quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Lisboa gay que eu conheci


Ainda na sequência da minha postagem sobre o livro “Homossexualidade no Estado Novo”, prometi, na altura, que iria dar o meu testemunho sobre a minha vivência desses tempos, tendo como referência obviamente apenas os últimos anos da ditadura, que eu passei em Lisboa, como estudante universitário, de 1962 a 1972 (ano em que parti para a guerra colonial).
Já deixei uma primeira abordagem, centrada numa figura muito especial da vida homossexual lisboeta desse tempo, a Bernarda, e num célebre local, onde se juntava uma enorme amálgama de personagens, alguns felinnianos e que era a Cervejaria Reymar, na rua das Pretas.
Hoje vou falar, não de pessoas, e muitas seriam as que poderia citar, assumidas, umas mais, outras menos, que pululavam por essa Lisboa tão interessante desses tempos, mas sim de locais, que conheci mais ou menos bem, e que traduziam toda a vida gay lisboeta de então.
Curiosamente, quando vim estudar para cá, para frequentar Económicas, perto de S. Bento, o meu Pai arranjou-me um quarto numa casa de uma Senhora muito bem (daquelas com um nome muito grande) e que para suavizar a questão de ter necessidade de alugar quartos, nos tratava por “sobrinhos”; sucede que essa casa, onde estive os meus primeiros 4 anos lisboetas ficava, e fica, pois ainda lá está, numa das ruas mais conhecidas da vida gay de Lisboa, a Rua de S.Marçal. Não havia ainda nenhum bar ali, mas havia por perto, pois toda a zona cerca do Príncipe Real, foi onde começaram a a abrir alguns dos primeiros bares.
Mas os primeiros bares que conheci, com frequência gay, foram o “Barbarella”, no Bairro Alto e o “Insólito” do actor João d’Ávila. Depois conheci e frequentei com alguma assiduidade o bar gay de Lisboa mais conhecido internacionalmente e que ainda hoje está em funcionamento: o célebre “Bric-a-bar”, na Rua Cecílio de Sousa, ainda propriedade de quem o abriu, o José Filipe Vilhena, que mais tarde o passou a um dos seus preferidos amantes, o belo António; o Zé Filipe acabou por ser anavalhado na sua casa por rapazolas que ele lá levava e naquele bar, originalmente muito bonito, com sofás de veludo e de espelhos dourados, pontuava à porta a célebre Emília, que era peremptória nos seus critérios de admissão…
Depois conheci um outro bar, o “Bar Z” que veio a tornar-se o “Harry’s Bar”, no cimo do Elevador da Glória, e que era um “must”: abria quando os outros fechavam e ali havia de tudo: gente bem, chulos, soldados, artistas, comia-se caldo verde e havia porrada noite sim, noite não. A música que tocava era essencialmente fado, e essencialmente Amália, por predilecção do dono, o famoso Joãozinho Ferro, mais conhecido por “Joaninha”, pois andava quase sempre vestido de mulher.
Outra vertente foi um bar chamado primeiro “Gato Verde” e que depois durante muitos anos se chamou “Memorial” e que foi o primeiro bar onde se concentravam muitas lésbicas; eram famosas as matinés dançantes, ao domingo, também chamadas “Bailes dos Bombeiros”, em que se dançava slow – foi a primeira vez que vi e dancei em público dessa forma, com outro homem. Aí conheci um empregado/porteiro, chamado Armando Teixeira, um tipo porreiro e cheio de iniciativa que resolveu investir num bar próprio, e que eu fui acompanhando desde as obras: ainda é hoje um dos mais conhecidos locais gay de Lisboa – o “Finalmente”, com os seus célebres shows de travesti (A “Dança das Bruxas” da Lídia Barloff esteve em cena três anos e levou àquele bar muita gente heterossexual).
Para a classe mais alta, um bar bastante frequentado era o “Ad-Lib”, perto da Av.da Liberdade e célebres eram também as madrugadas do “Galo”, à entrada do Parque Mayer.
Não falo dos recentes, pois esses são por demais conhecidos.
Mas gostava de referir dois restaurantes com uma grande frequência gay, ambos no Bairro Alto: a “Baiúca”, na rua da Barroca (um beijinho á velha amiga Júlia) e o “Alfaia”, onde uma empregada fabulosa, a Odete era rainha e senhora (ficou rica, segundo consta).
Nos cafés, três referências de peso: A “Brasileira” no Chiado e no Saldanha, o “Monumental” e principalmente o “Monte Carlo”, onde o actor Paulo Renato reunia a sua corte de jovenzinhos.
Duas últimas referências: a primeira para as saunas, a mais conhecida das quais era a “Lys Sauna”, mesmo ao pé da casa do Primeiro Ministro, na Calçada da Estrela, onde muita gente não ia apenas à procura de sexo, mas também de dormir barato, pelo que era também conhecida como a “pensão Lys”. Havia uma outra na Infante Santo e outra, “Catacumbas”, muito kitch, perto da Conde Redondo.
A outra referência é para as zonas de engate, desde o celebérrimo Parque Eduardo VII, até ao Campo Grande, o Cais de Sodré e alguns urinóis célebres como um que havia no Rossio, outro na Praça do Comércio, o do Café Gelo, o do Campo Pequeno e o do Campo das Cebolas.
Enfim, todo um mundo!!!

