terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Já cheira a Revolução????
Não é meu hábito plagiar postagens de outros blogs, portanto sinto-me perfeitamente à vontade para transcrever aqui uma entrada de Luís Moreira, habitual colaborador do excelente blog "Pegada", que aproveito para recomendar vivamente e que não sendo da sua autoria também ele transcreve; aliás segundo consta no final do texto, ele repassa-o de um autor desconhecido.
Mas, e porque acho este texto magnífico, não só pela análise bastante exaustiva dos factores que levaram o mundo à encruzilhada em que hoje se encontra, mas também pelo final, simultâneamente radical e redentor,
aqui fica, à vossa apreciação.
"Há cerca de 3 ou 4 meses começaram a dar-se alterações profundas, e de nível global, em 10 dos principais factores que sustentam a sociedade actual. Num processo rápido e radical, que resultará em algo novo, diferente e porventura traumático, com resultados visíveis dentro de 6 a 12 meses... E que irá mudar as nossas sociedades e a nossa forma de vida nos próximos 15 ou 25 anos!
Tal como ocorreu noutros períodos da história recente, no status político-industrial saído da Europa do pós-guerra, nas alterações induzidas pelo Vietname/ Woodstock/ Maio de 68 (além e aquém Atlântico), ou na crise do petróleo de 73.
Façamos um rápido balanço da mudança, e do que está a acontecer aos "10 factores":
1º- A Crise Financeira Mundial : desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se "bancarrota") e só se tem aguentado porque os 4 grandes Bancos Centrais mundiais - a FED, o BCE, o Banco do Japão e o Tesouro Britânico - têm injectado (eufemismo que quer dizer: "emprestado virtualmente à taxa zero") montantes astronómicos e inimagináveis no Sistema Bancário Mundial, sem o qual este já teria ruído como um castelo de cartas. Ainda ninguém sabe o que virá, ou como irá acabar esta história !...
2º- A Crise do Petróleo : Há 6 meses que o petróleo entrou na espiral de preços. Não há a mínima ideia/teoria de como irá terminar. Duas coisas são porém claras: primeiro, o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva, devido à visão estratégica da China e da Índia que o compram e amealham!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia, de transportes, de serviços. Por exemplo, quem utiliza frequentemente o avião, assistiu há semanas, a uma subida no preço dos bilhetes de... 50% (leu bem: cinquenta por cento). É escusado referir as enormes implicações sociais deste factor: basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (...e as férias massivas!), a inflação controlada, etc...
3º- A Contracção da Mobilidade : fortemente afectados pelos preços do petróleo, os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais que implicam transporte irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial.
4º- A Imigração : a Europa absorveu nos últimos 4 anos cerca de 40 milhões de imigrantes, que buscam melhores condições de vida e formação, num movimento incessante e anacrónico (os imigrantes são precisos para fazer os trabalhos não rentáveis, mas mudam radicalmente a composição social de países-chave como a Alemanha, a Espanha, a Inglaterra ou a Itália). Este movimento irá previsivelmente manter-se nos próximos 5 ou 6 anos! A Europa terá em breve mais de 85 milhões de imigrantes que lutarão pelo poder e melhor estatuto sócio-económico (até agora, vivemos nós em ascensão e com direitos à custa das matérias-primas e da pobreza deles)!
5º- A Destruição da Classe Média : quem tem oportunidade de circular um pouco pela Europa apercebe-se que o movimento de destruição das classes médias (que julgávamos estar apenas a acontecer em Portugal e à custa deste governo) está de facto a "varrer" o Velho Continente! Em Espanha, na Holanda, na Inglaterra ou mesmo em França os problemas das classes médias são comuns e (descontados alguns matizes e diferente gradação) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção.
6º- A Europa Morreu : embora ainda estejam projectar o cerimonial do enterro, todos os Euro-Políticos perceberam que a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num "caldo" de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns!... Já nenhum Cidadão Europeu acredita na "Europa", nem dela espera coisa importante para a sua vida ou o seu futuro! O "Requiem" pela Europa e dos "seus valores" foi chão que deu uvas: deu-se há dias na Irlanda!
