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sábado, 26 de outubro de 2013

Até já, até logo, até depois...

O prometido é devido.
Comecei por folgar nos comentários, não deixando no entanto de lado algumas excepções, aqui e ali.
E agora a folga alarga-se às postagens.
Vou parar. Até quando? A resposta está no título...
Mas vou continuar por aí, lendo-vos, seguindo-vos, sabendo dos vossos anseios, das vossas curiosidades, dos vossos amores, das vossas vidas e dos vossos gostos.
E vou continuar, sem aquela obrigação de o fazer, a "cometer" excepções e deixando um comentário que a sensibilidade não me deixe calar.
A blogosfera é algo que é impossível eu largar definitivamente; ao longo destes anos, "apadrinhei" vários blogs e empurrei várias pessoas para entrarem neste mundo.
Aqui fiz muitos e alguns grandes amigos.
Para esses, não há folgas...
Deixo-vos com um vídeo muito belo, deixo-vos com a Bethânia, com o Pessoa e com o Menino, em quem continuo a acreditar, apesar de ter deixado de acreditar naqueles que se servem d'Ele e não o servem.
Fiquem bem...

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Alone again...


Did I disappoint you or let you down?
Should I be feeling guilty or let the judges frown?
‘Cause I saw the end before we’d begun,
Yes I saw you were blinded and I knew I had won.
So I took what’s mine by eternal right.
Took your soul out into the night.
and may be over but it won’t stop there,
I am here for you if you’d only care.
touched my heart you touched my soul.
you changed my life and all my goals.
And love is blind and that I knew when,
My heart was blinded by you.
I’ve kissed your lips and held your head.
Shared your dreams and shared your bed.
I know you well, I know your smell.
I’ve been addicted to you.

Goodbye my lover.
Goodbye my friend.
You have been the one.
You have been the one for me. (bis)

I am a dreamer but when I wake,
You can’t break my spirit – it’s my dreams you take.
And as you move on, remember me,
Remember us and all we used to be
I’ve seen you cry, I’ve seen you smile.
I’ve watched you sleeping for a while.
I’d be the father of your child.
I’d spend a lifetime with you.
I know your fears and you know mine.
We’ve had our doubts but now we’re fine,
And I love you, I swear that’s true.
I cannot live without you.

Goodbye my lover.
Goodbye my friend.
You have been the one.
You have been the one for me.



VOLIMTE Déjan!
See you soon, my love
See you always, in my mind!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

"Nothing compares 2U"


It's been seven hours and fifteen days
Since you took your love away
I go out every night and sleep all day
Since you took your love away
Since you've been gone I can do whatever I want
I can see whomever I choose
I can eat my dinner in a fancy restaurant
But nothing I said nothing can take away these blues,
Because nothing compares
Nothing compares to you

It's been so lonely without you here
Like a bird without a song
Nothing can stop these lonely tears from falling
Tell me baby where did I go wrong
I could put my arms around every boy I see
But they'd only remind me of you
I went to the doctor guess what he told me
Guess what he told me
He said girl you better try to have fun
No matter what you do
But he's a fool '
cause nothing compares
Nothing compares to you

 All the flowers that you planted mama
In the backyard
All died when you went away
I know that living with you baby was sometimes hard
But I'm willing to give it another try
Nothing compares
Nothing compares to you

Sim, o Déjan está aqui comigo e vão ser duas semanas de cumplicidades e de ternuras; mas também há coisas a conversar principalmente sobre o seu futuro pois ele está numa fase muito importante da sua vida.
Iremos rever Lisboa, iremos rever e conhecer amigos e iremos dar um salto a Aveiro e a Gaia, voltar a jantar olhando o casario da Ribeira...
Sim, o Amor vale a pena, mesmo quando sofrido, porque..."Nothing compares 2U".

sábado, 5 de outubro de 2013

Jordan & Devon

Eu nem sou um grande apologista do acto a que chamamamos casamento, seja ele entre heterossexuais ou homossexuais, a não ser por facilidades legais; prefiro o "casamento" de sentimentos e de vivências, sem a necessidade de um "papel".
Apoiei sem reservas a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo, pois qualquer pessoa deve ter as mesmas oportunidades e regalias, independentemente das suas afirmações sexuais.
Tenho várias pessoas que conheço que já deram esse passo, embora ainda não tivesse ido a nenhuma cerimónia, e não o lamento, pois essas cerimónias, quando acontecem devem ser intimas.
Mas, acima de tudo, conheço e tenho uma imensa felicidade nisso, muitas pessoas de ambos os sexos que estão "casad@s" há muito tempo, numa comunhão de amor.
Mas, porque esta cerimónia que aqui mostro no vídeo é toda ela muito bonita, sendo um hino ao amor, mas também à amizade de quem a partilhou com os noivos (familiares e amigos), aqui a partilho e não posso deixar de mencionar que também eu pertenço aos felizardos que amam e são amados.
Volim te, Déjan!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