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59 comentários:

  1. Recordar é sempre muito bom, João!



    Beijinhos

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  2. Pat
    estas recordações estão muito presentes em mim, pois foi todo o desabrochar de uma vida nova, até então proibida.
    Beijinho.

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  3. é com estes teus textos que eu começo a ler avidamente, que me apercebo que devo REITERAR, tu tens que escrever um livro João!!! És digno de memória
    e celebração!

    Fico com uma sensação, espero não ser mal interpretado...mas fico com a sensação que antigamente o "mundo" era mais gay, hoje é mais "bicha"...é a impressão que fico.

    Aquele abraço!!

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  4. MrAmribeiro
    e sabem muito bem a mim, recordá-los.
    Abraço amigo.

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  5. Ima
    percebo o que queres dizer e concordo contigo. Era mais difícil ser-se gay, mas quando se era, vivia-se essa vertente da vida com muita coragem, determinação e não com o folclore, e as "coisinhas típicas das bichas" (não lhes chamo bichisses), dos dias de hoje.
    Era muito mais interessante, posso assegurar-te.
    Abraço amigo.

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  6. Gosto sempre muito destes teus relatos de uma outra era... imagino mesmo que a vivência era precisamente mais intensa por ser meia clandestina. Por outro lado, os próprios anos a que te referes já eram mais interessantes... em todos os aspectos... para além, imagino, de todo um percurso individual, de jovem universitário a descobrir um mundo novo na capital. Todos nós temos recordações de um tempo de outras vivências mais ou menos clandestinas, em que tinhamos orgulho de conhecer certas pessoas, de frequentar certos locais. Falo por mim, de outros locais que nada têm que ver com a homossexualidade. Não sei se viste o Midnight in Paris do Woody Allen, é um pouco essa mesma sensação de que nessa altura é que havia mais glamour, rrsss. Os jovens de hoje, quando falarem da sua juventude daqui a uns anos, irão recordar a sua juventude com uma aura especial na mesma e escrever em qualquer lado que nessa época, era tudo mais especial :) Tens um dom de escrever memórias que estamos todos sempre a te dizer, e até penso que te daria gozo, escrever um livro sobre as mesmas, como as da guerra colonial que são espectaculares. pensa nisso. Bejinho

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  7. Só reconheci o Brasileira, que tb há cá no Porto ;) Kiss*

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  8. Eva
    eu tive uma vida intensa, durante esses anos vividos em Lisboa e mesmo depois quando regressei no princípio de 75. Mas não foi só neste capítulo, antes pelo contrário, pois esta minha vida gay era um complemento natural da minha maneira de ser, mas mais importante era todo o meu viver estudantil, de amizades com o pessoal da Covilhã que aqui estudava como eu e a cultura, muita cultura.
    Prometo um dia falar dessas vertentes, algumas das quais se cruzam com esta que aqui retrato, não só pelo facto da localização da minha primeira habitação lisboeta, como também por a nossa tertúlia covilhanense ter como ponto de reunião, por assim dizer, diário, o café Monte Carlo, um dos mais conhecidos de Lisboa e que aqui também refiro.
    E depois há as primeiras viagens: Paris, Londres, Madrid, Benelux e que vão dar também origem a uma postagem, futuramente.
    Beijinho.

