Há tempos fui contactado por uma pessoa, de seu nome Carlos
Alves, mais ou menos da mesma idade que eu e que me descobrira por meio da net
(já nunca poderemos permanecer desconhecidos), como tendo estado a cumprir o
serviço militar em Moçambique, mais propriamente na Ilha de Metarica.
E a razão do seu contacto é que ele havia também estado no
mesmo local a cumprir o seu serviço militar.
São sempre muito interessantes estas trocas de informação,
trocámos fotos, já que o local estava muito diferente, pois a Companhia em que
ele estava integrado foi a primeira a ser instalada ali e se já no meu tempo as
condições eram péssimas, imagine-se como seriam antes.
Mostro aqui um ou outro caso.
Nunca nos encontrámos pessoalmente, mas fizemos amizade no
FB, onde temos trocado impressões e entre elas, o Carlos informou-me que tinha
escrito “umas coisas” sobre a sua comissão, tendo eu mostrado natural interesse
em conhecer esses "escritos".
Ora ele pediu-me o meu endereço e tive a grata surpresa de
ter recebido ontem por correio o seu “livro”.
É uma publicação do autor feita para as comemorações do
XLIII aniversário da sua Companhia (CCAÇ 2469 – 1968/1971), que decorreram em
Arouca em Março passado.
Está muitíssimo completa, com todos os elementos
(documentos, fotos, depoimentos, narrações, listagens), que mostram a vida
daquela Companhia desde a sua formação até à sua desmobilização.
Se tem para mim, só por isso, bastante interesse, muito mais
tem porque grande parte do livro se refere à Ilha de Metarica.
O livro chama-se “A Metariclândia – As Aventuras em África”
e só de folheá-lo fiquei deliciado.
Não estou com pressa de o ler, pois “prazer adiado é prazer
aumentado”, mas tenho a certeza que vou gostar mesmo muito.
Uma palavra de grande agradecimento ao Carlos Alves, que sei
vou conhecer pessoalmente em breve e a quem já dei a certeza da minha presença
na confraternização que irá decorrer em Julho do ano que vem, em Fátima e onde
estarei com mais três elementos da minha Companhia, com quem mantenho contacto.
Acho supimpa que você tenha feito parte de algo tão "histórico" (mesmo que o tema - guerra - não seja lá muito bom...). Mais supimpa ainda você ter encontrado o Carlos e poder recordar essas vivências todas. Boas ou más, são memórias importantes, que ajudaram a te fazer o homem que hoje queremos tanto bem.
ResponderEliminarOlá Eduardo
Eliminarpassados mais de quarenta anos sobre estes acontecimemtos, é claro que quando encontro alguém ou algo que me faça recordar esses tempos tão difíceis quanto marcantes na minha vida, não posso ficar indiferente.
E este livro que comigo só tem a ver com o local, pois foram pessoas com as quais nunca me cruzei no tempo é uma delícia e absolutamente completo. É curioso que o espírito de união que era uma constante naquele tempo e naquela situação se mantém vivo na feitura deste livro.
Abraço amigo.
Que bom encontrar pessoas, que fizeram parte do nosso passado.Adorei este post
ResponderEliminar:D
Francisco
Eliminarneste caso, não é bem assim, pois o Carlos nunca fez parte do meu passado; apenas compartilhámos em diferentes "timings" um espaço comum e que nos marcou muito a ambos.
Sbraço amigo.
Fui procurar no Mapas do Bing (http://binged.it/UIP63i) e Metarica parece ser uma terreola bem grande hoje em dia.
ResponderEliminarFica no Niassa, ao pé de Cuamba?
Olá João
Eliminardespertaste imenso a minha curiosidade e fui investigar. Parece-me ser a Metarica que referes e que é sede do distrito do mesmo nome, algo distinto do sítio que se chamava "Ilha de Metarica", que era um simples aquartelamento ali "construído" pelo exército português ainda nos anos 60 do século passado. Ficava a poucos metros do rio Lugenda que pelo mapa me parece bem mais distante da actual Metarica, que presumo já existisse nessa altura, sendo possívelmente uma aldeia com outro nome (houve muitas mudanças de nome de povoações após a independência).
