domingo, 2 de dezembro de 2007

Da previsível velhice á inevitabildade da morte


Esta semana morreu o Zé; não era meu familiar, nem sequer um amigo grande; era “apenas” o marido de uma das pessoas que me são mais queridas, a mulher que me ajudou a criar, e da qual já falei aqui no blog, mais que uma vez e que é hoje uma Senhora com 81 anos, a Lurdes.

O Zé estava com Alzheimer, há 7 anos, era uma árvore ali plantada em casa e fez-me uma imensa impressão, quando os visitei em Manteigas, onde residiam, a última vez, vai fazer em Janeiro um ano.

Não foi um casamento jovem, foi antes um casamento maduro de duas pessoas que encontraram uma na outra o amparo, a companhia e a Amizade que ambas necessitavam, mas foi um casamento feliz; não houve filhos desse casamento, ou por opção ou por impossibilidade; daí, a Lurdes estar agora só, irremediàvelmente só, na sua velhice, algo incapacitada fìsicamente devido a uma queda com sequelas não devidamente tratadas; e se “aliviada” dos trabalhos dos últimos anos ( não é tarefa fácil, com a sua idade e só, tratar de uma pessoa que já nem a conhecia...), está agora muito só, terrivelmente só!

É por isso, por gostar muito da Lurdes, que sofri bastante com a morte do Zé.

Que vai ser desta mulher agora?. Ela disse-me; “Olhe menino (hei-de ser sempre menino para ela), agora vou viver da caridade dos vizinhos”; ela tem irmãos, dois em França, onde ela e o Zé viveram grande parte da sua vida activa, e uma irmã, de 88 anos, quase cega, e que de momento lhe faz companhia.

Eu e os meus irmãos, os “seus meninos”, oportunamente iremos ter uma conversa com ela, para indagar dos eus teres e haveres e combinar o que fazer para lhe dar um fim de vida digno. É isto a velhice..

Não só cá, mas em todo o lado, defendem-se sempre as crianças, e bem, pois são indefesas; mas, e os velhos...que esquecidos são e quão indefesos ficam também em tantos casos...

Eu não tenho um medo especial da morte, tenho algum receio de uma morte penosa, isso sim...Mas tenho um imenso medo da velhice, não poque me torture, mas porque sinto que não suportarei nunca, ser um fardo para ninguém; e, como a Lurdes, eu não tenho filhos, que um dia velem por mim, nos últimos anos; dessa dependência de outrém, tenho realmente, muito medo.

Já não sou novo, embora não me considere velho, mas já iniciei a “descida do monte”, e não é por isso que penso tanto na velhice nos últimos tempos; é mais por ver a minha Mãe, com os seus 85 anos, e que apesar de até hoje, não ter tido qualquer problema grave de saúde, fora as naturais limitações que a idade lhe traz, vai tendo a sua chama, que sempre foi alta e viva, a apagar-se lenta, mas inexoràvelmente, ano após ano, dia após dia...Até quando?

É essa certeza que a sua chama se vai extinguir, que não me sai da cabeça, embora saiba que esse é um dado absolutamente implacável e previsível, na sua essência.

Por tudo isto, foi esta semana, para mim, uma semana de luto e de muita reflexão.


Este texto foi repescado para ser inserido no tema de Fevereiro (A Velhice), da Fábrica de Letras.

64 comentários:

  1. Gostei muito de ler este teu testemunho, pela sensibilidade e humanidade que demonstras. Estás certo no que dizes e nas questões que levantas.
    Acompanho-te.
    E deixo-te um forte abraço.

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  2. Caro Maurice
    obrigado pelas tuas palavras; gostaria de dizer que o facto de muito ter reflectido, como escrevi no texto, não me pôs a cismar, antes pelo contrário, me deu força para lutar pelo que está para vir, e a viver o dia a dia com redobrado prazer.
    Uma boa semana e um abraço amigo.

