Esta postagem está atrasada, pois estou sem computador (algum dia teria que ser) e estou num Pc de um amigo, a relembrar um grande economista, falecido há dois dias.
Nem sempre coincidente com os seus pontos de vista, devo reconhecer que foi Ministro das Finanças, num período tão delicado como o de hoje, para o nosso país e foi nessa altura que o FMI esteve a regular as nossas contas.
Foi també, um excelente Professor, do qual me orgulho ter sido seu aluno no antigo ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras), na qual regia na altura a cadeira de Economia Internacional, se não estou em erro; e é curioso como um homem tão íntegro se deixou apanhar, naquele tempo (estávamos na altura do PREC (Processo Revolucionáio Em Curso - para quem é mais novo) pelos facilitismos então reinantes nas Universidades portuguesas. Eram os tempos das passagens administrativas e os estudantes impunham as leis.
Passou-se um caso muito curioso com Ernâni Lopes, em que fui interveniente que não resisto a contar.
Ao findar o ano, haveria um exame clássico, mas em alternativa, os alunos poderiam apresentar um trabalho de grupo, sobre determinado ponto da matéria, que depois seria discutido e aprovado numa conversa dos diferentes participantes com o Professor; era assim em quase todas as cadeiras, e eu tinha estado muito empenhado num trabalho destes, de uma outra disciplina e tinha descurado a Economia Internacional; surgiu então um convite tentador: eu leria com atenção o trabalho de um grupo, assiná-lo-ia como se nele tivesse participado activamente e depois iríamos discuti-lo, e eu safava-me do exame. Como isto aconteceu já depois de eu ter sido desmobilizado e me faltavam muito poucas cadeiras para me licenciar, aceitei.
No dia da discussão, perane o Professor Ernâni Lopes, era notória a minha menor capacidade de argumentação, pelo que, e com toda a lógica, o Professor sugeriu que todos os outros colegas teriam 16 valores ( o trabalho estava muito bom, realmente) e que eu tivesse "apenas" 14! Eu estava feliz da vida, mas os meus colegas não aceitaram essa diferenciação e EXIGIRAM o 16 para todos: pois assim foi, fiquei com 16 valores numa cadeira, que não tinha estudado.
Agora que tanto se fala nalguns "cursos mal tirados", questiono-me quantas pessoas, nesses tempos nas mais diversas Universidades portuguesas não se licenciaram da mesma forma? E sei de casos de pessoas com cargos políticos e que agora são muito críticos do "senhor Engenheiro"...
Ai, os telhados de vidro!
Descanse em paz, Professor Ernãni Lopes.
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Grande história! :-o
ResponderEliminarDe facto EL, segundo consta, era um bom economista, mas como político fez o que pôde...
Pelos vistos agora está muito em voga olhar-se para os economistas como gurus com soluções para a crise. Onde estavam eles quando a mesma surgiu?
Enfim, é a contra-informação no seu melhor...
PS: Boa sorte com o teu PC.
Lá no meu canto tenho uma crónica de Mia Couto que também se adapta à situação de Portugal e doutros países europeus como o nosso...
Maldonado
ResponderEliminarconcordo com o que dizes; hoje em dia, a quase generalidade dos economistas, alguns deles antigos ministros das Finanças ou da Economia, não poupam críticas à política do governo. Gostaria de ver as suas teóricas resoluções postas em prática, a começar por esse incrível sujeito que dá pelo nome de Medina Carreira.
EL fazia parte do coro, é uma realidade, embora decerto se não tivesse esquecido dos espinhos que teve o seu trabalho (aliás bom) como Ministro das Finanças de Soares, salvo erro em 1993.
Abraço amigo.
My dear friend, apesar de estar em Direito, também eu tenho uma cadeira que me dá (ou deveria) uma formação em questões económicas. Cadeira essa que, como facilmente se depreenderá, não é das minhas favoritas por uma mera questão de vocação pessoal.
ResponderEliminarTivesse eu sabido há tempos dessa tua formação em Economia e não teria hesitado em pedir uma valiosa ajuda. :)
Vai sempre a tempo. Gosto muito de aprender com pessoas mais experientes. ;)
Lots of Love. ^^
Caro Mark
ResponderEliminareu não cheguei a acabar o curso; fiquei "pendurado" por duas cadeiras, uma do último ano e uma do terceiro, Estatística, que eu embirrei não conseguir tirar.