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  9. Lyn
    estamos a falar de coisas e sítios, de há cerca de 50 anos atrás e poucas permanecem, como é o caso da Brasileira.
    As minhas recordações do Porto, também as há, claro, mas não tantas (nunca aí vivi, embora nas décadas de 80 e 90 aí tivesse ido inúmeras vezes, quer em trabalho, quer por motivos sentimentais) e claro que recordo a vossa Brasileira.
    Beijinho.

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  10. Com este teu memorial fizeste-me regressar ao meu passado já lá tão longe... Tive uma experiência de vida nocturna muito diferente da tua, as minhas tertúlias realizavam-se em casa de amigos ou na nossa.
    Mas fazia algumas coisas "revolucionárias" para a época, a coberto do horário das aulas na antiga Faculdade de Ciências (Escola Politécnica) ia ao cinema sozinha sem sequer a família saber...uma pobreza de situação comparada com a tua liberdade:):):) mas era tão bom!
    Boas recordações de um tempo que não quero de volta mas que tinha algo de provocador, de misterioso, de encantamento...
    Abracinho meu!

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  11. Concordo com Meia Noite e Um Quarto no que respeita ao livro, devias pensar nisso

    Abraço

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  12. Quando eu for a Portugal você vai me fazer um "tour" por esses recantos e me contar suas histórias? Eba!! :-)

    Mandei email sobre o Reader.

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  13. Estou admirado! Nunca pensei que já nesses tempos houvesse tantos espaços exclusivamente lgbt... Mas pronto certamente devido a ser a capital do país e uma das capitais da Europa. É engraçado reparar como essa vida já existia há 30 anos e só nos tempos mais recentes é que se começou a aceitar melhor a homossexualidade.
    Abraço ;)

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  14. PS: Boa música de fundo. Variações rocks eheh

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  15. My dear, concordo com o Meia Noite e Um Quarto: deverias escrever um livro. Um livro de memórias. Escreves muitíssimo bem e seria uma mais valia para todos nós. A mim, pessoalmente, enriquecer-me-ias com tantas memórias da minha cidade. Tempos e lugares que não conheci e que são dignos de memória futura. :)

    Abraço.

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  16. Maria Teresa
    quantas vezes ia eu almoçar ou jantar à cantina da Faculdade de Ciências! Afinal, bastava subir a minha rua e o portão era mesmo em frente; se calhar por lá nos cruzámos...
    Esse tempo, como muito bem dizes, ninguém deseja de volta, mas fazia-nos ser audazes, soltos e felizes.
    Sabes o que é ter um cão da polícia de choque atrás de nós após uma manifestação contra a guerra do Vietname, junto à embaixada dos EUA, na Duque de Loulé? Fez-me correr bastante, mas agora faz-me tão bem recordar isso.
    Essas "transgressões" eram tão saudáveis, muitas delas filhas do Maio de 68 em França.
    Beijinho.

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  17. Sérgio
    não está nos meus planos, mas sem falsas modéstias, já vi por aí livrecos de jogadores de futebol, actores de telenovelas e de outras pessoas do género, que, valha-me Deus...
    Abraço amigo.

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  18. Edu
    embora muitas delas não existirem mais, terei o maior prazer em ser o teu cicerone, nesta cidade maravilhosa.
    Obrigado pelo mail.
    Beijo.

