quinta-feira, 30 de abril de 2009

A tropa cá do João 14 - (Moçambique 8)

A minha Companhia chegou a Nampula de comboio, vinda de Nova Freixo. Foi a única vez que andei de comboio em Moçambique e foi seguramente das vezes mais bizarras que utilizei aquele meio de transporte.
Estávamos felizes por ver aproximar-se a hora em que a guerra findaria para nós. 

Sendo Nampula a capital militar de Moçambique, onde estava sediado o Quartel General, nunca ali houve em permanência uma Companhia operacional, pois a guerra fazia-se no mato, longe das cidades. Mas é preciso notar que eu chego a Nampula em Setembro de 1974, quando já prosseguiam abertamente as negociações de paz com a Frelimo (já havia oficiais nacionalistas hospedados na messe de oficiais) e começava a manifestar-se nas grandes cidades, principalmente na Beira, mas também em Lourenço Marques e Nampula, uma cada vez mais activa oposição da população branca ás directivas emanadas de Lisboa (via M.F.A.), sobre a independência de Moçambique, através da Frelimo;  na Beira dominava Jorge Jardim que advogava para a antiga colónia portuguesa uma solução do tipo rodesiano, isto é, uma independência governada pelos brancos moçambicanos e que tinha o apoio do Malawi de H. Banda.

Esta hostilidade coincidia com os acontecimentos que na metrópole levaram à queda e fuga de Spínola (28 de Setembro). O momento mais grave foi a tomada  pelos brancos do Rádio Clube de Moçambique em L.Marques e também da sua delegação em Nampula.

Foi então que o Comandante Chefe, que tinha substituído Kaulza de Arriaga, me chamou ao Q.G. e me ordenou, assim sem mais explicações, que levasse a minha Companhia para o aeroporto da cidade para o defender de uma eventual tentativa de assalto pela população branca;
eu, um simples capitão miliciano, que estava farto de tropa até à raiz dos cabelos e apenas com a experiência de 2 anos de guerra, e no mato, a receber uma ordem destas de um general, chefe máximo militar do território; fiquei perplexo e com uma calma da qual ainda hoje me admiro, pedi licença ao senhor general para me ouvir numa pequena explicação; disse-lhe então que a minha Companhia era da guarnição local, isto é, constituída por negros, enquadrados por alguns oficiais e sargentos brancos, a maioria deles oriundos da população branca moçambicana (algo que o senhor general deveria saber, mas parece tinha esquecido, ou não sabia mesmo);  e que mandar uma Companhia deste tipo para precaver um eventual confronto com a população branca seria bastante imprudente, mas claro que se o senhor general insistisse na ordem, eu iria, mas com essa ordem por escrito e nunca verbalmente; confesso que esperei o pior da sua reacção, mas no estado de desgoverno em que tudo estava, sentia-me com coragem para reagir assim. O homem, que não queria assumir a tremenda asneira em que tinha caído, depois de pensar um pouco, perguntou-me se eu não conseguia seleccionar um punhado de homens de confiança que fossem acompanhar nesse objectivo uma Companhia de Comandos, acabada de chegar a Nampula, para o que desse e viesse; respondi-lhe que sim e dentro de uma hora lhe indicaria quantos homens iriam com os Comandos – escolhi SEIS homens entre os 2oo sob o meu comando e eu, claro; ele aceitou sem pestanejar, mas disse-me que eu não iria pois deveria ficar de prevenção nessa noite no Q.G. para comandar o resto da Companhia , noutra situação, caso fosse necessário.