17º. Queer Lisboa Festival - Balanço final

E pronto, terminou mais um Queer Lisboa, o 17º, e que se tem vindo a afirmar de ano para ano, como um dos melhores festivais de cinema em Portugal e também um importante festival no panorama internacional dos festivais de temática LGBT.
Sou um assíduo frequentador deste festival e só falhei um, num ano em que estava na altura em Belgrado. Por isso, quando sai a programação é com alvoroço que durante umas horas consulto todos os filmes, tentando ver o maior número de filmes que me interessam.
 Este ano, assim foi e como é impossível ver tudo, por uma questão de critério, deixei de fora os filmes de temática lésbica, muitas das curtas que tinham um carácter demasiado experimentalista, e por opção deixei de fora as sessões tardias de forte componente pornográfico, pois cada vez me interessam menos.(e cada vez há mais sexo explícito em filmes não pornográficos).
 Já fiz três postagens sobre filmes exibidos neste festival, uma sobre o curioso filme de abertura “Continental”, outra sobre o melhor filme que vi em todo o Queer, “E agora, lembra-me” e finalmente sobre a sessão dupla de filmes do Travis Mathews, e que estranhamente não mereceu quase nenhum reparo de quem me segue…
 De uma forma global, e referindo-me apenas aos filmes que vi, foi um festival muito positivo, com alguns picos de alto nível e uma que outra decepção, que não ofusca em nada o brilho do mesmo.
 Na principal competição, das longas metragens, vi quase tudo, tendo pena de não ter visto um dos filmes que mais interesse teve, pelo que ouvi dizer e que até ganhou o prémio do público, “Facing Mirrors”, um filme iraniano de Negar Azarbayjani.

Houve para mim dois filmes muito bons: “Free Fall”, filme alemão de Stephen Lecant, vencedor do Teddy Bear, em Berlim, este ano e que pode ser uma espécie de “Brokeback Mountain”, mas passado numa instituição especial, a polícia e que nos mostra que a homofobia também existe em alto grau em países mais evoluídos, como é o caso da Alemanha.


O outro filme foi o polaco “ In the name of…”, com um conteúdo sempre muito polémico do confronto entre as regras religiosas e o intimo de um homem que é padre. É um filme realizado por uma mulher, Malgoska Szumowska (curiosamente já outra realizadora tinha mostrado um filme sobre o mesma tema – Antónia Bird, com “The Priest”), muito forte, muito belo e que faz pensar muito.

Os restantes filmes que vi nesta secção foram “Silent Youth”, de Malcolm Ingram, com demasiados “silêncios”; “Floating Skyscrapers”, interessante filme polaco, com um tema agora muito na berra – o dilema de um homem bissexual, entre a sua relação heterossexual e a descoberta do seu “outro lado” (que já tinha acontecido em “Free Fall”); um outro filme com o mesmo dilema, mas neste caso o relacionamento heterossexual era não sexual foi o excelente “The Comedian”, filme inglês de Tom Shkolnick (israelita), e que deu merecidamente o prémio do melhor actor a Edward Hogg.

Fraco foi o filme do português Tiago Leão, realizado numa co-produção com a Espanha, “Noches de espera”, sobre a vida de uma série de jovens, gays e lésbicas, na noite madrilena – muito sexo e drogas e pouco cinema.
Também não vi o filme chileno “Joven y Alcolada”, que deu a Alícia Rodriguez o prémio da interpretação feminina.
Deixei para o fim o filme que nos chegou da Geórgia, “A Fold in my Blanket”, de Zaza Rusadze, uma das maiores desilusões do festival, na minha opinião, que apenas tinha como interesse a beleza dos dois intérpretes e com um argumento bastante ambíguo, mesmo quanto ao interesse LGBT. Para surpresa minha, e parece que não só minha foi o vencedor do festival…

Quanto a documentários, em concurso, vi apenas três filmes: o já falado “Interiors. Leather Bar”.
Um filme português de Rui Mourão, com uma ideia muito original e interessante, mas desbaratada pela forma como foi filmada, mas mesmo assim interessante – “O Carnaval é um palco, a ilha é uma festa”, filmado na ilha Terceira nos Açores.
E um decepcionante “Uncle Bob” do americano Robert Oppel, talvez o pior filme que vi no festival.
O prémio acabou por ir para um filme que não vi – “Born Naked” de Andrea Esteban, da Espanha.

Como referi, vi poucas curtas a concurso; além de “In their room, London”, de que já falei, uns desinteressantes “Frisk”, “Open Letter”, “Gasp”, e “Sebastien’s Night Out” e dois filmes muito curiosos, o brasileiro “Vestido de Laerte” e principalmente “O nylon da minha aldeia”, baseado num conto do escritor português Possidónio Cachapa, que também realizou o filme.

Não vi o filme vencedor que foi uma animação sueca “Benjamim Flowers”.
Ainda em competição, um novo tipo de curtas, denominado “filmes de escola”, em que competiam alguns filmes portugueses, dos quais vi três; um muito mau, “As flores do mal” e os outros dois deveras interessantes, um deles ganhou o prémio nesta categoria para filmes portugueses, “Depois dos nossos ídolos”, de Ricardo Penedo
e o outro vai merecer-me um comentário mais alargado num próximo post.
Trata-se de “O segredo segundo António Botto”, da dupla Rita Filipe/Maria João Freitas,
 sobre o relacionamento entre António Botto e Fernando Pessoa; era um dos grandes interesses para mim, neste festival, e gostei muito (apenas lamento não ter assistido ao filme sobre Gore Vidal, projectado à mesma hora).
Outros filmes que vi, desta secção foram “Si j’étais un homme”, interessante, e “Atomes” que venceu o prémio desta categoria.

