segunda-feira, 12 de novembro de 2012

De Quentin Crisp até à reflexão...

“Sou demasiado homem de todos os homens para ser o único homem de qualquer homem.”
Esta frase pertence a um dos mais admiráveis homens que conheço e admiro, e cuja vida já deu origem a dois filmes notáveis: “The Naked Civil Servant” e “An Englishman in New York”, ambos protagonizados pelo fabuloso John Hurt. Trata-se de Quentin Crisp, um homem que teve a coragem de viver à frente do seu tempo e que foi mesmo provocador, talvez para se vingar das humilhações que sofreu quando jovem, por causa da sua homossexualidade. Aliás o primeiro dos referidos filmes é a adaptação de um livro seu, autobiográfico. Também a música aqui apresentada, é uma homenagem de Sting a este homem e foi o título da canção que deu o nome ao segundo dos filmes.(Aconselho a visão do clip musical, pois é muito bonito).

Mas, eu não venho propriamente falar de Quentin Crisp. Esta frase da sua autoria reflecte de certa forma uma característica que é muitas vezes imputada aos homossexuais – a promiscuidade – mas que é tão visível no mundo gay como no mundo heterossexual. E, se muitos gays são promíscuos também muitos o não são e depois de encontrarem a pessoa certa, poucos o continuam a ser.
O mundo homossexual, nos últimos anos teve grandes alterações; se nalguns países, nomeadamente do Médio Oriente e de África, continua a haver pesadas penas para estes comportamentos, inclusive a pena de morte, na maior parte do mundo, principalmente nos países mais evoluídos, a homossexualidade é vista como um comportamento normal, pois ninguém é homossexual porque quer e a sexualidade de qualquer ser humano só a ele diz respeito.
Mais importante que a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, é a progressiva, mas demasiado lenta transformação das mentalidades. E se ainda há quem continue a ser tão ignorante ou idiota que considere a homossexualidade uma doença, também há uma crescente forma de encarar a situação positivamente e até muita gente tem perdido o medo de assumir não só a sua homossexualidade, mas também, e em muito maior número a sua bissexualidade. Claro que a homofobia continua a reinar, principalmente comandada pelas religiões, mas o alargamento da visão do mundo através do crescimento dos “media” tem levado muita gente, mesmo sem muita cultura a abrir os olhos.
Este fenómeno foi bem visível no documentário que a SIC apresentou a semana passada sobre o casamento de dois homens simples, residentes numa terra simples, e em que os factos nos foram apresentadas com uma naturalidade tocante, que algumas pessoas até acharam piroso, tão piroso afinal como tantos casamentos heterossexuais que se realizam por esse mundo fora…Mas a homofobia estava lá, quando no final da reportagem apareceu a notícia que ambos os homens haviam sido convidados a abandonar o rancho a que dedicaram tanto tempo das suas vidas.
Também na semana passada houve outros factos interessantes sobre a comunidade homossexual; em Espanha e como se esperava, o governo de Rajoy tentou anular a lei aprovada sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e só não teve êxito porque tal lei está na Constituição espanhola e a sua anulação é anticonstitucional; já o mesmo não sucede em Portugal, e um qualquer governo, como este que temos agora, dispondo de uma maioria parlamentar, o poderá fazer. Este apenas não o faz porque o momento de crise é tão grande que ninguém aceitaria discutir esse assunto, nesta altura; e também porque haverá, como sei que há, nos partidos que constituem o governo, gente, que é homossexual, alguns parlamentares e outros não…
Por outro lado o governo francês aprovou a mesma lei, que será decerto apresentada muito em breve ao Parlamento que a aprovará. Passos no mesmo sentido têm sido dados noutros países como no Brasil. Nos EUA, junto com as eleições presidenciais, houve mais três estados que por referendo aprovaram a mesma lei – Maine, Maryland e Washington- sendo já 10 os estados a terem como legal o casamento homossexual (20% do total dos estados americanos).
E ainda mais importante, foi o facto de o presidente reeleito, Obama, ter referido os homossexuais como outros quaisquer grupos de cidadãos americanos, no seu discurso vitorioso.
Também por cá, e sem surpresa, na recente convenção do Bloco de Esquerda, João Semedo referiu a importante colaboração deste partido na aprovação do diploma já referido. Continuamos no entanto com a grande lacuna da não aprovação da adopção por casais homossexuais, embora ela possa acontecer por um homossexual isolado…