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  3. caro Pinguim
    comoveu-me muito a leitura deste teu post. a velhice perturba-me muito. perturba-me a velhice dos meus pais, e o sofrimento que eles têm de passar. e, como referes, também me assusta muito a minha própria velhice. não porque ache que ela me diminua ou limite aos olhos dos outros, nesta sociedade em que a juventude é um troféu; mas pelo que ela me pode limitar a mim, pela falta de autonomia, pelo espectro da solidão, pelas progressivas limitações físicas e pelas doenças que sempre afligem. quanto ao resto, tenho de confessar que gosto de ter a idade que tenho: nunca me senti tão rico, tão inteligente, tão culto, tão sábio, tão sensato, como agora, com tudo o que a vida e a experiência me tem dado. mas, como digo, assustam-me as limitações físicas.
    um abraço
    miguel

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  4. Acho mesmo que só aqueles que vivem ainda cegos pela sua juventude, não se questionam, uma vez por outra que seja, sobre essas mesmas questões que levantaste. Ninguém quer ser um fardo. Ninguém que ser um estorvo. Ninguém quer depender da caridade alheia. Pena que nem sempre seja possível terminar a vida com a mesma dignidade com que se começou.
    Abraço.

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  5. Não percebo a falta de respeito pela idade da nossa cultura. Em especial da minha geração. Sempre tive o maior respeito e carinho pelos idosos...É triste que nem todos reconheçam em muitos deles um poço de saber e de afecto...
    Gostei muito do teu post e espero que corra tudo pelo melhor para a D. Lurdes. Abraços

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  6. Pinguizinho, depois conversaremos sobre este assunto, mas quero dizer que me comoveste. Abraços!

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  7. Penso compreender... Abraço!

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  8. Este teu post remexeu-me o fundo do ser... acho que é um tema que acaba por nos ensombrar a todos.

    Resta-nos a esperança (a mesma que mantém a tal chama acesa).

    :)

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  9. Amigo Miguel
    é óptimo as pessoas irem gostando da idade que têm, pois é sinal que estão atentas a novas sensações que vão surgindo.
    Eu não tenho nada contra a actual juventude, nem me considero fora da minha época, mas acho que um homem atinge a plenitude das suas faculdades entre os 30 e os 40 anos, mesmo que já se sinta alguma perca do fulgor físico; talvez por isso, mesmo nos meus gostos pessoais, em termos físicos, nunca tive especial admiração por rapazinhos novos, mesmo que objectivamente belos; falta-lhes o charme que só os anos vão moldando...
    Envelhecer pode ser penoso, mas saber envelhecer é uma forma maravilhosa de o contrariar.
    Abraço.

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  10. Caro Oz
    como disse no comentário anterior, penso que infelizmente a nossa juventude está a ir por um caminho de despreocupação, do qual um dia mais tarde lhes vai ser muito mais difícil "acordar"; eu vejo hoje rapazes com vinte e tal anos, nada preocupados com o futuro, pensando que são "Dorian Gray"; eles possìvelmente até desconhecem a personagem criada por Wilde, mas cultivam essa imagem, sem a minima preocupação pelos mais velhos; e há uma coisa aflitiva, que poucas vezes é abordada, e que se refere à vida sexual dos idosos homossexuais; por isso achei justíssimo o prémio do Festival Gay deste ano para um filme que abordava esse tema.
    Abraço.

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  11. Amigo X
    é muito reconfortante ouvir essas tuas palavras, o que demonstra que não se pode generalizar o que eu afirmei anteriormente; se já te admirava, mais o faço agora.
    Abraço.

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  12. Paulinho
    nós temos tanto para conversar, sabias? Sobre este e outros temas...
    Um jantar só não chega, eheheheh.
    Agora indo ao tema, eu sabia que irias gostar.
    Acho que o Maurice tem toda a razão no que diz num recente post, sobre o que nós sentimos ser a receptibilidade por parte de algumas pessoas àquilo que escrevemos.
    Abraço.

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  13. Amigo Rato
    é muito bom ouvir dizer-te isso, e mesmo o uso da palavra "penso" está muito bem inserido, pois demonstra que não é um dito avulso...
    Abraço.

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  14. Caro Will
    sinto-me lisongeado, sabes?
    Pelo que de ti conheço, pessoalmente e sobretudo pelo que escreves és uma pessoa muito bem formada, és um "puro" e já não há muitos...
    por isso, se consegui remexer o fundo do teu eu, é porque me aproximei do que pensas e isso é óptimo.
    Abraço.

