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sábado, 21 de setembro de 2013

Steve Ostrow e a "Continental Baths"

Começou o Festival Queer e devo confessar que não me agradou muito a ideia de ter como filme de abertura um documentário.
Sala cheia, palavras de circunstância e finalmente o filme; “Continental”, de Malcolm Ingram
foi o filme escolhido e quando acabou tive de me render e aplaudir este documentário, que me deu a conhecer factos e pessoas que desconhecia e que foram influentes, na época (finais da década de sessenta até meados da década de setenta), dando início a uma era de libertação sexual e estilos de vida alternativos que, até hoje, nunca foi igualado.

Os Continental Baths eram uma sauna gay na cave do Hotel Ansonia em Nova Iorque
inaugurados em 1968 por Steve Ostrow. Eram publicitados como uma reminiscência da "glória da Roma Antiga". O documentário mostra o clube, desde o auge da sua popularidade até ao início da década de 1970
Os Continental Baths tinham uma pista de dança, um salão de cabaret, salas de sauna,  uma piscina e tinham capacidade para 1.000 homens, estando abertas 24 horas por dia.
Um guia gay da década de 1970 descreveu os Continental Baths como um lugar que "revolucionou a cena das saunas de Nova Iorque"
 Tinham um sistema de alerta que avisava os clientes para a chegada da polícia. Havia também uma clínica para doenças sexualmente transmissíveis, um dispensador de A200 (um shampoo contra piolhos) nos chuveiros e lubrificante KY à venda nas máquina automáticas.
Aliás houve várias rusgas da polícia, com prisões e que só terminaram (por sugestão da própria polícia), com o pagamento de avultadas quantias por parte do dono, mostrando como a polícia era corrupta. Steve Ostrow
Quem teve a ideia de abrir estes Continental Baths foi um homem extraordinário, chamado Steve Ostrow.

Ele e a sua mulher meteram mãos à obra e fizeram deste local um dos mais míticos locais gay de Nova Iorque, como o foram o Stonewall ou o Studio 54.
Ostrow é uma personagem fascinante: casado, pai de dois filhos, após o nascimento deles a mulher não satisfazia sexualmente e ela própria viveu uma crise que a levou a tornar-se freira.
Não se contentando em explorar as instalações  apenas como local para sexo, e se havia sexo naqueles banhos…ele criou principalmente aos fins de semana, espectaculos  com diversos artistas, já que ele próprio era um artista (cantava ópera muito bem). E assim passaram por lá grandes nomes, entre eles destacando-se uma cantora que ali iniciou a sua carreira – Bette Midler.
Pelas suas performances nos Baths, Bette Midler era conhecida por Bathouse Betty. Foi nos Continental Baths, acompanhada ao piano por Barry Manilow (que, como os clientes, por vezes, se vestia apenas com uma toalha branca à cintura), que Bette Midler criou a sua persona de palco, a Divine Miss M.
  (a qualidade deste vídeo é bastante deficiente) 

A frequência era variada, entre gays e heterossexuais, tornando-se o local um dos mais famosos, onde se podiam encontrar Andy Wharol, Nureyev, que o utilizava essencialmente para encontros sexuais, Mick Jargger e tantos outros.
Um dos grandes momentos dos Continental Baths aconteceu quando Ostrow, convenceu uma das grandes divas da ópera na altura, a soprano Eleanor Steber a actuar ali tendo sido editado um disco com essa actuação e que é hoje uma raridade.
Nesse famoso concerto as toalhas brancas dos clientes foram substituídas por toalhas negras.