Uma outra secção muito interessante com filmes não a concurso é a secção “Panorama”.
Vi, além do já referido noutro post “E agora, lembra-me”, as curtas metragens portuguesas “O Corpo de Afonso” do João Pedro Rodrigues, uma encomenda da “Guimarães 2012” e revi o premiado (no Indie Lisboa deste ano e noutros festivais) “Gingers”, de António da Silva, o qual muito me agradou.
 E ainda nesta secção um dos grandes pontos altos deste festival, um filme maravilhosamente belo, que só vai estrear nos EUA agora em Outubro, mas que eu vou comprar o DVD quando ele existir; trata-se de “Five Dances”, passado no mundo do ballet, com uma pequena companhia de 5 elementos e uma maravilhosa história de amor. Excelentes bailarinos e uma banda sonora fantástica fazem deste filme algo imperdível.


Na secção “Queer Art” vi uma boa curta, “10 Men”, exibida como complemento do “Five Dances” e uma outra curta algo surrealista do brasileiro Gustavo Vinagre, sobre o poeta cego e sadomasoquista Glauco Mattoso e que se chama precisamente “Filme para poeta cego”.
Vi ainda uma longa metragem francesa, algo onírica, “Rencontres d’aprés minuit”.

No último dia, depois da proclamação dos vencedores, que foi para mim decepcionante, foi exibido como filme de encerramento um muito bom e forte filme israelita sobre o relacionamento entre um jovem estudante palestiniano e um também jovem advogado israelita, com um conteúdo muito político, foi um excelente final para um excelente festival.


Uma nota para um Workshop a que assisti, sobre duas diferentes situações: uma delas é realização de uma série, sobre “bears”, realizada pelo André Murraças e com a participação do meu amigo Luís Mota e mais dois bears e que se chama “Barba Rija”.

E a outra é a produção de dois novos filmes do António da Silva: “Artistas – objectos de desejo” e um outro sobre homens gays de S.Francisco acima dos 40 anos.
O que têm de comum estas obras é que se tratam de obras para as quais é necessário fundos monetários; se no caso dos filmes do António da Silva, ele cobre as despesas por meio de “donates” da visão “on line” desses filmes, já na produção do André é necessário angariar o montante necessário para realizar o primeiro episódio da série.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Travis Mathews no "Queer Lisboa"

Travis Mathews (nascido em 1975) é um realizador e argumentista americano, principalmente trabalhando dentro do género do cinema documental.
 Abertamente gay, Mathews vive e trabalha em S. Francisco e até agora realizou a curta “I want your love” que eu mostrei há dias aqui no blog, e que foi filmada em 2010, tendo posteriormente feito uma longa metragem dessa curta, em 2012,
sendo os seus únicos filmes de ficção, tendo anteriormente apresentado vários documentários: em 2004, “Do I Look Fat?”, a série “In Their Room”, primeiro de S.Francisco (2009), depois Berlim (2011) e agora Londres (2013).
Mas o seu filme mais conhecido é aquele que codirigiu este ano, com James Franco, “Interior. Leather Bar”, sobre uma sequência suprimida do polémico filme de William Friedkin “A Caça”, com Al Pacino (1980), passada no interior de um bar gay.
Foram estes dois filmes, a curta “In Their Room – London” e “Interior. Leather Bar” que foram apresentados na terça feira no Queer Lisboa, com a presença do realizador Travis Mathews, que teve uma curta intervenção, bastante divertida, antes da apresentação dos filmes, numa sala quase lotada.
Sem dúvida que o Queer Lisboa deste ano tem tido noites muito especiais e é cada vez mais um acontecimento cinematográfico culturalmente muito importante do nosso país.

Foi apresentada em primeiro lugar, a curta metragem "In Their Room - London".
“In Their Room” é uma série de documentários sobre gays, quartos e intimidade. A série mostra os quartos dos homens, onde se veem fazendo de tudo, desde o mais banal ao (a maior parte das vezes) erótico. Complementando a natureza reveladora de suas atividades diárias há entrevistas confessionais sobre fantasias, que excitam,  e vulnerabilidades. O throughline da série destaca as maneiras pelas quais os homens gays em culturas diferentes lidam com conexão, intimidade e solidão no mundo moderno. 
Numa época de acelerada aceitação de gays e visibilidade, é chocante que muitas destas histórias estão sendo deixadas ficar numa situação irregular. A minha inspiração para a série veio em grande parte dessa frustração. Se as representações da minha vida e da vida dos meus amigos são em grande parte invisíveis na media eu pensei que eu deveria  gravar essas histórias antes de serem perdidas ou esquecidas. Eu faço isso da melhor maneira que possa concentrar-se em algo pareça autêntico, moderno e sem censura”, afirma Travis Mathews. 

A série é concebida como um projeto de longo prazo, com episódios recentes filmados em San Francisco e Berlim, e agora, Londres.
  

O episódio de Berlim foi apresentado no Queer do ano passado.

Depois, o prato forte, a longa metragem.
Este documentário tem tido grande êxito e é a pré-imaginarão desses 40 minutos suprimidos ao filme que servem de ponto de partida para uma exploração mais ampla da liberdade sexual e criativa.