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  15. Pois acho que tens razão, Pinguim, temos muito que conversar (até preciso de algumas ideias para lidar com os garotos :)). E tens razão: o post do Maurice (que foi agora ler por tua "culpa") vai ao cerne: ser e estar para o outro, independentemente de tudo. Mais abraços, Pinguinzinho!

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  16. Oh, meu Deus; nem penses em sacares-me coisas acerca dos putos; não quero contribuir para a tua desgraça, eheheheh.
    Abraço.

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  17. Queres ver que ainda tenho de arranjar um poção para que tenhas de me contar tudo?! Desgraçado, já eu estou :)
    E piorar? acho difícil!
    Abraços

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  18. É muito bonito o teu cuidado pela Lurdes. Isso é carinho e afeição pura.

    Sabes? Não tenho medo de envelhecer fisicamente (acho que estou melhor agora do que aos vinte), tenho é muito medo da velhice incapacitante, seja motora ou psicológica. Da velhice que me envergonhe, que dê trabalho aos outros, que faça de mim um imprestável.

    Tenho de me cuidar, para quando fôr para um lar de profs ainda estar aí para as curvas. ;)

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  19. infelizmente vivemos cada vez mais numa sociedade onde só o culto da juventude e beleza importam... quando tanto uma como a outra se esgotam deixamos de ter lugar na engrenagem...

    acho que deve ser difícil depois de uma vida inteira de acontecimentos e emoções, limitarmo-nos à condição de meros expectadores... felizmente nem todos os idosos são negligenciados... por muito dificil que sejam as passadas finais têm a companhia daqueles que os amam... mas a vida é injusta e muitos há que envelhecem na mais perfeita solidão e morrem de forma incógnita...

    a única coisa que podemos fazer é tratar os nossos "velhinhos" com amor e respeito e quem sabe o futuro nos reserve a mesma passagem acompanhada...

    Beijinhos

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  20. Caro João Manuel
    depois de minha Mãe, a Lurdes foi a pessoa que mais contribuíu para a minha educação, dedico-lhe como bem dizes mais carinho e afeição do que à maior parte da minha família.
    Quanto aos receios da velhice estamos com os mesmos pensamentos, mas tu vences-me em optimismo, claro, com essa de estares para as curvas num lar de profs (eles que se cuidem...)
    Abraço.

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  21. Tens razão, querida Anita
    não podemos tomar o todo pela parte e sei que há pessoas que cuidam de uma forma extrema as pessoas idosas e nelas incluo as poucas, mas existem, aquelas que estão ligadas a organizações para esse fim.
    Já reparaste que é lindo ver um velhinho sorrir?
    Beijinhos.

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  22. Nestas alturas só me dá vontade de falar por clichés...
    "Há que aproveitar a vida"
    "Carpe Diem"
    "É a vida..."
    "Há que seguir em frente..."
    Após o silêncio vazio de palavras cheias, segue-se o silêncio cheios de palavras vazias.

    Gostava de dizer qualquer coisa que impedisse a Roda do Tempo de girar tão rapidamente. Mas especialmente algo que a fizesse girar menos implacavelmente.
    Não sei, no entanto, que dizer pois as palavras fogem e os sentimentos acodem.
    É muito triste e desesperante ver o inevitável acontecer.
    Mais triste é vê-lo acontecer da maneira como, infelizmente, acontece cada vez mais: só e no anonimato.
    Caímos apaixonados pelo reflexo da nossa imagem na fonte da Juventude Eterna à custa da nossa própria memória enquanto povo.
    Acredito, no entanto, que plantando uma ideia em frente à luz da Vontade, regando regularmente com acção, possamos colher, um dia, a mudança.
    Muitíssimo certeira a referência a Gray/Wilde.
    Abraços.

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  23. Amigo Mário
    obrigado por este teu comentário; é demasiado belo para estar a estragá-lo com outras considerações.
    Abraço amigo.

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  24. Vai ser um comentário cheio de "lugares comuns", mas é assim quando falamos da morte. Pelo menos, quando eu falo da morte não consigo melhor. Não tenho medo dela, tenho medo do sofrimento - o meu e daqueles que gostam de mim. Tenho medo do vazio.