E depois a idade já era alguma e a necessidade de me tornar independente económicamente da família, levaram-ma a ir para o ensino, pois tinha habilitações, como bacharel e abandonei o estudo, por algum tempo.
Quando pretendi finalizar, alguns anos mais tarde, a reestruturação da minha faculdade tinha sido enorme e para acabar o curso teria então de fazer quase 15 cadeiras. Desisti de vez.
Aliás, devo confessar que nunca gostei de Economia; foi um curso quase imposto pelo meu Pai.
O meu sonho sempre foi a História de que tu tanto gostas.
Abraço amigo.
Ahhh Pinguim como te compreendo, eu que eu passei para fazer a estatística. Mas felizmente ao fim de três anos derrotei-a!!
ResponderEliminarTenho a certeza que terá sido um grande homem. Tal como tu próprio o comprovas. É por isso que o meu grande sonho é vir a dar aulas numa faculdade. Quero sentir que fiz algo da minha vida e é assim que me sentirei realizado. Sentir que alguém evoluiu graças a mim. Que deixei alguma coisa, que deixei conhecimento…
Um abraço.
André
ResponderEliminareu detestava a cadeira e também o professor; quando interrompi o curso para fazer a tropa e fui para África, convenci-me que no regresso o professor fosse outro, até porque já estava "entradote"; qual quê? Ali estava ele, igualzinho, eheheh.
Quanto ao Professor Ernâni Lopes, foi um excelente mestre e nada emproado como o Cavaco Silva, que entrava nas aulas como se fosse um catedrático e não passava, na altura de um simples Assistente.
Abraço amigo.
Com uma mulher não xD Com um homem claro, sou 100% gay :)
ResponderEliminarAbraço
Apesar de eu não ser nascido quando este grande senhor foi Ministro da Finanças, penso que posso dizer que seria O Homem que precisávamos neste momento à frente desse ministério. Digo isto porque já tive oportunidade de ler sobre o seu papel nas negociações da entrada de Portugal na CEE e recentemente, devido à sua morte, já me informei pelos media de outros contributos prestados ao país. Além de que revelava nas suas intervenções o conhecimento de um caminho muito definido a seguir nas contas públicas, algo que Teixeira dos Santos não tem.
ResponderEliminarDiogo
ResponderEliminarUffffff, de repente pensei que estava enganado!!!!
Abraço amigo.
Francisco
ResponderEliminarfizeste bem em referir o seu contributo, muito importante para a entrada de Portugal na então CEE.
Pertenceu-lhe grande parte do trabalhoso papel de "partir pedra", após o qual os governantes se limitam a assinar, para formalizar o acto.
Abraço amigo.
Tive oportunidade de ver e ouvir (presencialmente) Ernâni Lopes a falar em diversas ocasiões e devo salientar a sua notável capacidade de raciocínio e lucidez. Soube agora da notícia e tive muita pena...
ResponderEliminarNão querendo desviar a atenção do foco do post, não posso deixar de passar a referência ao Dr. Medina Carreira, que está para a economia como o Correio da Manhã está para a imprensa.
ResponderEliminarBlog Liker
ResponderEliminarcompletamente de acordo; e o episódio que aqui conto, tenho algum receio que seja mal interpretado.
Eu apenas quis mostrar que, naquela altura, Professores ilustres de várias Faculdades, como EL, tiveram que aceitar um clima de total anarquia académica, então reinante.
Uma democracia, primeiro que se solidifique como tal, tem que passar por diversas fases de confusão, principalmente se aparece depois de quarenta anos de ditadura.
Abraço.
Um coelho
ResponderEliminaraté nem está nada mal comparado.
Esse "iluminado" parece ser a eminência parda de coisa nenhuma. Mas quem lhe presta atenção? Tem um admirador confesso, devo reconhecer, mas que é tão patético como ele - o jornalista Mário Crespo.
É caso para dizer: olha que dois!!!!
Abraço amigo.
Foi um grande economista que ajudou na integração de Portugal na CEE, conseguiu "arrumar a casa" quando o FMI cá veio e era uma referência na economia.
ResponderEliminarRecorda-se agora o homem e lamenta-se a perda, com toda a justiça.
Pena que em vida não se tenha aproveitado mais os ensinamentos e o seu exemplo de quando foi Ministro das Finanças.