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  19. Ruy
    não é que houvesse muitos, mas estavam bastante disseminados; e ao contrário de outras capitais, este sector da "comercialização" de espaços gay, não evoluiu muito; abriram imensos sítios que fecharam pouco tempo depois. Não é um sector muito apelativo para se investir, embora hoje em dia, com a abertura da sociedade ao mundo GLBT e o relativamente alto poder de compra das pessoas que o compõem, esteja a mudar.
    Há muitas multinacionais a investir junto do mundo gay e disso são exemplo revistas, viagens, hotéis, etc.
    A música é de um fabuloso ser humano, que desafiou a sociedade portuguesa com uma imagem e com uma música completamente inovadoras - António Variações! Infelizmente também não se coibia de outros excessos públicos a que eu, como tanta outra gente assistia e que o levaram à morte tão cedo: afinal, o corpo é que paga...
    Abraço amigo.

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  20. Mark
    memórias todos temos; eu imagino-te com a minha idade a escrever memórias - sucesso garantido.
    Abraço amigo.

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  21. E continuar com esta escrita encantada é muito bom de se ler:) Tempos dificeis com sorriso nos dedos! A-D-O-R-O!!!

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  22. Lótus
    gostei muito dessa tua expressão "tempos difíceis com sorriso nos dedos".
    Beijinho.

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  23. Lyn
    não percebi o "o quê", hehehe...
    Two kisses.

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  24. Apesar de mais nova recordei alguns momentos passados no Memorial e Finalmente e até me emocionei porque fez referência ao José Manuel Rosado de quem me tornei amiga porque fomos vizinhos.

    Abraço

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  25. António Variações, lembro-me bem da primeira vez que o vi, no programa do Julio Isidro, Passeio dos Alegres, não foi? Adorei aquela irreverência e lembro-me que o meu pai fez uns comentários sobre ele pouco abonatórios. Gosto de gente que enfrenta os outros quer pela maneira de pensar, quer pela maneira de se apresentar, sem temer as opiniões negativas. Enfim...Vamos então comentar o post:
    ...daquelas com um nome muito grande, nome grande era sinal de gente de bem. Resumiste a Lisboa gay daquele tempo e um pouco da actual, a tua Lisboa. pinguim já te disse que admiro quem não se esconde, quem mostra a sua natureza, sem medo e agora pergunto-te quando assumiste o facto de seres gay? Não deve ter sido fácil, tanto que não é que há pessoas que nunca assumem.
    Beijinhos

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  26. Gosto sempre de ler estes teus textos que nos fazem viajar um pouco no tempo para nos enquadrarmos numa cultura diferente. Agora com a difusão da internet essas formas de conhecer o mundo gay, mudaram significativamente. Pessoalmente só fui a um local oficialmente gay meia dúzia de vezes sendo que os meus amigos/as hetro estavam mais curiosos para ver como era do que eu. Quando não namorava as pessoas gay que conheci foram quase todas pela net onde tudo se torna mais prático mas onde certamente se perde um pouco da graça. :)
    Um abraço

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  27. Olá Rainbow
    obrigado pela tua visita; fui cuscar o teu blog, que me parece bastante interessante, mas está um pouco parado, hehehe...
    Se conhecias o Memorial e o Finalmente, decerto conhecias o Armando, de quem fui bom amigo, e que já não está entre nós; aliás como o José Manuel Rosado, que foi quanto a mim o melhor travesti português de sempre, devido a não querer transformar-se numa mulher, mas sim um travesti burlesco, fantástico. Vi-o actuar variadíssimas vezes e assisti à "Dança das Bruxas" umas 3 vezes; que pena não ter ficado nenhum registo desse espectáculo, bom em qualquer parte do mundo.
    Beijinho.

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  28. Mary
    sabes que uma pessoa assumir-se como gay, no final dos anos setenta do século passado, não era fácil, principalmente quando se pertence a uma família muito tradicional, e muito arreigada aos valores morais e religiosos.
    Foi preciso alguma coragem, mas tudo correu bem; um dia eu conto...
    Mas, uma coisa é certa: o mais importante, mesmo mais importante do que "sair do armário", é aceitar-nos completamente a nós próprios - esse é o ponto fulcral.
    Beijinho.