Foi uma noite de muita agitação e ansiedade, com toda a tropa disponível em Nampula a ficar de prevenção, mas a rebelião foi sanada sem grandes danos. Não aconteceu nada no aeroporto mas assisti a alguma confusão junto ao R.C.M., que a população tinha tomada e do qual teve que ser desalojada à força, com episódios pouco edificantes, como o uso de bebés como escudos por parte da população branca, tendo visto um alferes tirado à força uma criança dos braços do pai, e depois de a colocar em segurança, ter socado com “delicadeza” o pai para abrir caminho…

 

Entretanto dias mais tarde, deu-se a desmobilização da Companhia e lá fiquei eu, sozinho, a tratar da burocracia, ou seja fazer a “entrega” da Companhia nos diferentes departamentos militares; foi-me dada uma folha (que ainda hoje guardo algures), onde ia coleccionando  carimbos de todos esses serviços atestando que tudo estava bem; uns mais fáceis, outros mais difíceis, lá fui fazendo esse trabalho chato e demorado, até que fiquei pendente de apenas um carimbo: o da Chefia Geral da Intendência, pois descobriram uma irregularidade nas contas, dos bens que havia na Companhia, uma diferença de cerca de 70 contos, na altura; eu detectei que o erro já vinha do capitão anterior a mim, e embora concordando com a evidência das datas, não me queriam liberar alegando que eu deveria ter visto esse erro, quando me passaram a Companhia para as mãos; ora eu, um milicianozeco, impreparado em Mafra para essas questões fui bem enganado pelo sabido capitão do quadro que fui render.

Comecei a andar num sobressalto, todos os dias a ver partir para Portugal pessoas que conhecia e eu ali à espera de uma resolução, que tardava; cheguei a pôr a hipótese de pagar do meu bolso a importância em causa, pois aproximava-se o Natal e seria o terceiro consecutivo longe da família, e só o não fiz porque o meu Pai o não o permitiu, alegando e bem, que com isso era como que assumir a culpa e que era eu que tinha desviado o dinheiro. 

Farto de me fardar todos os dias só para saber se havia novidades, que jamais surgiam, um dia apareço no Q.G. e comunico que ia para a Ilha de Moçambique passar uns dias e me contactassem se algo de novo surgisse; passasadas duas semanas de praia e de bom marisco, recebi a ansiada notícia de que me podia ir embora, pois tinha sido desbloqueada a situação.

Cheguei a Lisboa a 17 de Dezembro de 1974, no dia em que os meus pais festejavam o aniversário do seu casamento.

A guerra tinha acabado para mim; passei à disponibilidade no dia 15 de Janeiro de 1975 e na semana seguinte partia para Londres a gozar uma bem merecida semana de férias.

 

Assim findam estas crónicas a que dei o nome de “A tropa cá do João”; tenho pena de não ter recuperado dois capítulos dessas crónicas, quando me apagaram o blog; um deles, por registar um caso muito pontual, poderei reescrevê-lo; o outro, confesso não saber exactamente o que lá estava incluído…


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34 comentários:

  1. Fantástico, João. Tenho pena que estes relatos tenham chegado ao fim, tenho a certeza de que ainda terás muitas outras histórias e experiências para contar.

    É interessante, conhecendo-te hoje, imaginar-te há trinta e tal anos a lidar com situações muito complicadas e certamente adversas. É engraçado, tenho dificuldade em imaginar-te nesse tempo; talvez porque hoje temos a mesma idade e para mim esse tempo é o de ter 12 ou 13 anos e não os vinte e pouco que então terias.


    Claro que há aqui coisas que contas que, não direi que me chocam, mas que me fazem impressão. Nomeadamente esse episódio do RCM, onde estive do outro lado da barricada e onde tive familiares que ficaram feridos nessa refrega.


    Mas, como sabes porque já falámos sobre isso, tenho há muito consciência de que o que é importante é termos a memória de vivências únicas, de momentos e situações limite, que de certo modo foi um privilégio viver (sobretudo se comparadas com estes tempos tão baços e cinzentos que vivemos actualmente). E termos memórias e perspectivas e histórias diferentes (ou mesmo contraditórias) só pode ser mais enriquecedor e divertido.