Note-se que este filme “Interior. Leather Bar” vai ser apresentado brevemente nas salas do país, no que se prevê seja algo polémico, pois há sexo explícito no filme, o que é salutar no cinzentismo nacional…

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

"E agora, lembra-me"

"Viver com HIV e VHC (hepatite C) não é uma novidade para Joaquim Pinto, que contraiu os vírus há cerca de 20 anos. 
Será, no entanto, com espanto de novidade que percorremos as quase três horas de "E Agora? Lembra-me", filme autobiográfico em que acompanhamos um ano da vida de Joaquim, entre o campo onde vive, os ensaios clínicos em Madrid, o amor por Nuno, os cães, os amigos, as memórias e, como que condensando todos, o seu mundo interior, que espoleta em tantas direcções quantas consegue a consciência humana. 
Um filme que é uma partilha. "Quando me estava a preparar para este tratamento (em Madrid), percebi que praticamente não havia filmes actuais sobre o HIV feitos na primeira pessoa. Eu achei que era altura de alguém fazer um filme na primeira pessoa", conta-nos Joaquim. 
É, de facto, assim que acontece, com Joaquim a contar a história ao longo de todo o filme. 
Narrador presente e participante, que não inibe nunca a câmara: "Acho que o cinema tem a ver com exposição, tem a ver com luz, tem a ver, precisamente, com o mostrar alguma coisa. E também acho que não tenho nada a esconder." 
A sequência do filme decorre tal qual um diário de bordo, em jeito cronológico, onde podemos seguir Joaquim ao ritmo do tratamento a que se submeteu, um estudo clínico com medicamentos ainda não aprovados: "O filme foi feito na altura em que eu estava a fazer este tratamento muito complicado, com efeitos psicológicos muito pesados. Muitas vezes, fiquei surpreendido com o material que tínhamos filmado, porque devido a esses efeitos não me lembrava de muitas coisas."
 Se "E Agora? Lembra-me" surge também como exercício de memória - onde a narrativa de mistura, sem ordem aparente, entre desabafos quotidianos e episódios da vida de Joaquim -, isso não se deverá nem aos efeitos secundários dos medicamentos nem ao cansaço produzido por eles. 
Joaquim explica: "Há muitas pessoas que passam por situações extremas na sua vida que implicam uma reflexão. Muitas vezes, isso tem outro lado, que é o de permitir fazer um certo balanço não só em relação ao passado, mas em relação ao que é a vida, ao que é estar vivo." 
É assim que balançamos para cá e para lá, à boleia de João César Monteiro, Kurt Raab, Raul Ruiz, Guy Hacquenghem, Henri Alekan, Serge Daney, Copi, Claudio Martinez, amigos e companheiros de trabalho de Joaquim Pinto que aqui integram, sem dúvida, o seu panteão. 
"A doença teve em mim um efeito imediato que foi o de me ajudar a distinguir o que é realmente essencial. Por outro lado, teve o efeito de me aproximar das pessoas com quem, de facto, tenho alguma coisa a ver. E, se calhar, de afastar as amizades que eram só circunstanciais." 
Nuno Leonel, marido de Joaquim, é uma das "personagens" constantes no filme, um pilar presente/ausente que dizia ter coisas mais importantes para fazer do que participar no filme. "Cuidar de nós", conta Joaquim no filme. E, a nós, explica-nos: "Nos primeiros meses estive mais ou menos sozinho. Acho que há um momento de viragem que se percebe no filme, um momento em que o Nuno se aproxima e, a partir daí, o filme passa a ser feito pelos dois." 
Muitas das filmagens estiveram a cargo de Nuno Leonel, como faz questão de deixar claro Joaquim: "Não fui só eu a fazer o filme. Foi feito em colaboração total com o Nuno." 
"E Agora? Lembra-me" é também um filme sobre os sinais num mundo que Joaquim reconhece estar cego, por sermos, como diz, constantemente bombardeados com solicitações. 
"Há sempre coisas inesperadas e o mais importante é estarmos atentos aos sinais que diariamente nos iluminam, e não os negar." 
Uma crença na simplicidade das coisas, como nos diz, que não apresenta como manifesto ou revolta, mas como partilha: 
"O que quis fazer com este filme é dar espaço às pessoas, sem lhes dizer 'eu penso isto ou aquilo'. Quis, sim, partilhar um bocadinho as minhas dúvidas. Se este sentimento de inquietação positiva puder ser transmitido, eu acho óptimo."


 Este é um texto do jornal “i”, mas eu quero dizer algo mais.