Enfim, todas estas considerações, que já vão longas para chegar ao ponto que pretendia: cabe aos homossexuais, e estou a referir-me essencialmente aos portugueses, contribuir para que este caminho de normalidade seja cada vez mais consolidado; não basta “esperar sentado” e aplaudir depois, dentro do gueto em que muitos comodamente se instalaram. Não! É preciso agir, e não digo que seja preciso fazer parte das organizações LGBT, que tanto têm feito no nosso país; basta assumir o seu papel na sociedade, não ter medo de mostrar que se é homossexual, sem andar com uma tabuleta nas costas, mas fazê-lo de uma forma natural, no dia a dia, não tendo medo de dar a cara.
Claro que sair do armário é um processo que nem sempre é fácil, mas o que será melhor? viver de bem com a sociedade, mas sempre com o estigma da mentira, da ocultação e do medo de ser descoberto, ou viver em paz connosco próprios, mesmo que isso nos tire algum conforto temporário?
Um tema para pensar, e muitos dos meus amigos que aqui me seguem terá aqui um motivo de reflexão.

32 comentários:

  1. É por causa de textos como este, que aprecio tanto este blog.
    Um texto que devia ser lido por muitas pessoas, independentemente, da opção sexual.
    (Quanto à promiscuidade, no meu entender, não tem a ver com "gênero" e, sim, com "feitio".)

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  2. Rosa
    tens toda a razão no que dizes no final do teu comentário, mas infelizmente não é essa a ideia de muita gente que sempre associam a homossexualidade à promiscuidade.
    Beijinho.

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  3. Há quem se auto-discrimine, não seja capaz de assumir aquilo que quer, isto aplica-se a várias discriminações, não apenas à que se refere à homossexualidade.
    Gostei da tua dissertação e no apelo à aceitação de si mesmos.
    Abracinho meu!

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  4. não conhecia Quentin Crisp nem os filmes que referes, embora mal referiste o Sting, lembrei-me de imediato do tema que escolheste. Gosto dele, aliás, desde os Police.
    a promiscuidade existe, sim, entre gays e heterossexuais, e quando são elas, como são rotuladas? enfim...
    tb vi o programa da sic (estou a assistir, de momento, é excelente) e emocionei-me com a fé que eles tiveram, em Fátima, onde passaram a lua-de-mel.
    as mentalidades custam a mudar, muito preconceito, muita educação católica, muita pequenez de espírito.
    um tema para reflectir, sim.
    bjs.

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  5. Gostei de saber a histórias da música, que gosto bastante.
    Quanto ao tema, concordo com o que a rosa disse: é um problema de "género". Simplesmente essa "promiscuidade" no heterossexuais não é julgada da mesma forma, e isso é ainda mais lamentável.
    Abc

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  6. Maria Teresa
    é uma grande verdade, e muitas vezes são essas mesmas pessoas que depois se vitimizam com maior facilidade; é uma forma de hipocrisia camuflada.
    Beijinho.

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  7. Margarida
    procura conhecer um pouco melhor a história de Quentin Crisp; o seu livro, "The Naked Civil Servant", que penso não esteja editado em português e que eu não li, mas vi o filme que é nele baseado, será porventura o melhor meio de conhecer a sua vida, pois começa na sua juventude e vai até ele já ser conhecido. A interpretação do John Hurt é um espectáculo, e curiosamente é o mesmo actor que volta a vestir a pele de QC no outro filme, que relata os tempos que ele passou, já com bastante idade, nos EUA, onde proferiu conferências, orientou debates, e foi polémico e coerente como ao longo de toda a sua vida.
    Ainda bem que estás a ver essa reportagem da SIC, que é muito interessante e é um retrato bastante real da situação dos homossexuais em Portugal, hoje em dia.
    Queria aqui realçar um facto muito curioso: houve pessoas da blogosfera que não foram a alguns dos jantares por mim promovidos, alegando que eram reuniões de bloguistas homossexuais e sendo eles também homossexuais não queriam ficar assim rotulados como tal. Verifico e com muita satisfação que os três primeiros comentários desta postagem são do sexo feminino e que eu saiba, embora isso não interesse nada, serão heterossexuais; para um "blog homossexual", não está nada mal...
    Beijinho.

