quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Vamos jantar?

No passado domingo, realizou-se no Parque das Nações, um encontro de alguns dos participantes do concurso de contos Pixel 3, subordinados ao tema “Natal”, em boa hora lançado pelo Sad Eyes, que já havia lançado os dois primeiros, e como eles, teve um enorme êxito, pois houve um elevado número de participações, muitas das quais de grande qualidade.
A iniciativa deste encontro foi, como é natural, do próprio Sad, e conseguiu-se reunir um interessante número de participações: além do Sad, estiveram presentes a Margarida, o João e o Luís (que vão editar na sua cada vez mais interessante “empresa”, o conjunto destas histórias, à semelhança do que fizeram com a edição das histórias dos dois primeiros concursos), o Ricardo, o K, o Arrakis, o Francisco, o Silvestre (com o seu simpático companheiro), e eu, claro.
Foi um bocado de tarde muito bem passado, conversou-se essencialmente dos concursos e dos blogs e para mim, foi excelente reencontrar alguns amigos que já conhecia e conhecer alguns outros, pela primeira vez.
Estes encontros são muito salutares e se dúvidas tinha de retomar uma “velha” iniciativa minha de realizar, de novo este ano, um jantar anual de bloguistas, elas diminuíram consideravelmente.
Tendo organizado já cinco jantares, o primeiro em 2007, com um número reduzido de participantes, mas também ainda não estava há muito na blogo, no bar Agito, no Bairro Alto, em 2008, e com uma elevada participação, mudámos para o Caruso, no Pátio Bagatella, e depois, em três anos consecutivos, assentámos arraiais no Restaurante Guilho, mesmo às portas da Amadora, onde temos tido oportunidade de conviver sem ser sentados numa só mesa, confinados aos vizinhos de ocasião, já que têm sido jantares volantes, com o apoio de mesas e cadeiras e com a totalidade do espaço para nós, o que é excelente.
Tirando o primeiro ano, nas quatro edições seguintes, tive o apoio precioso do Paulo e do Zé (Felizes Juntos), mas essa colaboração, por falta de tempo não se vai reeditar num eventual novo jantar.
Por estar sozinho, e porque fico sempre algo desiludido com as desistências de última hora (tenho um pavor de ouvir o telemóvel tocar nas últimas 48 horas, antes do evento), não organizei o jantar o ano passado.
Ora tendo conversado sobre este assunto com a Margarida, ela predispôs-se a dar-me um apoio nesta iniciativa, este ano.
O Paulo, fará, com sempre o “bonequinho” do jantar e como em equipa vencedora não se mexe, o local está mais que escolhido, faltará escolher uma data, que será sempre um sábado de Maio e questionar as pessoas sobre a viabilidade de aparecerem.
Claro que há muita gente que não vive na região da grande Lisboa, mas é impossível realizar este jantar noutro local do país, pois a grande maioria dos bloguistas que conheço residem aqui e tem havido sempre a participação de gente de outras terras, pois é um fim de semana que se vem passar aqui, e se aproveita para um bom convívio.
Um outro óbice para alguns é darem a cara, o que embora respeitando, não entendo, pois este jantar não é um jantar de blogs gays, cada vez o é menos, com muitas participações de gente hétero e é bom que se desmistifique de todo essa ideia, pois nem se fala disso nestes encontros, a não ser como um tema de conversa como tantos outros, que são normais.
Acresce o facto de eu ter a certeza da presença de várias pessoas que já tiveram blog ou o têm inactivo, mas que já se habituaram a estes convívios.
Portanto, o objectivo desta postagem é “apalpar o terreno”, principalmente daqueles que nunca participaram nestes jantares, pois os que já estiveram presentes só não virão de novo, se não puderem, tenho a certeza. Por ora nada mais adianto, ficando a aguardar as vossas reacções.
Para quem não sabe, este jantar está aberto a bloguistas, com os acompanhantes que quiserem, mas também a comentadores habituais deste ou doutros blogs, embora não tenham eles próprios um blog. E claro aos bloguistas “parados”.
Vamos a isto?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Consecuente


A vida acontece e toda a gente que passa na nossa vida leva alguma coisa de nós.
Alguns levam mesmo tudo.
Consequência de se viver permanentemente sobre o fio da navalha?
O tempo realmente cura todas as feridas? E se sim, quanto tempo demora para voltar a crescer a esperança?
"Consecuente" é uma obra de Juanma Carrillo, que resultou de uma perfomance/videoterapia ocorrida em Madrid, em Março de 2010 e teve a participação de 20 actores.
Juanma Carrillo é o autor de variadas curtas metragens, algumas delas bastante polémicas, com especial destaque para "Cannibales".