Este filme marcou-me profundamente e em vários sentidos.
É um filme culturalmente brilhante, com pormenores técnicos fabulosos; é um filme profundamente comovedor e corajoso onde o realizador expõe a sua doença, os seus problemas, mas também as suas dúvidas e o seu amor (a figura de Nuno é fundamental).
Poucas vezes tenho visto cães filmados com tanto amor, sim, não me enganei, e os quatro cães são importantes no filme.
A um nível pessoal, achei uma coincidência a referência a uma pessoa que tão bem conheci, a Jo e a dois filmes que marcaram a minha vida: “A imitação da vida”, o primeiro filme que eu comentei num jornal, no início dos anos 60, quando estudava em Castelo Branco e a espantosa cena de Laura Betti, quando é enterrada viva a seu pedido no filme “Teorema” de Pasolini.
As citações maravilhosas de tanta gente, de Santo Agostinho a Ruy Belo, as referências muito bem “delineadas” a personalidades como Marx, Freud, e tantos outros.
As constantes alusões à Bíblia, à religiosidade do Nuno e a sua (do Joaquim) visão do Catolicismo, tão parecida à minha…
As recordações do passado, desde a infância, às viagens e estadias em países diferentes, a constante alusão aos Pais, aliás o seu Pai, com mais de 90 anos esteve presente na sala.
A actualidade do momento em que vivemos, a crise aqui e no mundo, os fogos, numa palavra, um olhar atento à realidade actual.
Enfim, e eu espero que o Joaquim viva muitos anos, mas este filme é desde já um testamento da sua vida e obra.

Não posso esquecer que este filme ganhou um dos mais importantes festivais de cinema, na sua última edição, Locarno.


É obrigatório que este filme maravilhoso possa ter uma exibição comercial para que possa ser apreciado por muita gente pois é um acto de verdadeira Cultura.
E agora, Joaquim?
Obrigado, a ti e ao Nuno!
Sim vamos lembrar-nos, é impossível esquecer este filme.

sábado, 21 de setembro de 2013

Steve Ostrow e a "Continental Baths"

Começou o Festival Queer e devo confessar que não me agradou muito a ideia de ter como filme de abertura um documentário.
Sala cheia, palavras de circunstância e finalmente o filme; “Continental”, de Malcolm Ingram
foi o filme escolhido e quando acabou tive de me render e aplaudir este documentário, que me deu a conhecer factos e pessoas que desconhecia e que foram influentes, na época (finais da década de sessenta até meados da década de setenta), dando início a uma era de libertação sexual e estilos de vida alternativos que, até hoje, nunca foi igualado.

Os Continental Baths eram uma sauna gay na cave do Hotel Ansonia em Nova Iorque
inaugurados em 1968 por Steve Ostrow. Eram publicitados como uma reminiscência da "glória da Roma Antiga". O documentário mostra o clube, desde o auge da sua popularidade até ao início da década de 1970
Os Continental Baths tinham uma pista de dança, um salão de cabaret, salas de sauna,  uma piscina e tinham capacidade para 1.000 homens, estando abertas 24 horas por dia.
Um guia gay da década de 1970 descreveu os Continental Baths como um lugar que "revolucionou a cena das saunas de Nova Iorque"
 Tinham um sistema de alerta que avisava os clientes para a chegada da polícia. Havia também uma clínica para doenças sexualmente transmissíveis, um dispensador de A200 (um shampoo contra piolhos) nos chuveiros e lubrificante KY à venda nas máquina automáticas.
Aliás houve várias rusgas da polícia, com prisões e que só terminaram (por sugestão da própria polícia), com o pagamento de avultadas quantias por parte do dono, mostrando como a polícia era corrupta. Steve Ostrow
Quem teve a ideia de abrir estes Continental Baths foi um homem extraordinário, chamado Steve Ostrow.

Ele e a sua mulher meteram mãos à obra e fizeram deste local um dos mais míticos locais gay de Nova Iorque, como o foram o Stonewall ou o Studio 54.
Ostrow é uma personagem fascinante: casado, pai de dois filhos, após o nascimento deles a mulher não satisfazia sexualmente e ela própria viveu uma crise que a levou a tornar-se freira.
Não se contentando em explorar as instalações  apenas como local para sexo, e se havia sexo naqueles banhos…ele criou principalmente aos fins de semana, espectaculos  com diversos artistas, já que ele próprio era um artista (cantava ópera muito bem). E assim passaram por lá grandes nomes, entre eles destacando-se uma cantora que ali iniciou a sua carreira – Bette Midler.
Pelas suas performances nos Baths, Bette Midler era conhecida por Bathouse Betty. Foi nos Continental Baths, acompanhada ao piano por Barry Manilow (que, como os clientes, por vezes, se vestia apenas com uma toalha branca à cintura), que Bette Midler criou a sua persona de palco, a Divine Miss M.
  (a qualidade deste vídeo é bastante deficiente) 

A frequência era variada, entre gays e heterossexuais, tornando-se o local um dos mais famosos, onde se podiam encontrar Andy Wharol, Nureyev, que o utilizava essencialmente para encontros sexuais, Mick Jargger e tantos outros.
Um dos grandes momentos dos Continental Baths aconteceu quando Ostrow, convenceu uma das grandes divas da ópera na altura, a soprano Eleanor Steber a actuar ali tendo sido editado um disco com essa actuação e que é hoje uma raridade.
Nesse famoso concerto as toalhas brancas dos clientes foram substituídas por toalhas negras.