    Um dia, quando entrevistei a Odete Santos, ela disse-me uma coisa na qualq agora penso muitas vezes: "O VAZIO ASSUSTA-ME. O NADA". É nisso que penso quando penso na morte, mesmo não querendo aceitar que o fim só nos reservará isso: o nada!

    Aquele abraço

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  25. Amigo Kokas
    penso que é sempre um "tabu" falar da morte; e no entanto, se o fizessemos mais vezes, com a tranquilidade que certos povos e crenças o fazem, esvaziaríamos muito do seu conteúdo negativo.
    É curiosa essa afirmação de Odete Santos; aliás essa senhora , que eu admiro muito, pois gosto de pessoas inteligentes e práticas, quando fala da vida, desligando a K7, o que nem sempre é fácil, diz coisas muito acertadas.
    Abraço para ti e vamos aproveitar a Vida!!!

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  26. Um abraço meu enorme de apoio e carinho!!!

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  27. Não tinha de ser assim....não devia de ser assim....:(

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  28. amigo pinguim, nunca sei que dizer perante estas situações, este texto, a vida!, deixo-te um forte abraço. andré.

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  29. por mais que me argumentem que a morte é uma coisa natural e que faz parte do ciclo da vida, eu acho-a a maior das injustiças. 6.ª feira soube da morte de uma amiga, da forma mais cruel, sem aviso, e não me conformo.

    não consigo consolar ninguêm nestas alturas, apenas chorar o misero destino, afinal de todos nós...

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  30. Amigo Hydrargirum
    Um obrigado sincero às tuas palavras amigas. Claro que o que dizes no segundo comentário é o que sinto também.
    Abraço.

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  31. Caro André
    estas coisas são mais motivo de reflexão do que de palavras, embora por vezes seja extremamente útil "deitar para fora" o que se torna pesado quando demasiado tempo calado.
    Abraço.

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  32. Quando assim é, meu caro Luís, quando a morte chega prematuramente, sim, tens razão, só a revolta nos invade; mas eu falava do envelhecimento e daquela morte pré-anunciada.
    Recordo o filme "Le temps qui reste", quando o protagonista apenas anuncia o seu fim próximo à avó, e a mais ninguém, e ela indaga a razão, ao que ele responde. "Porque de todos és o ser que está mais perto da morte...".
    Para ti, caro amigo, num momento triste que estás a passar um forte abraço.

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  33. Tens aqui um bonito post, meu amigo...

    Creio que, dos mais novos aos mais velhos, ninguem fica indiferente �s tuas palavras. Ou porque j� pensou no assunto, ou porque tem algu�m que lhe � querido e se encontra na mesma situa�o...

    � um tema delicado e, como tu dizes e bem, n�o h� quem se preocupe verdadeiramente com isto...

    Esta semana, acabei por n�o fazer um post sobre o assunto, mas desafiaram-me para levar dois computadores para Alvares, concelho de Gois... Uma oferta de Natal para um conjunto de mi�dos que escreveram uma carta a solicitar apoios as mais variadas institui�es.

    Depois de uma manh� inteira a conduzir, passando pela serra e por muito gelo que ao meio dia ainda n�o havia derretido em algumas curvas, acabei por encontrar uma bonita aldeia chamada Cortes, o destino dos computadores que levava comigo.

    L�...no destino, aguardavam-me perto de 14 a 16 crian�as, dos 3 aos 5 anos, os prendados pelos computadores.

    Curiosamente, neste mesmo centro de dia e ATL, tinha tamb�m idosos... sabes quantos?

    Perto de 300 a 400...

    Esta despropor�o � uma realidade e realmente... muito preocupante.

    Desculpa l� o longo coment�rio, mas o teu texto recordou-me esta viagem...

    Sabes como �... Chauffeur, viagens... Estou desculpado, n�o � :)

    Um abra�o

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  34. Caro João
    mesmo que tivesses dito coisas sem grande importância, sabes bem que este espaço está sempre aberto a desabafos e vivências de amigos.
    Mas não é o caso, li com entusiasmo e admiração as tuas palavras, e é curioso como um texto, como aquele que aqui escrevi se pode ir ramificando em várias pistas, todas elas válidas e muito importantes, como é este caso que relatas sobre o envelhecimento da nossa população, levando a um quase desaparecimento de pequenos lugares.
    Para meditar, caro João...
    Abraço muito amigo.