7º- A China ao assalto! A construção naval ao nível mundial comunicou aos interessados a incapacidade em satisfazer entregas de barcos nos próximos 2 anos, porque TODOS os estaleiros navais do Mundo têm TODA a sua capacidade de construção ocupada por encomendas de navios.... da China. O gigante asiático vai agora "atacar" o coração da Indústria europeia e americana (até aqui foi just a joke...). Foram apresentados há dias no mais importante Salão Automóvel mundial os novos carros chineses. Desenhados por notáveis gabinetes europeus e americanos, Giuggiaro e Pininfarina incluídos, os novos carros chineses são soberbos, réplicas perfeitas de BMWs e de Mercedes e vão chegar à Europa entre os 8.000 e os 19.000 euros! E quando falamos de Indústria Automóvel ou Aeroespacial europeia... Estamos a falar de centenas de milhar de postos de trabalhos e do maior motor económico, financeiro e tecnológico da nossa sociedade. À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! Os chineses estão estrategicamente em todos os cantos do mundo a escoar todo o tipo de produtos da China, que está a qualificá-los cada vez mais.
8º- A Crise do Edifício Social : As sociedades ocidentais terminaram com o paradigma da sociedade baseada na célula familiar! As pessoas já não se casam, as famílias tradicionais desfazem-se a um ritmo alucinante, as novas gerações não querem laços de projecto comum, os jovens não querem compromissos, dificultando a criação de um espírito de estratégias e actuação comum...
9º- O Ressurgir da Rússia/Índia : para os menos atentos: a Rússia e a Índia estão a evoluir tecnológica, social e economicamente a uma velocidade estonteante! Com fortes lideranças e ambições estratégicas, em 5 anos ultrapassarão a Alemanha!
10º- A Revolução Tecnológica : nos últimos meses o salto dado pela revolução tecnológica (incluindo a biotecnologia, a energia, as comunicações, a nano tecnologia e a integração tecnológica) suplantou tudo o previsto e processou-se a um ritmo 9 vezes superior à média dos últimos 5 anos!
Eis pois, a Revolução!
Tal como numa conta de multiplicar, estes dez factores estão ligados por um sinal de "vezes" e, no fim, têm um sinal de "igual". Mas o resultado é ainda desconhecido e imprevisível. Uma coisa é certa: as nossas vidas vão mudar radicalmente nos próximos 12 meses e as mudanças marcar-nos-ão (permanecerão) nos próximos 10 ou 20 anos, forçando-nos a ter carreiras profissionais instáveis, com muito menos promoções e apoios financeiros, a ter estilos de vida mais modestos, recreativos e ecológicos.
Espera-nos o Novo! Como em todas as Revoluções!
Um conselho final: é importante estar aberto e dentro do Novo, visionando e desfrutando das suas potencialidades! Da Revolução! Ir em frente! Sem medo!
Afinal, depois de cada Revolução, o Mundo sempre mudou para melhor!..."
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muito bom e muito informativo esse texto, porém quanto a questão da revolução ela só pode acontecer quando deixarmos esse individualismo de lado e todos lutarem por um bem coletivo
ResponderEliminarFrederico
ResponderEliminarisso é mais que evidente, e é o mais importante.
Uma revolução, seja de que tipo for, tem que ser de um colectivo e o mais alargado possível.
Abraço amigo.
é verdade: dp de cada revolução, o mundo mudou para melhor. Embora entre a 1ª GGM e a 2ª o espaço tenha sido curto :)
ResponderEliminarO texto está excelente, o modelo utilizado pela Europa e Estados Unidos está há muito ultrapassado...
ResponderEliminarSó que a ameaça não vem dos chineses, porque eles não cometer o erro do japão durante a segunda guerra mundia. Os Chineses sabem copiar e não copiam desastres.
Claro que não é à toa que eles compraram a EDP(É a empresa lider mundial das energias renováveis), signifca que os Chineses já perceberam quantos anos mais, vai haver petróleo...
