sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Política e políticos portugueses


" Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates, um caso de um outro governo de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora, historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.

E não é por eles serem portugueses.
Vá ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da população é portuguesa, o povo que construiu um império que se estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa atlântica, percorrendo a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão....e Austrália.
Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto com o mundo real, um esteio na classe política elitista portuguesa, no Partido Social Democrata e no Partido Socialista, baloiços de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Por quê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia se deixou levar é aquele em que as agências de Ratings, Fitch, Moody's e Standard and Poor's, todas elas estabelecidas nos Estados Unidos da América (onde havia de ser?) virtualmente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, quem precisa de inimigos? Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois que as suas tropas invadiram o seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de "assessores" (estes parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de que país eles vêm? Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs. Topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo a sua agricultura (agricultores portugueses são pagos para não produzir) e sua indústria (desapareceu) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê?
O que é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma década, entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando biliões através das suas mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é considerado "sério" e "honesto" (em terra de cegos, quem tem olho é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder (que só em Portugal, é) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai do défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.
A sua "política de betão" foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o resultado de uma inepta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses investidos que sugam o país e o seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já fecharam
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou-se em empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris. Foram encomendados Lamborghinis e Maseratis. Foram organizadas caçadas de javali em Espanha. Foram remodeladas casas particulares. O Governo de Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo a perderem o controlo e a participarem. Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político. E nisso ele é um dos melhores.
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto Comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro em termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo diplomata excelente, mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, "Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando") que criou mais problemas com o seu discurso do que o resolveu, e passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contra producentes. A Pravda entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados:
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%). Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%). Concordo com o sacrifício (1%) um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será que a economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal, 10 milhões, afectará a criação de postos de trabalho, implicando a obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no caso de Portugal, contínua) recessão. Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso. O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar. É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de ratings que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português. Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um retorno para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado com as suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os interesses de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos. Esses traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam ter sido assimilados há séculos, pela Espanha. Que convidativo, o ditado português "Quem não está bem, que se mude". Certo, bem longe de Portugal, como todos os que podem, estão a fazer. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora. Que comentário lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma classe política abominável.

Timothy Bancroft-Hinchey (director do jornal russo Pravda para a língua inglesa e portuguesa.

22 comentários:

  1. Paulo
    penso o mesmo; na generalidade concordo por assim dizer com tudo.
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  2. Concordo com muito do aqui se diz, mas acima de tudo entristece-me não ver alternativas, não ver futuro. E tenho dois filhos adolescentes.
    Bjs

    ResponderEliminar
  3. Teresa
    esse é o grande drama.
    E é por isso que acho que todas as manifestações que se promovem, as greves que se efectuam, deviam ser substituídas por tentativas de arranjar uma solução.
    Difícil? talvez; drástica? porventura.
    Mas não impossível.
    O que resolve fazer levar para a rua um milhão de pessoas? O que leva a que sectores fundamentais do nosso dia a dia paralisem e acima de tudo penalizem quem já é tão penalizado?
    Nada; a não ser protestar, pois não é isso que vai modificar as políticas agora em curso.
    O PSD quer ir para o Governo? quer e não quer, pois sabe que não fará melhor.
    A esquerda, quer a radical, quer a ortodoxa têm soluções válidas e anão apenas do tipo "bota abaixo"? Pois apresentem-nas e se forem boas eu não tenho dúvidas em apoiá-las. Mas não têm e esse é o drama do nosso tempo e principalmente dos tempos futuros.
    Beijinho.

    ResponderEliminar
  4. E, se calhar, o pior é mesmo a sensação de impotência que se vai apoderando daqueles que continuam a ser "governados" por gravatas bem-falantes que apenas sabem apregoar a mediocridade.

    ...E praticá-la!

    Por outro lado, se nos detivermos a analisar a atitude - ou o que quer que lhe queiramos chamar - daqueles que, naturalmente, estão em maioria, acabamos por concluir que, desgraçadamente, parece ter-se generalizado uma espécie de resignação bacoca que convida a permanecer integrado no rebanho, sob a tutela de um qualquer pastor democraticamente encartado.

    ...E, se nos dermos ao trabalho de vasculhar até onde permitirem os horizontes, não se vislumbra de onde poderá surgir quem seja capaz de virar tudo isto do avesso. Até porque, bem vistas as coisas, há sempre uma cenoura a acenar à nossa frente e, alegre e ordeiramente, continuamos a apreciar o engodo.

    ResponderEliminar
  5. Somos o povo do fado (= destino), não somos? Gente como o Zeca quis fazer desse fado um fado novo, que ainda hoje faz sentido.

    ResponderEliminar
  6. Bem... que grande publicação! Mas muito boa!

