Não é por acaso que o
documentário "The Nomi Song",
de Andrew Horn (talvez o mais profundo trabalho sobre o músico já elaborado),
termina com a evocação de uma cena de um velho filme de ficção científica (de
série lo-fi) no qual um
ovni nos deixa e alguém diz que o encontro “imediato” que tinham visto talvez
tivesse acontecido cedo demais, pelo que não estariam preparados para ele...
Na
verdade o tempo de Klaus Nomi foi o certo (militante new wave e fruto de uma etapa de saudável
loucura criativa na cena undreground nova iorquina), mas a noção de “ovni”
pode ser um bom ponto de partida para a sua descrição.
Alemão, residente em
Nova Iorque desde 1972, era dotado de um registo vocal invulgar, isto numa
época em que estava ainda longe a abertura de espaço de interesse pelos
contratenores que hoje dão nova vida, sobretudo, grandes criações da ópera
barroca.
Entre espetáculos de vaudeville “alternativo” foi ganhando espaço e
cultivando uma personagem que chegou aos ouvidos de Bowie, que o levou a uma
atuação no Saturday Night Live.
Entre o encanto pelas heranças de outras épocas e a uma nova linguagem pop que
se desenhava na altura (atenta à emergência dos sintetizadores), gravou um
primeiro álbum em 1981 ao qual deu o seu nome e que se transformaria numa
verdadeira peça de referência pelo modo ímpar como juntava esses dois mundos e
apresentava a sua voz. Era diferente de tudo e todos...
Um ano depois regressou
a estúdio para gravar um segundo álbum onde, uma vez mais, cruzava ecos de um
passado distante (em concreto revisitando uma ária de Purcell e composições de
John Dowland) com alguns originais inéditos, sob evidente protagonismo
instrumental dos sintetizadores, juntando ainda ao alinhamento uma versão de Falling In Love Again (imortalizada por Marlene Dietrich),
uma outra de Ding Dong(da
banda sonora de O Feiticeiro de Oz) e ainda uma de Just One Look (originalmente gravada por Doris
Troy em 1963). Sem causar o mesmo arrepio do álbum de estreia, Simple Man passa por vezes bem para lá da
linha do kitsch e parece fazer pouco mais que a
aplicação de uma mesma ideia a uma menos interessante coleção de canções (as
versões com memória cinematográfica deixando-nos perplexos algures entre o
patamar da paródia e o da tragédia).
Convém acrescentar que quando trabalhou
este disco Nomi estava já certamente doente, tendo morrido de complicações de
sida no ano posterior à sua edição.
Simple
Man não será nunca a
expressão maior da sua obra (deixemos esse estatuto merecidamente entregue à
sua obra-prima, que é o seu álbum de estreia).
Mas, mais que as peças póstumas
editadas em 2007 (a ópera inacabada Ze
Bakdaz), junta um segundo lote de canções a uma obra que continua a ser um
caso ímpar na história da música pop.
Registo de todos os álbuns de Klaus Nomi:
Registo de todos os álbuns de Klaus Nomi:
Klaus Nomi - 1981
Simple man - 1982
Encore - 1984
Essential Klaus Nomi - 1994 (póstumo)
Za Bakdaz - 2007 (póstumo)
Em 2008, no encerramento e entrga de prémios dos "Teddy Awards" do Festival de Cinema de Berlim, foi-lhe prestada uma homenagem, com a interpretação mais conhecida dele e inserida no seu primeiro álbum, "Cold Song", de um invulgar e fabuloso cantor brasileiro, Edson Cordeiro, que tive a felicidade de ver ao vivo, nesse mesmo ano, no S.Luís, em Lisboa.
Desse momento, em Berlim, aqui fica o vídeo, imperdível.
Não conhecia, mas é uma descoberta interessante e a explorar! Gostei de o ouvir e do que li sobre ele! :)
ResponderEliminarAbraço amigo e votos de um bom sábado! :3
Kuma
Eliminartens razão, é muito pouco conhecido, e por isso me parece importante partilhá-lo.
Eu vi a transmissão dos "teddy" ao vivo no canal "Arte", e só então o conheci.
Mas depois fui pesquisar a vida e obra dele e fiquei rendido.
Agora vi um post sobre um dos seus álbuns, no blog "Sound+Vision" e lembrei-me de fazer um post sobre ele.
Abraço amigo.
também não conhecia. muito boa a ideia de bowie o ter levado ao snl :)
ResponderEliminarfiquei maravilhada com o edson! que voz e que sorte o teres visto ao vivo.
bjs.
Margarida
Eliminareu nunca tinha ouvido falar do Klaus Nomi nem do Edson Cordeiro até àquele dia de 2008 em que vi em directo no canal franco-alemão "Arte", um dos melhores canais de televisão que conheço, a distribuição dos "teddies", os prémios do festival LGBT que se realiza sempre ao mesmo tempo que o festival principal, a Berlinale. Foi quando vi este bocado que o vídeo reproduz. Claro que fui logo ver na net tudo sobre o Nomi e sobre o Edson, e para espanto meu, no dia seguinte vejo anunciado um concerto dele no S.Luís para daí a 15 dias; corri a comprar bilhete e foi das coisas mais lindas que já vi. Ele é fabuloso e imita de uma maneira sensacional qualquer cantor ou cantora. As imitações da Carmen Miranda e do Ney Matogrosso são excepcionais.