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  8. Sad
    claro que sabia que concordarias com essa opinião e também sei que no mundo heterossexual, pelo menos em certos meios, a promiscuidade do homem até é considerada como um feito, mas se é da parte da mulher, já a consideram uma prostituta; isto levar-nos-ia a outro tema que também dá pano para mangas e que é desigualdade de género que continua a reinar no nosso país.
    Abraço amigo.

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  9. como co-organizadora - :D - do próximo jantar, que me rotulem à vontade. tenho as costas largas. há coisas muito mais importantes com que pensar, muito mais.
    bjs.

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  10. Amigo João Roque,

    Creio que já referi que muita homofobia parte mesmo de nós gays/homossexuais, onde alguns tem a mania que são pela Moral dos Bons Costumes...

    Não conheço nenhum hetero que seja verdadeiramente homofóbico. Já conheci muito gay, no papel de hetero ressabiado...

    Adorei este teu post

    Abraço amigo João

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  11. Margarida
    também nunca foi coisa que me causasse qualquer problema; só falei nisso para se poder aquilatar o gueto em que muita gente homossexual está metida.
    Mas os tempos vão mudando, os desfiles do gay pride têm já muita gente e estão longe os tempos em que só o Guilherme de Melo dava a cara na televisão.
    Beijinho.

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  12. Francisco
    ora aí está outra grande verdade; não é um dito da tua Avó, mas até podia ser: quem despreza, quer comprar.
    E tal como tu, também eu conheço uma série deles...
    Abraço amigo.

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  13. No Brasil andamos alguns passos sim, mas a cada passo para frente sempre tem um ou dois para trás, por termos uma banca evangélica muito forte na política pouco se aprova em leis para direitos igualitários

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  14. Caro Frederico
    aqui o peso da Igreja também é grande; mas se houver vontade política, mesmo com essa contrariedade as leis nascem e fazem-se cumprir.
    Custa-me ver que o maior país da América do Sul, com uma população imensa e com potenciais económicos tão valiosos, esteja neste campo ultrapassado por países como a Argentina e até outros bem menos importantes (Uruguai).
    Não conheço a força das organizações legais LGBT do teu país, mas tem uma força imensa, pois com tanta população,com certeza que o número das pessoas LGBT é também gigantesco.
    Como digo no meu texto, cabe a cada um de nós dar a sua quota parte para a efectivação da igualdade entre o mundo heterossexual e homossexual, assumindo a sua condição, normalmente, perante a família, os amigos e principalmente perante a sociedade.
    Abraço amigo.

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  15. Como sempre, interventivo! E a mexer com as consciências de muitos...

    Vi uma parte da reportagem portuguesa que referiste. E pensei na coragem desses dois homens simples, vivendo num meio pequeno (onde todos se conhecem)!

    As pessoas são mesmo mesquinhas :-(
    O facto de dois seres humanos se apresentarem na sua autenticidade, é já um símbolo de muita nobreza de alma.

    Boa semana!

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  16. Fragmentos
    tão diferentes daqueles casamentos do mesmo tipo, mas de pessoas conhecidas, com muito estardalhaço e publicidade à mistura.
    O pormenor do aperto de mão é muito significativo; não se beijaram por medo ou para não chocarem, mas as intimidades são muito bonitas - grande lição.
    Beijinho.

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  17. o Quentin Crisp é um dos meus heróis pessoais, inclusivamente porque foi uma das primeiras personalidades homossexuais que 'conheci' e que li (a 'inveja' que eu tenho do Duarte por o ter visto ao vivo!)

    Por isso gostei muito que o tivesse ido buscar para dar o mote a este teu texto, que diz coisas tão importantes.

    estou cada vez mais convencido de que o único caminho eficaz contra o medo e o preconceito, é o da visibilidade. afinal de contas. só tememos o que não conhecemos, e quanto mais pessoas (públicas e não só) assumirem a sua orientação sexual, mais a homossexualidade será aceite pela comunidade como uma 'coisa normal'.

    infelizmente isto é mais fácil de dizer do que fazer, e também entendo perfeitamente que haja
    muitas razões para as pessoas se retraírem e preferirem viver a sua sexualidade com uma discrição quase clandestina.

    por isso é que o exemplo de pessoas como tu é tão importante, e também nisso é um privilégio (além de uma alegria imensa) ser teu amigo.