.Os banhos Continental perderam muita da sua clientela gay em 1974. A razão para o declínio foi, como um gay nova iorquino disse: "Acabámos por nos fartar desses shows tontos e exagerados. Todos esses heterossexuais na nossa sauna faziam-nos sentir como se fôssemos parte da decoração e que estávamos lá em exposição, para os divertir."
No final de 1974, o número de clientes era tão baixo que Steve Ostrow decidiu fechar o salão de cabaré. Concentrou-se, em vez disso, em ressuscitar o negócio que estava na origem da sauna. Chegou a fazer publicidade na WBLS, mas sem sucesso. Finalmente, Ostrow teve que fechar os Continental Barhs de vez. As instalações, contudo, foram reabertos em 1977 como um clube de troca de casais heterossexual, chamado Plato's Retreat, que se mudou para a W. 34th St. em 1980 e foi encerrado por ordem da câmara de Nova Iorque, no auge da epidemia da Sida.
A Continental foi um fenómeno que saiu de um mundo pré Sida e que provavelmente nunca iremos experimentar de novo. Mais do que ser apenas uma sauna e uma “vitrine”, os Banhos eram um lugar onde as pessoas saíram dos seus armários e se descobriram quem eram. Foi o primeiro estabelecimento gay para tratar os homossexuais como iguais e não explorá-los e foi fundamental para rescindir as leis contra a homossexualidade.
Depois do fecho da Continental Baths, Steve Ostrow foi viver para a Austrália, para Sidney, em 1987 onde finalmente realizou o seu sonho de ser cantor lírico, tendo tido uma carreira de sucesso, cantando ópera com as principais companhias de ópera de todo o mundo, incluindo a New York City Ópera, a San Francisco Ópera, a Ópera de Stuttgart, a Lyric Ópera de Queensland e a Ópera australiana. 
Fundou em 1991 uma organização de reconhecido mérito. O MAG - Mature Age Gay Men’s Group.

Só por uma questão de curiosidade, em 1975 o realizador David Buckley realizou um filme sobre este local e denominado “Saturday Night at the Baths”.





quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Que linda que é Lisboa...

Já há muito não passava um final de tarde e um princípio de noite tão agradável. Depois de ontem ter recebido notícias menos agradáveis sobre os valores da minha diabetes, nada melhor antes de ir mostrar esses resultados à minha médica, amanhã e ouvir justas criticas ao desleixo com que tenho encarado perigosamente esse mal, fui com a companhia do Duarte que estava de folga até Lisboa.
Deixado o carro junto à estação, saímos no Areeiro e três ou quatro quarteirões depois estava na velha livraria Barata da Av. de Roma
a buscar um livro que tinha comprado e que há muito procurava: “Devassos no Paraíso” do brasileiro João Silvério Trevisan.
Depois, calmamente descemos, gozando a bela tarde até à Alameda, onde apanhámos o metro até à Avenida, para na bilheteira do S. Jorge trocarmos dois bilhetes do Queer, tomar um café ali ao lado e depois seguir até à antiga Faculdade de Ciências, com uma paragem na Cinemateca, onde há muito não ia e como está linda e renovada...
E lá fomos ver a peça em exibição no Teatro da Politécnica,“Sala Vip”.Gostei muito da peça, ao contrário do Duarte que não gostou nada; mas é-me muito difícil falar por palavras minhas sobre a razão porque gostei da peça, pelo que uso aqui a“ajuda”de um texto que encontrei na net e do qual gostei.
"Depois de se estrear em Julho na Culturgest, no âmbito do Festival Almada, Sala VIP regressa à casa-mãe dos Artistas Unidos, uma criação inédita de Jorge Silva Melo que servirá de boas-vindas à próxima temporada no Teatro Paulo Claro na Politécnica. Com encenação de Pedro Gil, Sala VIP traz-nos um grupo de pessoas que esperam. Um aeroporto internacional e um voo perdido, quem sabe, um motivo para juntar estas pessoas. À partida, farão parte de uma companhia de ópera e vão, aos poucos, nessa ansiedade, nessa espera. Um enquadramento extraordinário entre cenário e personagens, as malas de viagem contendo em si vidas, histórias de várias vidas. Acompanhando os diálogos — ora falados, ora cantados — está o piano fabuloso de João Aboim, um elemento imprescindível neste espectáculo. A espera causa violência, frustrações, nervos, o medo. Sexo. Mentiras, palavrões, cinismo, relações tão frívolas como aquela sala de espera. Os elementos de surpresa/choque são extremamente importantes nesta trama que, de uma maneira ou de outra, se apresenta brindada com momentos de acção-reacção únicos, desespero-calma, hipocrisia-frontalidade. Espera. Um elenco magnífico composto por Andreia Bento, Maria João Falcão, Elmano Sancho, António Simão e João Pedro Mamede." 

 Acabada a peça fomos jantar a um pequeno restaurante mesmo no início da Rua do Século, ali ao Príncipe Real e depois, sempre lentamente, gozando a noite, descemos pelo Jardim de S.Pedro de Alcântara até às Escadinhas do Duque, por aí abaixo até à estação do Rossio.

