Fui ver na quarta feira passada ao Teatro da Politécnica a peça de Simon Stephens "Punk Rock",
e a primeira surpresa (pouco agradável) que tive, é que já não havia bilhetes, uma hora antes.
Como era o antepenúltimo dia de representações, e não poderia ir sexta ou sábado, corri o risco de não ver a peça.
Mas esperei pacientemente pela entrada dos espectadores e depois lá me deram entrada e sem pagamento de bilhete…
Antes de falar da peça, gostaria de fazer uma pequena introdução sobre a companhia “Artistas Unidos” que agora ocupa e muito bem estas instalações onde funcionou em tempos a cantina da antiga Faculdade de Ciências e onde tanta vez eu comi, pois morava ali mesmo na Rua de S.Marçal.
Esta companhia foi fundada em 1995 por Jorge Silva Melo
que já havia sido cofundador (com Luís Miguel Cintra), do Teatro da Cornucópia (1973/1979), e estreou-se com a peça do próprio JSM “António, um rapaz de Lisboa” e que o autor posteriormente transpôs como realizador para o cinema.
Foi no velho e incrível espaço de “A Capital”, no Bairro Alto que vi as primeiras peças desta companhia que sempre me despertou a atenção e o interesse, ali permanecendo até 2002, e entretanto o espaço recebeu o nome de Teatro Paulo Claro, em merecida homenagem ao jovem actor tão precocemente desaparecido. Depois foi andar pelo Teatro Taborda, pelo antigo Convento das Mónicas, eu sei lá, itinerando aqui e acolá até assentar onde hoje está e espero que por muitos anos.
Recentemente esta peça que agora vi foi a quarta de várias das quais gostei muito, sem excepção: “O rapaz da última fila”, “SalaVIP”, “A 20 de Novembro”.
Notável o trabalho que Jorge Silva Melo tem tido no teatro português, quer na programação, quer no lançamento de tantos jovens talentos, quer na produção e divulgação literária do teatro.
Quanto à peça, ela passa-se numa sala de estudo de uma escola secundária de Manchester, nas vésperas dos exames finais e mostra um conjunto de sete alunos, com a exteriorização dos seus caracteres pessoais ainda em formação, mas já muito bem definidos, os seus problemas de vária ordem, nomeadamente sexual, e de uma maneira geral dos assuntos do mundo actual, desde o bulling, à violência juvenil, ao estado actual económico e social (notável uma vasta “fala” sobre este aspecto a cargo de Isac Graça).
As tensões vão subindo de tom e adivinha-se um final sombrio, muito ao estilo das tragédias reais das escolas americanas (Columbine p.ex.). A encenação de Pedro Carraca é notável (vi no You Tube extractos de uma representação inglesa e preferi esta) e o trabalho dos jovens actores é excepcional – de todos; mas permito-me realçar a confirmação de João Pedro Mamede
e a descoberta de Isac Graça
e principalmente de Rita Cabaço, como Lilly).
Enfim, e como sempre ou quase, vejo a peça no final das suas representações e já não a posso recomendar; mas se ela for representada num qualquer local a que possam assistir, façam o favor de não a perder. Deixo um pequeno vídeo, com declarações do encenador e imagens de cena.