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  18. Miguel
    falas num assunto que parece banal, mas tem a sua importância; refiro-me à visibilidade sexual de pessoas públicas.
    Lá fora, cada vez mais se assiste a homens e mulheres de várias áreas (política, artistica, desportiva), assumirem-se como homossexuais e não vejo que por essa razão as suas carreiras tenham sido prejudicadas; por outro lado, a causa homossexual sai muito fortalecida, pois é diferente assumir publicamente a sua homossexualidade o Goucha ou a Zannati do que um qualquer Zé ou Maria.
    No panorama português pouco se tem progredido neste caso e seria bom que casos como o do Herman ou do Malato deixassem de ser apenas sugeridos pelos próprios, com piadas que muitas vezes só quem pertence a este "mundo" percebe, do que se se declarassem sem reservas como homossexuais que são.
    Outra coisa que me faz confusão, no nosso meio artístico, é ver pessoas que lidam no seu dia a dia profissional com tanta gente homossexual, e de quem são amigos (?), fazerem declarações profundamente homofóbicas, e dou-te dois exemplos: Fernando Mendes e João Pedro Pais.
    Quase dá para desconfiar, pegando no comentário do Francisco, aí em cima.
    Abraço amigo.

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  19. Também vi a reportagem do casamento deles e pareceu-me muito bem. Desde que haja amor, tudo é ultrapassável até o facto de terem saído do rancho, aliás um deles já foi para outro rancho. Admiro a coragem deles em dar a cara e mostrar com muita dignidade o seu amor. Isto é que ajudar a mudar mentalidades.
    Houvesse mais como eles e talvez a coisas fossem diferentes.

    Abraço João.

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  20. Arrakis
    não podia estar mais de acordo.
    Abraço amigo.

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  21. Meu caro João.
    Parabéns por este post.
    É para se ler e refletir.
    Apesar de nem tudo estar perfeito neste campo, creio que muito tem sido feito.
    Mas o importante é mesmo o que se passa ao nível das mentalidades, e isso é lento, muito lento.
    Falo-te por mim: a minha luta entre o dever e o ser é permanente.
    Um abraço amigo.

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  22. Pedro
    eu sei que não é fácil, pois como deves saber já passei por isso e em tempos muito mais difíceis.
    Mas, mais que sorte em encontrar gente compreensiva, é preciso além da coragem, escolher os timings perfeitos e começar pelas pessoas certas. Não é pegar num microfone e berrar: "eu sou gay!!!"
    Mas ficar continuadamente à espera do "momento certo" é envelhecer sem se conhecer a verdadeira felicidade de nos afirmarmos como aquilo que realmente somos.
    Por vezes, e neste caso, isso acontece, devemos ser um pouquinho egoístas e contentarmos o nosso ego, dizendo aos "outros" que se lixem...
    Abraço amigo.

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  23. Lutar pelo fim dos preconceitos cabe aos homosexuais e aos heterosexuais, portanto a toda a sociedade, Pinguim. E haveremos de chegar ao tempo em que, de facto, a sexualidade seja um assunto que só diga respeito ao próprio e a mais ninguém!
    Abraço

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  24. Justine
    eu sei que cabe a todos, mas os homossexuais não podem exigir igualdades se não lutarem por elas, pois a nossa sociedade é maioritariamente homofóbica.
    E eu aqui indico acima de tudo a forma como devemos lutar.
    Falo do que sei e do que faço, desde há muitos anos a esta parte.
    Na zona que habito, não só no meu prédio, mas aqui e ali, por motivos vários, nunca negativos, as pessoas sabem da minha vida, mas sabem que sou um homem totalmente normal e é esse exemplo que é necessário fazer passar: somos sexualmente diferentes, mas somos acima de tudo seres humanos iguais, nos deveres e nos direitos.
    Beijinho.