Que bela que Lisboa é!!! Percorrer a pé variados locais desta cidade é um prazer imenso, que eu gostaria de fazer mais vezes, se tivesse companhia, pois sozinho, metade do prazer desaparece... E agora, a partir de sexta feira e durante uma semana é todos os dias a ida até ao S.Jorge, na minha romaria anual ao Queer, do qual darei notícias.

E hoje cumpri quanto aos diabetes, pois andei bastante e tive um jantar que não me fez mal: chocos grelhados com grelos.Mas tenho que ter juízo!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

"I want your love"


Pela primeira vez, neste blog, o aviso inicial é perfeitamente justificado, já que mostro aqui um filme pornográfico. È um filme pornográfico não convencional, com actores porno, mas protagonizado por dois homens comuns que chegam ao sexo entre eles de uma forma normal.
Não considero chocante este filme, pese embora aceite que para determinadas pessoas menos habituadas a estas situações, o mesmo as possa incomodar, pelo que desde já lhes peço para se absterem de o visionar.
É escusado dizer que esta postagem é uma excepção e não uma regra neste blog que sempre foi liberal em todos os aspectos e assim o continuará a ser.
Dois bons amigos, conversam, brincando sobre uma situação que os vai levar a ter sexo pela primeira vez um com o outro. É uma situação já vivida por muitos homens gays (e até por alguns que não se aceitam como tal) e não tão descomplexada como estes dois amigos preferiam que fosse. As coisas tornam-se um pouco excitantes a partir dos 4,00 minutos; há sexo oral, penetração e outras variações. Sente-se que é sexo autêntico, intenso.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eduardo VIII - Duque de Windsor

Acabei de ler mais um interessante livro que fala sobre o papel de algumas pessoas, que sendo gays tiveram algum impacto na História.
Trata-se do livro de Paul Tournier “ Os Gays na História”, e logo no início o autor explica o critério das suas escolhas, pois como parece óbvio, a “oferta” era muita; assim, ele apenas escolheu personagens masculinos, à excepção de um curto episódio sobre a figura bíblica de Ruth, e também, com excepção dos vultos culturais da Renascença, escolheu personalidades que de uma forma mais ou menos directa tiveram algum impacto na História.
Assim, encontramos referências a alguns homossexuais suficientemente conhecidos como tais: Sócrates, Alexandre, Júlio César, Adriano, David, Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Shakespeare, Edward II de Inglaterra, Carlos XII da Suécia, Ludwig II da Baviera ou T.E.Lawrence, bem como outros menos conhecidos, como alguns reis e príncipes medievais (Jaime de Aragão, João II e Henrique IV de Castela), e um rei consorte espanhol – Francisco de Bourbon.
Mas mais interessantes são aquelas personagens de que há fortes indícios da sua homossexualidade, mas não certezas: S.João (o apóstolo favorito de Cristo), S.Paulo e Santo Agostinho, Voltaire e Robespierre, Lincoln, e Hitler.
Deixei propositadamente para o fim, uma das personagens que maior interesse me despertou – Eduardo VIII de Inglaterra, mais conhecido como Duque de Windsor e tio da actual rainha Isabel II.
Eduardo era filho de Jorge V e seu eventual sucessor.
No entanto, a sua vida foi cheia de pormenores muito curiosos e alguns pouco conhecidos.
Desde cedo Eduardo mostrou duas facetas da sua vida; por um lado, era conhecida a sua simpatia pela Alemanha e mormente por Hitler, então em plena ascenção política (anos 30) e por outro lado o seu gosto por pessoas do mesmo sexo, tendo um caso amoroso durante muitos anos com o seu secretário Dudley Metcalfe.
Sabendo Hitler da sua homossexualidade, e sendo ele um futuro rei de Inglaterra, este assunto preocupava o rei seu pai e os serviços secretos ingleses, que o vão visitar à sua residência oficial de Fort Belvedere,
para lhe exigirem um casamento antes de ser rei, para assim “apagar” essa imagem.
Ora nessa sua residência, o Duque de Winsor dava festas muito badaladas e recebia hóspedes variados, entre os quais apareceu um casal americano, os Simpson.
A uma certa altura o casal começou a deteriorar o seu casamento que acabou em divórcio e o Duque começou a ser um acompanhante preferencial de Wallis, a divorciada senhora Simpson.
Quando é feita essa proposta de casamento ao Duque, ele aceita com uma condição, que o casamento fosse com Wallis Simpson e fosse um casamento branco, ou seja, não consumado, deixando ao critério da senhora se ela quisesse ter um filho ou não (claro por interposta pessoa).
Entretanto em 1936 morre Jorge V e a Inglaterra vê-se com um rei – Eduardo VIII, com 42anos, solteiro e sem noiva.
A solução é o tal casamento, mas Wallis é divorciada e americana, e não só os súbditos a não aceitariam como rainha como o próprio Arcebispo de Cantuária, chefe da igreja inglesa não o permitiria, pelo que 11 meses depois, Eduardo VIII, abdica do trono, “por amor”, a favor do seu irmão Jorge VI, pai de Isabel II. Casa com a senhora Simpson em França, e curiosamente o padrinho de casamento é o seu secretário e amante
e passam a viver em França.
A vida sexual entre os dois era inexistente e a uma certa altura Wallis traz para a sua residência, um playboy americano amigo e bissexual, Jimmy Donahue, que contentava os dois duques sexualmente.
A coroa britânica nunca aceitou este casamento e o Duque apenas foi autorizado a visitar Londres por altura da morte da sua avó, Mary.
Mais tarde, houve uma certa abertura de Isabel II para resolver esta questão e os restos mortais daquele que foi rei por 11 meses, como Eduardo VIII, estão sepultados, como os da Duquesa, em Windsor.