    A vida ensina-nos muito e sobretudo a ser humildes perante os milagres que opera. Podemos imaginar que num dia qualquer de um longinquo mês de Setembro, numa terra ainda mais longínqua, estivemos os dois na mesma rua, talvez a centenas de metros um do outro, com tudo a separar-nos. E que a vida olhou para nós, tu um capitão miliciano do exército português, eu um puto ranhoso filho do colonialismo português em África, e pensou: um dia estes dois ainda vão ser amigos!
    um abraço forte

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  2. Miguel
    eu sabia pelo muito que já falámos sobre isso, que esta entrada iria "mexer algo contigo"...
    Quando dizes que estávamos na altura em lados diferentes da barricada, isso não é totalmente verdade; eu estava era na guerra errada, aquilo não tinha nada a ver comigo, mas sempre procurei ser honesto e honrar os meus compromissos; se não me exilei e aceitei ir para África teria que respeitar as regras, apenas moldando-as, dentro do possível à minha pessoa e à minha maneira de ser: Mostrei isso ao longo desta saga, que agora dou como terminada.
    E realmente, o mundo é pequeno, concordo contigo: o que tínhamos nós a ver (pela idade e pelas condições), um com o outro, nessa altura em que é muito possível nos termos cruzado em Nampula? Nada! E agora há tanta coisa a unir-nos, asima de tudo uma sã e grande Amizade. Obrigado.
    Um beijo.

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  3. Gostei deste relato feito na primeira pessoa. Vou lembrar-me de ti ao ver a série "A Guerra" da RTP1.
    :-)

    Abraço!

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  4. É verdade, tens razão, quando uma pessoa não se exila, nem está de acordo com a outra única hipótese que lhe é permitida, deverá continuar da forma mais consentânea com a sua própria honestidade, não escamoteando a situação, mas tão pouco não deixando de estar à altura dela!
    Segundo os padrões que me inculcaram e que acabei de tomar como meus, é essa a forma mais correcta de estar na vida.
    E não nos encontrámos por uma questão de meses; em Setembro de 1974 estava a passar alguns dias nessa Ilha algo emblemática, onde também nasci.
    Abraço
    Manel

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  5. Estou de boca aberta verdade seja dita! É uma história que me passaria ao lado não fosses tu um amigo. E estou grato, orgulhoso disso, sobretudo porque não transpareces pessoalmente nada pelo que já passaste. Fazes-te de simplicidade, cordialidade e beleza interior! Tinha uma noção completamente diferente, de que normalmente as pessoas ficariam mais frias ou distantes depois de enfrentarem uma guerra.

    Gosto da forma como enfrentaste o teu superior e fiquei surpreso com "o meu pai não deixou" apesar de sábia a ordem. Chocaram-me os bebés como escudos, a frieza e poder de decisão que tiveste que aplicar neste caso e em muitos outros. Assustadora e apaixonante ao mesmo tempo esta história!

    Por vezes digo à boca cheia que tinha tomates para receber formação e ir tirar fotos lá para o meio! Será?

    Um grande abraço! ;)

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  6. Sócrates
    como deves imaginar, tenho quase todos os livros publicados em Portugal versando a guerra colonial e ainda os ando a ler, vê tu...
    E esta série do J. Furtado, na RTP, gravei a primeira série, mas perdi um episódio e ainda não a vi, pois quero vê-la completa; quanto à segunda, "azar dos Távoras", o gravador de vídeo "deu o berro"; estou assim esperançado e quase certo de, quando sair a edição em DVD, a comprar na integra, pois é um documento precioso para se perceber hoje todo esse processo complicado que foi a guerra colonial e que afectou toda uma juventude masculina em Portugal, durante 13 anos. Tal como o 25 de Abril, está muito esquecida dos portugueses de hoje, pois já foi "há muito tempo"...
    Abraço sempre muito amigo.

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  7. Manel
    é uma questão de coerência!
    Sobre a Ilha de Moçambique, gostaria de ter usufruído dela num momento menos conturbado, apesar de na altura que relato me ter feito bem...
    A beleza da paisagem, as praias de sonho, recordo a praia das "Chocas" com as águas quentes do Indico, a formosura dos seus habitantes, melhor das suas habitantes, esbeltas e sempre com a cara pintada com aqueles "Cremes naturais" brancos para a pele, as lagostas que se compravam, inteiras só para uma pessoa e não era um luxo, tal o baixo preço, as recordações da nossa História como o forte de S.Sebastião, enfim tudo me encantou ali, desde que se começava a percorrer aquela extensa ponte.
    Como disse ao Miguel, como a vida é feita de encontros e desencontros, é tão possível que nos tivéssemos cruzado por lá...
    Abração grande.