Estou cada vez mais curioso em indagar estas coisas, mas não é fácil.
Apenas sei que num raio de 100 kms, na altura em que eu estive na Ilha de Metarica, só havia mato.
Abraço amigo.
a 'tropa do João' é, por todas as razões que sabes, um tema que sempre me fascina e interessa. as coisas que nos impressionam na infância nunca nos abandonam.
ResponderEliminartentei localizar a Ilha da Metarica no mapa, mas não consegui. ajudas-me?
Miguel
Eliminarnão consegues tu, nem ninguém, pois não era nenhuma povoação, e penso que não o passou a ser, já que as instalações que lá deixámos eram muito pobres e longe de tudo.
Apesar de tudo, antes de sairmos, pusemos um grande distico em pano, com os dizeres "OFERTA DO EXÉRCITO PORTUGUÊS AO POVO MOÇAMBICANO".
Sei que entretanto um piloto da companhia de aviação que ia lá, sobrevoou o aquartelamento após a nossa partida e viu lá pessoas, até com referência a algo muito surreal: as viaturas inoperacionais que lá deixámos, eram empurradas por algumas pessoas que as conduziam...no campo de aterragem, presumo.
Abraço amigo.
tens imensas aventuras desse tempo. para quando um livro, também? :)
ResponderEliminaruma pequena edição de autor, nem isso? nós ajudamos. que tal começares com um microgravador, como aquele que eu sugeri no GR? eu tenho um do tempo do meu trabalho de campo, na faculdade, que te posso emprestar. vais gravando aos poucos e entregas-nos as mini k7 - também tenho (um 'nos' lato, eu não me importo e de certeza que há outros amigos disponíveis) para transcrição para word :) juntares 'a guerra do João' num único documento seria muito interessante.
bjs.
Margarida
Eliminaré algo que eventualmente possa considerar como interessante, mas faltam-me dados importantes, já que a Companhia que eu comandava na altura era do recrutamente local, pelo que só cerca de uma dúzia de homens eram daqui e apenas tenho contacto com três e tive com mais dois, um dos quais já faleceu e o outro perdi-lhe o contacto.
Só com a colaboração de mais pessoas isso poderia ir para a frente.
Este livro que agora me chegou às mãos é um excelente exemplo do que aqui digo.
Beijinho.
Apoiado, Margarida!
EliminarJoão
Eliminarah pois...
Abraço amigo.
João,
ResponderEliminarNeste post
http://comando-de-agrupamento.blogspot.pt/2010/08/marrupa-passaram-se-40-anos.html
há um comentário de um José Vicente que esteve na Ilha em 1973...
E aqui
http://ultramar.terraweb.biz/AntonioRamirodeOliveira_2011_06_23.htm
Está um António Ramiro de Oliveira à procura de camaradas...
E aqui
http://ultramar.terraweb.biz/00Procura/VitorSantos_2009_02_11.htm
Um furriel Vitor Santos...
Conheces algum?
João
Eliminarsó tenho contacto com o Vitor Santos que me procurou há tempos e com quem já troquei impressões e que esteve na "Ilha" antes de mim.
Deixei um comentário no blog, para o José Vicente, que duvide ele venha a ver e contactei por mail o Ramiro de Oliveira que talvez seja um cabo que lá havia e que era de Peniche. Aguardo a sua eventual resposta.
Obrigado,
Abraço amigo.
João, encontrei uma pista de aviação que parece abandonada junto ao Lugenda e com uma configuração parecida com que aparece nas tuas fotos:
ResponderEliminarhttps://goo.gl/maps/Btf56
Curiosamente, fica perto de uma terra chamada Metorica, que em menções mais antigas (das lutas contra os alemães na I Guerra) aparece como Mtarica.
Será aqui?
