No meu “apagado” blog, havia uma rubrica, que já ia, salvo erro, na sua quinta postagem, subordinada ao tema “Os meus amigos”.
Há muito, estava tentado a falar de um amigo, daqueles que não só eu conheço, mas que é figura sobejamente conhecida; exactamente o José Sócrates.
Faço-o agora, por variadas razões. A primeira, e mais importante, é que actualmente está na “mó de baixo”, é assobiado onde quer que vá, tem os media contra ele, as manifestações estão em crescendo, e assim sendo, não posso ser acusado de estar a untar as botas de alguém, que há alguns meses atrás, continuava num longo estado de graça, talvez o mais prolongado para os últimos primeiros ministros.
Depois, porque a Amizade se sobrepõe às diferenças de opinião, e se hoje em dia, em vários aspectos, sou critico de actuações suas, isso não invalida a amizade.
E ainda, porque nunca utilizei, contra o que parece ser um hábito, neste e anteriores processos, a amizade, para obter “benesses”. É até curioso, que a última vez que falei com o Zé, já lá vai um longo tempo, numa tarde de Verão, na esplanada do CCB, era ele Secretário de Estado do Ambiente, eu tinha sobre mim a sombra do desemprego, que se veio a efectivar quando não consegui colocação como docente um mês depois; falámos sobre tantas coisas, mas evitei falar no assunto, o que até não foi fácil.
Mas, vamos ao início; conheci o Zé Sócrates, na Covilhã, onde ele era funcionário da Câmara e o lider concelhio do P.S. Nunca fomos colegas de estudo, pois ele é alguns anos mais novo, fui todavia aluno do seu pai, no então 1º.ano do Liceu da Covilhã, na disciplina de desenho, na qual eu era razoàvelmente mau...
Mas, alguma simpatia minha pelo socialismo, levaram-nos a vários encontros, e um belo dia o Zé convenceu-me a fazer parte, como independente, da lista do P.S. para as eleições autárquicas; a minha vida profissional de então não me permitia “aventuras políticas”, pelo que acedi, apenas com a condição de ficar num lugar não elegível, e assim fui 5ª da lista, que meteu quatro candidatos na autarquia. Foi nesse período, que melhor o conheci, e admirei o seu espirito de luta e o seu empenho, e mantive um contacto muito próximo quando da sua eleição para deputado, juntamente com A. Guterres,
pelo circulo de Castelo Branco.
Aliás foi curioso, que a insistência de ambos, consegui que o meu Pai os recebesse numa visita à nossa empresa têxtil, o que foi difícil, dada a aversão a tudo o que fosse de esquerda do meu Pai (feitios...); mas foi uma conversa agradável e correcta, que serviu para, com outras visitas similares, ambos apresentarem na A. República um óptimo relatório sobre a já então conhecida crise dos têxteis.
Fora da política, o Zé sempre foi um amigo com quem pude contar e não faltaram ocasiões para debatermos assuntos vários das nossas vidas pessoais. Por isso, por conhecê-lo tão bem, me indignei tanto com as insinuações, que na altura da campanha das legislativas, lhe foram dirigidas.
Não tem sido fácil a vida familiar do Zé Sócrates, mas ele tem, dentro do possível, sabido precavê-la, tanto no que diz respeito à separação dos pais, ao seu casamento e outros casos muito difíceis da esfera familiar.
É um homem inteligente, que sabe o que quer, e naturalmente, como político, é, nesse campo, ambicioso.
Quando chegou à chefia do Governo, resolveu, e bem, atacar os problemas mais graves do país, sabendo que, mais tarde ou mais cedo, isso se voltaria contra si próprio. Nem sempre rodeado dos melhores elementos, o seu governo, tem tido, reconheço, algumas decisões polémicas e discutíveis, mas pelo que dele conheço, norteia-o o desejo real de ajudar a construir um país melhor.
A má gestão que ele próprio fez de um acontecimento, que não passaria de um “fait-divers”, se tivesse sido abordado de outra forma, ajudou a criar-lhe uma imagem negativa, actualmente.
Mas, pergunto eu, qual a alternativa actual para José Sócrates? Talvez parte da resposta às criticas que lhe são feitas, hoje em dia, de todos os quadrantes, estejam exactamente neste ponto...
Para mim, embora não possa esquecer que é o Primeiro Ministro do meu país, continua a ser o Zé, continua a ser o Zé, cuja casa, perto do actual Parque Industrial da Covilhã, eu tanto gostava de frequentar.