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Peripécias de uma viagem

Regressei no sábado, a meio da manhã, de mais uma viagem a Belgrado.
Já lá não ia desde Outubro de 2011 e cada vez gosto mais da cidade e das suas gentes. E claro, é óptimo poder conviver uns dias com o Déjan, mesmo não sendo a tempo inteiro, o que até é bom sinal, pois mostra que ele está numa nova fase da sua vida.
Mas, ir a Belgrado não é nada fácil para mim; a começar nos voos, pois não havendo voos directos, há que escolher escalas e como o dinheiro não abunda é imperioso viajar nas companhias low cost, que já não são a pechincha de há uns tempos atrás e que carregam em todas as “alcavalas” que podem para onerar os preços. 
Se se leva uma mala no porão, paga-se mais; se a única “hand bag” que podes levar ultrapassa as medidas estipuladas, idem, e numa das companhias se não se faz o check in on line, paga-se também mais. Não há refeições a bordo e o que quiseres comer ou beber é pouco, mau e paga-se…Para rentabilizar as viagens, o espaço entre as filas é exíguo, o que se torna desconfortável, enfim, é o “preço” de pagar pouco.
E o principal problema, para mim, é que apenas duas ou três companhias low cost operam com Belgrado e com voos muito espaçados, pelo que é difícil conjugar os voos. Geralmente opto por ir de Lisboa a Londres (Luton), pela Easyjet e de Londres (Luton) a Belgrado pela companhia húngara Wizzair.
Mas a conjugação dos voos obriga-me a passar uma noite em Luton; nem pensar em ir a Londres, gastar um dinheirão no autocarro.
Ou se dorme (?) no aeroporto, sem nenhum conforto ou se opta como fiz agora por alugar um quarto num dos três hotéis existentes ali pertinho do aeroporto, tendo escolhido o simpático e acessível Ibis (45 libras, na noite da ida e 39 no regresso). Pode-se comer não demasiado caro no hotel pelo que o melhor é ficar mesmo por lá e descansar. 
A pé são 10/15 minutos, mas quando fui apanhar o avião para Londres, chovia a bom chover e cheguei ensopado ao aeroporto.
Há autocarros, mas a paragem perto do hotel e que é a única até ao aeroporto não tem protecção, pelo que preferi ir caminhando, e cheguei supercansado (além de ensopado).
Agora tive mais sorte, não chovia e apanhei o autocarro e em 4 minutos estava lá.
Mas desta vez, tive um contratempo, pois ao chegar ao hotel (muito cedo) e quando esperava por um quarto pronto, para fazer o check in, o meu telemóvel bloqueou! 
Fiquei sem contactos pelo que resolvi, logo que possível ir a Luton, tentar resolver o problema. Luton é a 5 kms dali e é uma pequena cidade que eu já conhecia por lá ter dormido há uns 5 anos atrás.
Mas que cidade encontrei agora? Parecia que tinha chegado a um estúdio onde se estava a rodar um filme do Felinni. 
Gente incrível, e eu quase não acreditava que estava em Inglaterra, pois brancos eram poucos…
Muçulmanos, indianos e paquistaneses, africanos, eu sei lá, parecia um país do terceiro mundo, e acreditem, não sou racista. 
Apesar de tudo ainda eram as pessoas mais normais, pois os brancos eram mesmo felinnianos – bêbados, deformados, mal encarados, sujos, skinheads, eu sei lá…de fugir! 
Lá encontrei uma lojeca de indianos onde mostrei o telemóvel e ali me disseram que o arranjavam por 20 libras; não muito convencido lá o deixei e passaria uma hora e meia depois a busca-lo. 
Para passar o tempo entrei num pub logo ali ao lado, enorme e com uma “população” indescritível – só velhos, bêbados e gente suja, mal encarada. Não consegui pedir nada e apenas fui ao WC (?), que cheirava mal, estava todo sujo e onde dois tipos vomitavam. Um pesadelo. 
Lá passei o tempo como pude, andando de um lado para o outro, até o telemóvel estar pronto. 
Regressei de autocarro ao hotel e já de lá não saí, a não ser às 5 da manhã de sábado, para ir para as intermináveis filas das entradas nos locais de espera para embarcar.
 Como é hábito, tinham que implicar com alguma coisa - à ida não me queriam deixar passar uma garrafa de vinho que tinha comprado no aeroporto de Lisboa, e com indicação expressa de que era para o destino final e não para escala; só depois de larga discussão consegui passar – e agora implicaram com o tamanho da bolsa transparente para os artigos de higiene, não com os artigos, pelo que com o saco aberto, o computador cá fora, tinha de ir comprar um saco com as medidas adequadas sei lá onde; valeu-me a gentileza de um individuo que estava atrás de mim, que me deu um saco desses. Claro que foi só passar para lá os objectos e tudo estava bem – a isto chamo eu implicar.
E depois o medo que o meu saco não passasse na vistoria da porta de embarque pois tinha feito o check in on line, aqui, na Portela, fui ao balcão da Easyjet e a menina, embora torcendo um pouco o nariz lá me deu o visto do saco; mas agora não tinha ido ao balcão da EJ e logo ali na fila para o embarque estavam a implicar com uma moça cuja mala tinha mais 2 cms que o permitido pelo que ela tinha que ir pagar uma multa e voltar depois para o embarque; ora o meu saco ainda era maior que o dela, o que vale é que aproveitei a discussão delas, para mostrar o boarding pass a um outro funcionário, escondendo o mais possível o meu saco.
 Curiosa a cobertura que me deram nesta “jogada” três ou quatro portugueses que estavam junto a mim na fila, tapando completamente a visão do funcionário. Lá passei, ufa!!!!
Enfim, saí de casa do Déjan, sexta feira de madrugada (3 da manhã), sem ter ido à cama, para apanhar o autocarro para o aeroporto, que é muito longe e só cheguei à Portela às 10,30 da manhã de sábado, super cansado, com os braços a doerem-me pois este saco não vale nada, é dos antigos, sem rodinhas, e com o peso do computador dentro, eu já nem o via…
Se o Duarte não estivesse à minha espera, nem quero pensar como teria chegado a casa, tendo que apanhar o metro, o comboio e depois um táxi para casa.
Gosto muito de Belgrado, gosto cada vez mais do Déjan, mas já não tenho idade para isto. 
Quando ele estiver na Alemanha espero que tudo seja mais fácil. 
Mas primeiro quero é vê-lo aqui!!!

