quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Edward Hopper


Edward Hopper (Nyack, 22 de julho de 1882 — 15 de maio de 1967) foi um pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano conhecido por suas misteriosas pinturas de representações realistas da solidão na contemporaneidade.[1] Em ambos os cenários urbanos e rurais, as suas representações de reposição fielmente recriadas reflecte a sua visão pessoal da vida moderna americana.

 Luz – solidão – poesia – silêncio – angústia – introspecção – quotidiano – américa – são algumas das palavras de ordem quando se fala de Edward Hopper. Cada obra é como uma compilação de sonhos, de sentimentos pungentes ou puras construções mentais. Romântico, realista, simbolista: Hopper foi incluído em diversos movimentos e estilos. E, é, precisamente, essa complexidade que enriquece o seu trabalho.
As visitas de Edward Hopper a Paris foram numerosas: em 1906, pela primeira vez, tendo permanecido quase um ano, e, posteriormente, por um período mais curto, em 1909 e 1910. Foi influenciado por vários artistas que aí conheceu: por Degas e pelo princípio poético de “dramatização” do mundo; por Albert Marquet e pelos seus vários pontos de vista do rio Sena; Félix Vallotton e pela luz inspirada em Vermeer;Walter Sickert e o seu universo iconográfico urbano. Em Paris, Hopper adopta o impressionismo. A capital francesa foi, para ele, uma inspiração constante, aí descobriu cores e sombras, inexistentes em Nova Iorque e quase tudo foi tema de estudo e trabalho: ​​as escadas da Igreja Baptista, perto do seu apartamento, os barcos do rio Sena, a Pont Neuf, Notre Dame, entre muitos outros locais.

‘A pintura de Hopper toca a excelência nos domínios da forma e do mistério. Uma ode à introspecção.A Noite Interior. Atmosferas dignas de um cenário. Banhadas por uma luz  especial - a da noite americana – que o realizador francês François Truffaut homenageou no filme ‘La Nuit Américaine’ (A Noite Americana) de 1973. Das suas pinturas, Hopper gostava de dizer, “são sobre mim”. E há, também, o seu auto-retrato (1925-1930). A sua pintura parte da exploração do seu eu interior, um imenso oceano flutuante, que ele nunca parou de explorar. Ele pinta o exterior com o olhar voltado para dentro. Uma metáfora óbvia.
A sua pintura transcende as aparências e é aí que reside, precisamente, a sua força. E a propósito, Hopper numa entrevista cita Renoir: “Há algo de essencial na pintura que não conseguimos explicar”. Abrirmos, assim, nas suas pinturas uma janela e depois outra. Através, desses espaços, o nosso olhar retoma o caminho percorrido pelo pintor. As janelas são pontos de passagem. Sem vidros. Sobre isso, Hopper disse: “Sou fascinado pelos interiores urbanos, sem saber muito bem porquê. Talvez seja uma tentativa de abraçar um todo, toda a cidade, e não apenas algumas partes ou detalhes.” Somosvoyeurs dessas vidas imóveis, congeladas, petrificadas. Somos espectadores impotentes desses quartos, apartamentos e escritórios povoados de solidão. Seres imersos no seu mundo, numa calma aparente, em silêncio, que nunca saberemos, realmente, se é um acto de meditação ou marca de uma angústia profunda. Montaigne escreveu nos seus ensaios: “Quem se conhece (a si próprio) conhece, também, os outros, porque cada homem transporta, em si, a forma inteira da condição humana”. Na procura de si, através da pintura, Hopper acaba por nos representar a todos.






























34 comentários:

  1. Excelente texto, João! Parabéns e... queremos mais. :D

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. João
      não imaginas como o Pintrest me tem ensinado tantas coisas, nomeadamente sobre pintura.
      Oa americanos do século XX são muito bons, mesmo excelentes, na pintura.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  2. É uma solidão cromática que nos abraça de forma tão familiar e fraterna.
    Incontornável nome da pintura.
    Também subscrevo o J. Máximo. Ótimo texto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Alex
      e eu gostei muito também da forma sintética, mas muito correcta como qualificaste a pintura de Hooper.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  3. Já enriqueci a minha cultura geral

    Obrigado pela partilha

    Abraço amigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Francisco
      Nós estamos sempre a aprender uns com os outros: todos!!!
      Abraço amigo.