Abraço.
P.S.- estatística foi o meu calcanhar de Aquiles durante 2 anos. Arghh!!!
Miguel
ResponderEliminarreconheço toda a justiça das tuas palavras acerca de Ernâni Lopes.
Quanto à Estatística, sabes o que te digo? Acho que foi um bem eu ter emperrado ali...eu detestava a merda da Economia!!!
Enfim, se calhar, o país perdeu um excelente político, melhor do que muitos que por lá tenho visto passar e que foram meus colegas naquele velho palácio do Quelhas, o ISCEF (também conhecido por Isto Sem Cunhas É Fodido), eheheh.
Abraço amigo.
Deixou o seu contributo mas partiu cedo.
ResponderEliminarTive oportunidade de assistir a alguns seminários onde foi orador e gostava dele.
Pinguim, também tenho na minha família 2 médicos que se hoje o são devem-no a passagens administrativas desse tempo e agora fartam-se de "latir" quando se fala de diplomas obtidos aos domingos ;)
Memória curta.
Lol, tu e as tuas histórias. Com todo o respeito, já te sabia espertinho mas essa foi demais. Eu meti-me numa do género mas fui caçado, mas muitas outras vezes receberam outros boas notas à minha conta, o anjo da guarda em Inglês e Português, lol.
ResponderEliminarUns dão e outros recebem, é o que é, lol. ;)
Aqui já há internet, depois de vários telefonemas (dispendiosos, maldita PT e SAPO), discussões e intervenções eléctricas à chuva. Nem os técnicos eram nada de especial vê lá bem, nenhuma companhia conseguiu ainda o calibre da EDP nesse aspecto, lol, Segunda vem cá um da MEO. LOL
E o teu pc? Novidades?
Abraço grande
Félix
ResponderEliminarse me conheces, e penso que sim, esta história foi oportunista, concordo, mas só até certo ponto, pois eu tinha dado uma colaboração efectiva e grande no trabalho de outra cadeira, para que outros não tinham contribuído por aí além; assim foi um "troca por troca", mas senti-me verdadeiramente mal na luta pelo dezasseis, pois sabia que era imerecido e quatorze já ia além, muito além, do que era razoável. Apetecia-me entrar na discussão e dizer ao Professor que ele tinha razão e que eu não percebia "corno" daquela merda...
Quanto ao computador, entregam-me o meu ou hoje à tarde ou amanhã e são "apenas" 170 euros, vá lá, vá lá...
Vamos ver como fica, mas tenho que ter juízo e não carregar o Pc, com quase 700 gigas de filmes sacados, eheheh...
Com isto tudo, ganhei a minha prenda de Natal do Duarte, pois vai-me oferecer uma "drive" só para esse efeito.
Abraço grande.
Cream
ResponderEliminarera um Homem bom e um profissional válido, sem dúvida; embora não soubesse o que ele tinha, já tinha estranhado a sua estranha magreza e o envelhecimento precoce que apresentava nos últimos tempos.
Não és a única a ter membros da família com diplomas "facilitados" e olha que há alguns com importantes cargos que os obtiveram devido a isso.
Beijinho.
Nem foi mau de todo portanto. E sim, é um bom presente do Duarte, vaite dar jeito.
ResponderEliminarE acabei por nem falar do senhor. Não conhecia EL claro está, as políticas são coisa algo recente aqui na minha cabeça. Mas acredito no que dizes. ;)
Félix
ResponderEliminarvai dar um jeitão!!!
O Professor Ernâni Lopes, muito mais que um bom político, foi um bom economista e excelente Mestre; e claro foi importante na política de então.
Abração.
Aconteceram muitos casos desses. Conheço casos de gente que nas frequências ia ao W.C. e de lá trazia o teste feito. Enfim...No meu caso, como não sou de confiar em ninguém, sei que se baldam sempre, fazia os trabalhos eu e os outros assinavam. Estudar era uma paixão para mim e tinha orgulho nos resultados. Licenciei-me por paixão ao estudo~, por mais nada. Hoje a minha paixão mudou.
ResponderEliminarBeijinhos
Brown Eyes
ResponderEliminareu contei este caso para mostrar como, na altura, até grandes Mestres e íntegros, se viam na "obrigação" de pactuar com a situação.
Valia tudo...
Beijinho.