A música do dia vai direitinha para o Déjan.
Volim te, my love.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Dizer adeus custa tanto


Full of feathers, full of feathers lay me down
And with more feathers, more feathers stand up
On my chest, I was already on my chest
This way, the way you want both

Despair, I despair for my
Within me, within me the punishment
Do not want you, I say I do not want you
And at night, I dream of you at night

If you think that one day I shall die
In desperation I have to you do not see
I extend my shawl, I extend my shawl on the floor
I extend my shawl and let me sleep

If I knew, if I knew that dying
Thou hast me, thou hast me crying
On a tear, a tear by your
What joy would kill me

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

O Inverno do nosso contentamento

Pois aqui estão algumas notícias (e fotos) desta minha estadia em Belgrado.
Pela primeira vez, o Déjan tem um trabalho e um horário a cumprir, pelo que tem sido diferente das outras vezes; ele está na sua primeira etapa do estágio, duas semanas numa clínica pediátrica, onde faz geralmente o período da manhã (das 8 às 16), pelo que durmo bastante pela manhã, vou comer alguma coisa fora, ou sobras do jantar do dia anterior, em casa, e depois espero por ele no centro da cidade, pois a clínica é longe, na outra margem do Sava, em Nova Belgrado.
Encontramo-nos  num café, ou passeando, o que não é muito conveniente, devido ao muito frio
e depois vamos para casa, onde cozinhamos e jantamos; às terças e quintas ele tem aulas de alemão, pelo que eu venho mais cedo para casa, e ele vem às oito, depois das aulas.
Outras vezes jantamos fora, geralmente nos mesmos 3 ou 4 restaurantes que já conhecemos e que são bastante acessíveis em preço.
No dia de folga dele fomos visitar o museu do Red Star, que é assim um espécie de Benfica cá do sìtio, e lá descobri coisas muito interessantes, relacionadas com o meu clube do coração, como esta caravela em filgrana oferecida quando de uma visita do Red Star à nossa Catedral
O Benfica foi o clube convidado para a inauguração dos jogos nocturnos no estádio, que se chama Maracanã, pois é enorme.
Desta foto pode ver-se lá atrás a Catedral de S. Sava, a segunda maior catedral ortodoxa de mundo, depois da de Moscovo.
Temos falado bastante no futuro próximo, que não será fácil, pois ele tem durante um ano o estágio, o que o limita muito, e nem sabe se terá férias ou quando as terá.
Mas é uma etapa fundamental para a sua vida futura, que está praticamente definida como passada na Alemanha, onde o curso de medicina daqui é reconhecido sem necessidade de exames de equivalência e tem assegurada colocação devido a bons contactos que tem ali, como o presidente da Mercedes Benz, em Stuttgart, onde vive uma família sérvia muito sua amiga; só não saberá para que cidade.
Mas, a partir do princípio do próximo ano, já a trabalhar e a ganhar bom dinheiro, as coisas mudarão para nós, já que pode ele contribuir para as despesas dos nossos encontros, que poderão ser mais frequentes, mas de menor duração, espaçados pelo ano, e também com diferentes destinos.
Entretanto está mesmo muito frio, e na noite de sábado a cidade ficou coberta com um manto de neve, e era este o aspecto da parte central do pátio da casa do Déjan, visto de uma das janelas
Ainda queremos passar, como é sempre hábito quando aqui venho, pela mais bomita igreja de Belgrado, S.Marcos e deixar umas velas que aqui têm uma particularidade: nos locais para a sua colocação, há dois níveis - no de cima deixam-se as velas pelos vivos, e no de baixo, as velas pelos mortos. E eles beijam todos os ícones, com uma enorme devoção.
Anda tudo muito bem protegido do frio e eu devia ter comprado um gorro para a cabeça e ouvidos…

E já estou na recta final da estadia, pois sexta de manhã, tenho que apanhar o autocarro do aeroporto, aqui perto de casa, às 4,20 já que o voo para Londres é às seis e são 35 minutos; mas já tenho o cartão de embarque pelo que vou a tempo.
Ficarei um dia em Luton, no mesmo hotel onde fiquei à vinda e lá passarei o dia, descansando e esperando pelo voo de sábado de manhã para Lisboa.


Tenho visto os blogs, mas de cima para baixo, pelo que tenho apanhado quase só os blogs que não comento, mas me dão muita informação para o Pintrest; apesar de tudo, já deu para comentar meia dúzia deles, pela ordem que me vão aparecendo, mas prometo visitar todos.

E este mundo é tramado, pois embora seja maravilhoso estar aqui com o meu amor, sinto a falta da minha casa, da família e dos amigos…e das gatas, claro. 
Trouxe três livros para ler e estou a acabar o terceiro…
Até breve.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Belgrado, que saudades...

Gosto muito desta foto de Belgrado, tirada da margem esquerda do Sava, onde cresce a Nova Belgrado, em frente da velha, histórica e central Belgrado de sempre.
O Sava nesta fase do seu curso está quase a confluir com o imenso Danúbio, e assim esta cidade está na confluência de dois grandes rios.
É uma foto de Inverno, o mesmo Inverno que possivelmente irei encontrar depois de amanhã, sexta feira quando chegar ao aeroporto Nikola Tesla, em homenagem ao grande físico jugoslavo, um dos maiores de sempre.
Há cerca de ano e meio que não visito Belgrado e tenho já muitas saudades da cidade, a que já me habituei e da qual gosto muito, da cidade e das suas gentes.
Claro que terei o Déjan à minha espera, que me visitou em Outubro, e esta estadia terá um cunho algo diferente, pois pela primeira vez o Déjan já não é o estudante ansioso por acabar o curso, mas que podia gerir o seu tempo à vontade, para ser o licenciado a fazer o seu estágio, com horários a cumprir (começa amanhã mesmo).
Assim, vou estar mais tempo só, o que me dará aso a passear pela cidade, sem destinos específicos, mas descobrindo pormenores talvez desconhecidos; e depois será tão bom, recebê-lo em casa, no regresso do trabalho, a contar o seu dia, e com ele usufruir as horas livres. Para ele, nas poucas vezes que teve que sair sem mim em visitas anteriores, era sempre uma imensa satisfação ao entrar em casa e ver que alguém estava à sua espera.
Vai estar frio, mas isso não me preocupa, pois vou sentir um calor que tanta falta me faz, nestes tempos em que estamos separados.
Entretanto, amanhã durmo num hotel Ibis, mesmo pertinho do aeroporto de Londres (Luton) e devo dar um salto à cidade, que também nada de interessante tem a ver.
Vou continuar atento às vossas postagens, mas possivelmente menos “comentador” do que é normal e também pouca coisa devo postar durante estas duas semanas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Pawel Kuczynski