Fiz um post sobre este espectáculo e só não punho aqui o link, porque o vídeo que lá está, e já não recordo qual era, foi desactivado pelo You Tube; mas decerto encontras lá muitos vídeos do Edson e todos os do Nomi.
Beijinho.
Já tinha ouvido falar do Edson, se não me engano em entrevista ao Carlos Vaz Marques, mas nunca do Nomi.
ResponderEliminarThanks, João!
João
Eliminarele morreu novo, mas segundo parece, depois de se ter fixado nos EUA e da ajuda do Bowie teve uma carreira auspiciosa; era um contra tenor e como sabes este género de canto não é muito vulgar e o seu aspecto bizarro também ajudou a sua carreira.
Foi das primeiras vítimas da Sida, no meio artístico.
Abraço amigo.
São raros, mas conseguiste fazer um post sobre o qual não conheço praticamente ninguém e não percebo nada. Ahahah, ainda bem que ainda há coisas para aprender.
ResponderEliminarCoelho, o post é sobre um cantor, contratenor, alemão e que posteriormente foi viver para os EUA, onde foi "redescoberto" pelo David Bowie. Era homossexual, muito extravagante e super original na forma como cantava. Só tem três albuns originais e mais três póstumos, pois morreu novo, quando muito ainda havia a esperar dele.
EliminarÉ bastante desconhecido em Portugal, como quase todos os artistas alemães e não teve tempo no seu segundo fôlego (americano) para cá chegar, convenientemente. Era o Klaus Nomi.
Por sua vez, o Edson Cordeiro é um cantor extraordinário, brasileiro, que também consegue usar a voz como contratenor e que é além do mais um excelente "entertainer", com grande nome no Brasil, mas desconhecido em Portugal até 2008; depois do concerto que eu refiro e a que assisti, já esteve cá uma outra vez. Vale a pena, ver algo dele no You Tube.
Abraço amigo.
Meu Caro, vou partilhar no FB com a devida referência. Abraço.
ResponderEliminarLuís Galego
Olá Luís
Eliminarjá vi, obrigado.
E foi muito agradável também o convívio posterior ao espectáculo no S.Luís, contigo, a tua mulher, o Zé e o Paulo.
Abraço amigo.
Me parece muito interessante :)
ResponderEliminarNão só parece, como é realmente, meu caro Frederico.
EliminarQuanto a Edson Cordeiro, penso que o devas conhecer bem, já que ele é brasileiro.
Abraço amigo.
Enorme, excelente lição de cultura que acabaste de me oferecer, João! Obrigada! E deste-me a conhecer Edson Cordeiro, de quem vou tentar saber mais coisas...
ResponderEliminarUm abraço:)))
Justine
Eliminarvais ficar rendida quando vires os vídeos que há no You Tube do Edson.
E se ele voltar a Lisboa, por favor, não percas.
Beijinho.
gosto muito do Klaus Nomi. antes da minha experiência londrina me ter aberto os olhos para todo um universo de referências gay (nomeadamente na literatura), o KN era das minhas poucas referências, apesar da pouquíssima informação que havia na altura. descobri-o através da música, é claro, era uma época em que andava sempre muito actualizado em termos musicais, mas cedo percebi que havia ali outras coisas que também me apelavam :)
ResponderEliminarquanto ao Edson Cordeiro, acho até que já conversámos sobre isso, também tive a imensa sorte do o ver ao vivo, e rendi-me não só ao seu enorme talento, mas também à capacidade de comunicação e à simpatia. que pude ainda confirmar quando no final do espectáculo lhe pedi um autógrafo e troquei duas ou três palavras com ele.
Miguel
ResponderEliminarnão só me vences aos pontos, nas referências ao Klaus Nomi,com anos e anos de avanço. como também me pões KO, quando assistes a um concerto do Edsom e depois de um autógrafo obtido, ainda conversas com ele.
Rendo-me...
Abraço amigo.
Não me recordo de alguma vez ter ouvido Klaus Nomi, nem o Edson Cordeiro, de quem gostei mais. Uma voz notável. Beijinhos
ResponderEliminarMary
Eliminarnão é de admirar, pois tanto um como outro não são muito conhecidos por cá...
O Klaus, como já faleceu estará mesmo condenado a ser ignorado, pois apenas restam os seus álbuns, escassos.
Já o Edson, por já nos ter visitado, embora em salas de pouca lotação, já terá algum público. Vale a pena ver e ouvir os seus vídeos no You Tube.
Beijinho.
Curiosamente, conheço o Klaus Nomi. Descobri-o há tempos quando andava pela net a divagar. Gosto do espírito extravagante e diferente. O senhor Edson Cordeiro é que desconhecia, efectivamente.
ResponderEliminarabraço.
Mark
Eliminarentão é favor descobrir, com carácter de urgência,
Abraço amigo.