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  8. Félix
    acredita que fiquei muito sensibilizado com as tuas palavras; se quiseres, procura nas minhas postagens antigas os capítulos disponíveis nesta segunda parte do blog ou sejam a partir do 9 inclusive, as datas são: 27/9/07, 16/11/07, 11 e 12/2/08 e finalmente 28/12/08.
    Conto ir publicando na rubrica "Passado e Presente" (na qual reponho alguns dos posts do blog perdido) os primeiros capítulos, à excepção de dois perdidos definitivamente, mas um dos quais reescreverei um dia...
    Quanto ao que dizes sobre a tua coragem para um dia ires fotografar uma zona de conflito, acho que a tua paixão pela fotografia é tal, que se a oportunidade surgisse, não hesitarias...
    Sabes, quando me disseram que iria para Moçambique comandar 200 homens para uma zona de guerra, o primeiro a rir fui eu! Era tão impensável, que foi a minha reacção...
    Abraço enorme.

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  9. Estes teus posts sobre a tropa foram deliciosos. Tanta coisa engraça (passados estes anos todos) que na altura, se calhar não achaste!!!
    abraço

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  10. Uma das grandes, senão a maior incongruência de uma Guerra, será sempre deixar-nos histórias para serem contadas e que dentro de todos os dramas, podem ser belas, podem ser de Amor, podem ser trágicas ou podem mesmo ser cómicas.
    Estou certa de que ouvindo testemunhos pessoais, todos chegaremos à conclusão de que, como em tudo na vida, o importante são as pessoas, e portanto há as más e há as boas pessoas... em TODO o lado!!

    A Guerra Colonial toca-me também de uma forma directa...

    Beijos e obrigada pela bela partilha e a possibilidade de aprender mais e mais...

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  11. Caro Tonghzi
    é evidente que houve alguns, poucos, bons momentos passados ali; mas a maior parte do que aqui fui relatando, não foi realmente nada fácil, mas devo reconhecer que vim de lá extremamente reforçado na forma com que depois, na vida, fui confrontado com situações adversas. Endureci um pouco por lá, embora hoje, essa dureza esteja já muito atenuada. Mas as recordações, até as menos boas, jamais se apagarão e daí a relativa facilidade com que escrevi estas crónicas; não precisei de consultar nada, apenas relembrar o que nunca foi ou será esquecido.
    Abraço amigo.

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  12. De facto goste de ouvir estes relatos na primeira pessoa.

    Cumprimentos,

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  13. Querida Natacha
    embora te conheça aqui nos nossos blogs há pouco tempo, já vi que tens tempos vividos em África; eu concordo contigo quando dizes que o que importa são as pessoas e não as situações e há bons e menos bons em todos os lados. Daí a não ter, nunca, em todas estas crónicas, e foram 14, emitido juízos de valor; limitei-me a registar factos...
    Apesar disso, houve um facto que pessoalmente me chocou muito e se passou no centro da cidade da Beira, quando um dia caí nas asneira de ir fardado lá (a messe ficava bem longe e isolada), ao paasar numa praça central, um sujeito branco, já de alguma idade, olhou para mim, com desprezo e arrogância e cuspiu para o chão, na minha frente; isso feriu-me muito na altura, não reagi mas questionei-me muito sobre o que estava eu ali a fazer, a milhares de quilómetros de minha casa, num intervalo penoso do meu futuro, numa guerra que nada me dizia e a ser ultrajado daquela maneira por alguém que supostamente eu estaria a "defender"...
    Desculpa o testemunho, mas isto não saiu em nenhuma crónica, como muitas outras coisas haveria a contar, de variadas situações, como o Miguel bem salientou.
    Beijinhos muito afectuosos e as melhoras do teu filho.

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  14. Amigo Sérgio
    são registos pessoais que não mais saem da memória.
    Abraço amigo.

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  15. Olá amigo. Passei por aqui para te agradecer o carinho. Custa tanto saber que cada vez vamos ficando mais sózinhos.
    Beijinho grande

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  16. Ana
    eu este ano já vão três: a minha irmã, um tio meu, dois dias depois e o saudoso João (Catatau)...
    É realmente triste ver partir cada vez mais gente e principalmente quando ainda tinham algo mais para viver.
    Beijinho afectuoso.

