Se já repararam eu tenho neste blog um aviso de conteúdo
adulto, embora quase nunca ou mesmo nunca tivesse publicado algo que ultrapasse
os limites da decência. Mas, como já uma vez fiquei sem blog, embora por razões
completamente diferentes, tenho sempre receio de que por isto ou por aquilo,
possa acontecer algo semelhante, e mais vale a pena prevenir que remediar.
Ora desta vez vou publicar algo realmente de conteúdo
adulto, não de imagens, mas de palavras.
É um pequeno conto inserto num daqueles livrinhos brasileiros de autores
desconhecidos, bem pequeninos, que se leem num par de horas, e cujo autor é
Felipe Greco; o livro chama-se “Relicário” e tem contos homo-eróticos que o
autor escrevia semanalmente para uma revista.
Como se pode ver, não fiz qualquer alteração aos termos
brasileiros e às referências que suponho serem da cidade de S.Paulo.
É obviamente um texto com uma bola (não uma bolinha)
vermelha e ficam avisados: só lê quem quer; quem acha que se pode sentir
ofendido, passa ao largo…
Divirtam-se, com o machão.
«O Machão»
Encostados na porta da padaria do Largo do Aroche, os dois trocavam olhares e improvisavam sorrisos. Um deles exalava virilidade e juventude; o outro tinha toda aquela lábia monástica e a carteira bem recheada.
Acertaram os últimos detalhes e foram caminhando tesudos em direção a um manjado motel de esquina na Amaral Gurgel.
Por razões óbvias, apenas o mais moço de identificou na recepção. Subiram. No quarto: luz difusa se um abajur improvisado com uma fronha vermelha, toalhas ásperas, vídeos eróticos, música ambiente, ópera de gemidos transpondo paredes rabiscadas. Em segundos, jeans puídos, correntes, camisetas e coturnos enlameados já estampavam o piso. O mais velho, acomodando-se de bruços, olhou e teve a vaga impressão de estar levitando sobre um daqueles trajetos forrados com elementos coloridos onde certas procissões costumam deslizar. A cama era o andor.
- E se doer? – disse, ao mesmo tempo maravilhado e receoso.
- Tá debutando? – o outro retrucou.
- Algum problema?
- Para mim tanto faz.
- E você, já fez isso antes?
-Comer?
- Dar.
- Só uma vez. Aposta de moleque. Perdi.
- Perdeu ou quis perder?
- Tá me tirando, é?
- E depois não quis mais?
- Que papo mais besta, cara!
- Tô curioso.
-Tá bom. Às vezes, acordo com vontade.
- E aí?
- Aí, eu me enfio na academia. Malho que nem um condenado. Esqueço.
- Esquecer por quê?
- Se fizer de novo, talvez eu me vicie.
- E daí?
- Acontece que não é fácil arranjar quem saiba fazer gostoso, sem dor.
-Se você quiser, posso tentar.
-Qual é, padreco, tá me gozando?
-Hei, calma, garotão.
-Sou macho, tá entendendo?
- É melhor que seja mesmo, detesto ser enganado.
- Desculpe, é que teu pau parece um braço.
- Lubrifico bem.
- Não sei, cara.
- Se você não aguentar eu paro.
- Mas só com camisinha.
- Isso nem se discute, mocinho.
- E vai precisar de uma bem grande, porque…
- Já sei, pareço um cavalo.
- Tem mais uma coisa.
- O quê?
- O preço vai aumentar.
- Pago o dobro.
- E se eu sentir dor?
- Aí você ganha o triplo.
- Mas vou querer a grana primeiro.
- Adiantado, só o dobro. A outra parte fica pra depois do grito.
- Passa a grana, vai.
- Só tenho moedas de ume notas de cinco. Sabe como é, as missas andam fracas. Só aparece pobre e desempregado. Mas pode conferir. Eu espero.
-Não precisa, vou confiar.
- Espera um pouco, rapaz.
- O que foi?
- E se você não gritar?
- Claro que vou gritar, tá pensando o quê? Sou espada!
-Tudo bem, mas eu pego o dinheiro de volta se você não gritar.
- Todinho?
- É justo, não?
- Tá bem, mete bronca.
- Relaxa!
- Mais rápido!
- Assim acabo gozando!
- Agora mete fundo, vai!
- Não tem mais, já foi tudo.
- O quê?
- Anda, pilantra, devolve o dinheiro da paróquia ou eu te excomungo.