Enquanto tivermos politicos que olhem para o seu umbigo, estamos mal, muito mal. Não estamos muito longe de surgir alguém com ideias mais radicais. A "fome" faz as pessoas ficaram doidas...
Vamos ver...
Forte Abraço
Paulo
ResponderEliminaruma guerra não é necessariamente uma revolução.
O conceito de revolução pode ser restrito ou lato, e é muitas vezes mal utilizado.
Houve poucas verdadeiras revoluções no mundo, e elas podem ser de diferentes espécies, mas com um denominador comum: mudarem radicalmente o que antes estava estabelecido.
Para mim, a maior revolução da História foi a Revolução Cristã; depois houve grandes revoluções políticas como a Revolução Francesa ou a Revolução Russa.
Noutro campo foi importantíssima a Revolução Industrial e nos nossos tempos a Revolução Tecnológica.
De âmbito ainda pouco esclarecido podemos estar perante uma revolução no mundo árabe e com certeza a uma "revolução" chinesa, poderosíssima está já no seu início.
É desta e de outras que estão a formar-se, que poderá vir a origem desta verdadeira Revolução de que o texto fala.
Abraço amigo.
Francisco
ResponderEliminarnão podia estar mais de acordo com o teu comentário.
Abraço amigo.
Um excelente Ponto de Vista, de facto, se calhar não de uma maneira tão abrangente, mas já à algum tempo que comecei a observar pequenos indicadores de mudança. A ver vamos se a crise no sector petrolífero juntamente com a incerteza do resultado da chamada primavera arabe e também com o colapso do euro e consequências que dai advêm, se não nos vão arrastar novamente para uma guerra mas a nível global. Espero estar enganado.
ResponderEliminarAbraço
este texto merece uma outra reflexão que esta minha pela rama, mas é um facto que estamos a passar por profundas transformações. a palavra que oiço mais nos debates é conjuntura, crise da dívida soberana, crise dos mercados, crise, contudo, que permite o avanço tecnológico e a procura de novas soluções.
ResponderEliminaro gigante chinês está aqui em pleno e graças a nós/edp vai dar o salto para os EUA.
os jovens não querem compromissos é uma afirmação arriscada, não lhes é permitido o compromisso, devido à precariedade em que se encontram. mas este tema ficará para outras núpcias, salvo seja.
O texto não podia ser mais claro e expressivo e muito bem escrito e direccionado. E claro, directo ao que quase todos pensamos, mas não temos a coragem de dizer...
ResponderEliminarSérgio
ResponderEliminarnão é querer ser optimista, mas não acredito numa guerra global; só um louco a iniciaria, pois toda a gente sabe as consequências de uma guerra desse tipo.
Mas esses sinais que vens detectando, tu e todos nós, são indiciadores de uma nova era que trará também até estar estabilizada, bastante "desconforto" principalmente a regiões pouco habituadas a senti-lo.
Abraço amigo.
Margarida
ResponderEliminaré quase um círculo vicioso de que é difícil escapar...
Mas é aliciante conjugar, como se faz no texto, estas diversas premissas que nos conduziram à situação actual e de que forma as podemos conjugar com o nosso viver, já que me parece impossível contorná-las.
Beijinho.
Ricardo
ResponderEliminarpor isso mesmo publiquei este texto, para que todos possamos reflectir em algo tão bem estruturado e tão duro ao mesmo tempo.
Temos que nos habituar à ideia de que tempos verdadeiramente dramáticos se aproximam...
Abraço amigo.
Não sei qual o caminho que vamos percorrer, mas também há verdades que me parecem evidentes: a Europa está a perder definitivamente o seu papel predominante no mundo; o nosso modelo económico está gasto; o nosso estado social está ultrapassado. Acredito que estamos numa fase de mudança de paradigma. Só não sei se esta revolução será para melhor.
ResponderEliminarTeresa
ResponderEliminartodas as revoluções só trazem resultados positivos a médio ou longo prazo; durante o período em que decorrem trazem variadas e muitas vezes conflituosas questões e é esse o ponto que mais nos interessa de momento, embora as novas gerações já possam eventualmente a colher frutos das turbulências do presente.