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  17. Olá Pinguim obrigado por passares no meu blog. Infelizmente eu hoje venho dar uma má noticia :s. De facto lamentavelmente é-me impossível para a semana deslocar-me a Lisboa porque uma vez que me renovaram o contracto ainda não posso pedir férias e já muita sorte eu tive em conseguir arranjar o horário de forma a poder ir á Queima. De qualquer modo peço desde já imensas desculpas a ti aos outros organizadores por esta minha falha e acredita que lamento a situação. Estava de facto com muita vontade de vos conhecer.
    Por outro lado tudo farei para ir a Lisboa assim que possível para vos conhecer. Mais uma vez desculpa.
    Quanto ao teu post, sabes que és a única pessoa que conheço que tenha vivenciadas estas situações na primeira pessoa. Agradeço também por partilhares estes momentos marcantes connosco e espero muito sinceramente poder ouvir relatos como este muito em breve na 1ª pessoa :) Um abraço grande

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  18. Caro Psi
    tenho muita pena, realmente, que não possas vir, mas é por uma boa causa, uma melhoria de vida profissional: ficará para a próxima.
    Abraço grande.

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  19. Uau amigo que grande testemunho :) adoro estas "histórias" que tu partilhas connosco... E assumo que da primeira vez pus-me a ver todo o arquivo do blog para não me perder, lendo assim todas desde a primeira. Hehehe :)
    Beijinho grande.

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  20. Sandrinha
    desde a nona, pois as primeiras oito não estão publicadas aqui, estavam na parte desaparecida do blog, mas como disse aí atrás recuperei seis que hei-de ir publicando de novo.
    Beijinhos e bom fim de semana.

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  21. Pinguim,querido amigo,
    É muito difícil para mim,que sou mulher, não fiz tropa, nunca estive em África,comentar com profundidade as tuas crónicas acerca da tua experiência africana.
    Mas uma coisa eu sei,até por conversas com amigos meus que passaram por essa experiência.Temos que fazer todos os esforços para dizer NÃO à guerra, a todas as guerras. Não há guerras justas .
    Tu eras jovens e devias estar cá,como eu, junto dos teus entes queridos,divertindo-te como todos os jovens da tua idade , e não a passar experiências tão difíceis. E ainda por cima a defender pessoas que de todo não o mereciam e não agradeciam o sacrifício da vossa juventude.
    Mesmo que o 25 de Abril não tivesse,trazido mais nada de bom, valeria a pena só pelo facto de acabarem as guerras ultramarinas e de os nossos jovens terem podido regressar a casa.
    Se, depois disso lhes foi prestada justiça ... tenho dúvidas , mas isso fica para uma outra conversa.
    Um afectuoso abraço
    Nocturna

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  22. Querida Nocturna
    realmente foi um período deveras difícil para a juventude masculina dessa época; poucos, raros mesmos, iam para a guerra com a noção de que estavam a lutar pela pátria e os outros eram obrigados a passar 3 a 4 anos da sua vida naquela situação, e quantos lá morreram ou vieram estropiados.
    Claro que havia sempre a hipótese de is para fora e não fazer a guerra; mas e depois, anos sem poder voltar, viver de quê?
    A mim "fizeram-me " capitão, só eles saberão porquê...nunca disparei um tiro, mas claro que num caso de total necessidade para salvar a vida minha ou de outros teria que o ter feito...Mas dei ordens que me foram custosas e que ainda hoje se mantêm na minha mente como necessárias mas não de acordo comigo próprio.
    Estas postagens serviram um pouco para exorcizar ao fim de tantos anos alguns fantasmas que ainda de quando em vez me aparecem...
    Beijinho.

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  23. Uma dúvida, os conflitos entre a metrópole e as colónios foram mais acentuados em Moçambique? Tinha a ideia que tinha sido em Angola..