Como apêndice uma curiosa foto...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Pierre et Gilles

Embora as primeiras obras de Pierre et Gilles datem de alguns anos antes, as suas estratégicas formais parece terem-se fixado naturalmente nos anos setenta do século passado.
Pierre tira fotografias sobre as quais Gilles pinta.
A evolução das tecnologias não teve o mais pequeno efeito sobre a obra da dupla, que se tem mantido à margem das facilidades proporcionadas pelos retoques digitais ou das formas de duplicação propiciadas pelo computador.
Há um ritmo constante de novas imagens sem períodos, focadas sobre matérias específicas. São temas vastos e intemporais, muitas vezes interligados, do amor, da morte, da mitologia e da religião.
As imagens de Pierre et Gilles são feitas no estúdio da cave da sua casa, atingindo a vida física no mesmo espaço em que o sujeito posa.
Um dos seus hábitos é fotografarem gente célebre, sendo imensa a galeria de personalidades já retratadas.


Apresento aqui alguns dos seus trabalhos que mais apreciei, certo de que outras escolhas seriam muito válidas, mas também procurar cobrir vários ângulos do tipo de fotos que publicam.





















domingo, 30 de junho de 2013

Guilherme de Melo

Morreu Guilherme de Melo.
Mais que um escritor de grande mérito – li por assim dizer toda a sua obra – foi um ser humano excepcional, sempre amigo do seu amigo e amigo de quem precisava. Foi a primeira pessoa a dar a cara como homossexual, aqui em Portugal, sem medo, como sem medo desafiou uma Lourenço Marques muito tradicional, onde era um jornalista de grande prestígio, ao assumir de uma forma quase mesmo provocatória, a sua orientação sexual, como relata admiravelmente no seu melhor livro “ A Sombra dos Dias”.
Aparecia com o seu namorado de então, um bombeiro, em debates televisivos quando não era fácil (ainda hoje não é), aparecer publicamente a defender os direitos dos que não escolheram uma vida sexual diferente da maioria das outras pessoas e sempre o fez com veemência sim, mas de uma forma contida, educada e aprazível.
A sua carreira jornalística no “Notícias de Lourenço Marques”, enquanto viveu em Moçambique e depois aqui em Lisboa no “Diário de Notícias” foi um exemplo para tantos que agora dão uma péssima imagem do que é ser jornalista.
Até sempre, Amigo!