.Os banhos Continental perderam muita da sua clientela gay em 1974. A razão para o declínio foi, como um gay nova iorquino disse: "Acabámos por nos fartar desses shows tontos e exagerados. Todos esses heterossexuais na nossa sauna faziam-nos sentir como se fôssemos parte da decoração e que estávamos lá em exposição, para os divertir."
No final de 1974, o número de clientes era tão baixo que Steve Ostrow decidiu fechar o salão de cabaré. Concentrou-se, em vez disso, em ressuscitar o negócio que estava na origem da sauna. Chegou a fazer publicidade na WBLS, mas sem sucesso. Finalmente, Ostrow teve que fechar os Continental Barhs de vez. As instalações, contudo, foram reabertos em 1977 como um clube de troca de casais heterossexual, chamado Plato's Retreat, que se mudou para a W. 34th St. em 1980 e foi encerrado por ordem da câmara de Nova Iorque, no auge da epidemia da Sida.
A Continental foi um fenómeno que saiu de um mundo pré Sida e que provavelmente nunca iremos experimentar de novo. Mais do que ser apenas uma sauna e uma “vitrine”, os Banhos eram um lugar onde as pessoas saíram dos seus armários e se descobriram quem eram. Foi o primeiro estabelecimento gay para tratar os homossexuais como iguais e não explorá-los e foi fundamental para rescindir as leis contra a homossexualidade.
Depois do fecho da Continental Baths, Steve Ostrow foi viver para a Austrália, para Sidney, em 1987 onde finalmente realizou o seu sonho de ser cantor lírico, tendo tido uma carreira de sucesso, cantando ópera com as principais companhias de ópera de todo o mundo, incluindo a New York City Ópera, a San Francisco Ópera, a Ópera de Stuttgart, a Lyric Ópera de Queensland e a Ópera australiana. 
Fundou em 1991 uma organização de reconhecido mérito. O MAG - Mature Age Gay Men’s Group.

Só por uma questão de curiosidade, em 1975 o realizador David Buckley realizou um filme sobre este local e denominado “Saturday Night at the Baths”.





quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"I want your love"


Pela primeira vez, neste blog, o aviso inicial é perfeitamente justificado, já que mostro aqui um filme pornográfico. È um filme pornográfico não convencional, com actores porno, mas protagonizado por dois homens comuns que chegam ao sexo entre eles de uma forma normal.
Não considero chocante este filme, pese embora aceite que para determinadas pessoas menos habituadas a estas situações, o mesmo as possa incomodar, pelo que desde já lhes peço para se absterem de o visionar.
É escusado dizer que esta postagem é uma excepção e não uma regra neste blog que sempre foi liberal em todos os aspectos e assim o continuará a ser.
Dois bons amigos, conversam, brincando sobre uma situação que os vai levar a ter sexo pela primeira vez um com o outro. É uma situação já vivida por muitos homens gays (e até por alguns que não se aceitam como tal) e não tão descomplexada como estes dois amigos preferiam que fosse. As coisas tornam-se um pouco excitantes a partir dos 4,00 minutos; há sexo oral, penetração e outras variações. Sente-se que é sexo autêntico, intenso.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cinemas de Lisboa - 12 (final)

Neste post final, quero deixar aqui, em primeiro lugar, uma referência a vários blogs, dos quais me servi, mais frequentemente, embora haja outras fontes mais avuisas que fui encontrando na net.
Mais uma vez repito que este roteiro não pretende, nem é de todo, completo, como poderão constatar aqui, nesta fabulosa  listagem, que o blog "Restos de Colecção" nos proporciona.
Não fiz referência aos cinemas mais antigos e apenas referi àqueles que de uma forma original ou transformados, eu conheci.
Estes são os blogs mais usados e todos eles merecem a vossa demorada visita:
Citizen Grave, Cinema aos Copos, Restos de Colecção, Cinemas do Paraíso, O Rato Cinéfilo.

Finalmente e sabendo que possa haver algumas imagens repetidas, não fui capaz de rejeitar nenhum destes vídeos que encontrei no You Tube





 Obrigado a toda a gente que passou por este blog durante esta "odisseia", pelos vossos comentários e opiniões.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

"Sinais de Fogo"