    Beijinho

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  24. Martinha
    estes conflitos com colonos, de que falo, foram pontuais e deram-se aqui porque estava a fazer-se uma transferência de soberania do território para um único partido, a Frelimo.
    Em Angola as coisas foram muito mais complicadas e havia 3 partidos a querer o poder: o MPLA, a FNLA e a UNITA, o que degenerou numa guerra civil que durou anos, depois de Portugal ter entregue o poder ao MPLA.
    Os colonos angolanos também estiveram contra a independência, claro, mas não houve, que eu saiba casos de tomada de edifícios importantes.
    Beijinhos.

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  25. Olá como sempre adorei as tuas palavras, estes relatos são muito fortes e pessoais, obrigado por os partilhares connosco, um grande abraço.

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  26. Olá Bruno
    são realmente relatos na primeira pessoa, mas que acabam por dar uma imagem das situações vividas nesse tempo e localizadas na guerra colonial.
    Obrigado pela tua apreciação.
    Abraço.

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  27. Meu querido Pinguim, tu escreves com alma e coração.A tua escrita está impregnada de sentimento e lê-la é um prazer muito grande. Bem-hajas pelos relatos que leio, releio, releio...

    Beijinhos

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  28. Isabel
    e para mim um privilégio ter-te como leitora atenta.
    Beijinho.

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  29. Uma dúvida, os conflitos entre a metrópole e as colónios foram mais acentuados em Moçambique?

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  30. Não, mas eu vivi estes acontecimentos em Moçambique.
    Abraço.

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  31. Posso dar um "copy/paste" do comentário da Isamar?

    Meu querido Pinguim, você escreve com alma e coração. A sua escrita está impregnada de sentimento e lê-la é um prazer muito grande. Bem-hajas (essa eu não consegui traduzir pra "brasileiro", hehe) pelos relatos que leio, releio, releio...

    Beijões!!!

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  32. Edu
    esse é um comentário capaz de causar muita baba, eheheh...
    Sabes que é sempre fácil escrever sobre factos reais, que se passaram connosco do que ficção; basta ter alguma memória e saber alinhar as palavras...
    Beijo.

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  33. Em Setembro de 1974, dia 8 ou 9, já não me recordo bem, também estive nessa manifestação, de portugueses/brancos, que se realizou em frente ao chamado, na época, Emissor Regional do Norte, na cidade de Nampula.
    Eram apenas civis desarmados ( homens, mulheres e crianças ), que ali se encontravam e que apenas queriam uma independência em democracia, mas o corajoso Exército Português, compareceu com 2 helicópteros, pelo menos 1 viatura blindada ( panhard? ), dezenas de PM`s e dezenas de militares de infantaria, empunhando armas automáticas G3. Tempos antes, diante da Frelimo, parece que não tinham mostrado tanta coragem, como quiseram mostrar naquele dia, em que até fizeram uso de 1 helicanhão. Se eu já não admirava nada o Exército Português, então a partir daquele dia ... não vale a pena dizer mais nada.
    Muito obrigado

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  34. Caro José Lopes
    obrigado pelo seu comentário, primeiro que tudo.
    Não sei se leu toda a saga que eu fui pondo no blog, sob o título "A tropa cá do João" ou se leu só este episódio, mas o que interessa é que eu fui para aquela guerra absolutamente contrariado e só fui porque a outra solução era o exílio.
    Nunca disparei um tiro, mas também nunca hostilizei a população branca; aliás tinha na Companhia que comandava e que era toda da chamada "Guarnição normal", isto é pessoal recrutado na própria colónia, quer branco quer preto, cerca de duas dezenas de brancos, quase todos alferes e furriéis, portanto "quadros" e que tiveram comigo uma excelente camaradagem.
    No entanto, na cidade da Beira, onde por uma vez tive a infeliz ideia de ir ao centro da cidade, fardado fui bastante insultado e até escarravam para o chão, quando se cruzavam comigo.
    Mas aquela não era a "minha guerra" e se relato os factos que você agora comenta é porque os vi, não como participante, mas vi-os; não nego nem nunca afirmei que a população branca estava desarmada, mas que vi usar crianças de colo como escudo contra a dissuasão militar, é inteiramente verdade.
    Abraço.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!