terça-feira, 25 de junho de 2013

O livro do Miguel

Não sei exactamente por onde começar…
São cinco e meia da manhã e acabei agora mesmo de fazer algo impensável apenas algumas horas atrás – ler pela primeira vez na vida um e-book!
Tudo aconteceu quando ontem à noite, ao dar uma vista de olhos pelos blogs que sigo, deparei com a postagem acabada de ver no blog da Margarida, e dei comigo a escrever-lhe um comentário lacónico “estou quase tentado a ler um e-book pela primeira vez na vida…”.
Estava a fechar o PC quando reparei que um filme do qual estou a fazer o download no e-Mule estava a receber muito bem e portanto não quis fechar logo o computador; mas porque já tinha fechado tudo da net, excepto o e-Mule, e para preencher o tempo fui à área de trabalho e abri o atalho do Adobe Digital Editions, onde tinha posto durante a tarde o e-book que o João Máximo me tinha enviado (como sempre) do livro do Miguel, ontem mesmo editado, mesmo sabendo ele que eu iria comprar o livro na Bubock para o ler fisicamente, como gosto e sempre faço (até tínhamos falado nisso, ao telefone).
E dei comigo a começar a ler um livro, cujo título é um bocado estranho – “Elvis sobre a baía de Guanabara e outras histórias”, de um autor que eu conheço muito bem, e que faz o favor de ser meu amigo – o Miguel. Li a primeira história – “Furadouro”, e li mais duas, tendo a terceira um título deveras interessante para mim,  “Rua de S.Marçal”, porque foi nessa rua que eu vivi os meus primeiros quatro anos lisboetas.
E quando a terminei, dei por mim a pensar em tudo o que eu vivi nessa rua e adjacentes, e pensei que ainda um dia iria escrever sobre essa rua, também…
Talvez porque esses pensamentos me tivessem ocupado a mente, talvez por ser tarde, verifiquei que as fontes do download, tinham secado, e assim sendo, fechei o computador e fui dormir.
Como é meu hábito, o sono para mim é completamente irregular e assim acordei pelas 4 e 20 da madrugada e de imediato fui abrir o PC, não para ver algo dos blogs, do correio electrónico, ou repor o e-Mule a fazer downloads; fui deliberadamente continuar a leitura do livro do Miguel.
E não consegui parar!!!
Li tudo, tudinho e como Carneiro que sou aqui estou a dizer isto tudo e que se resume em poucas palavras: acabei de ler um dos mais belos livros que já li em toda a minha vida.
 Não, não digo isto porque o Miguel é meu amigo, digo-o convictamente porque o livro é para mim, absolutamente maravilhoso.
Eu não sou um grande crítico literário e até tenho alguma inveja em ler belíssimas criticas na bloga a livros lidos, nomeadamente do Miguel.
Tenho dificuldade em dizer porque gosto ou não gosto, tenho alguma inércia de procurar trechos que evidenciem o valor de um livro, enfim, aprecio muito e fico com uma ideia precisa daquilo que vou lendo, mas sem o expressar, sem desenvolver as ideias com que fiquei.
Neste caso, estes contos são de tal maneira intensos por um lado, e tão maravilhosamente descritivos por outra, que fiquei rendido, total e inequivocamente rendido.
Seria maravilhoso deixar aqui uma impressão de cada um, mas não o farei e a obra vale pelo todo, porque não há contos melhores ou piores, são todos bons e devem ser lidos como um todo, uma laranja sumarenta e doce, com os seus gomos apetecíveis.
No entanto há dois contos que realço, e por razões diversas.
Um é “Chez Toi” por aquilo que ele representa para o Miguel; é um conto muito pessoal, o mais pessoal de todos eles, atrever-me-ia mesmo a dizer.
O outro é o último – “Quatro Canções”, subjectivamente o meu preferido e objectivamente um conto memorável. Além do mais, não no desfecho, mas no seu início, tem muito a ver com vivências minhas… Para finalizar faço um apelo: por favor leiam este livro!
É imprescindível para qualquer pessoa que goste de ler, para quem tiver sensibilidade, para quem goste de sentimentos e de formas diversas de os viver.
E lanço desde já aqui um desafio, ao João e ao Luís, que em boa hora “deram à luz” este livro, para num futuro próximo, numa data a combinar com o Miguel, (e depois de eu e mais algumas pessoas terem adquirido o livro físico), de fazer um jantar de apresentação formal deste livro.
Não será um jantar de blogs, de forma alguma, mas sim um encontro que tem como objectivo único reunir pessoas que tenham lido e gostado deste livro e também , é óbvio daquelas pessoas que estejam interessadas em lê-lo.
Contem comigo, e decerto com a Margarida para pormos esta iniciativa de pé.

sábado, 22 de junho de 2013

"Dead Dreams of Monochrome Men"

Assassinatos homossexuais e necrofilia podem não ser os assuntos mais apropriados para uma coreografia, mas em Dead Dreams of Monochrome Men (1990), a companhia de dança DV8* produziu um trabalho poderoso em que explora estes aterradores aspectos da psique humana.
O ponto de partida é um importante estudo de Brian Master sobre o serial killer Dennis Nilsen “Killing for Company”, embora não seja uma adaptação rígida desse estudo.
Esta peça encontrou uma linguagem de movimentos que explora e expõe uma sequência de estados emocionais…

Como se pode adivinhar é um vídeo forte, carregado de homo-erotismo, mas nunca pornográfico, e que embora longo, não posso deixar de recomendar vivamente a sua visão (a cópia, não sendo actual, não será a ideal, mas a maior parte dos seus vídeos não estão disponíveis).