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  29. André
    claro que o mundo actual fez mudar totalmente a vida gay; hoje estamos no campo do virtual e não se conhecem as pessoas tão bem, e cara a cara como dantes.
    Por outro lado, quem não me conheça, poderá pensar ao ler este texto, que eu fazia da vida gay, o centro do meu viver, o que é um enorme erro.
    Nesse período, de cerca de 10 anos, eu vivi intensamente a Vida, em todos os sectores e a parte sexual nunca foi exagerada, nem devassa; mas ao longo de 10 anos, conhece-se muita gente e muitos lugares - são essas referências que aqui deixo.
    Mas não deixava de ir ver um bom filme, bom teatro, ballet, excelentes concertos e óperas, por uma ida a um local gay. E os meus amigos de então, eram todos heterossexuais, a maior parte deles, conterrâneos meus.
    Hoje, a vida de bares, saunas e outros locais gays não me dizem absolutamente nada!
    Apenas, lá fora, vou beber um copo a um sítio ou outro, para conhecer o ambiente.
    Abraço amigo.

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  30. pinguim tens toda a razão, o fundamental é aceitarmo-nos, acertarmos as nossas qualidades e os nossos defeitos, a nossa vida. Isso é fundamental para sermos felizes. Há tanta gente a tomar neste país antidepressivos e a cura está dentro delas. Beijinhos

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  31. Mary
    o problema é que continua a haver muita gente que prefere viver segundo as normas sociais, sem se preocupar com a sua felicidade.
    Um poucochinho de egoísmo não é defeito e faz muito bem.
    Beijinho.

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  32. pinguim aí está o mal. Sofre-se ao não se seguirem as normas sociais (cá para nós, que normas? Enganar é lá norma que se tenha? É o que eles fazem.), não conseguem aceitar pessoas que têm a coragem de se assumirem, sem artifícios,só não as destróiem porque elas têm muita força mental mas, conseguimos ser felizes. As pessoas invejam-nos e temem-nos ao mesmo tempo. Já te apercebeste disso?
    Beijinho.

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  33. Mary
    claro que sim.
    Eu tive um exemplo disso, esta semana, quando publiquei o post "Finalmente" sobre o meu reencontro com o Déjan; naturalmente era um post que mostrava a nossa felicidade. Logo surgiram comentários anónimos muito baixos, que não se manifestam noutras postagens e que eu estou certo nem sequer serão homofóbicos, mas sim de homossexuais com problemas mal resolvidos na sua vida pessoal e que assim mostravam a sua inveja.
    Beijinho.

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  34. Eu acho que o mundo seria muito melhor se cada um atendesse a sua própria vida e deixasse de fiscalizar a vida dos outros. Voltando ao post, de quantos locais enumera eu conheci o Harry's no B.Alto, também sendo estudante aí em Lisboa.
    Não é mau lembrar e partilhar lembranças. Talvez algum dia nos queira contar algo da sua experiência na guerra colonial, embora sei que muita gente gosta de esquecer. Abraços

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  35. António
    já está, bastantes certezas, mas 2 ou 3 dúvidas...
    Abraço amigo.

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  36. Caro Kaplan
    eu tenho essa história contada aqui no blog, numa rubrica que denominei "A tropa cá do João".
    Como a maior parte dessa saga está numa parte desaparecida do blog, que depois recuperei, a sua apresentação está um pouco confusa. Os 5 primeiros episódios só tenho os links, que te enviei agora por e-mail; e junto vão as datas em que podes ver as restantes partes aqui no blog.
    Espero que gostes.
    Abraço amigo.

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  37. YeuxdeFemme
    e eu fico muito satisfeito por isso.
    Beijinho.

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  38. E de Março de 62 (já era estudante universitária)...muitas vezes desci correndo o Jardim Botânico à frente da polícia de choque... e os duches com tinta azul?
    Abracinho meu!

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  39. Maria Teresa
    eu cheguei para o ano lectivo 62/63. Em Março ainda não estava cá, mas estava ao corrente de tudo.
    Eram tempos fabulosos, não eram?
    Beijinho.