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  25. Querido João,

    Conheci o Quentin Crisp através do teu blogue já há bastante tempo. Isso levou-me, posteriormente, a investigar mais sobre a sua vida. É admirável. Nascido nos inícios do século passado, atravessou enormes transformações sociais, guerras, problemas económicos... Passou, também, incólume pela SIDA, que tantas vidas ceifou, sendo que a sua longevidade surpreendeu vários sectores da sociedade inglesa. Sabemos como muitos homossexuais pereceram vítimas da SIDA nos anos 80 e 90. :|

    A homossexualidade ainda é mal vista por uma grande parte da Humanidade. Mesmo nas sociedades tidas ocidentais e democráticas, o germe está lá, calcificado. Continua a existir homofobia.
    As conquistas legais, bom, são isso mesmo, conquistas. Regra geral, não se retiram direitos conseguidos e acho mesmo que, à luz da CRP, é inconstitucional fazê-lo.


    abraço :3

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  26. Mark
    que bom teres aprofundado os teus conhecimentos sobre esse homem fabuloso que foi Quentin Crisp - é de historiador!
    Espero bem que seja como dizes, no que respeita à inconstitucionalidade da eventual ilegalidade da conquista já obtida.
    Acredito que assim seja, embora o desconhecesse, pois se tu o dizes é porque tens conhecimentos pelos teus estudos, dessa situação.
    Se puderes, lê a entrevista que acabei de publicar aqui no blog.
    Abraço amigo.

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  27. Excelente reflexão! ^^

    Portugal felizmente está a mudar.

    As coisas já não são tão más e feias como o eram há 20 anos atrás. Ainda me lembro de ouvir falar na escola sobre o Freddy Mercury ter morrido vítima de Sida e de todo o burburinho que se fez - à custa de ele ser gay e de ter sido por causa disso que tinha apanhado Sida. Na altura eu já tinha tido algumas brincadeiras inocentes, típicas daquela idade...e claro, daí a começarem a falar de mim foi um instante! :/

    Daquele tempo não fiquei com nenhum amigo. Fiz questão de "apagar o meu passado" para remissão dos meus pecados, anos mais tarde. Claro que as coisas não são assim tão simples...e tenho pago um preço elevado... :/

    Apesar das leis terem mudado e agora até ser possível casarmos com alguém do mesmo sexo, muito ainda é preciso fazer. As mentalidades das pessoas não mudam dum dia para o outro.

    E isso tem de partir da parte de todos nós. Como disse o Francisco e muito bem, existe por aí muita homofobia dentro da própria comunidade gay e lésbica.

    Como podemos "exigir" respeito por parte dos outros, se nem a nós mesmos nos respeitamos?

    Eu sei que nem sempre é fácil, darmos o grande passo "rumo à Luz", eu que o diga....embora aos poucos esteja a superar os traumas e os medos, ainda tenho receio do dia em que vou abrir-me com os meus amigos mais chegados e sair do armário.

    Mas também sei que, quando esse momento chegar - e se Deus quiser, está para bem breve - me vou sentir melhor. Não faço ideia de como eles vão reagir, mas espero que tudo corra pelo melhor.

    Abraço grande e obrigado teres proporcionado esta reflexão! ^^

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  28. Hórus
    este é possivelmente o último comentário recebido sobre esta postagem, e no meu entender, isto é, na prossecução do meu objectivo ao escrever este texto, ele é o melhor de todos os comentários; pela simples razão de que a reflexão agora feita, mas iniciada há muito, estou certo, leva a que estejas no trilho certo, que eu aqui traço. Não é coisa que se decida de ânimo leve, tipo "vou-me assumir!", não, é algo que tem um momento próprio mas que nós sabemos que terá de ser feito, mais tarde ou mais cedo. E assim sendo, há que preparar esse momento, que é aquilo que tu estás a fazer.
    Obrigado por este teu testemunho.
    Abraço amigo.