*Companhia criada em 1985, a DV8 é reconhecida pela sua postura simultaneamente radical e acessível, e questiona a estética e os temas tradicionais da dança, apostando na clareza para transmitir ideias e sentimentos. 
É uma companhia de Teatro Físico, do País de Gales, dirigida por Lloyd Newson, que concebe e desenvolve todos os espectáculos da companhia, e para cada projecto  recruta uma equipa de actores/bailarinos.
O resultado é poesia virtual e auditiva.
Produziu ao longo destes anos, 15 espectáculos que foram aclamados pelo público e têm sido apresentados em vários países, e também  cinco filmes premiados, para televisão, entre os quais este que aqui foi apresentado.

Quem estiver interessado pode consultar o site da companhia DV8 aqui.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Cinema e música 6 - "Morte em Veneza"


Se há filmes que marcam pela sua sensibilidade, um deles é sem dúvida a obra prima de Luchino Visconti, “Morte em Veneza” (1971).
Aliás todos os filmes que têm Veneza como cenário são mágicos, como mágica é aquela cidade do Adriático. Acredito que não haja no mundo uma cidade tão “cinematográfica”.
Neste filme cuja época nos reporta ao princípio do século passado, um compositor passa férias no Lido, a praia em frente da cidade, onde procura refúgio para problemas recentes, profissionais e pessoais, e acaba por se deixar seduzir por Tadzio, um jovem com uma beleza andrógina, que ali passa uma temporada com a família.
Entretanto é focada também a epidemia de cólera que assolou aquela cidade na altura e que as autoridades procuram esconder para não comprometer a estação turística.
A cena final, da morte do protagonista, só, na praia, e com Tadzio a brincar por perto, é de uma beleza ao mesmo tempo terrível e tocante, com Dirk Bogarde a ter uma das suas mais brilhantes interpretações.
De realçar a beleza e o porte senhoril de uma grande dama do cinema europeu, Silvana Mangano, que tantas vezes trabalhou com Visconti.
E também a presença do jovem actor sueco Bjorn Andrésen, que protagoniza Tadzio, e que podemos ver aqui  num curioso vídeo, em que Visconti o testa para este papel.
Claro que a base desta postagem é a relação do cinema com a música e aqui não só por ser um compositor o principal protagonista. E há quem diga que foi em Gustav  Mahler que Thomas Mann, o autor da obra aqui adaptada, se inspirou para dar vida ao personagem.
E é precisamente deste compositor o principal tema musical do filme, o célebre Adagietto da sua 5ª.Sinfonia, e que para mim é das mais belas peças musicais de sempre.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

José António Almeida

Não é fácil escrever um texto, nos moldes clássicos, sobre o poeta português José António Almeida.
Após aturada busca, não encontrei na net uma biografia ou mesmo uma bibliografia completa, muito menos uma foto do poeta.
Apenas a indicação que terá nascido há cerca de 50 anos na vila de Cuba , no Alentejo, e que se tornou mais conhecido depois das reflexões em que participou na Capela do Rato, sobre a tripla condição de poeta, homossexual e católico, aliás referida no seu livro “O casamento sempre foi gay e nunca triste”,
já falado neste blog quando inseri um dos seus textos junto com o abominável vídeo da Drª(?) Madalena Fontoura.
Desse post resultaram variados e interessantes comentários dos quais eu próprio, (e parece que não só eu) adoptei uma palavra sugerida pelo Ophiuchus para substituir o catolicismo, e que é a Espiritualidade, ou seja a minha relação com Alguém, difícil de definir, mas que consubstancia muito daquilo que nos faz acreditar num ser superior e nos permite ter fé.
Esse livro é um dos quatro que li recentemente de José António Almeida, e sobre ele aconselho vivamente a ler uma excelente e completa entrevista dada pelo escritor à revista Pública, em 11 de Abril de 2009 e que pode ser lida aqui.
O primeiro livro que li de José António Almeida foi no entanto “Obsessão”,
um curto livro de poemas, publicado como o referido anteriormente pela “&etc”, que me seduziu pois vi nalguns dos seus poemas algo que o aproxima, com o devido respeito e nalguns aspectos a António Botto.
Vejamos o poema primeiro e que dá o nome à obra:

Numa só coisa porfio:
Outra vez ver o teu corpo
Na minha cama despido,

De livro folhas abertas
Com os dois braços cruzados
Atrás do rosto de efebo

- devorando cada letra
Em meu quarto no segredo.
De noite o membro de nácar

Sempre com donaire erguido,
Acróstico no teu peito
Começado sem ter fim.”

Ainda com a mesma chancela (&etc), um outro seu livro, desta vez em prosa, “A vida de Horácio”,
delicioso apontamento sobre uma personagem que vai alternando a sua homossexualidade com o aparecimento na sua vida de duas mulheres que o marcaram fortemente: a frágil e virginal Miss Savonarola, e a impetuosa e imponente Madame Robespierre. Como se adivinha esta pequena história está descrita com um subtil humor e o autor mostra aqui uma veia até então desconhecida.
Finalmente o último livro que li deste autor é de novo em verso e é excelente: “O rei de Sodoma e algumas palavras em sua homenagem” da Colecção Forma, da Editorial Presença.
Alguns poemas são verdadeiramente admiráveis e permito-me aqui transcrever aquele que mais me seduziu:

Cruzou-se de noite entre as sombras do parque
com outro vulto, como dois desconhecidos
deslizando furtivamente um pelo outro.
Mas o cão que acompanhava o vulto estranho
(um podengo velho, sem pelo, quase cego,
Com menos de metade das forças de outrora)
levantou a cabeça e as orelhas, pôs-se
a farejar-lhe as pernas, abanando a cauda
(o estranho continuou, sem olhar para trás).
O animal reconhecera o cheiro dos membros
despidos com que brincara muitas vezes
numa casa em que o dono e aquele corpo
partilharam quatro paredes, há muito tempo.
E o homem, fugindo, enxugou uma lágrima.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Half-Drag

Half-Drag é o nome do projecto do fotógrafo nova-iorquino Leland Bobbé, que retrata os dois lados de drag queens da cidade.

"Através do poder de cabelo e maquilhagem, esses homens são capazes de transformar-se completamente e encontrar o seu lado feminino, enquanto, simultâneamente, mostram o seu lado masculino", disse Bobbé ao Huffington Post.

E atenção, de acordo com o mesmo, não se trata de montagens, pois as imagens foram feitas num único clique.

Estas são algumas das imagens




Todas as imagens podem ser vistas aqui

 Esta postagem foi feita através do blog da revista Qüir.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Jantar