Beijinho.
A Europa tem que investir naquilo que a diferencia da China: a qualidade dos seus Recursos Humanos.
ResponderEliminarsão sem dúvida claros os sinais de que as coisas estão a mudar radicalmente, e a uma velocidade muito mais vertiginosa do que poderíamos supor há 4 ou 5 anos.
ResponderEliminarreceio, como o texto refere, que a Europa esteja num processo de profunda decadência, e, para ser franco, nunca pensei que fosse no meu tempo de vida que esse momento haveria de chegar, o do fim da Europa e o da emergência de outras super-potências e outros impérios.
claro que as coisas mudam sempre para outra coisa, transformam-se, e gosto muito da nota final de optimismo, apesar de eu próprio não ser capaz de o partilhar.
enfim, vamos ver o que o mundo, e o tempo, nos traz. talvez o facto de não ter filhos me distraia um pouco da preocupação com o futuro. além de que eu sou do tempo em que os amanhãs cantavam, e depois deixaram de cantar.
sempre acreditei que o futuro estava a sul. lastimo é que eu próprio já não vá a tempo de levantar voo.
abração
(e, como sempre, muito apropriada a escolha musical)
Backpacker
ResponderEliminarpouco mais lhe resta; mas falamos da população, pois da classe política, isso já foi tempo...
Abraço amigo.
Miguel
ResponderEliminarmais uma vez estamos em sintonia.
E sabes o que te digo? Tirando aquela história dos direitos humanos, cuja importância não é pequena, diga-se de passagem, eu até reconheço que a China tem feito um progresso excepcional, e embora comunista, é pragmática e adapta os modelos capitalistas quando é preciso e sem hesitações.
Mao está enterrado há muito e esses tempos não voltam mais.
É um país gigantesco, com uma população imensa e não sei como aquilo tudo funciona...ou antes, até sei, tem que ser com mão de ferro, por vezes exagerada, claro.
Já os outros países emergentes, quer Índia, quer Brasil me parecem incomparavelmente mais débeis, embora me surpreenda a Índia, país com uma população de milhões de seres abaixo do nível de pobreza, estar com a pujança económica que ostenta.
Já o Brasil, tanto Lula como Wilma são espertos e estão a capitalizar as imensas riquezas que o país possui.
A Europa está falida economicamente e não tem senão dirigentes medíocres que cada vez a afundam mais.
Restam os EUA, que se têm preocupado sempre mais em manterem o estatuto de "guardião do Universo", mas com fins pouco esclarecidos e de interesses muito pouco recomendáveis.
Não sei quem será o próximo presidente, mas pelo que vejo do lado republicano, aquilo é de uma pobreza tão franciscana, a nível de candidatos, que penso não será difícil a reeleição de Obama; mas este será sempre limitado por maiorias republicanas no Senado e é uma incógnita o futuro do país, cuja economia tem sido muito abalada pela conjuntura actual, que tem levado o capitalismo para um buraco sem saída.
Estará a solução num liberalismo económico?
A ver vamos, o que tudo isto dá; mas entretanto é o "peixe miúdo" que mais se trama, ou seja nós!
E se no resto do mundo, a mediocridade dos políticos é geral, aqui ainda é pior - uma autêntica desgraça.
E a população, parece anestesiada, conformada, sem reacção e isso revolta-me...
Sei que vir para a rua gritar, pode não resolver nada, mas no tempo do Sócrates vinha-se para a rua gritar cada vez que ele espirrava...
Temos que dizer BASTA!
desculpa o testamento, mas quando me ponho a divagar. é isto...
Abraço amigo.
Caro Pinguim, receio (mais uma vez) ser a voz dissonante aqui.
ResponderEliminarO artigo, interessante em alguns aspectos, não me deixa de parecer um pouco demagógico.
O texto original foi escrito por Carlos Lacerda, em 2008!