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  35. Em primeiro lugar queria deixar os meus sentimentos por esta perda.
    Em segundo queria dizer que partilho muitos destes teus receios com a velhice. A minha avó faleceu há cerca de 18 meses e custou-me muito acompanhar a degeneração do corpo e da mente. Realmente o que me mete medo é isso, perder a minha dignidade, ter que depender de alguém para me mudar fraldas, dar banho ou levar-me à casa de banho.
    Digo muitas vezes que quero uma vida longa, mas gostava de lá chegar lúcido e capaz de, pelo menos, conseguir tratar de mim.
    Já agora o ter filhos não é garantia de ter alguém que trate de nós. Hoje em dia muita gente abandona os seus idosos em lares ou em hospitais quando já não estão para se chatear mais.
    Um abraço

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  36. Um texto muito dorido. A solidão e muitas vezes a noite trás este tipo de reflexões. O que fazer para aliviar os problemas de velhice dos nossos mais amados. O que fazer quando a velhice nos tocar á porta. Quem teremos por perto. O que poderemos fazer para não dependermos tanto dos outros.
    E o que mais perturba é não sabermos hoje como resolver estas questões.
    É precisamento na época natalícia que mais nos lembramos de todos aqueles que deixaram de nos acompanhar.
    Felizmente temos as crianças que nos fazem esquecer e ajudam a olhar para o futuro de uma maneira mais alegre.
    Um beijinho grande

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  37. Caro P.
    eu não sei se quero uma vida longa ou não, quero-a é "controlada" sob a capa da dignidade que falas, O meu Pai morreu novo (68) e acho que partiu feliz por não aceitar bem a ideia de envelhecer e sofrer; adoeceu sùbitamente e passado menos de uma semana, desapareceu, sem ter tempo de pensar na morte.
    Deixou em todos nós uma imensa saudade, mas só o facto de saber que foi poupado a um calvário enorme de penares, conforta-me, de certa maneira.
    Abraço e um obrigado pelas tuas palavras.

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  38. Amiga Ana
    eu não me queixo da solidão, por enquanto, até tenho alguém que me ama, que estou certo, dentro dos condicionalismos do nosso relacionamento, nunca me fará sentir só. Queixo-me, e muito da solidão de tantos, que ninguém têm para lhes aliviar as penas; concordo que estas reflexões sobressaiem mais nesta época do ano, mas quase sempre pelos piores motivos.
    Beijinhos.

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  39. Com tanto que tenho tido para fazer, acabei por só hoje ler o teu post. Nele está "escarrapachado" o ser HUMANO que tu és. Pouco mais há a acrescentar ao que outros tão bem escreveram.
    Aqui deixo "aquele abraço"

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  40. Caro Tongzhi
    Obrigado por essas palavras; se viessem de uma pessoa qualquer já era agradável lê-las; vindas de ti, o prazer é maior, acredita.
    Aquele abraço.

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  41. Meu querido Ping: Dei agora com este texto. Não há muito que te diga. A não ser que te compreendo e que estou de acordo contigo. Mas diria mais, noutras circunstâncias. A distância é terrível. A ausência. A máquina... Abraço grande,

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  42. Querido Luís
    podes crer que nas reflexões que cito, me veio à lembrança o teu nome, até pela recente passagem do 1ª aniversário da perda da tua Mãe.
    São momentos necessários, porque são reflexões calmas, não vividas em climas emocionais demasiado difíceis e que nos fazem bem à alma; diria que não finalizam dores presentes, passadas ou futuras, apenas nos ajudam a aceitá-las com um pouco mais de compreensão.
    Abraço para os dois.

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  43. Pinguim a partir de uma certa idade o envelhecimento não nos sai da cabeça. Olhamos à nossa volta e vemos sofrimento e solidão. É difícil lidar com a solidão quando se perdem capacidades físicas. A velhice dos portugueses preocupa-me porque não é digna. Trabalham tanto e acabam sem possibilidades para viverem a vida que mereciam. É duro, duro vê-los caírem aos bocados, perderem tudo de um dia para o outro, passarem a ser um fardo. Todos nós seremos velhos, há que pensar nisso. A incerteza é o que preocupa nesta fase da vida em que as capacidades se perdem ou, pior ainda, não sabemos sequer que as perdemos ou que algum dia as tivemos.

