domingo, 2 de janeiro de 2011
Saudade
O Pai
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...
E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda, in "Crepusculário"
Tradução de Rui Lage
Se hoje ainda estivesses entre nós, completarias hoje 90 anos. Partiste cedo de mais, não só pela idade que tinhas, mas também porque haviam sido apenas alguns anos antes que, após de termos tido uma longa conversa, em que te mostrei o meu EU por inteiro, ganhei além de um Pai, um Amigo que me aceitava, compreendia e defendia, o que naqueles tempos, nem sempre era fácil.
Nunca houve problemas entre nós, mas só após essa conversa, desse maravilhoso abraço que me deste nesse dia, é que realmente compreendi como é grande o amor de um Pai.
Até sempre...
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As ausências!... Um abraço,
ResponderEliminarComo te compreendo...nem sonhas!
ResponderEliminarAbracinho meu!
Não se precisa sentir em baixo, basta recordar cada momento com um sorriso de orelha a orelha, é a melhor maneira de atenuar um pouco da saudade.
ResponderEliminarUm grande abraço!
My dear,
ResponderEliminarLindo o poema e lindo o teu pequeno texto que o acompanha. És um ser humano magnífico e cada vez mais me capacito disso. :)
O pai, o meu pai, está vivo e de saúde. Está longe lá no Norte e nem sempre se lembra de mim desde o divórcio, mas eu gosto muito dele.
lots of love ^^
Luís
ResponderEliminarsim, as ausências, que afinal são apenas físicas. O resto permanece inalterável.
Abraço amigo.
Maria Teresa
ResponderEliminarnem preciso sonhar; conhecendo-te e conhecendo a tua sensibilidade, não é difícil percebê-lo.
Beijinho.
Olá Paulo
ResponderEliminarnão é que me sinta verdadeiramente em baixo; apenas recordo com uma imensa saudade a sua pessoa e a sua verticalidade, num dia que ele gostaria, estou certo de comemorar - os 90 anos!
Obrigado pela tua visita.
Abraço.
Mark
ResponderEliminaro poema é lindo, ou não fosse de Neruda...
E os Pais são sempre um motivo de orgulho para os filhos, mesmo quando, por razões diversas, nem sempre estão presentes.
Com certeza já sabes que uma das grandes "decepções" da minha vida é não ser pai; e penso, sem falsa modéstia que seria um bom Pai.
Mas não se pode ter tudo na vida...
Abraço amigo.
Oh, Pinguim... Que post mais bonito!
ResponderEliminarSabemos que, cedo ou tarde, as pessoas que amamos irão embora, daí a importância de termos conosco a lembrança daquilo que elas tinham de mais belo :)
Beijinhos!
Todas as pessoas tornam-se imortais se não forem esquecidas.
ResponderEliminarPode não parecer mas a frase é mesmo minha.
Abraços
Gostei muito do poema,
ResponderEliminarApesar do meu pai, nunca ter aceite a minha homossexualidade, nunca tive razões de queixa da sua educação.
Sempre ouvi que um pai é aquele que educa e não aquele que o faz...
Confesso que gostaria de ter um pai/amigo nesse sentido. A realidade é que ele nunca me colocou fora de casa, nem nunca me envergonhou. Agora eu!!!!!
Forte Abraço
Giovana
ResponderEliminaré verdade o que afirmas; ainda tenho a minha Mãe viva, com 88 anos e de cabeça excelente, apenas com algumas limitações de locomoção próprias da idade, mas perfeitamente autónoma.
Dou graças a Deus por isso.
Beijinho.
Hélder
ResponderEliminare dizes tu muito bem!
Abraço amigo.
Francisco
ResponderEliminarpenso, apesar de não ser Pai, que é muito forte o sentimento de um pai em relação a um filho, mesmo com diferentes formas de pensarem no mesmo assunto.
Eu tenho a certeza que no seu intimo, o meu Pai sofria por eu não lhe dar netos e por não ser como os outros rapazes, já que era uma pessoa conservadora e tradicionalista; mas o sangue falou mais alto e o ser Pai foi para ele mais importante do que as razões que o norteavam no seu dia a dia.
Abraço amigo.
Muito bonito. Pablo Neruda é daqueles poetas que é um “crime” não conhecer.
ResponderEliminarO que partilhaste sobre o teu pai também é bonito. Pareceu ser um homem corajoso.
Francisco
ResponderEliminartenho a mesma opinião acerca de Neruda.
Quanto ao meu Pai, dizes algo que é importante; nós pensamos que temos muita coragem quando lhes contamos sobre a nossa sexualidade, e claro que somos. Mas não podemos esquecer, nem devemos subvalorizar a tristeza e o choque deles ao sabê-lo, não porque sejam homofóbicos, mas porque têm uma vontade legítima de terem netos e sobretudo, porque têm a consciência que não é fácil, tantas vezes, para os seus filhos, ser como são.