O artista polaco Pawel Kuczynski é um génio na arte das ilustrações críticas. As suas obras remetem-nos para factos históricos e sociais, como a fome, o trabalho infantil, a exploração, a corrupção política, a desigualdade social e a guerra. O artista já ganhou diversos prémios internacionais.
Vejamos algumas delas



















sábado, 26 de janeiro de 2013

Al Berto

Al Berto, pseudónimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares (Coimbra, 11 de Janeiro de 1948 – Lisboa, 13 de Junho de 1997), foi um poeta, pintor, editor e animador cultural português.
Nascido no seio de uma família da alta burguesia (origem inglesa por parte da avó paterna). Um ano depois foi viver para o Alentejo. O pai morre cedo, num desastre de viação. Em Sines passa toda a infância e adolescência até que a família decide enviá-lo para o estabelecimento de ensino artístico Escola António Arroio, em Lisboa.
A 14 de Abril de 1967, refractário militar, mudou-se para a Bélgica, onde estudou pintura na École Nationale Supérieure d’Architecture et des Arts Visuels (La Cambre), em Bruxelas.. Após concluir o curso, decide abandonar a pintura em 1971 e dedicar-se exclusivamente à escrita.
Regressa a Portugal a 17 de Novembro de 1974 e aí escreve o primeiro livro inteiramente na língua portuguesa, "À Procura do Vento num Jardim d'Agosto".
"O Medo", uma antologia do seu trabalho poético desde 1974 a 1986, é editado pela primeira vez em 1987. Este veio a tornar-se no trabalho mais importante da sua obra e o seu definitivo testemunho artístico, sendo adicionados em posteriores edições novos escritos do autor, mesmo após a sua morte.
As únicas excepções são os seus últimos livros de poemas “Horto de Silêncio”(1997), e “Degredo no Sul” (publicado apenas em 2007).
A 10 de Junho de 1992 foi feito Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.
Deixou ainda textos incompletos para uma ópera, para um livro de fotografia sobre Portugal e uma «falsa autobiografia», como o próprio autor a intitulava.
Morreu de linfoma.
Em 2009 a Companhia de Teatro O Bando estreia no Teatro Nacional Dona Maria II em Lisboa um espectáculo intitulado A Noite a partir de Lunário, Três cartas da memória das Índias, Apresentação da noite, O Medo, À procura do vento num jardim d'Agosto e Dispersos.
 Além da poesia, Al Berto deixa-nos em prosa: “À Procura do Vento num Jardim d’Agosto” – “Meu Fruto de Morder” – “Todas as Horas” - “Lunário” - “O Anjo Mudo” - “Dispersos” e “Diários” (publicado no final do ano passado).
 É também autor de uma peça de teatro, “Apresentação da Noite” e de um livro de Desenhos, “Projectos de 1969”.
Em 1988 foi galardoado com o Prémio Pen Club de Poesia, pela obra “O Medo”.

Acabei de ler os meus primeiros livros de Al Berto: "Horto de Incêndio" (poesia) e "Lunário" (prosa).

Quanto a "Horto de Incêndio", e eu não posso fazer comparação com os seus outros livros de poesia, pois este é o único que li, achei-o surpreendentemente belo e...triste. Escrito muito pouco tempo antes da sua morte, ele antecipa-a e prepassa por todo o livro uma atmosfera de desapego da vida e a preparação para efrentar o destino que estava próximo.
Poderia escolher variados poemas, pois o tema, com variações, está claro, está sempre presente.
Escolhi este, pois o achei sublime:

 recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer — vai por esse campo
de crateras extintas — vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo — deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração — ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna — o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira — não esqueças o ouro
o marfim — os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço


Já no que respeita a "Lunário", este texto é-nos oferecido como a­ sua "primeira incursão"* nos domínios da prosa. 
Não se trata então ­de um romance, nem de uma novela, nem de contos, mas de um ­«micro-romance»? 
É uma narrativa composta por sete "capítulos", ­unidos pela presença do "eu" narrador, Beno. 
Este dá, sucessivamente, preponderância às outras personagens, ­revelando-as como principais, em cada um dos diversos ­encontros-capítulos: Lúcio e Gazel, o par homossexual, em­ «Crepúsculo», Nemú, o rapaz sem nome em «Lua Nova», o regresso de ­Alba, a mãe do seu filho Silko em «Quarto Crescente», a morte e ­«ressurreição» de Kid, em «Lua Cheia», a companheira de bar Zohía ­em «Quarto minguante» e, por fim, a viagem e regresso de Alaíno em «Úmbria». «Cântico» – um encontro do «eu» consigo próprio? -­ corresponde a uma síntese, a reunião final dos diversos ­fragmentos do sujeito (os «heterónimos»?) que – como a imagem das ­fotografias o repete ao longo do texto – cada personagem­ representa.
Este livro é prosa sim, mas arrisco a dizer que Al Berto apenas "sabia escrever" poesia, pois todo o livro é constituído por pequenos textos que são, na realidade, poemas.
E dou dois exemplos:

"Um dia, quando a minha memória de homem fugitivo
alcançar a idade de um deserto, debruçar-me-ei num poço e
tentarei beber o tempo esquecido do teu rosto. Estarei lucidamente
morto, eu sei, e os meus olhos já não prenderão a adolescência,
nem as imagens que dela se soltaram. E a minha cegueira surgirá
cercada por frondosas árvores e pássaros, mas não os verei mais.
O rosto, o teu rosto, já não conseguirá atrair-me para o fundo
circular do poço.