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  44. Este texto, sentido, demonstra a tua sensibilidade que já conhecemos e a tua preocupação com os que te são próximos, que tantas vezes exprimes de uma forma ou outra..:) Também ando a pensar muito na futura morte dos meus pais... tenho cada vez mais consciência disso. Eu compreendo que quem não tem filhos, sinta que não vai ter quem cuide de si...mas acredita que pior do que isso, é ter filhos e saber que não se vai poder contar com eles...ou sentir a sua indiferença... como acontece muito hoje em dia. Beijinho

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  45. Brown Eyes
    a velhice em si não me preocupa demasiado, se não estiver dependente, claro; a minha Mãe tem 87 anos e ainda está muito bem, lúcida e até fisicamente.
    O pior são os casos como o que aqui retrato, do Zé, um ser quase vegetal, e a mulher sem filhos, doente a tratá-lo, como se fora um menino, até que se lhe acabou o sofrimento, a ela, pois a ele já se tinha acabado há muito.
    Beijinho.

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  46. Johnny
    pois é, a vida ás vezes é muito pouco simpática para algumas pessoas...
    Abraço grande.

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  47. Eva
    é curioso que aqui, no meu caso, a preocupação da minha Mãe é comigo; como ficarei eu quando for velho, quem de mim cuidará?
    Tenho sorte de ter quem me trate já agora com um desvelo imenso e estou certo que nunca me faltará carinho e compreensão...
    Beijinho.

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  48. Pinguim,

    Inevitavelmente não pude deixar de sentir também o receio da velhice em particular de uma velhice só, solitária.
    É nesta altura que os sonhos já não existem, a esperança de algo melhorar é apenas um mito e o temor de largarmos a vida passa a ser um tormento. Resta apenas o carinho e conforto de alguém que nos ame.
    E é verdade que, muito infelizmente, hoje em dia não se acarinha como se deveria os idosos e a própria velhice.
    Espero sinceramente que isso mude...

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  49. Infelizmente para esta senhora não teve filhos, por isso é que está sozinha, sei que há muitos casos de solidão mesmo quando há filhos. Mas haveria menos probabilidades de isso acontecer. Felizmente na minha família não existe desses casos, cuidamos dos nos "velhinhos" até eles nos deixarem.
    Bonito texto.
    Patty

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  50. É o peso da idade aliada à solidão e à doença. Eu gostaria de ver todos os nossos "velhotes" amparados, afinal quem vive a vida até ao fim, volta a ser criança e precisa novamente de protecção. Parabéns pelo seu testemunho. Parabéns pela mãe, linda idade.

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  51. Como tu tenho medo da velhice, de me sentir um ser sem autonomia e sem conseguir cuidar de mim...da morte não tanto...mas ser o Zé de alguém é algo que nos deixa a pensar e ficar sem o seu Zé deve ser duro muito duro....Um beijo

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  52. Olá Su
    eu adoro crianças e concordo que se deve cuidar delas com desvelo e carinho; mas e as pessoas idosas?
    Pouca gente as põe num pé de igualdade com as crianças nos cuidados que nos merecem. Tenho uma pena imensa de ver gente idosa, carente e só, à espera da morte, sem um conforto, um ombro amigo.
    Aí, sim, a vida é profundamente injusta.
    Beijinho.

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  53. Patty
    quando não há filhos, a situação piora muito, embora se saiba que há pessoas de idade de quem os filhos não querem saber; ou então põe-nos em lares e não querem saber deles, nem os visitam - é uma grande tristeza.

    Beijinho.

