Sala cheia, palavras de circunstância e finalmente o
filme; “Continental”, de Malcolm Ingram
foi o filme escolhido e quando acabou
tive de me render e aplaudir este documentário, que me deu a conhecer factos e
pessoas que desconhecia e que foram influentes, na época (finais da década de
sessenta até meados da década de setenta), dando início a uma era de libertação
sexual e estilos de vida alternativos que, até hoje, nunca foi igualado.
Os Continental
Baths eram uma
sauna gay na cave do Hotel Ansonia em Nova
Iorque
inaugurados em 1968 por Steve Ostrow. Eram publicitados como uma reminiscência da "glória da Roma Antiga". O documentário mostra o clube, desde o auge da sua popularidade até ao início da década de 1970
inaugurados em 1968 por Steve Ostrow. Eram publicitados como uma reminiscência da "glória da Roma Antiga". O documentário mostra o clube, desde o auge da sua popularidade até ao início da década de 1970
Os Continental Baths tinham uma
pista de dança, um salão de cabaret, salas de sauna, uma piscina e tinham capacidade para 1.000
homens, estando abertas 24 horas por dia.
Um guia gay da década de 1970
descreveu os Continental Baths como um lugar que "revolucionou a cena das
saunas de Nova Iorque"
Tinham
um sistema de alerta que avisava os clientes para a chegada da polícia. Havia
também uma clínica para doenças sexualmente transmissíveis, um dispensador de
A200 (um shampoo contra piolhos) nos chuveiros e lubrificante KY à venda nas máquina automáticas.
Aliás houve várias rusgas da polícia, com
prisões e que só terminaram (por sugestão da própria polícia), com o pagamento
de avultadas quantias por parte do dono, mostrando como a polícia era corrupta.
Steve Ostrow
Quem teve a ideia de abrir estes Continental
Baths foi um homem extraordinário, chamado Steve Ostrow.
Ele e a sua mulher meteram mãos à obra e fizeram deste local um dos mais míticos locais gay de Nova Iorque, como o foram o Stonewall ou o Studio 54.
Ele e a sua mulher meteram mãos à obra e fizeram deste local um dos mais míticos locais gay de Nova Iorque, como o foram o Stonewall ou o Studio 54.
Ostrow é uma personagem fascinante: casado,
pai de dois filhos, após o nascimento deles a mulher não satisfazia sexualmente
e ela própria viveu uma crise que a levou a tornar-se freira.
Não se contentando em explorar as instalações
apenas como local para sexo, e se havia
sexo naqueles banhos…ele criou principalmente aos fins de semana, espectaculos com diversos artistas, já que ele próprio era
um artista (cantava ópera muito bem). E assim passaram por lá grandes nomes,
entre eles destacando-se uma cantora que ali iniciou a sua carreira – Bette Midler.
Pelas suas performances nos
Baths, Bette Midler era conhecida por Bathouse Betty. Foi
nos Continental Baths, acompanhada ao piano por Barry Manilow (que, como os clientes, por vezes, se
vestia apenas com uma toalha branca à cintura), que Bette Midler criou a sua
persona de palco, a Divine Miss M.
(a qualidade deste vídeo é bastante deficiente)
A frequência era variada, entre gays e heterossexuais, tornando-se o local um dos mais famosos, onde se podiam encontrar Andy Wharol, Nureyev, que o utilizava essencialmente para encontros sexuais, Mick Jargger e tantos outros.
A frequência era variada, entre gays e heterossexuais, tornando-se o local um dos mais famosos, onde se podiam encontrar Andy Wharol, Nureyev, que o utilizava essencialmente para encontros sexuais, Mick Jargger e tantos outros.
Um dos grandes momentos dos Continental Baths
aconteceu quando Ostrow, convenceu uma das grandes divas da ópera na altura, a soprano Eleanor Steber a actuar
ali tendo sido editado um disco com essa actuação e que é hoje uma raridade.
Nesse famoso concerto as toalhas brancas dos clientes foram substituídas por toalhas negras.
Nesse famoso concerto as toalhas brancas dos clientes foram substituídas por toalhas negras.
.Os
banhos Continental perderam muita da sua clientela gay em 1974. A razão para o
declínio foi, como um gay nova iorquino disse: "Acabámos por nos fartar
desses shows tontos e exagerados. Todos esses heterossexuais na nossa sauna
faziam-nos sentir como se fôssemos parte da decoração e que estávamos lá em exposição,
para os divertir."
No final de 1974, o número de
clientes era tão baixo que Steve Ostrow decidiu fechar o salão de cabaré.
Concentrou-se, em vez disso, em ressuscitar o negócio que estava na origem da
sauna. Chegou a fazer publicidade na WBLS, mas sem sucesso. Finalmente, Ostrow
teve que fechar os Continental Barhs de vez. As instalações, contudo, foram
reabertos em 1977 como um clube de troca de casais heterossexual, chamado Plato's Retreat, que se mudou para a
W. 34th St. em 1980 e foi encerrado por ordem da câmara de Nova Iorque, no auge
da epidemia da Sida.
A Continental foi um fenómeno que
saiu de um mundo pré Sida e que provavelmente nunca iremos experimentar de
novo. Mais do que ser apenas uma sauna e uma “vitrine”, os Banhos eram um lugar
onde as pessoas saíram dos seus armários e se descobriram quem eram. Foi o
primeiro estabelecimento gay para tratar os homossexuais como iguais e não
explorá-los e foi fundamental para rescindir as leis contra a homossexualidade.
Depois do fecho da Continental
Baths, Steve Ostrow foi viver para a Austrália, para Sidney, em 1987 onde
finalmente realizou o seu sonho de ser cantor lírico, tendo tido uma carreira
de sucesso, cantando ópera com as principais companhias de ópera de todo o mundo,
incluindo a New York City Ópera, a San Francisco Ópera, a Ópera de Stuttgart, a
Lyric Ópera de Queensland e a Ópera australiana.
Fundou em 1991 uma organização de
reconhecido mérito. O MAG - Mature
Age Gay Men’s Group.
Só
por uma questão de curiosidade, em 1975 o realizador David Buckley realizou um
filme sobre este local e denominado “Saturday Night at the Baths”.