O tempo de sedução terminou. Terás de me tocar, terás de
trocar o tacto dos olhos pelo tacto dos dedos. Apenas persistirá o
jogo, a cumplicidade, e uma ténue vibração do corpo que se
perdeu contra o meu corpo.

Por isso me ergo daqui e atravesso estas imagens coladas às
paredes, e ao atravessá-las descubro que estou perdido, e
condenado também a perder-te.

Levanto-me do fundo de mim mesmo e abandono a casa, os
bens que herdei, e vou pela memória daqueles vestígios que se me
cravaram no interior das pálpebras, mas não semeio nem recolho
nada. Apenas persigo os passos que outrora abandonei pelas
cidades onde te procurei, antes mesmo de saber que existias.

E perco-me, perco-me onde a sombra dos corpos é um
sudário de melancolia sobre o mar. Mas, ainda aqui estou, quase
vivo, atento ao movimento perene de tuas mãos sobre o meu
corpo. E sem bússola, nómada até aos ossos, sigo pela noite onde
aportei, e não reconheço a casa que me destinaram para morrer."

e um outro

  "No centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar. E sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte - embora seja sempre absurdo morrer. Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lí­rio, e no cardo que sobreviveu à geada. Penso em ti. Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto - aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: «Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge»."

*os dois primeiros livros de prosa, anteriores a “Lunário”, estão incluídos na compilação “O Medo”, pelo que “Lunário” é sim, a primeira obra em prosa publicada autonomamente (1988).






quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Fotos e telas

Apresento aqui três telas famosas de outros tantos famosos pintores: Pieter Bruegel (o Velho), Rembrandt e Van Gogh, curiosamente três pintores todos originários da Holanda.
O que aqui os reúne é que nas três telas representadas há uma impressionante semelhança com três fotos contemporâneas; duas delas são fotos apenas, em que as semelhanças são evidentes, mas são puramente fortuitas.
Vejamos o caso desta foto do N.Y.Times que mostra um grupo de crianças, pertencentes aos Mullets, um clã Amish do Ohio (EUA), com os seus característicos toucados que ocultam as suas cabeças rapadas, segundo os seus ritos próprios; essas crianças divertem-se, brincando entre elas, como tantas outras.
A comparação com uma das telas pintadas por Pieter Bruegel, da sua famosa série “Children’s Games”, é naturalmente apenas sugerida, já que figurativamente são, como é óbvio, diferentes.



O mesmo sucede com a conhecida foto de Che Guevara morto, depois do seu assassinato na Bolívia, e tirado pelo fotógrafo Freddy Alberto, em Outubro de 1967.
Tem, como o precedente caso, uma flagrante semelhança com uma tela famosa de Rembrandt, intitulada “Lição de Anatomia”, pintada em 1632.

Estes dois exemplos levam-nos a pensar se não haverá, porventura, dentro dos nossos cérebros,  imagens de arte que por qualquer motivo ficaram gravadas e que, de uma forma subconsciente nos levam a “expô-las”, nestes dois casos através de fotos; isto pode parecer ridículo, mas há quem se debruce sobre estas “coincidências”.

Já o terceiro caso, é completamente diferente.

Um fotógrafo lituano, Tadao Cern, famoso por distorcer as caras das pessoas que fotografa, num processo a que ele chama (vá lá saber-se porquê) “Blow Job”, a um dado momento viu num seu amigo semelhanças faciais com o famoso pintor Van Gogh, principalmente num dos seus conhecidos auto retratos.
O processo digital que o fotógrafo usou para “transformar” a foto original na face de Van Gogh está retratado neste vídeo

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Um livro...uma ideia...um outro livro