As respostas ao seu artigo não se fizeram esperar, e esta eu subscrevo na integra:
"1- Em primeiro lugar, a crise petrolífera de 1973 nada têm a ver com a actual e muito menos provocou alguma revolução a nível mundial. Como se sabe, o denominado choque petrolífero de 1973 tratou-se de uma sanção dos países produtores árabes da região do Golfo ao ocidente que apoiou Israel na guerra contra o Egipto e a Síria, incluindo alguns batalhões iraquianos. Nessa altura, esses países, em retaliação pelo apoio que levou Israel à vitória, pura e simplesmente aumentaram o preço das exportações para o ocidente em 300%. Mas não o fizeram de igual modo para todos os países importadores do mundo, muito pelo contrário: até há pouco tempo praticavam várias tabelas de preços e suspeita-se que ainda o façam, embora a coberto de acordos de trocas, etc. Portanto, a crise de 1973 foi dirigida a um alvo específico. A de agora, e diferentemente dessa, resulta de um ligeiro aumento da procura, sobretudo por parte do sudeste asiático (Índia e China) que, não obstante, também são produtores e estão longe de ter esgotado as suas capacidades, preferindo importar do que extrair e refinar, por ser economicamente mais vantajoso (aliás, o exemplo vem de alguns países do golfo que, há décadas, extraem mas não refinam ou refinam pouco, preferindo importar produtos refinados em troca de crude) e resulta sobretudo da especulação selvagem e grotesca no chamado “mercado de futuros” e, dentro deste, nas igualmente chamadas “comodities”. Haverá porventura alguma outra razão plausível para que num único mês o barril de crude tenha aumentado 20 dólares a não ser a ânsia criminosa de gigantescos lucros fáceis? – E, pior ainda, é que entre os investidores/especuladores estão muitos Estados e muitos Bancos Centrais, sobretudo os mais ricos, entre eles o BCE, que investem duro em “futuros”. Alguém achará que foi por mero acaso que o crude começou galopantemente a subir quando estoirou o mercado imobiliário? Os “investidores” tinham de encontrar outra mina e bem depressa a acharam… Mas tal como no mercado imobiliário, em que o excesso de oferta ditou a brusca descida de preços (e ninguém, no seu perfeito juízo, vai pagar uma hipoteca por 30 ou 40 anos quando sabe que, no final, o imóvel que comprou valerá cerca de um terço do valor da aquisição – é este o sub prime à americana que começa a estender-se agora à Europa), a subida brusca do crude está a levar a que diversos países do mundo, com especial relevo para a América latina iniciem ou incrementem a sua produção e, ainda, que os países ou as zonas mais ricas do globo façam investimentos colossais em energias alternativas, como já está a acontecer nos principais países da Europa, que pretendem, no horizonte temporal de uma década, reduzir a dependência do petróleo na casa dos dois dígitos. E então o cenário mais provável é que se verifique também um “sub prime” do petróleo. Parece até inevitável que aconteça por uma outra razão também ela fortíssima – a das alterações climáticas.
2-Dizer que a China e Rússia são uma ameaça porque em breve se irão tornar dois gigantes… bom, só o desconhecimento da realidade social e económica de cada um desses países pode conduzir a tais afirmações. A China terá cerca de 800 milhões de pobres e gravíssimas carências em infra-estruturas básicas (o último sismo ali ocorrido deu uma pálida imagem do que ali se passa nessa matéria). Se fosse possível a China quisesse de um momento para o outro construir todas as infra-estruturas básicas e dar aos seus cidadãos direitos sociais mínimos teria de se endividar por um incalculável espaço de tempo. Se consegue exportar muito e a baixo preço é a custa de mão-de-obra infra remunerada e só acessível, ainda assim, a uma pequeníssima franja da sua enorme população. Ora ninguém pode ser gigante ou tigre, a não ser de papel (para utilizar a metáfora maoísta), com uma enorme miséria dentro de portas. Mesmo que tenha milhares de barcos e ponha automóveis, computadores e texteis na Europa ao preço da uva mijona. E o caso da Rússia é um pouco parecido: era uma potência militar no tempo da guerra-fria à custa da pobreza mais extreme dos seus cidadãos; agora e bem tenta erguer-se mas esta ainda muito longe de atingir os padrões ocidentais em geral, quanto mais os da Alemanha. Vá-se por exemplo a UFA, um dos seus mais importantes centros petroquímicos e veja-se o que são as suas infra-estruturas, o nível de vida e os salários de trabalhadores altamente especializados que por ali abundam…
ResponderEliminarEm suma, Sr. Lacerda, bom seria que o mundo estivesse mergulhado na revolução que o Sr. já vê em todo o lado e publicamente anuncia. O mundo está é em estagnação, isso sim, com uns fogachos de artifício aquém e além mas que não passam disso mesmo. O teorema é tão simples quanto isto: em espaços finitos e limitados, como é o planeta terra, não pode haver crescimentos nem mudanças infinitos."