Jorge de Sena (Lisboa, 2 de Novembro de 1919 Santa Bárbara, Califórnia,  4 de Junho de 1978)  foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
Filho único de Augusto Raposo de Sena, natural de Ponta Delgada e comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Teles Grilo de Sena, natural da Covilhã e dona-de-casa. Ambas as famílias eram da alta burguesia, a paterna de suposta linhagem aristocrática de militares e altos funcionários, e a materna de comerciantes ricos do Porto. Segundo relata no seu conto Homenagem ao Papagaio Verde, teve uma infância recolhida, solitária e infeliz, o que fez com se tornasse introspectivo, observador e imaginativo.
Fez a instrução primária e os primeiros anos do liceu no Colégio Vasco da Gama. Concluiu os estudos secundários no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho. Era um jovem que lia avidamente, tocava piano e escrevia poemas. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, fez os exames preparatórios com as notas mais elevadas.
Sena nutria a ideia algo romântica de se tornar oficial da marinha, seguindo as pisadas do pai. Em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso. A 2 de Outubro de 1937 , iniciou a sua viagem de instrução a bordo do navio escola Sagres. Visitou os portos de S. Vicente, Santos, Lobito, Luanda, S. Tomé e Dakar, chegando a Lisboa no final de Fevereiro de 1938 . O contacto com a imensidão do oceano, a azáfama da vida a bordo e o movimento e mudança constantes agradaram ao jovem Sena, mas nem tudo correu bem. Segundo o relato de um antigo camarada de curso, naquele ano a viagem de instrução foi excepcional e particularmente dura e exigente em termos de preparação e destreza física, copiando o modelo da marinha alemã. Na parte teórica do curso Sena era brilhante, mas em termos atléticos era medíocre e apesar dos muitos esforços que fez não conseguiu satisfazer as elevadas expectativas do comandante do curso, que parecia nutrir um ódio de estimação pelo cadete contemplativo e intelectual. No final da viagem, foi comunicado a Sena que iria ser proposta a sua exclusão da Marinha por lhe faltarem as "necessárias qualidades" para oficial. Sena ficou profundamente frustrado e desgostoso com esta rejeição e o seu afastamento definitivo de um modo de vida que tanto almejava.
Apesar da sua inclinação natural para a literatura, o sobredotado Sena decidiu frequentar o curso de Engenharia Civil, iniciando-o em Lisboa e concluindo-o no Porto, em 1944, com a ajuda financeira dos seus amigos Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal. O curso pouco o entusiasmou, mas durante todo esse tempo escreveu bastantes poemas, artigos, ensaios e cartas. Desde os 16 anos que escrevia e em 1940, sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os seus primeiros poemas na revista Cadernos de Poesia, dirigida por Cinatti, Blanc de Portugal e Tomás Kim. Em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição, que não impressiona muito o seu amigo e crítico João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro considera-o um livro revelador mas difícil.
Em 1947, Sena inicia a sua carreira de engenheiro, que durou 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autónoma das Estradas (JAE), onde permanecerá até ao seu exílio para o Brasil em 1959.
Em 1940, no Porto, Jorge de Sena conhece e torna-se amigo de Maria Mécia de Freitas Lopes (irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes), começando a namorar em 1944 e casando-se em 1949. Jorge de Sena e Mécia de Sena tiveram nove filhos. Mecia, sua incansável companheira e enérgica colaboradora, apoiando o escritor nas inúmeras crises que lhe surgiram ao longo de uma vida por vezes atribulada.
Trabalhava incansavelmente, para sustentar a crescente família. Além do seu absorvente trabalho diurno na JAE (que lhe possibilitou viajar e conhecer o Portugal profundo), Sena também se dedicava à direcção literária em editoras, à tradução e revisão de textos, ocupações que lhe roubavam precioso tempo para a investigação literária e a para a sua obra. A banalidade e a pequenez do quotidiano no Portugal de Salazar das décadas de 1940 e 1950 atormentam-no, bem assim como a mediocridade, a mesquinhez e a intriga dos meios literários, a opressão política, a censura literária, resultando num ambiente de trabalho sufocante e absolutamente frustrante, mas que não deixam de o inspirar para o poema É tarde, muito tarde na noite…
Durante esses anos publica várias obras: O Dogma da Trindade Poética – Rimbaud (1942), Coroa da Terra, poesia (1946), Páginas de Doutrina Estética de Fernando Pessoa(organização), 1946, Florbela Espanca (1947), Pedra Filosofal poesia (1950), A Poesia de Camões (1951), etc.
A sua situação como escritor e cidadão estava a tornar-se insustentável. Como escritor, não tinha tempo livre para escrever, apenas o podia fazer de modo insuficiente e limitado à noite e aos domingos. Também o facto de não pertencer a nenhum círculo académico e a falta de apoio institucional lhe frustrava qualquer pretensão de poder vir a editar alguma obra mais ambiciosa. Por outro lado, a sua participação numa tentativa revolucionária abortada em 12 de Março de 1959, colocou-o em posição de prisão iminente, no caso muito provável de algum dos conspiradores presos pela PIDE denunciar os que ainda se encontravam livres.
Em Agosto de 1959, viajou até ao Brasil, convidado pela Universidade da Bahia e pelo Governo Brasileiro a participar no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Tendo sido convidado como catedrático contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de S. Paulo, aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio. Ele faz amizade com o poeta Jaime Montestrela, que dedicou o seu livro Cidade de lama. Por motivos profissionais teve de adoptar a cidadania brasileira.
Não foi contudo um exílio libertador. Sentia saudades da pátria, apesar do rancor perene que nutria pela pequenez, mesquinhez e falta de reconhecimento nacionais que o atormentariam até ao final da vida.
Em 1961, Jorge de Sena foi ensinar Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Em 1964, depois de vencer alguns preconceitos académicos pelo facto de ser licenciado em Engenharia, Jorge de Sena defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos académicos "com distinção e louvor".
O período de seis anos que passou no Brasil foi muito produtivo. Finalmente, tinha toda a disponibilidade para se dedicar à sua obra com a devida profundidade e profissionalismo. Poesia, teatro, ficção, ensaísmo e investigação. Parte do romance Sinais de Fogo e a totalidade dos contos Novas Andanças do Demónio foram escritos neste período.
A degradação da situação política no Brasil, com a instalação de uma ditadura militar a partir de Março de 1964, fez com que Jorge de Sena, mais do que nunca avesso a prepotências, aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, para partir para os Estados Unidos em Outubro de 1965. Em 1967 foi nomeado catedrático do Departamento de Espanhol e Português da referida universidade.
De 1970 até 1978 foi catedrático efectivo de Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. Apesar da satisfação de ensinar e da amizade que os alunos lhe dedicavam, Sena não foi feliz. Queixava-se da "medonha solidão intelectual da América" onde não havia "convívio intelectual algum" e da esterilidade e espírito burguês do meio académico, que não se interessava pela sua obra.
Quando se deu o 25 de Abril Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Sena visitou Portugal, contudo, nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa se dignou convidar o escritor para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.
Jorge de Sena morreu em 4 de Junho de 1978, aos 58 anos, de cancro. Em 11 de Setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o cemitério do Prazeres em Lisboa, depois de uma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.

Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.

Acabei de ler à dias o romance “Sinais de Fogo” de Jorge de Sena, do qual já tinha lido com muito agrado uma colectânea de contos sob o título “Os Grão Capitães”.
Este romance, em que a personagem principal, Jorge, tem muito de autobiográfico, passa-se na sua maior parte na Figueira da Doz, uma praia onde passei grande parte dos Verões da minha infância e da minha juventude; e se bem que a época seja diferente (finais dos anos 30 do século passado), não diferiria muito da Figueira dos anos 50/60 que eu conheci.
È um livro nem sempre fácil, devido às muitas considerações filosóficas que o autor vai entremeando com o decorrer da acção, mas com um elevado valor intelectual, podendo sem qualquer dúvida considerar-se talvez o mais importante ou pelos menos dos mais importantes marcos da literatura portuguesa da segunda metade do século XX.
 Com uma inesperada e nada contida narração sexual, tem, ouso dizê-lo, das mais ousadas narrativas sexuais jamais escritas em português, desde o mundo da prostituição, ao amor heterossexual puro (?), ás orgias, ao sexo homossexual, enfim, para todos os gostos, mas nunca gratuito ou deslocado.
No meio de toda a acção está a Guerra Civil Espanhola, a confirmação da ditadura portuguesa, a ascensão do nazismo e todos os fenómenos daí advindos na formação humana e política do Jorge.
O livro pode considerar-se inacabado, pois haveria várias hipótese finais que nunca chegaram a ver a luz do dia; apesar de tudo é um longo romance, com cerca de 600 páginas.
Deste romance foi realizado um filme, por Luís Filipe Rocha, em 1995 tendo Diogo Infante como protagonista, cujo trailer aqui deixo.
E também deixo o primeiro vídeo de uma magnífica série de cinco episódios, apresentados na RTP 2, sob o título genérico de Grandes Livros, e que merece ser visto na íntegra (está no You Tube). Curiosamente as cenas do filme aqui apresentadas não são do filme do LFRocha.  
Um livro memorável que merece a atenção de quem se interessa por ler, mas também por quem se interessa por um período tão interessante da nossa História recente.

domingo, 7 de julho de 2013

Clássicos da dança no feminino

Este post pretende homenagear os grandes nomes da dança feminina, no cinema e refiro-me como é óbvio a  nomes clássicos, já que no cinema mais moderno, muitos outros nomes poderíamos acrescentar.
E nem sequer estou a pretender que estes serão os nomes mais importantes, pois outros haveria que aqui não estão, como Betty Grable ou Cyd Charrisse por exemplo; e poderíamos mesmo contestar a inclusão de Carmen Miranda, essencialmente uma cantora, ou mesmo de Rita Hayworth, acima de tudo,uma actriz.
São de qualquer forma cinco excelentes vídeos, onde além das já citadas Carmen Miranda e Rita Hayworth, podemos encontrar as realmente fabulosas bailarinas que foram Eleonor Parker (aqui acompanhada pelo genial Fred Astaire), Ann Miller e principalmente Ginger Rogers.
Saborear estas preciosidades é bom em tempo de calor e de crise.
Qualquer dia virão os homens...








sábado, 22 de junho de 2013

"Dead Dreams of Monochrome Men"

Assassinatos homossexuais e necrofilia podem não ser os assuntos mais apropriados para uma coreografia, mas em Dead Dreams of Monochrome Men (1990), a companhia de dança DV8* produziu um trabalho poderoso em que explora estes aterradores aspectos da psique humana.
O ponto de partida é um importante estudo de Brian Master sobre o serial killer Dennis Nilsen “Killing for Company”, embora não seja uma adaptação rígida desse estudo.
Esta peça encontrou uma linguagem de movimentos que explora e expõe uma sequência de estados emocionais…

Como se pode adivinhar é um vídeo forte, carregado de homo-erotismo, mas nunca pornográfico, e que embora longo, não posso deixar de recomendar vivamente a sua visão (a cópia, não sendo actual, não será a ideal, mas a maior parte dos seus vídeos não estão disponíveis).

*Companhia criada em 1985, a DV8 é reconhecida pela sua postura simultaneamente radical e acessível, e questiona a estética e os temas tradicionais da dança, apostando na clareza para transmitir ideias e sentimentos. 
É uma companhia de Teatro Físico, do País de Gales, dirigida por Lloyd Newson, que concebe e desenvolve todos os espectáculos da companhia, e para cada projecto  recruta uma equipa de actores/bailarinos.
O resultado é poesia virtual e auditiva.
Produziu ao longo destes anos, 15 espectáculos que foram aclamados pelo público e têm sido apresentados em vários países, e também  cinco filmes premiados, para televisão, entre os quais este que aqui foi apresentado.

Quem estiver interessado pode consultar o site da companhia DV8 aqui.