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  29. João sabes que assumir ser homossexual não é fácil na sociedade em que vivemos e nem todos conseguiriam ser respeitados se o fizessem. Infelizmente não se sabe valorizar a diferença e é por ela que muitos acabam por ser postos de parte nesta sociedade, por isso tenta-se, cada vez mais ser igual e a confecção em série é disso exemplo. Valorizo a tua coragem e a maneira como tu te vais impondo na blogsfera mostrando que se pode sair do armário e continuar a ser respeitado mas nem todos o conseguiriam porque também nem todos tem a auto-estima que tu tens. A família contribui muito para que se tenha ou não amor próprio e muitos se não tiverem o apoio dela não se sentirão capazes de dar esse passo por temerem, até, perder o amor e o respeito de quem os rodeia. Como já te disse tu és um exemplo para quem o é e para todos os que aprenderam a rotular as pessoas e não lhes dão oportunidade de mostrarem o ser humano que neles reside. O rótulo é como o boato quando se espalha, destrói qualquer pessoa e a capacidade para aguentar nem todos a têm mas como dizes só vivendo em paz se pode conseguir paz e aceitação. Lembraste há uns anos como era vista uma mulher que fumava, que se divorciava ou até que era mãe solteira? Quantos mais se assumirem mais depressa se consegue que a sociedade comece a aceitar os homossexuais como pessoas normais que são.
    Beijinhos

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  30. Mary
    eu sei que é um processo muito lento, como o foram esses que falaste, e que têm todos a ver com a reforma das mentalidades.
    Eu sou absolutamente a favor de que as pessoas saiam do armário, mesmo sabendo que é um passo difícil, pois a homofobia que tantas vezes mascara desejos inconfessados continua a reinar.
    Vou dar-te um exemplo e falo de pessoas públicas: quando o Goucha assumiu publicamente a sua homossexualidade, alguém se admirou? Ninguém, pois era algo que estava à vista e que o próprio não dissimulava (nem podia), embora o não assumisse. Quando o fez, perdeu alguma da sua popularidade junto das pessoas que o seguiam? Antes pelo contrário, apenas se lhe louvou a "coragem" de o fazer.
    Porque não o fazem o Herman ou o Malcato, que também não enganam quase ninguém ( a minha Mãe, um dia perguntou-me porque não casava o Herman e eu tive que lhe responder que era pela mesma razão que eu não o fazia), e não ficariam em nada prejudicados profissionalmente. Mas dariam uma visibilidade muito importante à causa homossexual, se falassem abertamente e com sinceridade da sua sexualidade.
    Lá fora, é rara a semana que nalgum ponto do mundo, alguém conhecido não se assuma e vai ser cada vez mais.
    Porque esconder e ter vergonha de uma realidade que é a nossa vida?
    A única pessoa da minha (?) família que me condenou quando soube da minha homossexualidade foi um ex-cunhado meu, que me chamou porco, por ser homossexual e eu respondi-lhe que porco era ele pois corneava a minha irmã a torto e a direito e que não lhe reconhecia qualquer direito moral de me criticar. Há uma dezena de anos atrás, abandonou a minha irmã após 40 anos de casamento para ir viver com uma miúda de 18 anos...E eu é que era porco!
    Santa paciência.
    Beijinho e desculpa o desabafo.

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  31. João para as pessoas um homem trair uma mulher faz dele macho e uma mulher trair o marido faz dela porca, essa é a mentalidade, infelizmente. Concordo contigo quando dizes que se as figuras publicas assumissem publicamente a sua homossexualidade iria ajudar a acabar com esse tabu porque como sabes a fama e a riqueza ajuda a purificar actos na mentalidade do povo português. Também sou a favor de que as pessoas devem aceitar-se e só elas se aceitando conseguem que os outros as aceitem mas compreendo quando não o fazem, estou a falar de gente não conhecida, porque já vi muita gente ser posta à margem e não é fácil conseguir manter a cabeça sã, as investidas são feitas para esmagar. Que interessa é o exemplo que tu dás que ajudará muita gente a tomar uma decisão. Beijinhos

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  32. Mary
    para um jovem que descobre que é homossexual, decerto não é fácil, e muitas vezes, a maior parte das vezes, ele não estão preparados para um choque assim, pois é um choque, decerto.
    Há pois que ir preparando o caminho e acertar no momento correcto. Há quem diga que todas as mãe sabem quando os filhos são homossexuais, eu acredito em parte, pelo menos põem essa questão como provável. Daí que a abordagem seja sempre mais provável pelo lado materno. No meu caso não foi assim, fui directamente ao meu Pai e só depois confirmei que a minha Mãe já suspeitava...
    Enfim, um passo muito importante na vida de um homossexual.
    Beijinho.

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Evita ser anónimo, para poderes ser "alguém"!!!