E agora, a estocada final (que me deixa a rir apesar da seriedade do assunto):
ResponderEliminar"(…) desde há 8 meses que o Sistema Financeiro Mundial está à beira do colapso (leia-se “bancarrota”) (…)
(…) o petróleo jamais voltará aos níveis de 2007 (ou seja, a alta de preço é adquirida e definitiva!) e começarão rapidamente a fazer sentir-se os efeitos dos custos de energia. (…) basta lembrar que por exemplo toda a indústria de férias e turismo de massas para as classes médias (que, por exemplo, em Portugal ou Espanha representa 15% do PIB) irá virtualmente desaparecer em 12 meses! Acabaram as viagens de avião baratas (…e as férias massivas!) (…)
(…) os transportes de mercadorias irão sofrer contracção profunda e as trocas físicas comerciais (que sempre implicam transporte) irão sofrer fortíssima retracção, com as óbvias consequências nas indústrias a montante e na interpenetração económica mundial. (…)
(…) as pessoas estão endividadas, a perder rendimentos, a perder força social e capacidade de intervenção. (…)
(…) a Europa moribunda já não tem projecto, já não tem razão de ser, que já não tem liderança e que já não consegue definir quaisquer objectivos num “caldo” de 27 países com poucos ou nenhuns traços comuns! (…)
(…) O gigante asiático vai agora “atacar” o coração da Indústria europeia e americana (…) À beira desta ameaça, a crise do têxtil foi uma brincadeira de crianças! (…)"
Este texto vende uma única ideia: vêm aí dois monstros (Rússia e China), que vão atacar e aniquilar o Ocidente (UE e EUA).
Este género de texto tem os mesmos efeitos que as Igrejas evangélicas que por aí proliferam: corroem e devoram os espíritos mais fragilizados.
(nesta altura estou a pensar no que dizia uma faixa na IURD, em Lisboa: 'Fazem-se milagres!')
Caro Coelho
ResponderEliminarpara já um agradecimento por revelares a autoria e a data deste texto.
Quanto à data, não me parece nada longínqua, até porque foi nesse ano que a crise económica se iniciou, crise essa que nunca deixou de existir até hoje.
Eu, e demais pessoas que até aqui consideraram este texto muito bom, não o consideraram por uma só razão das várias expostas, mas pela conjugação de todas elas.
Ora na longa resposta que transcreves desse opositor ao texto (e não terá sido o único, decerto), toda a argumentação se baseia quase exclusivamente na questão do preço do petróleo de 1973, o que é uma questão isolada, pontual mesmo e que eu prefiro entender como a flutuação do preço de um bem essencial à economia dos nossos tempos e que está na mão dos países produtores e dos países especuladores; o facto é que o mundo não pode estar tão dependente como está, do petróleo e daí a importância crescente nas energias alternativas e renováveis (que o nosso anterior governo muito bem entendeu e de que o actual fez tábua rasa, mas isso é outra história), alternativas essas que estão na base do interesse chinês na "nossa" EDP, um pequeno gigante nesse contexto e que vai abrir muitas e importantes portas à China, nesse campo, a nível mundial.
Isto porque os chineses não são estúpidos e sabem preparar-se a tempo para futuras eventuais crises como a de 1973, até porque as suas carências são enormes.
Passando à questão da "ameaça" da China e da Rússia, eu não as considero ameaças, mas sim um resultado perfeitamente lógico de um crescimento económico que resulta do aproveitamento de inúmeras riquezas desses países, mas também do colapso do modelo económico ocidental até então implementado com sucesso na Europa e nos EUA.