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  40. Caramba! Podes dizê-lo... éramos mas não mal educados...
    Chuac, chuac (hoje aprendi esta...)

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  41. Maria Teresa
    nós éramos a geração de sessenta, não te esqueças...
    Chuac, chuac.

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  42. caríssimo, já tive oportunidade de te dizer o quanto gostei deste teu texto. aliás, como acontece com a maior parte dos textos que reflectem as tuas vivências . temos a sorte de te ter por amigo, também por isto: por teres vivido, por teres memória, e por a partilhares connosco.
    este teu 'roteiro' pela Lisboa gay de outras épocas é precioso. e pela maneira como escreves, dá para perceber que foste uma testemunha directa de um tempo que, no mundo de maiores facilidades que inegavelmente é o de hoje, sabebem recordar, e até para ilustração dos nossos amigos mais jovens (por definição, a juventude acha sempre que o mundo tem a sua idade).
    gostei muito do desenho, como já te disse, e achei, mais uma vez, a escolha musical perfeitas. até por uma certa história que me contaste ao telefone eheh
    abração. e, please please, go on :)

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  43. voltei, porque estive a ler os comentários, e gostei bastante desta frase que escreves numa resposta à Maria Teresa:
    "Esse tempo, como muito bem dizes, ninguém deseja de volta, mas fazia-nos ser audazes, soltos e felizes."
    Acho a frase felícíssima, traduz na perfeição um sentimento que, tenho a certeza, é partilhado por muita gente.

    é curioso, porque nós os 2 hoje somos praticamente da mesma idade, mas eu nasci um bocadinho depois (no ano que que vieste para Lisboa, precisamente), e por isso cheguei tarde a este tempo, mas por uma questão geracional, por ser o tempo que veio mesmo antes do meu, desperta-me muita curiosidade e interesse.
    além de que defendo sempre que quanto mais conhecemos o passado melhor compreendemos o presente. até nestas histórias do meio gay isso é verdade.
    mais um abraço

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  44. Miguel
    a Lisboa desse tempo era uma cidade plena de interesse em variados sectores.
    O país era muito mais macrocéfalo que hoje, a vida nos centros populacionais da província e mesmo do Porto era pouco activa (sob o ponto de vista cultural e de "animação social" e era em Lisboa que tudo acontecia.
    Tive a sorte de "beber" essas fontes, entre as quais a da vida homossexual, que embora menos visível que hoje, existia verdadeiramente.
    E eu não falo, porque nunca frequentei, as célebres festas homossexuais da alta sociedade que eram muito badaladas e com alguns escândalos`à mistura.
    E a década de sessenta foi riquíssima em acontecimentos mundiais com imensas repercussões principalmente nos meios intelectuais e universitários: a guerra do Vietname, o Maio de 68 em França, a fabulosa música desse tempo (Beatles, R.Stones...), o movimento hippie e as suas concepções de amor livre, enfim, ter 18 anos nesse tempo era uma maravilha e eu aproveitei tudo, em todos os aspectos, naturalmente com incidência na questão homossexual.
    E depois era aquela aura de alguma clandestinidade que se vivia e que ainda punha mais interesse em tudo.
    Eu vou procurar, com tempo, desenvolver alguns outros tópicos desta época, pois desenvolvidas as questões da homossexualidade e da guerra colonial, outras interessantes haverá.
    Abraço amigo.

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  45. Miguel
    já te tinha dito e ontem na nossa conversa voltei a repeti-lo, a caixa de comentários, não para todas as postagens, mas para algumas do género desta, é uma forma de trocar impressões que são tão ou mais importantes que o próprio texto. Como sabia os comentários que por aqui havia te disse que gostava que viesses aqui, e não te limitasses a ler o texto.
    Ainda bem que o fizeste,pois fizeste-me soltar a língua.
    Bom domingo, pois o sábado está a ser óptimo: um fartote de bom (mais que bom) ténis e ainda vai começar uma meia final feminina e são duas e meia da manhã, mas este EU Open está-me a encher as medidas. Grande Djokovic!!!
    Abraço amigo.