Acabei de ler um livro de ensaio, género que há muito não lia, e que devo confessar, não me é muito apelativo. Prefiro a ficção, a poesia, as biografias e os romances históricos; mas este era um livro especial que eu precisava de ler, e não dei o tempo por mal empregue.
Trata-se da obra “Homossexualidade – Uma História” (1995), da autoria do polifacetado autor inglês Colin Spencer. Este escritor escreveu sobre diversos temas – Ficção, Ensaio, Teatro, Livros de Culinária, e foi também desenhador. Além deste título, escreveu no ano seguinte, um outro ensaio sobre a homossexualidade (“O Kama Sutra Gay”).
Não sendo uma obra prima e sendo um livro ambicioso, pois não é fácil falar da homossexualidade desde a Pré História até aos nossos dias, terá algumas justificadas lacunas, mas o essencial está lá, desde os tempos em que a homossexualidade (este termo só começou a ser utilizado no século XIX) era considerada normal – Grécia, certos períodos durante o Império Romano, e outras civilizações antigas, incluindo as do extremo oriente e as pré-colombianas, algumas repúblicas renascentistas, mas também e sobretudo da enorme perseguição que quase sempre, ao longo dos séculos, lhe foi movida, a começar pelos judeus, que através da religião lhe moveram uma contínua luta.
 Aliás, ainda hoje, grande parte dos argumentos da religião cristã, contra a homossexualidade, se baseiam em textos bíblicos insertos no Antigo Testamento e em S.Paulo. Basta lembrar o exemplo do texto sobre Sodoma e Gomorra…
Não vou entrar em pormenores sobre todo o texto do livro, eles são muitos, apenas recordar que a homofobia tem grandes e profundas raízes no passado e chegou até nós, na actualidade, pese embora as grandes conquistas que se têm feito, neste campo, nos últimos tempos.
Aliás, uma das lacunas (natural) deste livro, é que tendo sido escrito em 1995, a época desde então até hoje (quase 30 anos) tem sido aquela em que mais se tem implementado em variados países desenvolvidos, do Ocidente, uma visão muito mais aceite desta situação.
Uma coisa é fácil de concluir: apesar de ser a homossexualidade não uma opção, mas uma questão genética, e de ainda hoje haver países que a consideram um crime que leva até à pena de morte, aquilo porque passaram os nossos antepassados pelo facto de serem homossexuais foi algo de terrível e com consequências absolutamente abomináveis, como por exemplo no tempo da Inquisição. No nosso país, no mundo ocidental de uma forma genérica, os dias que correm, são, na defesa dos direitos homossexuais e no reconhecimento da sua existência um quase paraíso por comparação com esses tempos.
Aproveito esta postagem para chamar a atenção para o aparecimento no nosso país de uma editora bastante original, ideia do João Máximo e do Luís, cujo nome é Index ebooks, que aproveitando a vaga das novas tecnologias com o aparecimento e crescimento dos ebooks, têm editado alguns livros de temática LGBT, incluindo algumas traduções de obras importantes, sem edição normal em Portugal; é um trabalho notável que pode ir sendo seguida no blog do João e do Luís.
Por outro lado, tiveram uma ideia muito interessante e que está apenas a dar os primeiros passos e que será a compilação de um Dicionário de Literatura Gay Portuguesa.
Para tal efeito, foi por eles criado um grupo no site goodreads, (que eu aconselho vivamente a quem gosta de ler) e que se chama precisamente “Literatura Gay Portuguesa”, onde os aderentes podem ir acrescentando livros que conheçam e caibam no âmbito do grupo. Por ora, apenas estão inscritos neste grupo, além do João e do Luís, a Margarida, o Miguel e eu próprio. Seria muito interessante que mais pessoas aderissem e contribuíssem com o acrescentar de obras, o debate de críticas e ideias, pois tudo isso é importante para o aparecimento futuro desse Dicionário.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Klaus Nomi


Não é por acaso que o documentário "The Nomi Song", de Andrew Horn (talvez o mais profundo trabalho sobre o músico já elaborado), termina com a evocação de uma cena de um velho filme de ficção científica (de série lo-fi) no qual um ovni nos deixa e alguém diz que o encontro “imediato” que tinham visto talvez tivesse acontecido cedo demais, pelo que não estariam preparados para ele... 
Na verdade o tempo de Klaus Nomi foi o certo (militante new wave e fruto de uma etapa de saudável loucura criativa na cena undreground nova iorquina), mas a noção de “ovni” pode ser um bom ponto de partida para a sua descrição. 
Alemão, residente em Nova Iorque desde 1972, era dotado de um registo vocal invulgar, isto numa época em que estava ainda longe a abertura de espaço de interesse pelos contratenores que hoje dão nova vida, sobretudo, grandes criações da ópera barroca. 
Entre espetáculos de vaudeville “alternativo” foi ganhando espaço e cultivando uma personagem que chegou aos ouvidos de Bowie, que o levou a uma atuação no Saturday Night Live
Entre o encanto pelas heranças de outras épocas e a uma nova linguagem pop que se desenhava na altura (atenta à emergência dos sintetizadores), gravou um primeiro álbum em 1981 ao qual deu o seu nome e que se transformaria numa verdadeira peça de referência pelo modo ímpar como juntava esses dois mundos e apresentava a sua voz. Era diferente de tudo e todos... 
Um ano depois regressou a estúdio para gravar um segundo álbum onde, uma vez mais, cruzava ecos de um passado distante (em concreto revisitando uma ária de Purcell e composições de John Dowland) com alguns originais inéditos, sob evidente protagonismo instrumental dos sintetizadores, juntando ainda ao alinhamento uma versão de Falling In Love Again (imortalizada por Marlene Dietrich), uma outra de Ding Dong(da banda sonora de O Feiticeiro de Oz) e ainda uma de Just One Look (originalmente gravada por Doris Troy em 1963). Sem causar o mesmo arrepio do álbum de estreia, Simple Man passa por vezes bem para lá da linha do kitsch e parece fazer pouco mais que a aplicação de uma mesma ideia a uma menos interessante coleção de canções (as versões com memória cinematográfica deixando-nos perplexos algures entre o patamar da paródia e o da tragédia). 
Convém acrescentar que quando trabalhou este disco Nomi estava já certamente doente, tendo morrido de complicações de sida no ano posterior à sua edição. 
Simple Man não será nunca a expressão maior da sua obra (deixemos esse estatuto merecidamente entregue à sua obra-prima, que é o seu álbum de estreia). 
Mas, mais que as peças póstumas editadas em 2007 (a ópera inacabada Ze Bakdaz), junta um segundo lote de canções a uma obra que continua a ser um caso ímpar na história da música pop.

Registo de todos os álbuns de Klaus Nomi:



Klaus Nomi - 1981


Simple man - 1982


Encore - 1984


Essential Klaus Nomi - 1994 (póstumo)


Za Bakdaz - 2007 (póstumo)

Em 2008, no encerramento e entrga de prémios dos "Teddy Awards" do Festival de Cinema de Berlim, foi-lhe prestada uma homenagem, com a interpretação mais conhecida dele e inserida no seu primeiro álbum, "Cold Song", de um invulgar e fabuloso cantor brasileiro, Edson Cordeiro, que tive a felicidade de ver ao vivo, nesse mesmo ano, no S.Luís, em Lisboa. Desse momento, em Berlim, aqui fica o vídeo, imperdível.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Viagens - 6