Mas esse tempo acabou e de uma forma progressiva, possivelmente com o fim pré anunciado do euro, como primeira consequência real, a chamada economia de mercado já deu o que tinha a dar, como aconteceu há poucas décadas atrás com as chamadas economias de direcção central em voga nos países comunistas.
O próprio sistema comunista chinês nada tem a ver com o comunismo maoista, adaptou-se e o comunismo ortodoxo só continua vigente em poucos países, que têm dificuldades económicas enormes, como Cuba ou a Coreia do Norte (e possivelmente em Portugal se por absurdo o PCP estivesse no poder).
Portanto e vendo o texto na sua globalidade, concordo inteiramente com ele.
Mas, é com satisfação que vejo que há quem não seja da mesma opinião e isso é salutar nos tempos que correm.
Abraço amigo.
Não tenho dúvidas que o mundo vai mudando para melhor! O que não sabemos é quanto tempo vai demorar essa melhora a chegar!
ResponderEliminarE estes passos de recuo custam tanto a passar...
Justine
ResponderEliminargostava de compartilhar o teu optimismo, mesmo que polvilhado com a consciente dificuldade da vida dos dias de hoje.
Beijinho.
Sem dúvida, um bom texto. Contudo, gostaria de fazer algumas observações: não vi qualquer referência ao papel cada vez mais predominante do Brasil no cenário internacional. Foi um lapso do autor, com toda a certeza. Por outro lado, eu não colocaria a Índia no "catálogo" dos ressurgimentos. A Índia não está a ressurgir de nada; a Índia está a afirmar-se pela primeira vez. Apesar de ser uma das grandes primeiras civilizações mundiais e destino dourado das especiarias e do comércio oriental durante séculos, a Índia sempre foi uma região pobre e nem existia enquanto país até 1947, quando se libertou do jugo do Reino Unido. Por esse motivo, eu diria que a Índia está a afirmar-se; não pode ressurgir de um lugar que ainda não teve até então. Já em relação à Rússia, sim, poderemos falar de um ressurgimento, após o colapso da União Soviética.
ResponderEliminarConcluindo, o texto, de facto, está elucidativo. ^^
Abraço, my dear.
Mark
ResponderEliminaro texto apenas contempla a opinião do seu autor e é num aspecto geral que eu concordo com ele e não em todos os pontos referidos, até porque são muitos e complexos.
Na questão da Índia, o facto de se lhe chamar um país emergente não é culpa do autor do texto, pois é um termo usado internacionalmente, com maior ou menor propriedade. Claro que para mim, faço uma total distinção entre o Brasil e a Índia.
Abraço amigo.
Não entendeste. :) Eu disse que o autor referiu, e passo a transcrever: "O ressurgir da Rússia/Índia". Ora, que a Índia se trata de um país emergente ninguém duvida; o autor é que usou o termo "ressurgir" para se referir à Índia, o que do ponto de vista histórico e semântico está errado. :) Podemos falar em ressurgimento apenas em relação à Rússia que, quando era uma das repúblicas da U.R.S.S (porventura a mais poderosa), era, sim, efetivamente, uma grande potência. A Índia não ressurgiu de nada; emergiu. :)
ResponderEliminarMark
ResponderEliminartens toda a razão.
Confundi a palavra ressurgir, com emergir...
Peço-te desculpa.
Abraço amigo.
Gostei do texto e ainda bem que o "desviaste". Infelizmente descreve um realidade.
ResponderEliminarEu sei que toda a sociedade está a mudar, está em curso uma "revolução" mas, cobardemente, não quero pensar muito nisso, gostava de me poder fechar num casulo e viver os últimos anos da minha vida sem os sobressaltos que me vão "atacando".
Abracinho meu|
Maria Teresa
ResponderEliminarestes "desvios", desde que bem identificados na sua origem, são importantes, pois a blogosfera é essencialmente um local de partilha e nem toda a gente acede a tudo...
Beijinho.