segunda-feira, 20 de junho de 2011

"Dzi Croquettes"


“Não somos homens, nem mulheres, somos gente.”

Este documentário, realizado por Tatiana Issa e Raphael Alvarez, em 2009, resgata a trajectória dos actores/bailarinos que se tornaram símbolos da contracultura ao confrontar a ditadura usando a ironia e a inteligência. Os espectáculos revolucionaram os palcos com performances de homens com barba cultivada e pernas cabeludas, que contrastavam com sapatos de salto alto e roupas femininas. O grupo tornou-se um enorme mito na cena teatral brasileira e parisiense nos anos 70.
A palavra irreverente já existia nos dicionários, mas atingiu um novo grau de entendimento depois da criação do grupo Dzi Croquettes.
A década de 70 foi de rompimento, de mudança, de fugir de padrões e buscar o novo, o desconhecido. A contracultura abriu espaço para questionamentos sobre a realidade, a ruptura ideológica e a transformação social. Nesse contexto um Americano desembarca no Rio de Janeiro: Lennie Dale unia a bossa nova a um swing do jazz novaiorquino; o encontro de 13 homens, 13 talentos. Surgia então o furacão que iria abalar as estruturas sexuais das pessoas, abrir portas, quebrar tabus, mudar a cena teatral Brasileira e Internacional. Surgia então os Dzi Croquettes.
O grupo revolucionou os palcos cariocas com os seus espectáculos andróginos. Desobedientes e debochados, decidiram desrespeitar a ordem do regime militar com inteligência. Os sapatos de salto alto e as roupas femininas propositadamente exibiam as pernas cabeludas e a barba cultivada pelos homens do grupo. O primeiro show, em 1972, foi um grande sucesso, apesar de ter sido banido pelo Serviço Nacional de Teatro. A comédia de costumes era um deboche ao sistema de ditadura e à realidade brasileira. O grupo também fez muito sucesso na Europa, especialmente na França, onde levou plateias parisienses à loucura.
Esse documentário conseguiu reunir os integrantes do grupo, assim como amigos e admiradores para uma bateria de entrevistas exclusivas sobre o que é ser um Dzi Croquettes, a formação, os textos, a censura, o sucesso até a desintegração do grupo, mas nunca da ideia. O documentário conta com depoimentos de amigos e artistas consagrados no cenário artístico brasileiro e internacional como: Liza Minnelli (grande admiradora e amiga do grupo), o director e coreógrafo americano Ron Lewis, Gilberto Gil, Nelson Motta, Marília Pêra, Ney Matogrosso, Betty Faria, José Possi Neto, Miéle, Aderbal Freire Filho, Jorge Fernando, César Camargo Mariano, Elke Maravilha, Cláudia Raia, Miguel Falabella, Pedro Cardoso, Norma Bengell, entre tantos e ainda os integrantes originais do grupo: Claudio Tovar, Ciro Barcelos, Bayard Tonelli, Rogério de Poly e Benedito Lacerda, os únicos ainda vivos. Os restantes oito faleceram, quatro devido à SIDA, três foram assassinados e outro devido a um aneurisma.
Mais de 45 depoimentos colhidos no Rio de Janeiro, Nova York e Paris contam a trajectória desse grupo que influenciou suas carreiras e suas vidas em uma trajectória fascinante recheada de sucessos, fracassos, assassinatos, grandes voltas por cima e a recuperação de uma parte da nossa história que não deveria jamais ser esquecida. A busca por novos valores e novos canais de expressão – marcas registadas do movimento de contracultura – e dos Dzi Croquettes!
Dzi Croquettes é hoje o documentário mais premiado do Brasil.



O Dzi Croquettes era formado pelos seguintes artistas: Lennie Dale, Wagner Ribeiro, Cláudio Tovar, Cláudio Goya, os irmãos Rogério e Reginaldo de Poly, Bayard Tonelli, Paulo Bacellar, Benedictus Lacerda, Carlos Machado, Eloy Simões, Roberto Rodrigues e Ciro Barcelos. Essa foi a formação original do grupo. Depois, nomes como Dario Menezes, Fernando Pinto e Jorge Fernando farão parte da companhia.
De todos eles sobressaem dois nomes: Wagner Ribeiro, o mentor da formação do grupo e o bailarino americano Lennie Dale, um extraordinário executante que veio a revolucionar o conceito da música brasileira, com a introdução da dança da bossa nova e que foi uma das pessoas que mais influenciou o início da carreira de Elis Regina.

20 comentários:

  1. Muito interessante! Obrigada pela recordação deste grupo revolucionário:))

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  2. Justine
    como eu gostaria de ter assistido a um espectáculo destes grandes artistas...
    Beijinho.