Abraço amigo.
mais uma vez conseguistes me emocionar... amigo!!!!!!!!!
ResponderEliminarBonita homenagem...
ResponderEliminarPor ti e pelas tuas palavras posso inferir que foi um bom homem.
Ricardo
ResponderEliminarcomo podemos não nos emocionar quando ouvimos ou lemos algo sobre um relacionamento "positivo"entre um pai e um filho?
Beijo.
The Panda
ResponderEliminarobrigado pela tua visita; sim, foi um bom homem, muito vertical!
Abraço.
Pinguim
ResponderEliminarQue bom por ti.
No meu caso, e embora o meu pai seja ainda vivo, essa conversa especial entre pai e filho nunca teve lugar, não sei por culpa de quem. E não falo de uma conversa só sobre sexualidade, falo de uma conversa sobre tudo. Com todos estes anos, nem eu conheço bem o meu pai, nem ele sabe bem quem eu sou. Mas hoje, a conversa já não seria possível, de qualquer forma.
É uma mágoa que transporto comigo, mas é só e apenas mais uma.
Lear
ResponderEliminareu percebo que haja situações em que é mesmo preferível não haver "conversas", embora também entenda, e ainda melhor, o desgosto que isso te provoca.
Mas ainda o tens e digo-te que deves aproveitar os anos que lhe restam numa maior aproximação, pois a partir de uma certa idade, a iniciativa pertence sempre aos filhos.
Sabes pinguim,
ResponderEliminarHoje já não é possível, pois o meu pai entrou naquela fase da vida em que a lucidez é já intermitente
Caro Lear
ResponderEliminarpeço desculpa e lamento muito o facto, acredita.
Abraço grande.
Pinguim
ResponderEliminarNão tens que pedir desculpa e,além do mais, do que estamos aqui a falar é da tua saudade do teu pai, com quem pudeste partilhar o teu EU verdadeiro.
Isso é que importa.
Um abraço amigo
Amigo João, e quando bate essa saudade...poder recordá-lo da melhor forma e com essa boas recordações, acredito que seja reconfortante.
ResponderEliminarGrande abraço.
Fico contente que tenhas todas essas boas recordações e momentos positivos a recordar. Estou certo que ele foi um Pai, um Amigo e um Homem excelente.
ResponderEliminarCostumam dizer-me que só quando perdemos um pai é que lhe damos valor. Gosto do meu pai, não posso negar mas, infelizmente neste momento sempre que olho para trás, para os momentos importantes da minha vida, nunca o vejo presente. E nas ocasiões em que de facto está presente só foi para me dificultar a vida, desde pequeno… Uma das memorias mais presentes que tenho dele além das que já falei no meu blog, foi no dia em que perdi o meu primeiro animal de estimação. Tinha para ai 10 anos, estava a chorar e não queria ir para a escola… o meu pai chegou ao pé de mim deu-me um estalo e disse: “Se fosse o pai ou a mãe a morrer não choravas assim…”
Lear
ResponderEliminaré bom ter Amigos como tu, por aqui.
Muito obrigado.
Miguel
ResponderEliminarsim, as lágrimas secaram há muito e agora é com um sorriso que vamos "falando" de vez em quando.
Abraço amigo.
André
ResponderEliminarimagino a tua tristeza; sabes que geralmente nunca é muito fácil o relacionamento de um filho homossexual com o seu Pai, mesmo se ele não sabe da sua homossexualidade. Há muitas vezes um distanciamento e um maior apego à Mãe, que com a idade se vai esbatendo quase sempre.
Espero que esses casos que recordas com alguma legítima dor se tenham atenuado agora e que no futuro venham a ter uma evolução cada vez mais afectiva; ambos, tu e ele precisam disso...
Abraço grande.
Bom dia e bom ano caro pinguim!!!!
ResponderEliminarAdorei o poema de Pablo Neruda, já conhecia pois é um dos meus poetas favoritos, e tenho alguns livros dele.
Excelente escolha para o novo ano!!!
Abraço doce
Com carinho
Sairaf
Sairaf
ResponderEliminarNeruda é enorme, mas continua muito esquecido.
Aliás, se reparares, na blogosfera que trata de todos os temas, a poesia em geral, não é dos temas mais focados, infelizmente.
Beijinho.
Pinguim,
ResponderEliminarÉ também muito bom para mim passar por este teu blog Amigo.
Um abração.
abraço solidário.
ResponderEliminarObrigado Miguel
ResponderEliminarAbraço amigo.
maravilhoso! não a perda, mas o ter passado tanto tempo e continuares com essa memória viva do que é o amor de um Pai.
ResponderEliminarPaulo
ResponderEliminarjá lá vão quase 22 anos, e a saudade é cada vez maior.
E a falta também.
Abraço amigo.
que lindo :p
ResponderEliminarOlá Cláudia
ResponderEliminarfico satisfeito que tenhas gostado.
Beijinho.