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  46. Adoro, Adoro, Adoro *.*

    Devias escrever um pedaço de história todas as semanas.

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  47. Tiago
    o teu entusiasmo é muito compensador.
    Qualquer dia vai haver mais um post de "histórias".
    Abraço amigo.

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  48. Mas que bem :)

    Tens de contar mais histórias da vida gay antigamente :)

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  49. Olá Filipe
    em Julho escrevi outro post sobre este assunto: "A Bernarda".
    E quem sabe se não volto a escrever....
    Abraço amigo.

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  50. Pegando na resposta que deste ao Filipe, só te posso dar força para que o faças.
    É quase como o meu avô a contar-me as suas histórias de quando foi prisioneiro de guerra na Índia, mas neste caso do mundo Gay :)

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  51. Tiago
    sobre o mundo gay já está; mas há episódios relacionados com isso muito saborosos...
    A ver vamos...
    Abraço amigo.

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  52. Pinguim já comprei o livro Homossexualidade no estado novo :)

    vou começa-lo a ler :) Gostei bastante do Post. Nota-se um misto de nostalgia no teu discurso, e a forma como ves as coisas. Pensa que daqui a uns anos seremos nós esta geração mais jovem que irá ficar assim, nostálgica.

    Cá no Porto já fecharam, o Boys, o Moinho, caracteristicos da decada de 90. Esta geração só se lembrará do Lusitano, Zoom ou Pride... Sinais dos tempos...

    Lembraste da conversa que tivemos sobre a importancia da partilha do conhecimento entre diferentes gerações? É exactamente por isto mesmo!

    A nostalgia só é eficaz quando partilhada :) Parabens :)

    Grande abraço

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  53. "Porco espinho"
    espero que gostes do livro, que também traz referências ao Porto, claro...
    E que depois faças uma apreciação no teu blog.
    Eu ia muito ao Porto, já nos anos 80 e o "Moinho de Vento" sempre foi o meu sítio gay de eleição, antes das modernices que depois lhe fizeram.
    Ia também a uma discoteca perto do silo auto da Passos Manuel...(Bustos, seria?) e claro que conhecia muito bem o Castelo do Queijo, hehehe...
    Abraço amigo.

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  54. Deixa-me fazer algumas correcções: o primeiro bar gay a abrir foi o Z depois o Bric-a-bar creio que em 67 ou 68, o Zé Vilhena não foi anavalhado, quem foi, foi outro dono bastante mais tarde, o Artur, o António foi amante e depois dono do Bar e morreu com sida, depois voltou ao anterior dono que felizmente continua vivo e o tem alugado a quem o explora actualmente com o nome de Construction.
    O bar Gato Verde abriu com o nome de Luís, que era o nome de quem o explorava.
    O Rey Mar, frequentado por marinheiros de calças de alçapão, era frequentado por Mário Cezariny entre outros intelectuais da época
    A Baíuca quando abriu era da Miky e do Jorge Mota, já falecido, sendo a Júlia a cozinheira (bons bifes)
    A Odete do Alfaia era uma empregada os donos eram a D. Ilda e o marido

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  55. Olá CG
    obrigado pela tua visita e pelo teu comentário, que em termos de correcção só faz uma e que diz respeito ao Zé Filipe Vilhena; sei o que se passou depois com o Artur, mas não estava confundido; estava mesmo que o Zé Filipe tinha sido atacado em sua casa por um chulo.
    Quanto às tuas outras indicações, estão correctas, mas eu não disse que o Z não foi o primeiro bar gay de Lisboa; disse sim que eu conheci o Z depois do Bric - fui primeiro ao Bric...
    Sei bem que o Gato Verde se chamava antes Luís Bar, mas eu já o conheci como Gato Verde e depois Memorial.
    Sei que a Júlia não foi a primeira dona da Baíúca, mas eu quando comecei a ir lá já era. E eu afirmei que a Odete era empregada do Alfaia e não patroa,
    Sobre o Rey Mar, falei sobretudo numa outra postagem muito mais antiga e lá referia o Cesariny, pois claro.
    Abraço.

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