Há dias o amigo Arsène Lupin desafiou-me para abrir um livro na página 161 e transcrever aqui a 5ª. frase inteira que lá encontrasse. Como já há tempos tinha respondido a um desafio semelhante, o qual foi escrupulosamente cumprido, e como o próprio desafiador, (e muito bem) fez alguma batota com esse desafio, eu resolvi aproveitar a sugestão batoteira e não transcrever nenhum parágrafo da página 161, até porque o livro que tinha em mãos não chega a ter 161 páginas; e sendo assim resolvi transcrever um pequeno texto intitulado “A fé e o império” e que começa por ter uma frase introdutória de Álvaro de Campos: “A plácida face anónima da morte”.
Este texto faz parte do livro “Memória” de Álvaro Guerra, que li agora nas férias e sobre o qual falarei num próximo post.
Não vou passar este desafio a ninguém, mas gostaria que alguém, com batota ou não, aceitasse este desafio.
“Que fé os levantava em sabor de sangue e de martírio contra os irmãos que não reconheciam? Meca e Jerusalém não são muito distantes, é verdade, e todos os mitos se assemelham; a mesma decadência levanta catedrais e mesquitas, a mesma violência reconhece e extermina os outros, os idólatras, os filhos das árvores, das águas ou do vento. Na face daquele morto coberto de golpes onde o sangue coagulava e cujo corpo, preso ao pau de sibe pelos pés e pelas mãos, pendia como uma peça de caça, reconheci a marca de todas as heresias, de todos os privilégios (mesmo os mais elementares) e nos rostos, negros também, dos caçadores vi o gosto das efémeras vitórias e a morte sacrossanta brilhando nos seus olhos. Ofereciam-me um morto anónimo e armado de uma velha pistola e de uma ideia profana. E eu não queria aquele cadáver – não queria morte nenhuma, muito menos uma morte injusta. Não queria nenhum escravo de si próprio nem nenhum escravo dos outros – não me queria. Não queria a fé nem o império – toda a epopeia é uma ilusão fugaz.”
Música sublime!
ResponderEliminarE excerto fantástico!
“Que fé os levantava em sabor de sangue e de martírio contra os irmãos que não reconheciam?"
ResponderEliminarExcelente pergunta...
Abraço!
Não conheço o livro, nem a obra de Álvaro Guerra... vou aguardar o post.
ResponderEliminarbeijocas e bem-vindo!
Amigo Astor
ResponderEliminarhá anos que tinha este livro arrumado na prateleira e assim de repente aparece-me uma pérola...
Voltarei ao assunto.
Abraço amigo.
Caro Sócrates
ResponderEliminarexcelente pergunta e que pode ser feita em tantas direcções...
Abraço amigo.
Então de volta!!! :)))
ResponderEliminarPassa depressa, embora te pareça que não.
Tenho esse livro do Álvaro Guerra, mas olha, ultimamente acobardo-me e só espreito os bocadinhos mais soft das obras que sei que me vão incomodar. Vou perdendo a capacidade que tinha de ler sobre a violência. Sempre me custou, mas aguentava, agora estou um vidrinho.
Beijinhos, Joãozinho.
Ainda volto aqui porque acabei de descobrir, por acaso, uma coincidência extraordinária: tens na tua lista de blogues uma Mar Maria.
ResponderEliminarNão sou eu, claro, parece que afinal a blogosfera é uma aldeia.
bj
Querida Blue
ResponderEliminaro livro faz pensar muito e isso é bom...
Beijinhos.
Mar_maria
ResponderEliminarsim, tens toda a razão, é um livro extremamente incómodo, o que não lhe tira minimamente o interesse...
Beijinho.
Mar_maria
ResponderEliminaré um blog recente que veio colmatar o desaparecimento precoce de um outro da mesma autora, que só tem um "defeito": gosta mais do mar, ainda mais que eu... De resto é uma pessoa encantadora; também para criarem esse nick, amas têm que ser pessoas sensíveis e maravilhosas.
Beijos para ambas.
Amigo com batota ou sem ela, a verdade é que o livro parece super interessante! Muitos beijinhos
ResponderEliminarSandrinha
ResponderEliminaraqui a batota compensa...
Beijinho.
Que texto violentíssimo! E acerado! E verdadeiro!
ResponderEliminarFica a vontade de ler o livro de Álvaro Guerra, que não conheço.
Bom fim de semana e um beijo
Justine
ResponderEliminaré violento sim, mas real e actual, embora escrito há anos...
Beijito.
toda a epopeia é uma ilusão fugaz....
ResponderEliminare por isto fiquei com vontade de ler.
Um bj
Violeta
ResponderEliminarhá muitas outras frases que dão vontade de ler.
Beijinho.
Um excelente extracto de um livro que não conheço mas que me despertou atenção para o ler. Ficará registado para tão breve quanto possível comprá-lo.
ResponderEliminarDeixo-te um abraço e beijinhos
Bem-hajas!
Também não conhecia, Isabel, e nem mesmo sei o que me levou a comprar o livro, pois isso sucedeu há muito tempo; apenas conhecia de nome o autor...
ResponderEliminarBeijinhos.
A fé pode levar o Homem a cometar mais mais cruéis atrocidades.
ResponderEliminar(um aparte: WTF é o mesmo que What The Fuck)
Voltando ao teu texto: se virmos a nossa vida é uma epopeia, é pessoal, única e intransmissível e quantas vezes não somos ameaçados pela ilusão? Que tantas vezes deveria ser fugaz e não é?
*Hugs n' smiles*
Carlos
Carlos
ResponderEliminare é isso que hoje acontece com o integralismo muçulmano, como aconteceu no passado nas Américas com o extermínio dos indígenas, pelos portugueses e espanhóis em nome de Cristo...
No que referes na transposição do texto, que não e meu, para os nossos casos pessoais, não poderia estar mais de acordo.
WTF fui eu arranjar a explicação para a sigla...
Abraço amigo.
Podes crer amigo, os encontros com o mar são belíssimos :) sabe tão bem acordar e vê-lo logo ali :) ...
ResponderEliminarbeijinhos
Tenho inveja disso; e sinto a falta do seu cheiro, também...
ResponderEliminarBeijinhos e bom fim de semana.
aqui o acaso da página trouxe uma parte do texto denso, tão denso quanto todo a obra o é.
ResponderEliminarmeu caro muito proximamente temos que marcar o almoço...já tenho sugestão: Barriguitas, no Belenenses...espero que não tenhas nada contra.
last but not the least, tens que me fazer um balanço por terras do amor...
um abraço
Luís
ResponderEliminarpelo que vejo conheces a obra...
É curioso que estive para te falar no almoço no comentário que te fiz hoje; claro que não tenho nada contra e estou curioso com o nome.
Vamos combinar isso para a semana seguinte à Páscoa; regresso na segunda feira da Covilhã e logo teremos qualquer dia disponível.
Conto-te tudo sobre a viagem e sobre as "coisas" da blogosfera, que as há, frescas e boas...
Abraço e beijo à L.