Londres - Janeiro 1975
Quem leu a minha saga “A tropa cá do João”, sobre a minha vida militar, estará recordado do final do último episódio, em que eu contava ter regressado a Portugal mesmo a tempo de passar o Natal com a família (a 17 de Dezembro de 1974), e que passei à disponibilidade em 15 de Janeiro de 1975.
Assim já podia viajar de novo e não esperei muito tempo; ainda nesse mesmo mês de Janeiro, aproveitando umas célebres promoções da “Abreu”, lá fui eu passar “uma semana em Londres”. 
Fui só e fui não só para desanuviar todo aquele stress acumulado ao longo de tanto tempo em África, mas também para comprar umas roupitas, pois desde há mais de dois anos e meio, a minha fatiota era quase sempre a mesma: a farda.
Ganhei umas massas lá em África - afinal era capitão – e como deixava cá o máximo possível, quando vim, deu para isso e para comprar um carrito.
Não ia a Londres há cerca de 10 anos e mais do que Londres eventualmente mudara, eu é que tinha mudado muito.
Pela primeira vez ia ao estrangeiro, assumida que estava por mim próprio, a minha sexualidade.
Como ia só, fui posto num quarto duplo com um outro tipo, mais ou menos da minha idade, um sujeito muito porreiro e com quem me entendi muito bem, e era uma pessoa completamente heterossexual..
Não andámos sempre atrelados um ao outro, mas saímos várias vezes juntos e uma noite ele perguntou-me onde eu tencionava ir, e eu fui sincero, disse-lhe que era homossexual e que queria ir a um bar gay.
Nessa altura, um dos mais conhecidos locais gay de Londres chamava-se “ Catacomb’s Club” e era aí que eu queria ir.
Ele, penso que se chamava Luís, era muito bem apessoado e surpreendeu-me quando me disse que gostava de ir comigo, pois tinha muita curiosidade em conhecer um sítio desses.
O “Catacomb’s Club” era uma discoteca, com várias divisões, e dançava-se, até slows.
Curiosa a descrição que encontrei na net sobre este local e só tenho pena de não ter encontrado uma foto.

"Catacombs was open about 1972 in Earl’s Court. It opposite the hospital on Brompton Road, Earl’s Court end. Opposite where Brompton’s is now. It was downstairs, underneath a faux Tudor cottage front on the ground floor. You go down the stairs, pay the entrance money and it had a bar… The reason it was called the Catacombs was because it actually was catacombs. The bar was on one side, there was a like a resemblance of a dancefloor at the front of the bar, as that circled round the back, there was a wall that went round the front and behind that wall was another wall and little caves set in, about four of them. Then there was a passageway around the caves. That’s where all the sex used to go on. But they played music, really good music, and there was dancing."
Lá chegados, tomámos uma bebida juntos e depois cada um foi dar um giro; qual o meu espanto quando daí a pouco o Luís apareceu com um ar um pouco assustado e me disse que tinha havido um tipo que o convidara para dançar e ele tinha fugido…
Fartei-me de rir e perguntei-lhe porque não tinha experimentado e ele deu-me uma resposta totalmente inesperada, dizendo-me que se dançasse com alguém era comigo.
Embatuquei e embora sempre me conheça como uma pessoa que não perde uma oportunidade, desta vez não reagi, apenas sorri.
Passado um par de horas voltámos ao hotel, ainda fomos tomar um banho na piscina interior aquecida e tudo se conjugava para acontecer “alguma coisa”, mas eu não tomei a mínima iniciativa e ele, claro que também não. Ainda hoje pensando em como ele era bonito e bem constituído, fico arrependido de me ter ficado apenas com as vistas…

Também fui várias vezes a um Pub gay, lindíssimo por fora e não menos bonito por dentro, perto de Leicester Square, e que estava sempre muito (bem) frequentado, quer de dia quer de noite. Chamava-se "Salisbury".
Também consegui uma interessante opinião do local:

 "The Salisbury pub - I would call this one a spectacle. Not because ale or chips are significantly different in this place, but because it is one of the most elaborate and preserved London's pubs belonging to late Victorian era. Etched glass and mirrors, rich upholstery, dark mahogany and burgundy ceiling - all contributes to the pub's dazzling and extravagant interior. End it is also the West End official sports free bar - thank you, Lord!!!"


Mas foi uma semana essencialmente para conhecer Londres, pois na primeira visita, nos anos 60 só ali estive de passagem. Vi tudo o que um turista deve ver, incluindo o British Museum e o Madame Tussaud.
E fui às compras em Oxford Street, tendo comprado entre outras coisa um casaco comprido de cabedal que fez furor aqui em Portugal.
Belos tempos, em todos os aspectos e Londres tornou-se tão apaixonante para mim, que voltei lá muitas mais vezes.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Cinema e música - 5

Enrico Caruso foi um tenor italiano, considerado, inclusive pelo ilustre Luciano Pavarotti, o maior intérprete da música erudita de todos os tempos. A sua vida deu origem a um filme americano, de 1951 – “O Grande Caruso” (The Great Caruso), em que a personagem de Caruso foi interpretada pelo grande cantor lírico Mário Lanza. Como curiosidade o facto do filme ter sido proibido em Itália, sob o pretexto de que era demasiado “ficcional” a figura de Caruso.