      Eliminar
  4. uma das coisas que me fascinam no Edward Hopper é ele ter criado um universo narrativo, cujas fundações são as suas pinturas, e que perdura até hoje e que extravasou o âmbito das artes plásticas e alastrou para outras artes. as suas obras são quase como romances, contam histórias, criam ambientes, têm leituras políticas ou filosóficas, contam-nos sempre alguma coisa sobre a condição humana.

    há uns anos vi uma exposição que fazia uma espécie de inventário de todo um conjunto de criações artísticas (filmes, instalações, esculturas, pinturas, vídeos), de diversos autores e datas, que são 'devedores' desse universo hopper (lembro-me de que um dos presentes, era o realizador Jim Jarmusch, com o filme Broken Flowers)

    até na literatura eu acho que há ramificações do Hopper. um escritor que eu li muito há muitos anos, o Raymond Carver, fazia-me lembrar muito a pintura do Hopper, minimalista, impressiva, de uma angústia calada e quase mansa.

    ou seja, foi bom trazeres o Hopper aqui :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Miguel
      é absolutamente correcta essa interpretação da pintura de Hopper. Aliás no texto está a referênciaao filme de Truffaut "La Nuit Américaine".
      Eu tenho pena de não pôr aqui outras telas de Hopper, pois ocupariam muito espaço, mas ele é perfeitamente fabuloso.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  5. já conhecia o Hopper e é um dos meus artistas preferidos. gosto particularmente dos quadros com os livros, por me identificar com essas situações.
    bjs e bom fim-de-semana.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Margarida
      confesso que não conheço muito bem esses quadros com os livros, nem me parece que sejam fundamentais na obra dele. Mas se são do Hopper são decerto bons e vou investigar.
      Beijinho.

      Eliminar
  6. Deliciei-me a ler e a 'sentir' as telas de Hopper.
    Adoro pintura e sou capaz de me perder num museu, horas sem fim, em frente a uma boa obra de arte (já fiquei sentado, mais de uma hora, frente a uma obra no Guggenheim em Veneza).
    O livro, a pintura, a escultura, a obra musical - apaixonam-me!
    Um abraço amigo, João.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pedro
      como é bom "ver-te"aqui de novo...
      Ainda bem que gostaste desta postagem sobre o Hopper - quem não gostará? - e aquilo que tu referes (ficar um tempo incerto a apreciar uma obra de arte), apenas me aconteceu, nas três vezes que já visitei a Academia, em Florença, e estive sentado a observar o "David" do Miguel Ângelo, talvez a "coisa" mais perfeita que já vi até hoje.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  7. Olá João.
    Creio que é a consoante que é dobrada, Edward Hopper. Eu também faço muitas vezes este erro.
    E o post está muito bom, obrigado.
    É difícil classificar este pintor, mas eu acho-lhe sempre algo de surrealista, apesar de não ser habitualmente considerado como tal.
    Grande abraço
    Manel

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Manel
      tinhas razão, claro, no erro do título, que já está corrigido.
      Quanto a considerar o Hopper como surrealista, eu não consigo; nem sei mesmo em que corrente o devo incluir, pois ele tem variadas características, mas dentro de um estilo que é só dele - modernista, intimista, eu sei lá...
      Talvez ninguém como ele tivesse pintado tão bem a solidão e o seu melhor quadro - na minha opinião - mostra isso mesmo; é o "Nighthawks" (1942), o primeiro dos que aqui mostro, tirando o auto retrato, claro.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  8. são algumas das pinturas que mostraste, as mulheres a ler, expressei-me mal.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Margarida
      já cá não está quem falou...
      Realmente a tua primeira observação induz em erro, pois presume que ele tivesse telas só sobre livros e eu nunca as tinha visto...
      Quanto a esta faceta dele, de mostrar muitas vezes um livro nas mãos de uma mulher é um pormenor em que não tinha reparado, mas que é realmente evidente, já que nesta minha selecção, quiçás não a ideal, estão três quadros com essa imagem.
      Aliás e falando na selecção, eu devia ter falado de cada quadro, mas tornaria o post demasiado longo. Há três telas que poderão ser consideradas "a mais" nesta selecção, mas eu justifico a opção. Uma delas, a das janelas "Paris - View Across Interior Courtyard at 48 Rue de Lille" - 1904, representa uma das suas telas pintadas nas suas permanências em Paris. Outra, a do nu masculino "Male Nude" (1902-04), mostra uma das raras incursões de Hopper neste universo. E finalmente, a do rapazinho a acordar "Boy and Moon" (1906/7), é uma referência à sua vertente de artista gráfico ou ilustrador.
      Beijinho.