Como estava programado realizou-se no passado sábado, dia 25, o sexto jantar de blogs por mim organizado e desta vez com a ajuda da Margarida, tendo o Paulo S. Mendes contribuído com o “banner” do mesmo.
Como sempre, deu-me muito trabalho, a começar na escolha da data, a qual se pretende seja a mais consensual possível, mas nunca poderá ser a ideal.
Tenho muitos contactos na blogo, quer daqueles que estão no activo, quer de muitos que já não estão, mas que continuam a privilegiar estes eventos e até simples comentadores.
A todos contacto e sei que se por pura utopia todos pudessem estar presentes teríamos que repensar o jantar, pelo menos quanto ao espaço.
No entanto esses contactos trazem inúmeras e a maior parte das vezes, compreensíveis respostas negativas e por diversos motivos: terem que se deslocar, casos de trabalho, e alguns casos de menor assiduidade no contacto virtual, que levam a uma quase normal recusa.
Mas também há recusas que me custam aceitar e que são em primeiro lugar aquelas que provêm de um total alheamento do contacto, sem se dignarem a um simples “não”.
Depois há os que alegam motivos perfeitamente identificados com desculpas esfarrapadas, quando seria muito mais bonito dizer que não vão porque não querem.
Há ainda e são vários os casos em que há o medo de se mostrarem publicamente, e aqui se associa a maior parte das vezes um medo de se assumirem como homossexuais que são, com a ideia errada de que o simples facto de estarem presentes os identifica como tal…
Enfim, muitas justificações para uma não presença que considero normal dentro do contexto deste tipo de reuniões.
Depois há os que aderem de imediato, e se eu aceito que até à data do evento algo possa acontecer que impeça a sua presença, aceito ainda melhor quem me diga que sim, estarão presentes em princípio, mas isso dependerá de circunstâncias que só mais na hora poderão confirmar; claro que não os incluo na lista dos participantes e aguardo a semana do jantar para definir a sua situação.
E também aqui há por vezes alguma precipitação pois não é uma eventual tarefa ou compromisso que os impedirá de estar presentes, mas sim um futuro estado de espírito.
Concluindo, não é fácil determinar com exactidão o número de participantes e as últimas horas são mesmo stressantes, principalmente depois de ter comunicado ao restaurante o número de presenças.
Este ano tive especial cuidado com o cálculo desse número, tendo-o fixado em 40.
Estivemos 37; uma presença agradavelmente não esperada e quatro ausências, duas delas justificadas pela presença dos companheiros que quiseram mesmo assim estar presentes e duas não justificadas, sem dar cavaco (salvo seja…)
Mas os 37 foram um belo grupo e mais que suficiente para uma noite muito bem passada e que justificou em absoluto o trabalho que tive.
Quero, como é óbvio agradecer em primeiro lugar a todos os que estiveram presentes, mais ainda aos que vieram de fora: Cadaval, Coimbra, Évora, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia, Porto, Braga e Galiza!
O jantar decorreu normalmente com as pessoas a conhecerem-se mutuamente ou a recordar encontros anteriores e mais uma vez a norma funcionou: aqueles que vieram pela primeira vez e foram bastantes, gostaram verdadeiramente e ficaram com vontade de mais convívios deste tipo.
Claro que neste tipo de eventos é necessário usar de algumas formas que levem a um clima de convivência bom; o primeiro é termos mais uma vez optado por um jantar volante, que pode não ser o ideal, mas leva a que não se fique limitado a conhecer apenas os 3/4 companheiros de mesa.
Outro e importante é apresentar sempre alguma coisa extra-jantar, que una por alguns minutos todos os convivas.
Este ano esse momento foi dividido em três partes: primeiro, o Luís e o João apresentaram o seu projecto, que tão bons resultados está a obter e que nunca é demais enaltecer – o Index ebooks –
 e depois fizeram informalmente uma apresentação da série “Dois Mundos”, do Pedro Xavier, da qual já estão editados os dois primeiros livros, como referi no meu anterior post.
Depois foi apresentado o André, e mostrado o seu magnífico trabalho de design de automóveis e motos, o qual já foi premiado com vários prémios mundiais.
E finalmente, e tendo como base as iniciativas do Sad eyes, foram lidos alguns contos dos concursos por ele promovidos, com natural destaque para os Pixel – LGBT e também outros dois textos de pessoas presentes.
Este momento, permitiu um ainda maior convívio, principalmente de quem ainda estava com alguma timidez. Já passava das duas de manhã, quando os últimos “resistentes” partiram, até porque o restaurante tinha que fechar.
Não poderia terminar sem uma palavra de agradecimento para a equipa do Restaurante Guilho
que nos presenteou com a melhor ementa de todas as quatro vezes que já ali festejamos; excelente a confecção, muito boa a organização, inexcedível a simpatia.
Se algum problema não existirá num próximo jantar de blogs, esse será a escolha do local, pois já está naturalmente escolhido – o mesmo.
Resta apresentar aqui a lista dos participantes, com a indicação dos links dos blogs ainda activos.
Estiveram presentes o Zé Varandas, Zé Grilo, Carlos Martins, Sérgio (Lampejo), Paulo Medeiros e Nuno (Engine), já com blogs desactivados e os seguintes blogs activos: Sad eyes, João, André Luder, Francisco Eustáquio, Francisco Mendes, Miguel/Vilna/Queta, Ophiucus, Nuno, Pedro Xavier, Marco, Paulo e Zé, Mark, Ribatejano, Miguel Nada, João e Luís, Margarida, Ima e eu mesmo.
Também a presença de um antigo comentador e presença habitual nestes jantares, o Rui Carriço e de dois convidados meus – o Duarte, naturalmente, e o Zé Sapinho. De referir o facto de alguns dos participantes terem levado os seus acompanhantes, um dos quais me parece ter ficado entusiasmado com esta atmosfera e irá iniciar em breve um blog; assim o espero.
Um enorme obrigado a tod@s!