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  3. Bem, eu li isto tudo, muito bonito e tal mas os croquetes não me saem da cabeça. Lamento.:)

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  4. Sara
    agora puseste-me a rir...
    Mas que croquetes? aqueles que se comem, com as empadas e os rissóis?
    Beijinho.

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  5. Aviso sobre conteúdos? Que merda é esta pah! Queres ver que o novo governo andar a meter o dedo na blogosfera ;)


    Beijos

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  6. Blue
    não, ainda não é o novo governo, mas podem ser influências...
    Beijinho.

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  7. Isshhhhhhhh.... afinal foi opção tua :)
    (O vídeo é hilariante!)

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  8. Blue
    eu não disse que podiam ser influências?
    Tinha a certeza absoluta que iria ficar assim, e antecipei-me.
    Assim posso pôr o que quero sem "espartilhos"...
    Sim, o vídeo é mesmo hilariante,
    Beijinho.

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  9. Tatiana Issa,uma das realizadoras desse documentário, é filha de um dos integrantes do grupo.
    Abraços.

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  10. Lobinho
    sim, eu sei, aliás ela aparece no filme ainda criança; mas parece que é filha de um membro que não actuava. produtor ou coisa assim.
    Abraço amigo.

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  11. Já vi e é de facto extraordinário. Um exemplo de humanidade. Bem que merece ser divulgado. Abraço

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  12. X
    e numa altura tão difícil, nomeio de uma ditadura.
    É um documento brilhante e que mostra um grupo de alto valor artístico.
    Abraço amigo.

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  13. António
    sem dúvida; passou aqui em Lisboa no último Festival de cinema LGBT, mas eu estava em Belgrado e não assisti.
    Só agora o vi e achei maravilhoso.
    Abraço amigo.

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  14. Olá Pinguim, felizmente entrei agora de férias da faculdade e já pude finalmente voltar ao meu papel activo nos blogs tendo sido o teu um dos primeiros que quis visitar. Reparei de imediato que incluíste o aviso para adultos e apesar de inicialmente surpreendido, rapidamente compreendi os motivos que te levaram a faze-lo.
    Quanto ao post em questão, eu não conhecia este grupo de homens mas parece-me que foram de uma coragem e uma ousadia tremenda para a época e certamente tiveram de lidar e enfrentar diversos mentecaptos. Aliás o facto de três deles terem sido assassinados, parece-me tudo menos coincidência.
    A frase logo de inicio define logo de uma forma extremamente inteligente quem eles eram. Gente, pessoas e seres humanos.
    Um abraço.
    Ps: Algum avanço nas animações que te dei? :p

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  15. André
    obrigado por este teu comentário e espero que tenha tido o sucesso esperado, a trabalheira que tiveste com as tuas actividades académicas.
    Passando por cima da mera formalidade verificada no início do meu blog, a qual nada altera o seu conteúdo, apenas me dá um maior à vontade para publicar algum pequeno apontamento que de outra forma não seria possível, é sobre o fabuloso grupo dos Dzi Croquettes que é importante falar.
    Esta associação de 13 homens e outros mais que os ajudaram a formar e manter o grupo, não pode ser identificada como um simples grupo de travestis, pois foi muito mais que isso.
    Foi uma forma, maravilhosamente interpretada, de lutar contra uma situação asfixiante que a vida cultural (e não só) brasileira vivi nessa altura sob a ditadura política.
    Aliando uma concepção verdadeiramente notável do que é um espectáculo, à peculiar sensibilidade de quem, sendo homem, tem uma sexualidade perfeitamente assumida como diferente, o que na altura é ousado, no Brasil ou em outra parte, estes homens deliciaram plateias com números de pura magia e humor musical.
    Como eu teria adorado presenciar ao vivo a um espectáculo assim. Claro que a intuição de Wagner Ribeiro e o extraordinário talento do "importado" Lennie Dale foram mais que meio caminho para a chave do sucesso.
    É pena o segundo vídeo ser um pouco longo, o que retira, estou certo, muitos leitores do blog ao prazer de conhecer melhor, através de Lennie Dale o que foram estes Dzi Croquettes.

    O teu CD continua à espera de visionamento, junto a tantos outros, pois ando a correr a ver os muitos filmes que quase me enchem o disco, a fim de libertar algum espaço, devido a ser um "downloader" compulsivo; não sei se tenho tempo de ver, até morrer, tanta e tanta coisa que tenho em "stand by"; mas não vai demorar muito tempo para ver algum dos filmes que muito gentilmente me trouxeste.
    Abraço amigo e desejo de boas e merecidas férias.

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  16. Não conhecia! :) Obrigada pela sugestão ****
    Bom fim-de-semana (esta semana felizmente para mim já acabou!)ehehe

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  17. Olá Di
    tenta ver que é fabuloso.
    Bom fim de semana alargado para ti.
    Beijinho.

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  18. Sérgio
    não parece, é mesmo muito interessante.
    Abraço amigo.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!