      Eliminar
  9. Sem dúvida um dos pintores americanos que mais gosto e admiro. A sua capacidade de trabalhar a cor é única e de tal forma pessoal que se reconhece quase de imediato uma tela sua. Excelente post João!
    Abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Arrakis
      é curioso que, sem ter intenção de o fazer, os dois posts recentes sobre pintores, recaíram em autores de telas que imediatamente são reconhecidos, sem possibilidade de erro (Modigliani e Hopper); isto significa mais que uma originalidade, significa a criação de um estilo.
      Hopper é genial.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  10. Lindas obras, confesso que não o conhecia, foi realmente um grande artista.
    Olá querido João, após uma temporada de sumisso, eis me aqui novamente. Abração e um belo 2013 a ti.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Glauco
      se ainda não conhecias ainda mais vale ter partilhado. A partilha só tem real valor se este lhe é dado por quem a recebe.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  11. Gostei imenso deste post, aprendi um pouco mais sobre este grande senhor hoje!
    Obrigado pela partilha!
    Um abraço :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Kuma
      fico bem satisfeito; de vez em quando "pego" numa certa personalidade, que pode ser de variadas artes e mostro um pouco sobre quem foi ou é e o que o fez distinguir dos demais.
      Foi o caso agora, com o Edward Hopper.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  12. As cores, nítidas, por vezes bem vivas, e os traços rectilíneos e perfeitos é o que imediatamente sobressai. Faz-nos pensar na solidão.

    abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mark
      principalmente é essa a ideia que prevalece, a da solidão. Magnificamente retratada.
      Abraço amigo.

      Eliminar
  13. O meu pintor estado-unidense preferido!Tem neste momento uma retrospectiva em Paris, infelizmente esgotada desde que abriu - se não...:)))
    E na Gulbenkian, na exposição "As idades do mar" há uma obra dele, que vale a pena ver...
    Enorme artista! Obrigada por mo trazeres aqui!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Justine
      eu sei que tem; aliás quase todo o texto que aqui reproduzo foi tirado de um texto sobre essa exposição; daí as referências às conexões de Hopper com a França e os franceses.
      Se alguém pusesse em dúvida o valor da pintura de Edward Hopper bastaria o facto de que essa exposição está esgotada desde que abriu. Deve ser fantástico ver as suas principais obras reunidas e vê-las ao vivo.
      Beijinho.

      Eliminar
  14. Tive a sorte de ver quase todos estes quadros ao vivo, por mais de uma vez (numa retrospectiva em Milão, uma exposição em Paris e no Whitney Museum em NY) e de todas as vezes descobri coisas novas em cada quadro... :)

    ResponderEliminar
  15. iLove
    podes-te considerar um sortudo e tenho que te confessar uma pontinha de inveja...justificada.
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar
  16. Excelente pintura. O primeiro quadro que colocas, Aves da Noite, é o seu melhor quadro. Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mary
      completamente de acordo. Nesse quadro estão as suas cores e toda a sua noção de solidão, embora haja mais do que uma pessoa.

      Off record, estive agora no teu blog (só lá vou quando me aparece no Google Reader, o sinal de nova postagem) e vi um comentário algo "acalorado" em resposta à minha opinião sobre a petição do cão; claro que respondi, pois uma coisa é não concordar, como tu fizeste, outra é não ser tolerante e eu detesto a intolerância.

      Beijinho.

      Eliminar
  17. Aprendo sempre coisas novas aqui. Sendo Hopper um pintor largamente conhecido, lendo o teu texto e os comentários, sempre aprendi mais alguma coisa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Amigo Coelho
      mais uma vez funciona a função, primordial, da partilha, na blogo.
      E quanto não tenho eu aprendido com os relatos das vossas viagens, por exemplo?
      Abraço amigo.

      Eliminar

Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!