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  54. Linda história.
    Me inscrevi e estou participando.
    http://sandrarandrade7.blogspot.com/
    Venha e conferi o meu texto sobre a velhice.
    Nossa grande alegria é chegar lá, com muita sabedoria.
    Um grande abraço
    Sandra

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  55. Olga
    obrigado pela referência à minha Mãe, que aproveito para dizer, que estando agora a viver definitivamente com uma irmã minha, está, em vida e no seu perfeito juízo a distribuir por todos os seus filhos o recheio da sua casa, totalmente da forma como ela acha justo.
    Diz ela, muito satisfeita, que assim tem a certeza de que após a sua morte, não haverá qualquer problema entre os filhos, com heranças; e todos acatamos a sua vontade.
    Beijinho.

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  56. Free_soul
    é esse medo, de ser um "Zé", que me preocupa, pois a morte é uma certeza e sabemos que ela há-de vir.
    Com o desaparecimento natural dos mais velhos e depois progressivamente dos que têm a nossa idade, sentimos que a vida já não tem o mesmo sentido, e penso que encaramos a morte com uma maior naturalidade...
    Beijinho.

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  57. Olá Sandra
    obrigado pela visita e pelas bonitas palavras.
    Eu irei visitar a "Fábrica" mais para o meio do mês e ler todas as contribuições (ler e ver, está claro).
    Beijinho.

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  58. Também tenho medo de envelhecer...porque hoje sei que este é um país que não está praparado para tratar dos seus velhos. O meu pai tem 82 anos e é um homenzarrão de 1,85 e mais de 100 kgs, e recentemente perdeu a capacidade de andar, falar, enfim, todas as capacidades mais básicas, e tem sido um inferno arranjar um lugar digno, com gente capacitada para o assunto, para o colocar. Não se pede mais, a não ser que no fim da vida possa haver um pouco de dignidade para alguém que já deu o seu contributo, alguém que amou, foi amado, batalhou, sofreu, sorriu, tudo, tudo como todos nós. E nada, tudo o que nos é proposto, são depósitos de velhotes, com mensalidades que são um insulto, e nada mais. É uma tristeza, e é de uma impotência o que se sente em momentos como este. Por isso como é possival não ter medo de envelhecer neste país?

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  59. Meldevespas
    o assunto de que falas, acerca do teu Pai é realmente muito preocupante; há situações em que completamente impossível aos familiares ocuparem-se como deve ser dos seus idosos, quando eles sofrem de incapacidades; e a solução é arranjar quem cuide deles, o que não significa abandono, antes pelo contrário.
    Mas realmente o que se pede por aí, ronda o absurdo, às vezes sem as melhores condições; e nem toda a gente tem possibilidades financeiras para isso. Devia ser o Estado a assegurar estes cuidados ou pelo menos subsidiá-los, o que não acontece.
    Beijinho.

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  60. Olá pinguim! A grande e triste verdade é que a insensibilidade, o desprezo e a ingratidão não existem só em alguns seios familiares, de filhos para pais. A nossa sociedade em geral age assim e infelizmente... cada vez mais... a começar pelos velhos de espírito que nos governam (sejam eles de que partido forem). Os velhos, que deviam ser os mais respeitados, são os mais menosprezados e, atrevo-me a dizer, mais gozados! Por isso, às vezes fico enjoada dessa gente ordinária que não faz mais do que gozar com os velhos do mundo, com os velhos que nos deram um mundo e uma vida...!
    Lamentares pela D. Lurdes torna-se triste, porque tu sabes e eu sei que, no fundo ela te trazão: "viver da caridade dos vizinhos"... Ah... que nojo de governo!! Em vez de terem gasto milhões com a porcaria do Magalhães e outras coisas banais... melhoravam as condições de vida dos nossos velhos... Isso sim, era de valor!

    Beijinho*... um especial para a D. Lurdes!
    Beijo!

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  61. Lala
    A D. Lurdes foi empregada de servir em casa dos meus Pais , tendo ido para lá pouco depois de eu ter nascido; tem mais 20 anos que eu e foi das pessoas mais importantes da minha vida; continuo a ser para ela o seu "menino" e ela para mim é uma grande Senhora! Vive em Manteigas, falamos regularmente por telefone e visito-a sempre que posso.
    Já um ano a fui buscar para passar a Consoada connosco em nossa casa.
    Adora-a e sofro por ela. Este ano está melhor pois conseguimos arranjar-lhe uma cirurgia às pernas que lhe permite andar, coisa que já quase não conseguia.
    O teu beijo será entregue, podes estar certa.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!