No vídeo que aqui deixo, fica uma cena do filme, com Mário Lanza a cantar a “Avé Maria” de Gounod, uma interpretação que no dizer dos entendidos foi a melhor de todos os tempos. Neste vídeo, Lanza é acompanhado por um rapazinho, que alguém identificou o miúdo como sendo Luciano Pavarotti, o que é impossível, já que em 1951, Pavarotti tinha à volta de 15 anos e vivia em Itália. A voz que se ouve é realmente a da soprano Jacqueline May Allen.
Deixo para comparação, o vídeo do mesmo tema, desta vez interpretado por Luciano Pavarotti, em 1978.
Como curiosidade, o facto de que os últimos tempos da vida do tenor napolitano, inspiraram a célebre e magnífica canção do recentemente falecido cantor italiano Lucio Dalla, "Caruso".
 


sábado, 12 de janeiro de 2013

Estatísticas

Hoje, por um acaso, reparei na coluna do lado esquerdo deste blog, que o número de visualizações que ele teve, está por assim dizer nas 200.000.
Se referirmos que estas visualizações só foram implementadas em Maio de 2008, deixando para trás não só todas as postagens desaparecidas do blog (257), como também as primeiras 161 desta segunda fase, conclui-se que em 800 postagens houve cerca de 200.000 visualizações, o que dá uma média de 250 por postagem.
Estas visualizações referem-se a todas as vezes que o blog é aberto numa certa página e é curioso ver que entre as postagens mais vistas estão aquelas que têm nomes que facilmente são procuradas no Google e que portanto não foram procuradas deliberadamente por causa do blog.
O post mais visualizado – 1107 visualizações – foi escrito em 08/09/2011 (A Lisboa gay que eu conheci) e o segundo, com 937, postado em 25/09/2011 foi “15º.Queer Lisboa (balanço final)”. Só depois surge um post específico, com 779 visualizações (5 anos de blog), postado em 06/11/2011.
Estas visualizações maiores são de posts não recentes, o que é natural pois estão disponíveis há muito mais tempo que os mais recentes. Destes, só uma postagem ultrapassou a média, com 273 visualizações (Um casamento diferente) e isso deve-se em parte a ter sido partilhado pelo Marcos no FB.
Já quanto aos comentários eles são neste momento cerca de 34.900, nas 961 postagens que o blog tem, desde a sua interrupção, o que dá uma média de 36 comentários por post.
Só uma vez, logo no início houve um post sem comentários, em 23/08/2007 (Sina Peynard), bem interessante, por sinal; e por cinco vezes se ultrapassaram a centena de comentários, sendo os recordistas, com 104 comentários cada: “Parar e reflectir” (23/09/2008) e “A crise da blogosfera” (06/02/2010), curiosamente duas postagens com características semelhantes.
Enfim, curiosidades de um blog que me tem dado muitos momentos de satisfação, e sobretudo me tem dado a conhecer pessoas muito interessantes, algumas das quais passaram a barreira da blogosfera para entrarem na verdadeira Amizade.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Edward Hopper


Edward Hopper (Nyack, 22 de julho de 1882 — 15 de maio de 1967) foi um pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano conhecido por suas misteriosas pinturas de representações realistas da solidão na contemporaneidade.[1] Em ambos os cenários urbanos e rurais, as suas representações de reposição fielmente recriadas reflecte a sua visão pessoal da vida moderna americana.

 Luz – solidão – poesia – silêncio – angústia – introspecção – quotidiano – américa – são algumas das palavras de ordem quando se fala de Edward Hopper. Cada obra é como uma compilação de sonhos, de sentimentos pungentes ou puras construções mentais. Romântico, realista, simbolista: Hopper foi incluído em diversos movimentos e estilos. E, é, precisamente, essa complexidade que enriquece o seu trabalho.
As visitas de Edward Hopper a Paris foram numerosas: em 1906, pela primeira vez, tendo permanecido quase um ano, e, posteriormente, por um período mais curto, em 1909 e 1910. Foi influenciado por vários artistas que aí conheceu: por Degas e pelo princípio poético de “dramatização” do mundo; por Albert Marquet e pelos seus vários pontos de vista do rio Sena; Félix Vallotton e pela luz inspirada em Vermeer;Walter Sickert e o seu universo iconográfico urbano. Em Paris, Hopper adopta o impressionismo. A capital francesa foi, para ele, uma inspiração constante, aí descobriu cores e sombras, inexistentes em Nova Iorque e quase tudo foi tema de estudo e trabalho: ​​as escadas da Igreja Baptista, perto do seu apartamento, os barcos do rio Sena, a Pont Neuf, Notre Dame, entre muitos outros locais.

‘A pintura de Hopper toca a excelência nos domínios da forma e do mistério. Uma ode à introspecção.A Noite Interior. Atmosferas dignas de um cenário. Banhadas por uma luz  especial - a da noite americana – que o realizador francês François Truffaut homenageou no filme ‘La Nuit Américaine’ (A Noite Americana) de 1973. Das suas pinturas, Hopper gostava de dizer, “são sobre mim”. E há, também, o seu auto-retrato (1925-1930). A sua pintura parte da exploração do seu eu interior, um imenso oceano flutuante, que ele nunca parou de explorar. Ele pinta o exterior com o olhar voltado para dentro. Uma metáfora óbvia.
A sua pintura transcende as aparências e é aí que reside, precisamente, a sua força. E a propósito, Hopper numa entrevista cita Renoir: “Há algo de essencial na pintura que não conseguimos explicar”. Abrirmos, assim, nas suas pinturas uma janela e depois outra. Através, desses espaços, o nosso olhar retoma o caminho percorrido pelo pintor. As janelas são pontos de passagem. Sem vidros. Sobre isso, Hopper disse: “Sou fascinado pelos interiores urbanos, sem saber muito bem porquê. Talvez seja uma tentativa de abraçar um todo, toda a cidade, e não apenas algumas partes ou detalhes.” Somosvoyeurs dessas vidas imóveis, congeladas, petrificadas. Somos espectadores impotentes desses quartos, apartamentos e escritórios povoados de solidão. Seres imersos no seu mundo, numa calma aparente, em silêncio, que nunca saberemos, realmente, se é um acto de meditação ou marca de uma angústia profunda. Montaigne escreveu nos seus ensaios: “Quem se conhece (a si próprio) conhece, também, os outros, porque cada homem transporta, em si, a forma inteira da condição humana”. Na procura de si, através da pintura, Hopper acaba por nos representar a todos.