PS: como vês, apetecia-me imenso ajudar-te a escrever o tal livro... :D
João
ResponderEliminarnão consigo ver nenhuma pista de aviação no mapa que me indicas, mas talvez seja por ser um nabo a explorar esses mapas.
Mas a indicação de Metarica que lá está, é exacta no que respeita à distância do rio Lugenda.
Começas a pôr-me " macaquinhos no sótão" acerca do livro.
Precisamos de falar...
Abraço amigo.
Vou-te enviar uma foto por email... :D
EliminarJoão
Eliminarrecebida e agradecido.
Estou quase convencido...
Abraço amigo.
Esta é uma das vantagens que a internet trouxe e que não era de todo possível há uma década e meia: reencontrar ou, neste caso, encontrar pessoas com as quais compartilhamos percursos semelhantes. Há muitos ex-combatentes que se reúnem com frequências em almoços e jantares de confraternização. É uma realidade que preciso aprofundar. Não sei se a maioria ia para África por convicção, ideologia, ou apenas porque era coagido pelo regime. Acredito que alguns partilhassem da ideia de que "Angola é nossa!", "Para Angola, rapidamente e em força!" e demais.
ResponderEliminarUma teimosia do velho abutre que nos custou muito caro...
um abraço, querido João.
Mark
Eliminarvais encontrar uma resposta à tua questão (e penso que será a resposta mais consensual), muito em breve, num livro que a Index, do João Máximo e do Luís Chainho, vai editar.
Notícias mais concretas sobre este assunto vão surgir em breve, prometo...
Abraço amigo.
Olá Mark.
EliminarO serviço militar era obrigatório e incluía uma comissão de 2 anos em África, que por vezes durava mais porque o regresso era adiado. Esses 2 anos eram contados a partir do embarque nos paquetes, e não incluíam o tempo passado em Portugal na recruta e especialidade. O João, por exemplo, fez quase 4 anos de tropa.
O pesadelo da grande maioria dos rapazes (e das suas famílias) era chegar aos 21 anos e ter de ir para a guerra em África, para matar ou ser morto, uma guerra que não era a nossa, com a qual não nos identificávamos, e que só iria atrasar a nossa vida em muitos anos!...
Eu pessoalmente, já aos 14-15 anos pensava fugir para França antes de ser chamado... estima-se que os "faltosos", que não se apresentaram à incorporação, escondendo-se ou exilando-se, chegaram a ser 20% dos homens de 21 anos de Portugal !!!
Talvez os recrutados nas colónias, os que lá tinham nascido ou lá viviam, não sentissem o mesmo, mas a grande maioria dos continentais não ia para a guerra por convição, ou ideologia ou porque "Angola era nossa"... ia simplesmente porque não tinha alternativa!
Ainda bem que o João se deixou convencer a publicar as suas memórias da guerra colonial... é importante deixar testemunhos para que não fiquem dúvidas sobre o horror que foi a guerra colonial portuguesa!
PS: para além do que já estava publicado no blogue, o João está a escrever um enquadramento que é uma "bomba" (eu já li... eheheh) e vai acrescentar novos episódios interessantes, alguns divertidos, como o do encontro dele com o Kaúlza de Arriaga, mas outros muito dramáticos e surpreendentes...
Mark
Eliminaro João já disse tudo. É exactamente como ele diz no que respeita a ir ou não para a guerra e as motivações para a mesma, Convictos, daqueles que iam salvar a pátria, haveria muito poucos, acredita.Sobre o livro, vamos ver o que sai daqui; por ora estou deveras entusiasmado.
Abraço amigo.
Obrigado, João Máximo.
EliminarSim, que a participação na Guerra Colonial não era voluntária, eu sabia. A minha dúvida era sobre o que pensava a maioria dos recrutados na metrópole: se ia apenas por coacção ou se, no fundo, partilhava de algumas das convicções do regime. Já vi que a maioria ia mesmo "obrigado".
Ui, o Kaúlza! Isso promete! Não vejo a hora de poder ler!
um abraço a ambos!
Mark
ResponderEliminarvai ser mais rápido do que pensas...hehehe...
Abraço amigo.