vídeo.
      E claro, que não sendo valenciano, nem tão pouco castelhano, me seria extremamente difícil localizar a acção, pelo que te estou extremamente grato pelos esclarecimentos que aqui nos deixaste.
      Mais uma razão, e de peso, para esta curta ser considerada uma quase obra prima.
      Muito obrigado.
      Abraço amigo.

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  3. Obrigado pela partilha ;;)

    Gostei muito

    Abraço amigo

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    1. Obrigado sou eu, Francisco, por teres gostado.
      Abraço amigo.

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  4. Depois de ver o vídeo, e as explicações do Leonardo, só posso chegar à conclusão que o filme foi realizado por um mestre.

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  5. João
    o comentário do Leonardo é uma grande mais-valia nesta postagem, sem qualquer dúvida.
    Abraço amigo.

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  6. Interessantíssimo!! Continuas a oferecer-me coisas novas e muito boas, obrigada.
    (e a nota de Leonardo é valiosa, para nos localizarmos...)
    Abraço

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  7. Justine
    dentro do que há muito tempo venho a defender, o comentário do Leonardo é um complemento fundamental e claro que me fez rever o filme, e com outros olhos.
    Já havia reparado sem necessitar de ver no fim as referências a várias personalidades e isso demonstra já uma muito original forma de homenagem, e uma imensidade de riqueza de pormenores. Parece que nada está ali por acaso...
    Beijinho.

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  8. Muito obrigado a tod@s pelas vossas palavras. Qualquer obra artística tem sempre várias leituras e planos de análise e interpretação, o que a faz sempre mais interessante pelas posibilidades que oferece aos espetadores da mesma. Isso faz com que uma simples curta como "Con que la lavaré" vá mais além da animação para, como diz o nosso João Roque, ser "uma muito original forma de homenagem e uma imensidade de riqueza de pormenores". Por exemplo, a ação transcorre - se deixarmos de lado o jardín do rio, que seria o limite pelo norte - no centro histórico ou a Valëncia histórica. As torres de Quart do início são uma das duas portas de entrada à cidade antiga que se conserva após a demolição das muralhas medievais no século XIX. Dentro dessas muralhas havia bairros, como o Carmen ou Velluters, etc. Nestes bairros concentrava-se a prostituição de todo o tipo. Como tal, até bem entrada a democracia na Espanha, ditos bairros estavam muito degradados e daí a imagen um tanto triste e desvalorizada do espaço físico (as ruas e becos onde ficavam locais como o Victor's) paralela à imagem também muito triste do/da personagem principal.

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    1. Leonardo
      como eu gostava que os blogs funcionassem assim...
      Aliás sempre defendi e era normal há uns anos, quando a blogo estava no auge, a troca de comentários que complementavam e enriqueciamas postagens.
      Hoje apenas restam meia dúzia de "gatos pingados", nos quis me incluo, que ainda vão postando qualquer coisa e alguns fiéis seguidores. Onde estão as postagens com 70/80 comentários bem inseridos e que animavam o blog?
      Daí, este post, e devido a estes teus comentários, me deu uma imensa satisfação.
      Gostava de falar mais de Valência, cidade que visitei a pretexto de lá viver um tipo com quem tive uma aventura e que era empregado num bar gay da idade. Passei aí a noite do ano novo e pela primeira vez e única, fumei "umas coisas" e passei-me... Só sei que acabámos a "aventura" no dia seguinte, dia 1 de Janeiro, pois me perdi e só dei com a casa dele às 6 da matina. Mas diverti.me bem, hehehe.
      Recordo-me perfeitamente das torres de Quart, que aliás penso serem uma espécie de ex-libris da cidade.
      Ainda um dia gostaria de aí voltar...
      Abraço amigo.

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  9. Belíssimo. Já conhecia mas gostei muito de rever. E a voz extraordinária de Montserrat Figueras...

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    1. Obrigado, Paulo, por essa referência fundamental.
      Abraço amigo.

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