    ResponderEliminar
  7. Driftin'
    uma boa análise, sem dúvida.
    Eu não sou político (porra...), nem pretendo ter ideias peregrinas; mas como cidadão, claro que penso nas coisas e aflige-me a falta de soluções ou de alternativas.
    Não há hoje dúvida de que a maior parte dos governos dos países da UE têm uma escassa área de manobra para actuarem, espartilhados duplamente: pela própria UE, com a Alemanha no comando; e pelas agências económicas que pressionando as economias mais débeis da zona euro, assim atacam a nossa moeda única.
    Será que terá sido uma boa política, nós termos integrado a zona euro? Há economias muito mais pobres que a nossa na UE e que não sofrem a pressão que nós sofremos.
    Será que a nossa saída da zona euro ajudará agora a resolver os nossos problemas? Sinceramente que duvido, nesta altura.
    Mas haverá que tentar chegar à raiz dos problemas e, ao mesmo tempo que colmatamos a crise com medidas conjunturais, temos que pensar em medidas estruturais a longo prazo, para salvaguardar as futuras gerações.
    Mas não é fácil implementá-las por falta de coragem política.
    É mais fácil correr atrás da cenoura, como tu dizes, ou então, sistematicamente, combater as medidas conjunturais, sejam elas boas ou más.
    Porque não quer Passos Coelho uma crise política que lhe daria o poder de mão beijada? Para defender os altos interesses da nação? Ou porque sabe que nada tem mais a oferecer, no momento, do que aquilo que Sócrates está a fazer?
    Triste sina a nossa.
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  8. Luís
    pois quis e nessa altura fazia todo o sentido; agora, na situação em que estamos, apenas temos as suas músicas, dele e dos outros como ele, que continuam actuais; daí a minha escolha musical.
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  9. Olá Cláudia
    obrigado pela tua visita.
    Estes assuntos levam sempre a textos vastos e mesmo nos comentários, vêm à lembrança ideias que não estavam no texto.
    É esta complementaridade entre o autor do blog e o comentador que enriquece uma postagem.
    Beijinho.

    ResponderEliminar
  10. Sabes que mais? Eu acho que a generalidade e sublinho, generalidade, dos cargos políticos deveria ter limite de tempo e de mandatos a fim de assegurar a rotatividade e evitar a criação de «vícios». Quer fossem deputados, lideres políticos, PM, PR ou presidentes de Câmara. Mas ainda mais nos partidos políticos, onde tudo está infelizmente centralizado.

    ResponderEliminar
  11. Blog Liker
    não sei se resolveria as questões fundamentais; resolveria questões locais, como o caso do AJJ na Madeira e os dos Presidentes das Câmaras, que finalmente, parece ter um fim.
    Mas essa rotatividade pouco resulta nos partidos políticos, pois neles não há uma renovação de ideias; é caso para dizer que a merda fica, só mudam as moscas...
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  12. Concordo em muita coisa. O essencial sobretudo... Gosto quando se imprime uma certa marca didactica e formativa nos blogues. Parabéns.


    Stay Well

    ResponderEliminar
  13. Nelson
    essa marca existe essencialmente devida a comentários que ajudam a enriquecer as postagens.
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  14. Deixei pra ler esta publicação com tempo, agora no sábado, por desconhecer a política portuguesa. Muito elucidativa! Infelizmente grandes nações acabam por sucumbir por suas políticas (maias, gregos, romanos, portugueses, ingleses, quiçá americanos). Nas já não é tempo de impérios e conquistas - é tempo de fazer seu povo feliz, crescendo sustentável e pacificamente. Quando começarão??

    Brigado pelos parabéns, meu lindo!

    ResponderEliminar
  15. Que posso dizer que já não tenha sido dito?
    Apenas que a culpa não é só dos governantes, é também dos governados, no fundo de todos nós. Não nos esqueçamos que os governantes não caíram aqui de pára-quedas, são tão portugueses como todos nós.
    Dizer que a nossa história desde 1640 tem sido, de uma maneira geral, sempre em declive?
    Dizer que para sairmos do atoleiro em que estamos metidos, temos de ganhar uma nova mentalidade, deixar a nossa típica mentalidade portuguesinha algures por aí?
    Enfim, que posso mais dizer?
    Que estou desiludido? Que estou revoltado?

    ResponderEliminar
  16. Edu
    boa pergunta, quando começarão?
    Começaram foram as celebrações pessoais para ti: hoje aniversário de "casamento" e amanhã, aniversário de nascimento.
    Boas comemorações.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  17. Lear
    que mais podes dizer? Infelizmente, pouco ou nada.
    E quanto à desilusão e à revolta, estás tudo menos só, pois estamos todos!!!
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  18. Retrato HD na actualidade.

    PS: só "gente fina" na foto, dass!

    ResponderEliminar
  19. Catso
    HD and Large Screen...
    Gente fina só se for o Felipão e a Nossa Senhora de Caravaggio.
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  20. LOL, Pois! Não sei que dizer

    São as verdades dos factos

    Abraço

    ResponderEliminar

Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!